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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

RITO DE YORK OU RITO DE EMULAÇÃO

RITO DE YORK OU RITO DE EMULAÇÃO
(republicação)

Dúvida apresentada pelo Respeitável Irmão Deivisson Dezidero da Silva Dutra, Loja Luz de Araucária, 3.523 – GOB-PR, Oriente de Araucária, Pr.
dezidero@globo.com

Tenho uma questão que esta me quebrando a cabeça! Mexendo no site de relacionamento Orkut vi na comunidade do Rito de York um tópico com uma indagação a debate de um Ir.·. que foi esta:

Rito de York ou Ritual de Emulação? Eis a questão! Prezados membros da comunidade, acho que é por todos conhecida a grande divergência sobre a real existência do Rito de York, no Brasil, isto porque subsiste confusão com o Ritual de Emulação. Assim, empresto a seguinte posição, adotada pelo Poderoso Anatoli Oliynik, obreiro da Loja “Laélia Purpurata” nº 3496, ex-Grande Secretário Geral de Orientação Ritualística Adjunto do Rito de York do GOB, que assim preleciona: O Rito de York é uno, mas com vários rituais como, por exemplo: o Emulation, o Logic, o Bristol, o Taylor’s, o Stability, Humber e o West End. No entanto, autores outros dizem que, no Brasil, pratica-se o Ritual de Emulação e, não, o Rito de York. Assim, toda a confusão de entendimento relativo ao Ritual de Emulação inglês denominado como Rito de York no Brasil, decorre do desconhecimento de um importante artigo constante no "Act of Union" de 1813 quando surgiu a Grande Loja Unida de Inglaterra. Enfim, podemos então, pensar que existe Rito de York? Ritual de Emulação? Ou, ainda, Rito de York com o Ritual de Emulação?

Lá, então se travou um grande debate com mais de 60 respostas que para mim não chegou a lugar algum, cada um colocando sua ideia de talvez souber! Agora eu realmente quero entender, por isso peço que, por favor, me explique!

Resposta:

Folgo-me em saber que pelo menos o assunto vem sendo debatido, já que em um passado recente era comum todos dizerem amém e se estabelecia um fato inverídico como verdadeiro sem qualquer embasamento histórico.

Obviamente esse assunto precisa ser debatido com um mínimo de responsabilidade e conhecimento histórico, principalmente no que tange a transformação pela qual passou a Francomaçonaria entre os séculos XVII, XVIII e o primeiro quartel do século XIX.

O alicerce dessa discussão, em linhas gerais está na fundação da Primeira Grande Loja em Londres em 24 de junho de 1.717 (dia comemorativo a São João, o Batista) no pátio da Igreja São Paulo pelas Lojas das tabernas O Ganso e a Grelha, A Macieira, O Copázio e as Uvas e A Coroa que teve, dentre outros, como articuladores George Payne e Jean Teóphile Desagulier. Sacramentado o fato foi eleito como primeiro Grão-Mestre Mr. Anthony Sayer.

As razões desse acontecimento que inauguraria o primeiro sistema obediencial da Moderna Maçonaria são muitos e não caberia aqui a sua apresentação, todavia, reforço a sua importância para o estudante da Ordem.

Outro aspecto importante é o de que este não foi um fato generalizado na maçonaria inglesa, levando-se em conta de que seriam apenas quatro as Lojas predecessoras do episódio, quando muitas outras havia à época na Inglaterra e, como toda novidade trás desconfiança, essa regra se aplicava perfeitamente a ocorrência.

Ao longo de alguns anos, embora a resistência de boa parte das Lojas, o novo sistema obediencial iria se solidificar, contudo, em 1.751, Lawrence Dermott apregoava então a fundação de outra Grande Loja em face ao seu descontentamento pelas mudanças promulgadas e aplicadas pela Primeira Grande Loja.

