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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

MALLEUS MALEFICARUM

MALLEUS MALEFICARUM: Martelo das Bruxas ou O
Martelo das Feiticeiras é uma espécie de manual de diagnóstico para bruxas, publicado em 1487, dividindo-se em três partes: a primeira ensinava os juízes a reconhecerem as bruxas em seus múltiplos disfarces e atitudes; a segunda expunha todos os tipos de malefícios, classificando-os e explicando-os; e a terceira regrava as formalidades para agir legalmente contra as bruxas, demonstrando como inquiri-las e condená-las (não necessariamente nesta ordem). O livro foi amplamente utilizado pelos inquisidores por aproximadamente duzentos e cinqüenta anos, até o fim da Santa Inquisição, e servia para identificar bruxas e os malefícios causados por elas, além dos procedimentos legais para acusá-las e condená-las. 

Histórico: O Martelo das Feiticeiras, é provavelmente o tratado mais importante que foi publicado no contexto da perseguição da bruxaria do Renascimento. Trata-se de um exaustivo manual sobre a caça às bruxas, publicado primeiramente na Alemanha em 1487, e que logo recebeu dezenas de novas edições por toda a Europa, provocando um profundo impacto nos juízos contra as bruxas no continente por cerca de 200 anos. A obra é notória por seu uso no período de histeria da caça às bruxas, que alcançou sua máxima expressão entre o início do século XVI e meados do século XVII. 

Apropriadamente descrito como um dos livros mais terríveis da história humana. O Malleus Maleficarum foi compilado e escrito por dois inquisidores dominicanos, Heinrich Kraemer e James Sprenger. Os autores fundamentavam as premissas do livro com base na bula Summis desiderantes, emitida pelo Papa Inocêncio VIII em 5 de dezembro de 1484, o principal documento papal sobre a bruxaria. Nela, Sprenger e Kramer são nomeados (Iacobus Sprenger e Henrici Institoris) para combater a bruxaria no norte da Alemanha, com poderes especiais. Kramer e Sprenger apresentaram o Malleus Maleficarum à Faculdade de Teologia da Universidade de Colônia (Alemanha), em 9 de maio de 1487, esperando que fosse aprovado. 

Entretanto, o clero da Universidade o condenou, declarando-o tanto ilegal como antiético. Kramer, porém, inseriu uma falsa nota de apoio da Universidade em posteriores edições impressas do livro. A Igreja Católica proibiu o livro pouco depois da publicação, colocando-o na Lista de Obras Proibidas (Index Librorum Prohibitorum). 

A suposta aprovação inserida no início do livro contribuiu para sua popularidade, dando-lhe a impressão de que havia recebido um respaldo oficial. O texto chegou a ser tão popular que vendeu mais cópias que qualquer outra obra, à exceção da Bíblia, até a publicação O Progresso do Peregrino, de John Bunyan, em 1678. 

Os efeitos do Malleus Maleficarum se espalharam muito além das fronteiras da Alemanha, provocando grande impacto na França e Itália, e, em grau menor, na Inglaterra. 

Embora a crença popular consagrasse o Malleus Maleficarum como o clássico texto católico romano, no que cabia à bruxaria, a obra nunca foi oficialmente usada pela Igreja Católica. Kramer foi condenado pela Inquisição em 1490, e sua demonologia considerada não acorde com a doutrina católica. Porém, seu livro continuou sendo publicado, sendo usado também por protestantes em alguns de seus julgamentos contra as bruxas. 

No Brasil foi publicado pela editora Rosa dos Tempos com o título O Martelo dasFeiticeiras. Teses centrais: O As teses centrais do Malleus Maleficarum fundamentaram-se na idéia de que o demônio, sob a permissão de Deus, procura fazer o máximo de mal aos homens para apropriar-se de suas almas. Este mal é feito prioritariamente através do corpo, único canal em que o demônio pode predominar. A influência demoníaca é feita através do controle da sexualidade, e por ela, o demônio se apropria primeiramente do corpo e depois da alma do homem. Segundo o livro, as mulheres são o maior canal de ação demoníaca.

Ainda, a primeira e mais importante característica descrita no livro, responsável por todo o poder das feiticeiras, é copular com o demônio. Portanto, Satã é o senhor do prazer. Dessa forma, uma vez obtida a relação com o demônio, as feiticeiras são capazes de desencadear todos os males, especialmente impotência masculina, impossibilidade de livrar-se de paixões desordenadas, oferendas de crianças à Satã, abortos, destruição das colheitas, doenças nos animais, entre outros. Porém, no próprio livro é citado que o coito com o demônio não seria exatamente carnal, já que estas criaturas eram espíritos, mas ocorria através de rituais orgíacos. 

