Em 23/07/2020 o Respeitável Irmão Sérgio Roberto de Melo Souto, Loja Perfeita Amizade Alagoana, REAA, GOB-AL, Oriente de Maceió, Estado das Alagoas, apresenta a seguinte pergunta:
CORDA DE 81 NÓS NO TEMPLO
Sobre a interpretação da Corda de 81 Nós descrita abaixo, pergunto: está correta?
"Essa Corda absorveria as tensões nervosas (elétricas) dos irmãos, descarregando-as através dos fios das duas borlas pendentes. Detém-se que, dentre outros “efeitos esotéricos”, a corda retém a energia que emana de todos os Obreiros presentes, bem como da distribuição da Energia de cima para baixo e de fora para dentro. Os nós funcionando como acumuladores de energia"
Seria cômico se fosse trágico. Trágico porque uma bobagem dessa estirpe simplesmente afronta a razão e a seriedade da Sublime Instituição.
Essas mirabolantes interpretações temerárias nada tem a ver com os objetivos da Maçonaria. Ora, essa é uma colocação recheada de crendices particulares que francamente não merece nenhuma recomendação.
Eivado da mais pura bobagem, esse texto deve ter sido escrito por alguém que não conhece a contendo a verdadeira Maçonaria e dela faz um placo proselitista de crendices e superstições. “Corda que absorve tensão nervosa; retenção de energia; distribuição de energia de baixo para cima, etc., francamente, são comentários dignos de serem desprezados e depositados na lata do lixo.
Em se tratando de Maçonaria, crenças pessoais devem ser deixadas fora dos umbrais do Templo. É intolerável que ainda hoje possamos nos deparar com acepções incautas como as citadas no texto da questão acima.
Corda que absorve tensões nervosas (elétricas) dos Irmãos (sic) é mesmo coisa d’escrachar.
Nos desviando e longe desses absurdos, vamos trazer um pouco de luz e razão sobre esse importante símbolo que é considerado como um dos Ornamentos da Loja – A Corda de 81 Nós.
Assim, sob o feitio histórico, a corda de sisal (não confundir com o cordel do Mestre) remonta a época dos canteiros medievais, nossos precursores quando a Maçonaria ainda era essencialmente operativa. Nessa época a corda era, dentre outros, um artefato que servia para demarcar os limites do canteiro de obra.
Nesse sentido, esse grande espaço de trabalho era então circundado (demarcado) por uma corda de sisal que geralmente ia presa em argolas de ferro fixadas em paliçadas. Era mesmo uma espécie de cerca demarcatória. Alguns canteiros eram cercados com pesadas correntes de ferro.
Na entrada desse canteiro havia dois postes altos de onde pendiam as duas pontas da corda neles fixadas e que serviam como a abertura por onde se ingressava e saia do recinto de trabalho.
Dado a essa disposição limítrofe é que alguns ritos, relembrando essa antiga demarcação, trazem simbolicamente nos seus templos uma corda de nós que contorna o recinto, geralmente ao alto. É bom lembrar que a sala da Loja, longe de ser confundida com um templo religioso, ou de credos pessoais, representa as oficinas de trabalho de antanho e que são estilizadas conforme cada rito maçônico.
Desse modo, historicamente, essa é a origem da corda que ornamenta as paredes do templo de alguns ritos da Moderna Maçonaria.
No tocante a interpretação esotérica (reservada aos iniciados), a corda representa a união dos maçons reunidos no seio da Loja. Essa união se destaca pelos elementos fibrosos de sisal que compõem e dão formato à corda. Em primeira análise os elementos constitutivos da corda demonstram que tal qual a fábula do “Feixe de Esopo”, as fibras unidas umas às outras formam um elemento sólido, seguro e resistente. Desse modo, a corda que ornamenta a loja é um símbolo que exprime verdades e não um elemento subserviente para crenças e motivos supersticiosos.
Em relação aos nós da corda, estes, não em números, simulam as marcas das velhas paliçadas por onde ela ia presa circundando o antigo canteiro.
Conforme mencionam algumas velhas instruções, o número 81, de concepção especulativa, está relacionado à aritmética e geometria, ciências apropriadas àqueles que projetavam e construíam formidáveis edificações.
Na constituição especulativa, o nó central, que geralmente coincide com a posição do Delta no Retábulo do Oriente do Templo, é o ponto referencial que divide a corda em segmentos iguais de quarenta nós para cada lado. As duas borlas pendentes junto à porta representam a passagem de entrada e saída dos canteiros do passado. Conforme menciona o irretocável e saudoso Irmão Theobaldo Varolli Filho, o número 40, correspondente aos nós da direita e da esquerda, aludem aos números penitenciais, entendimentos esses derivados de concepções teístas, naturais em algumas vertentes maçônicas.
Em linhas gerais, são essas as principais colocações emblemáticas relativas à Corda de 81 Nós. Sem nenhuma fantasia, note que nela não cabem ilações absurdas como as descritas na sua questão.
De fato, a Loja é um lugar de aprimoramento humano, nela não cabem ideias fantasiosas que tendem confundir a sala da Loja, ou o templo maçônico, com um enorme gerador de energia feito uma subestação fornecedora de energia elétrica. É mesmo impressionante até aonde pode chegar à imaginação de alguns.
OBS. – Na decoração de muitos templos a corda, que originalmente é a de sisal, pode também aparecer pintada nas paredes, assim como construída em gesso. Independente da sua constituição construtiva, o seu significado é o mesmo da corda de sisal.
T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br
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