Argumentava Dermott que aquela Grande Loja (a de 1.717) estava, em linhas gerais, desvirtuando a tradição maçônica, implantando novas regras nos trabalhos ritualísticos, alterando aspectos que segundo ele eram tradicionais, omitindo oração, invertendo palavras, etc. (embora até houvesse justificativa para tal naquela oportunidade).

Baseado nesse contexto, Dermott conseguiu qualificar, digamos, a sua Grande Loja, também conhecida mais tarde como “Athol Lodge”, da qual ele foi Secretário, a autodenominação de “os Antigos”, enquanto que de forma até pejorativa rotulava a sua rival de “os Modernos”.

Esse feitio é importante, já que aparentemente há uma contradição cronológica em se chamar aqueles de 1.717 de modernos e os de 1.751 de antigos, todavia, as razões estão implícitas na tese de Lawrence Dermott que se embasava no contesto de  antiguidade”.

Então qual seria o alicerce dessa antiguidade propagada pela Grande Loja dos Antigos? Pois bem, nesse sentido existe outra faceta importante – a Convenção de York. Essa convenção, para alguns pesquisadores apenas lendários, enquanto que para outros ela é verídica, todavia essa não é a nossa questão. O fato é que ela, sendo lenda ou não, se constituiu com conjuntura principal de tese ancestral entre as duas Grandes Lojas Rivais.

Essa convenção se baseia no fato de ter havido uma grande assembleia realizada na cidade York (Inglaterra) pelo príncipe Edwin sob a tutela de uma Carta expedida pelo rei Athelstan no ano de 926 que objetivava avaliar a situação e os prejuízos auferidos às confrarias de ofício causado pelas invasões bárbaras.

Anderson, por exemplo, cita e afirma esse acontecimento no Livro das Constituições de 1.738, o que acabaria por rotular a cidade de York como uma espécie de “Meca da Maçonaria”, a despeito de que realmente York é um dos mais antigos centros da Francomaçonaria na Inglaterra.

Mesmo com a existência de documentação primária como Old Charges e fragmentos hoje conhecidos e relacionados à York, nada abaliza a existência de qualquer ritual antigo ou medieval praticado até mesmo pelas Lojas mais antigas de York.

A título de exemplo cito aqui o abalizadíssimo autor Harry Carrin The Freemasons at Work, Lewis Masonic, 1.992 – “Em 1.725 havia uma Grande Loja na cidade de York e que se constituiu com a grande Loja de toda a Inglaterra, porém a sua influência não ia além dos condados de York, Cheshire, e Lancashire. Essa Grande Loja não garantiu ou autorizou Lojas dependentes até 1.761. Entre 1.740 e 1.761 ficou inativa deixando de existir em 1.792”.

Cita ainda o autor na mesma obra:

“Em 1.780 ela forneceu sansão ao funcionamento de cinco graus distintos. Três graus de Ofício, O Arco Real e o Cavaleiro Templário (...) deve ser destacado que tais graus já existiam antes de 1.780 (os grifos são meus) e que eles não eram de modo algum exclusivos de York”.

A bem da verdade Dermott se valeu dessa tal “antiguidade” à época para solidificar o seu mote alimentando a ideia de que a Grande Loja dos Antigos se propunha a preservar o ritual dos maçons de York propagando haver uma “ampla” diferença entre os trabalhos praticados pelos Modernos e Antigos, o que aos olhos da razão não eram assim tão marcantes,salvo a prática do Arco Real o que já alimentava na oportunidade o gosto por graus além do simbolismo, fato inaceitável na moda genuína inglesa.

É bem verdade a que Dermott viria conseguir o seu intento, levando, apesar das dificuldades dos primeiros anos, a Grande Loja dos Antigos se tornar proeminente e importante na trajetória da história da Maçonaria.

De modo sintetizado talvez esteja aí o ícone de um fundamento suspeito – “o mais antigo é o verdadeiramente correto”.

