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segunda-feira, 24 de outubro de 2022

RITO SCHRÖDER X RITO DA ESTRITA OBSERVÂNCIA

 Autor: Guilherme Cândido

O Rito Schröder recebeu este nome em homenagem ao seu idealizador e fundador, o Irmão Friedrich Ludwig Schröder (3 de novembro de 1744 – 3 de setembro de 1816), um notável ator, dramaturgo e diretor de teatro alemão que pelo seu trabalho no desenvolvimento deste Rito é considerado o reformador da Maçonaria Alemã.

Para entender o porque deste título é necessário antes conhecer seu antagonista: o Rito da Estrita Observância.

Em 1742, foi iniciado na Loja “Dois Três Cardos” em Frankfurt, o Irmão Karl Gotthold von Hundt, mais conhecido como Barão de von Hundt. Durante seu aprendizado maçônico o Irmão Hundt foi introduzido a uma lenda que se diz fazer parte da tradição escocesa, a lenda desenvolvida a partir de um discurso proferido pelo Irmão Andrew Michael Ramsay (1686 – 1743), também conhecido como Chevalier Ramsay. Ramsay, escocês de nascimento e naturalizado francês, em sua imaginação, concedeu à Maçonaria uma origem cruzada: dizia o pronunciamento que foram os cruzados na Palestina, para a retomada da Terra Santa, que fundaram a Maçonaria e que depois, quando da reconstrução dos templos cristãos lá no além-mar se uniram aos cavaleiros de São João de Jerusalém (Hospitalários).

Este discurso escrito e proferido por Ramsay, então Grande Orador na França, perante uma assembléia Maçônica em 1737, foi muitíssimo difundido e teve um enorme efeito, proposital ou não, na Maçonaria. Mesmo não sendo comprovadamente uma verdade histórica a ligação da Maçonaria com os cavaleiros cruzados, tudo isso soou muito cômodo e enaltecedor aos maçons da época, pois a lenda conferia à Maçonaria uma origem nobre. Deste ponto surgiu uma grandiosa inspiração de incontáveis intelectuais que decidiram criar, pautando-se em lendas como a de Ramsay, Altos Graus, que iam além dos graus simbólicos já conhecidos, o que evidentemente aguçou a vaidade dos Irmãos em galgarem os novos graus.

Apesar de Ramsay não citar os Cavaleiros Templários, a partir de seu discurso motivador, eles foram atrelados à origem maçônica, por terem constituído a Ordem Militar Religiosa mais famosa que já existiu. Na história dos Cavaleiros Templários, após a execução do vigésimo terceiro Grão Mestre da Ordem do Templo, Jacques de Molay, no dia 18 de março de 1314, em Paris, a mando do Rei Felipe IV, o Belo, que determinou juntamente com o Papa Clemente V, a morte de inúmeros cavaleiros e a extinção da Ordem. Pela lenda, alguns cavaleiros sobreviventes fugiram da França e se dirigiram à Escócia para tentar preservar o que ainda restava das tradições templárias. Para conseguirem chegar até a Escócia eles se vestiram como pedreiros operativos e lá foram recebidos por pedreiros e cavaleiros, conseguindo assim reestruturar a Ordem, assumindo o nome de Mabeignac.

Dentre os que decidiram fundamentar na lenda de Ramsay a base para Altos Graus, estavam os Irmãos Chevalier de Bonneville na França e o já citado Irmão Hundt na Alemanha, este último que em 1754 fundou o Rito da Estrita Observância (Strike Observanz). Em 1761 o Rito se concretizou e em 1765 foi adotado pela Grande Loja Provincial de Hamburgo, tornando-se a “menina dos olhos” dos Irmãos alemães que agora corriam contra o tempo para ostentarem os novos títulos de Mestre Escocês de Santo André, Noviço, Templário, Cavaleiro Professo e Clérigo Franco-Maçom. Fato é que com a adição destes novos graus no sistema de ensino maçônico, enxertaram-se à filosofia da Ordem diversos frutos da imaginação de ainda mais Irmãos, ou ainda preceitos advindos de outras ordens iniciáticas, transfigurando os princípios básicos provenientes da maçonaria operativa e do antigo ritual Inglês, e conseqüentemente distanciando os Irmãos da verdadeira essência da Ordem.