O surgimento do Malleus Maleficarum 

No início do século IX, havia a crença popular sobre existência de bruxos que, através de artifícios sobrenaturais, eram capazes de provocar discórdia, doenças e morte. Por sua vez, a Igreja não aceitava a existência de bruxos e ainda, baseado no Conselho eclesiástico de São Patrício, afirmava que um cristão que acreditasse em vampiros, era o mesmo que declarar-se bruxo, confesso ao demônio e pessoas com crenças não poderiam ser aceitas pela Igreja a menos que revogue com suas palavras o crime que cometeu. 

Na segunda metade do século X já havia penalidades severas para quem fizesse uso de artes mágicas. No século XIV (1326) a Igreja autoriza a Inquisição a investigar os casos de bruxaria. Pouco mais de cem anos depois, em 1430, teólogos cristãos começam a escrever livros que provam a existência de bruxos. 

O livro Formicarius, escrito por Thomas de Brabant, em 1480, aborda a relação entre o homem e a bruxaria. Em uma sociedade na qual a religiosidade, política, sexualidade e artes estavam interligadas e sob o domínio da Igreja, transgredir as normas de conduta em apenas um desses campos, acarretaria, por conseqüência, numa transgressão generalizada e direta sobre o poder do clero. 

Dessa forma, sob o papado de Inocêncio VIII, a bula Summis Desiderantes Affectibus promulgada a 5 Dezembro 1486 a igreja reconhece a existência das bruxas e da bruxaria, assim como concedeu autorização para que os praticantes de bruxaria fossem perseguidos e eliminados. E assim, inaugurou-se a sangrenta caça ás bruxas que durou séculos e foi responsável por um autêntico genocídio de mulheres e homens em todas as latitudes do continente Europeu, chegando mesmo a afetar o início da história norte-americana. 

O Malleus Maleficarum nasceu da necessidade que a Igreja Católica tinha de organizar e legitimar suas práticas, principalmente quando relacionadas à Santa Inquisição, que já atuava desde o final do século XII. Até aquele momento, não havia uma referência oficial que abordasse a questão da bruxaria. Fazia-se necessário um documento escrito, aprovado pelo corpo eclesiástico, que tivesse valor legal e determinasse com maior precisão possível, as práticas de feitiçaria e suas respectivas punições.

Heinrich Kramer e James Sprenger, através de uma bula de Inocêncio VIII, foram nomeados inquisidores para que investigassem as práticas de bruxaria nas províncias do norte da Alemanha e incumbidos de produzir a obra que institucionaliza-se e legitima-se a ação da Igreja. Por aproximadamente dois anos, encarregaram-se da produção do espesso trabalho de mais de quatrocentas páginas. Por fim, o Formicarius foi acoplado e passou a fazer parte do tratado eclesiástico intitulado Malleus Maleficarum. A imprensa, recém surgida, facilitou a divulgação da campanha movida pela Igreja contra as feiticeiras. 

Mulheres & Feiticeiras 

Tradicionalmente, nas culturas pré-cristãs, a mulher era objeto de adoração e respeito. Era a fonte doadora da vida e símbolo da fertilidade. Porém, mesmo sob a alegação formal de combater a heresia em todas as suas variações, as descrições contidas no Malleus Maleficarum, fundamentadas em conceitos de uma civilização patriarcal, contribuíram para construir uma idéia fantasiosa e infamante sobre as mulheres. Esta idéia podia ser legitimada através do preceito que Eva surgiu de uma costela torta de Adão. Logo, ocorreu a associação que, conseqüentemente, todas as mulheres não podiam ser retas em sua conduta. Ainda, o pecado original ocorreu através do ato sexual (na metáfora de Adão e Eva comendo maçã) e, assim, a sexualidade era o ponto mais vulnerável do ser humano.  Portanto, segundo o livro, mas a razão natural está em que a mulher é mais carnal do que o homem, o que se evidencia pelas suas muitas abominações carnais. Desse modo, qualquer mulher que se dispusesse a tratar pequenas enfermidades ou ferimentos com preparados domésticos à base de ervas, morasse sozinha e tivesse um animal de estimação (um gato, por exemplo), tivesse comportamento pernicioso, entre outras alegações superficiais, podia ser acusada de bruxaria. A tortura, como é sugerida no próprio Malleus Maleficarum, era o método utilizado para extrair as confissões das supostas bruxas. Aparelhos como A Dama de Ferro e a Cadeira das Bruxas eram amplamente utilizados. Além de torturas menos sofisticadas, como aquecimento dos pés ou introdução de ferros sob as unhas. Deste modo, a ré passava por tantos suplícios que acabava por admitir as sentenças elaboradas pelo inquisidor. Ainda, as lendas em torno das supostas bruxas propagavam-se entre o povo. Através da ação demoníaca, uma mulher podia ser capaz de se transformar em animais, voar e manipular a vontade, confundir o pensamento e a atitude de outras pessoas. Provocar ereção masculina ou a impotência sexual; além de inibir ou aumentar a libido de suas vítimas. As bruxas, em seus rituais, dançavam nuas nos campos e se alimentavam de fetos e cadáveres. 