No desenrolar dos acontecimentos, as duas Grandes Lojas rivais compuseram a sua história, entretanto, a organização maçônica inglesa não se solidarizava com esta espécie de antagonismo e em um trabalho exaustivo, porém organizado e prudente desenvolveu ao longo de muitos anos um processo que envolvia entre 1.809 e 1.811 a Loja de promulgação dos Modernos.

Já em 07 de dezembro de 1.813 a Loja de Reconciliação dos Antigos era reconhecida pelos Modernos como um corpo similar, cuja tarefa era de estudar os Landmarks, práticas ritualísticas e esotéricas, recomendando mudanças de modo que os “trabalhos” fossem aceitos por ambos os lados. Era então cristalizada a união através do “Act of Union” em 27 de dezembro de 1.813 decorrendo dessa fusão, a criação da Grande Loja Unida da Inglaterra.

Saliente-se mais uma vez que esse não foi um processo simples e, o até aqui relatado é apenas um opúsculo sintético de alguns fatos, principalmente relacionados ao aparecimento da “Premier Grand Lodge” em 1.717 até a união de 1.813. Nesse período se passaram nada menos do que noventa e seis anos, reforçando ainda que à época final do episódio os dois Grãos-Mestres (Antigos e Modernos), Duque de Kent e Duque de Sussex eram efetivamente irmãos de sangue.

Emulação ou York? Antes de qualquer consideração também é preciso se compreender o “modus operandi” inglês de trabalho maçônico.

Mesmo com o advento da Grande Loja Unida da Inglaterra em 1.813 o processo de não se publicar e nem mesmo se adotar um rito continuou como norma irretocável. Na Inglaterra não existem ritos, porém “Trabalhos” que estão diretamente ligados às condutas culturais das diversas regiões do Reino Unido. Existem, por exemplo, o Trabalho de Emulação, o de Bristol, o Logic, o Taylor’s, o Stability, o West End dentre outros.

Apesar da não interferência da Grande Loja de forma contundente, ela regula os costumes e está atenta através dos seus Grandes Preceptores para interferir em qualquer costume ou prática indesejável, além de ditar regras por meio da Comissão de Propósitos Gerais sobre Pontos de Procedimentos.

Essa prática pode até parecer utópica se comparada à Maçonaria brasileira, entretanto na Inglaterra ela é perfeitamente adequada, embora ocasionalmente no norte e no oeste existam variações pela retenção de práticas antigas como é o caso do “Trabalho de Bristol”, todavia, mesmo com essas exceções o padrão de uniformidade é bastante alto, especialmente pelo fato de que a Grande Loja, além de não exercer um controle oficial, não interfere nessas questões.

Ainda outro aspecto importante é o de que a Grande Loja inglesa não reconhece qualquer corpo capitular de graus superiores aos três simbólicos.

Como forma de adequação às súplicas dos “Antigos” na época da “União” a Maçonaria inglesa adota através das Lojas Simbólicas, dentre outros, o Grau de Marca com uma série de graus pertencentes ao Arco Real, intitulando-os como “sides degrees”, ou graus laterais.

Dessa forma não existe um corpo específico adotado pela Grande Loja que venha a se traduzir como um corpo capitular de graus ditos superiores; Resumindo: a Grande Loja determina para esses sistemas laterais de graus um elo administrativo direto com as Lojas simbólicas.

Emulação – Sem dúvida é uma das formas de trabalho mais antiga após a união de 1.813. Possuindo uma Loja de Instrução e Aperfeiçoamento (dela só participam Mestres), ela remonta desde 1.823 com contínua existência, sendo até então considerado como o sistema mais organizado e possui um corpo governante para protegê-lo ao longo da história. Nesse sentido ele é o mais praticado pela Maçonaria inglesa.

A Loja de Emulação de Instrução foi tutelada em 27 de novembro de 1.823 pela Loja Esperança, então n° 7, cujo Mestre Joseph Dennis era um dos membros originais da Emulação – C. F. W. Dyerin “Emulation–A Ritual To Remember” que contém a base histórica da Loja de Emulação e Aperfeiçoamento, publicado em 1.973.