É importante citar ainda que desde o princípio do século XVIII, a Europa estava repleta de seitas e ordens iniciáticas como rosa-cruzes, martinistas, alquimistas e iluminados. Tendo todos eles sido perseguidos, encontraram seu único refugio seguro no seio de Lojas Maçônicas, pois era a Maçonaria muito bem aceita na época (quando ser maçom junto a reis, imperadores e duques, significava, obviamente, um reconhecimento social). Não tardou para que os supracitados Irmãos provindos de outras seitas/ordens começassem a introduzir os conceitos e práticas ritualísticas de suas antigas entidades no cotidiano da francomaçonaria, desviando ainda mais os rituais maçônicos dos antigos e puros rituais ingleses, de modo que, ao longo do século, colocaram as suas “mistificações” nos Altos Graus cavalheirescos provenientes dos adeptos de Ramsay, e infelizmente também o fizeram nos Graus Simbólicos, o que também ocorreu, é claro, no Rito da Estrita Observância.

Tudo isso gerou o estopim: alguns Irmãos alemães não suportavam mais ver a maçonaria tão cheia de vaidades e deturpações exteriores estranhas à sua verdadeira origem e essência. Em 1782, durante uma convenção em Wilhelmsbad, surgiu entre entusiastas a idéia da elaboração de um novo ritual que fosse pautado nos antigos rituais ingleses, resgatando os princípios da maçonaria para livrá-la dos erros e acréscimos decorrentes do Rito da Estrita Observância, fixando assim como objetivo da Maçonaria alemã o aperfeiçoamento moral com base na religião cristã e no humanismo. Logo uma comissão foi formada e o Irmão Friedrich Schröder liderava a jornada a caminho da reestruturação da Ordem na Alemanha.

Os irmãos de Hamburgo decidiram por: restaurar a verdadeira e antiga Maçonaria como lhes fora trazida por seus antecessores, esforçando-se zelosamente para elevar seus propósitos a um nível bem mais alto, fazendo com que cada um dos seus ramos seja mais útil, alcançando este objetivo com amor e com a pesquisa da verdade. Além disso, propuseram também melhorar a harmonia entre os Irmãos, e, principalmente, trabalhar apenas nos três graus da Arte Real, de acordo com o Antigo Ritual Inglês (Escocês, Irlandês e Inglês na verdade) dos antepassados, até que os novos rituais organizados fossem apresentados na Convenção Geral.

Como já levantado anteriormente, o Rito da Estrita Observância predominava na Maçonaria Alemã e o caráter da francomaçonaria inglesa originalmente introduzida em Hamburgo tinha se perdido, estando portanto as Lojas dominadas pelo misticismo, alquimia, entre outros. Sendo contrário a estes movimentos, o Irmão Schröder, fundou a Loja “Louise Zum Flammenden Herz” adotando o Rito Sueco Zinnendorf, Loja na qual foi Venerável Mestre. Vai morar na Áustria, mas retornou logo e em 1787 lhe foi confiado o primeiro malhete de sua Loja Mãe onde presidiu até 1799. Em 1793 tornou-se membro também da Loja “Einigkeit und Toleranz”. Em 1794 se tornou Grão-Mestre Adjunto de sua potência, a Grande Loja Provincial de Hamburgo e da Baixa-Saxônia, que era subordinada à Grande Loja de Londres. Permaneceu neste cargo até 1814 quando foi eleito Grão-Mestre e neste ficou até seu falecimento em 3 de setembro de 1816, aos 72 anos, na cidade de Rellingen, dizendo um de seus biógrafos que “ a arte dramática perdera uma de suas mais brilhantes joias e a humanidade um dos seus membros mais nobres e ricos de sólidas virtudes”.