Atualmente, aos olhos da ciência moderna, principalmente da psicanálise, diversos sintomas e indícios de possessão demoníaca descritos no Malleus Maleficarum são apenas disfunções mentais, como histeria e alucinações. O ocorrido em Salem, Nova Inglaterra, no fim do século XVII, é um bom exemplo de histeria coletiva. Ainda sob o olhar dos historiadores modernos, os motivos que levaram à produção do Malleus Maleficarum não são mais que artimanhas políticas com pouca ou nenhuma argumentação religiosa. De qualquer forma, o Malleus Maleficarum é um produto religioso e político dos mais significativos da Idade Média. Não é possível dissociá-lo do contexto histórico da Santa Inquisição, da Igreja Católica medieval, tampouco dos principais acontecimentos daquela época, como a peste negra, a queda do sistema feudal, a invenção da imprensa e o início da Renascença. Isto porque, de forma direta ou até mesmo contraditória, um acontecimento impacta sobre outro. Assim, o Malleus Maleficarum é mais que um código penal eclesiástico utilizado na Idade Média; é um registro fiel do que foi parte do pensamento da Igreja Católica medieval, com uma imensa oposição à figura da mulher e um desejo ensandecido de manter a autoridade política, econômica e religiosa e, desse modo, de todo um contexto deste capítulo da história da humanidade. 

2. Mundo Assombrado pelos Demônios: (...) A obsessão com os demônios começou a atingir um crescente quando, em sua famosa bula de 1484, o papa Inocêncio VIII declarou: Tem chegado a nossos ouvidos que membros de ambos os sexos não evitam manter relações com anjos, íncubos e súcubos malignos, e que por meio de suas feitiçarias, palavras mágicas, amuletos e conjuros eles sufocam, extinguem e abortam os filhos das mulheres, além de gerar outras calamidades. Com essa bula, Inocêncio dava início à acusação, tortura e execução sistemáticas de inumeráveis bruxas em toda a Europa. Elas eram culpadas do que Agostinho descrevera como ato criminoso de bulir com o mundo invisível. Apesar do imparcial membros de ambos os sexos na linguagem da bula, não causou surpresa o fato de as meninas e as mulheres terem sido as principais perseguidas. Muitos protestantes influentes dos séculos seguintes, apesar de suas diferenças com a Igreja católica, adotaram visões quase idênticas. Até humanistas como Erasmo de Roterdã e Thomas More acreditavam em bruxas. (...) Se considerarmos que o ceticismo da sua época diminui na nossa, e se até um pouco de credulidade desenfreada ao final da época clássica ainda sobrevive na nossa, não é de se esperar que alguma coisa semelhante a demônios encontre um nicho na cultura popular presente? (Do livro, O Mundo Assombrado pelos Demônios, Carl Sagan). (V. Bruxaria, Demonologia, Diabo, Exorcismo, Íncubo e Súcubo, Inquisição, Magia, Satanismo).

Verbete extraído da obra “Do Meio-Dia à Meia-Noite”, obra do Ir∴ João Ivo Girardi.

Trata-se de Malleus Maleficarum. Traduzido para o português como Martelo das Feiticeiras ou Martelo das Bruxas.

É um livro escrito em 1484 e publicado em 1487 por dois monges alemães dominicanos, Heinrich Kramer e James Sprenger, que se tornou uma espécie de "manual contra a bruxaria". 

O livro foi amplamente utilizado pelos inquisidores por aproximadamente duzentos e cinqüenta anos, até o fim da Santa Inquisição, e servia para identificar bruxas e os malefícios causados por elas, além dos procedimentos legais para acusá-las e condená-las.

Fonte: JBNews - Informativo nº 231 - 16.04.2011

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