É bem verdade que durante o século XIX muitos escritos reivindicaram representar o trabalho de Emulação e Aperfeiçoamento. Segundo Harry Carr a forma de trabalho como ritual de Emulação e Aperfeiçoamento, não foi publicado antes de 1.969. Aspectos ritualísticos e forma de trabalho não cabem aqui serem comentados.

Rito de York – Praticado pelas Grandes Lojas dos Estados Unidos da América do Norte, ele possui raízes inglesas e relacionado à Grande Loja dos Antigos de Laurence Dermott. Possui uma estrutura simbólica (Blue Lodges) sucedida por corpos capitulares (vermelhos) do Real Arco. Nesse sentido a Maçonaria americana reconhece os graus superiores que são dirigidos por corpos específicos, fato que a difere da forma inglesa.

Em relação ao nome York, o rito está ligado às alusões de antiguidade relacionada à Convenção de York. Sob essa óptica o rito se conserva como prática antiga ditada à época na Grande Loja de 1.751 na Inglaterra. É bem verdade que essa antiguidade, de forma acadêmica, pode até ser questionada, entretanto na presente questão ela serve como parâmetro comparativo.

O Rito de York é praticado nos Estados Unidos por razões históricas e políticas. Histórica pela colonização americana e política em relação a sua independência que se processaria antes do Ato de União na Inglaterra, daí os Modernos se coadunarem à coroa inglesa, enquanto os Antigos aos desejosos da separação.

Consagrada à independência americana o conceito maçônico relacionado à coroa britânica cairia no esquecimento, prevalecendo tradicionalmente o costume antigo atribuído aos “maçons de York” que, dentre outros, propagava a relação do simbolismo como alicerce e o aperfeiçoamento do mestrado como o Real Arco.

Em se concluindo essa questão, mas não finalizando o apontamento, Rito de York é um sistema, enquanto que Trabalho de Emulação é outro. São fatos distintos. Embora de mesma raiz (inglesa), eles não são a mesma coisa se tomados como forma de trabalho maçônico.

Quanto à referência feita à citação produzida pelo meu estimado e competente Irmão Anatoli, em sua preleção referendada ao Rito de York uno, mas com vários sistemas, quero acreditar que esse apontamento está diretamente relacionado à justificativa sistemática de antiguidade e a Convenção de York, até mesmo ao condado como referência de centro operativo, todavia como Rito que envolve os trabalhos ingleses, peço “vênia” para discordar.

Também sei que dentro da Inglaterra essa questão de autenticidade pela antiguidade é ainda mencionada, porém, mesmo lá os que assim o fazem, improvisam de forma equivocada. É justamente nesse sentido que no Brasil, por mera acomodação, embarcamos na lei do menor esforço e tomamos o Trabalho de Emulação (inglês) e o chamamos de Rito de York (americano), quando na Inglaterra, nem mesmo existem ritos, porém “Trabalhos”, ou mesmo, com um pouco de esforço, “Rituais”.

Ainda sob a questão diferencial situada entre os dois sistemas, eles se diferem na prática propriamente dita, pois existem formas distintas de trabalho no que tange a disposição e topografia da Loja, forma de trabalhar, sistema de abertura da Loja, aventais e outras práticas mais específicas.

Espero ter contribuído para esclarecer um pouco das suas dúvidas, entretanto devo dizer que a dinâmica maçônica não é uma coisa pronta. A Maçonaria, pela sua característica, demanda de muito estudo e observação antes da propagação das conclusões.

Nesse sentido, as considerações aqui contidas estão embasadas no que até aqui consegui estudar e pesquisar, portanto não a considere laudatória.

T.F.A. -Pedro juk -jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 394 Florianópolis (SC) – terça-feira, 29 de setembro de 2011

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