Neste contexto, consegue-se perceber o prestígio moral de que gozava o Irmão Schröder, cuja integridade cativava aos outros e movia a si mesmo em busca de um aperfeiçoamento constante. Logo nota-se que com a Maçonaria não foi diferente e por isso foi ele escolhido pelos Irmãos de Hamburgo para liderar a comissão de reestruturação da Maçonaria Alemã, livrando-a dos acréscimos exacerbados advindos de outras ordens iniciáticas e incorporados no então difundido Rito da Estrita Observância.

Para alcançar tal objetivo, o sempre perseverante e estudioso Irmão Schröder dedicou-se antes à busca de uma sólida base histórica para seu trabalho, do contrário ele nada estaria fazendo para devolver à francomaçonaria alemã, suas devidas origens e verdadeiras práticas.

Schröder sabia que, indubitavelmente, as Lojas inglesas (e não as Francesas) eram autoridades em todos os assuntos ritualísticos, e por isso ele tinha seu ritual impresso sem abreviações ou códigos, pois sabia que estas codificações não faziam parte das antigas e originais práticas inglesas. Reconhecia ainda que, sendo a Inglaterra o berço da francomaçonaria, eram os rituais provenientes de lá que ele deveria esmiuçar para atingir seu propósito de reformador.

Desta forma, Schröder estudou minuciosamente três inconfidências maçônicas: “Maçonaria Dissecada”, “J&B” e “Três batidas distintas na porta da mais antiga Francomaçonaria”. Concluiu que, embora a grande maioria das Lojas Alemãs e Inglesas estivessem colocando em usança o que Prichard trazia em “Maçonaria Dissecada”, “Três Batidas Distintas…” era mais antigo (apesar de publicado posteriormente), apropriado e coerente, e sobre este texto, baseou suas pesquisas e o desenvolvimento de seu novo Ritual.

Aqui, chega-se numa das decisões mais importantes tomadas por Friedrich Schröder. Com seu íntimo preenchido pelo espírito humanista da época ele decidiu que boa parte do conteúdo do “Três batidas distintas…”, como o nó corrediço e o cabo de reboque por exemplo, fazia sentido apenas para os Maçons operativos, sendo impróprio para os homens educados do século XVIII/XIX. Foi então que ele decidiu fazer leves alterações que conferiram aos Rituais reformados um tom de simplicidade, essência e humanismo, o que configurou por consequência um novo Rito onde o homem era considerado o centro da Maçonaria e da sociedade em si.

Schröder submeteu seus rituais aos Veneráveis Mestres das 5 Lojas de Hamburgo, em 29 de junho de 1801, os quais o adotaram por unanimidade e, depois de uma revisão de algumas passagens, estes rituais foram impressos para as Lojas de Hamburgo, e depois em 1816 para todas as Lojas da Alemanha. Os textos dos rituais do Rito (que ganhou seu nome), que trabalha somente nos três graus da pura francomaçonaria, até os dias de hoje não contêm nada de místico ou oculto, mas retém a simplicidade do original inglês, inclusive o pensamento alemão da época, revelando um texto de alto fervor moral aliado a um generoso espírito de princípios humanitários.

Referências Bibliográficas:
HAUSER, Kurt Max. A verdade sobre o Rito Schröder e seu fundador. Edições Universum n°2, 1997.

SOUZA FILHO,Ubyrajara de. Vade-Mecum do Aprendiz – Rito Schröder. Editora A Trolha.

______. Expletivo Maçônico do Grau de Aprendiz – Rito Schröder. Editora A Trolha.

______. Rito Schröder – Grau 1. Editora A Trolha.

Fonte: https://pavimentomosaico.wordpress.com

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