DIFERENCIAÇÃO ENTRE "A SALA DOS PASSOS PERDIDOS", O "ÁTRIO" E O "TEMPLO"
Ir∴ Paulo Roberto
Quem conhece um Templo Maçônico sabe muito perfeitamente
que este é constituído por três partes físicas, ou seja, “A Sala dos Passos
Perdidos”, “O Átrio” e o próprio “Templo”, onde se realizam os diversos
cerimoniais que diferem entre si, através dos Ritos e Graus trabalhados por
cada Loja e Obediência Maçônica.
Conquanto, ainda, esta necessidade não encontre um
percentual de 100 % (unanimidade), talvez por uma deficiência de construção
ou por falta de recursos financeiros, uma grande parte dos Templos Maçônicos
ainda suprime o Átrio. Ao mencionarmos a palavra Templo, temos que nos lembrar
da construção em si, quando o Templo no real sentido da palavra, deve ser o
local onde se desenvolve, liturgicamente, o Ritual. É a Oficina da Loja. É o
local de trabalho – o verdadeiro desbastar da irracionalidade que cada ser
possui.
O trabalho é totalmente constituído por atos simbólicos,
embora, todos os presentes, se encontrem cingidos com o Avental de seus
respectivos Ritos e Graus. O Avental geralmente se apresenta em quatro
modalidades: o do Aprendiz, o do Companheiro, o do Mestre e o do Venerável
Mestre, sendo que este origina um outro tipo de indumentária, a de Mestre
Instalado. Cada qual, possuindo seus próprios caracteres e diferenciados
matizes de cores.
Convém observar que infelizmente nem todo Templo
Maçônico, tal como já foi citado, possui Átrio, o que muito dificulta o
desenrolar das atividades consideradas de cunho esotérico. Mas mesmo assim,
falaremos um pouco sobre esse espaço físico tão importante para o
desenvolvimento das atividades maçônicas. Enfim, Átrio ou Vestíbulo é a
antecâmara que dá acesso ao Templo, onde, segundo alguns autores maçônicos,
deveriam estar colocadas as duas principais Colunas, denominadas por esses
escritores como “Colunas de Salomão”, com a nomenclatura simplificada de “J” e
“B”.
Observemos que talvez exista em nosso país algum Templo que
possua em seu Átrio essas Colunas; porém, sabemos ser difícil, uma vez que,
as Colunas, de uma forma genérica estão colocadas, na parte interna do
referido Templo, em paralelismo com o Trono do 1º Vigilante, isso se referindo
ao Rito Escocês Antigo e Aceito – R∴E∴A∴A∴, que é o mais difundido em
nosso território. Erroneamente, é lembrado por alguns, que o Átrio é a
área em forma de quadrilongo existente entre as citadas Colunas e a Porta de
Entrada e Saída do respectivo Templo, chegando até, algumas Lojas, a
colocarem três tipos de cortinados visando uma completa separação desses
espaços.
Se dissermos que nossos Templos tentam ser uma cópia fiel
do Grande Templo de Salomão, pode ser um grande exagero; apenas, a Maçonaria
procura construir os seus espaços, à “semelhança”, da obra imortalizada pelo
inigualável monarca, contudo suprindo-o de símbolos modernizados para que
sejam interpretados em consonância com a prática da atual filosofia
Maçônica. Tudo o que faz recordar a liturgia empreendida pelos hebreus, foi suprimido e isto é
perfeitamente compreensível, porque outra é a liturgia e a finalidade da
Maçonaria.
Simplificando, sabemos que uma Loja geralmente é composta
por dois salões e uma sala intermediária, sem haver um critério
pré-estabelecido, ficando a construção ao capricho de cada administração
condicionado ao poder econômico vigente da Oficina.
Inicialmente, temos a Sala dos Passos Perdidos, onde a
Irmandade se reúne, sem qualquer tipo de preocupação. Chega, cumprimenta a
todos, reata as conversações anteriormente interrompidas, dá conta dos
acontecimentos da semana, toma cafezinho, brinca, trata de negócios, o Irmão
Tesoureiro faz as devidas cobranças, é assinado o Livro de Presença, enfim,
em muito lembra, uma reunião tipicamente social. Aos poucos, no ambiente
agradável de verdadeira amizade, o Mestre de Cerimônias distribui paramentos
e joias, e começa a preparação para o Cortejo de ingresso ao Templo. As
Lojas geralmente reúnem-se semanalmente, obedecendo assim, de forma embora
simbólica, a fase lunar, pois de sete em sete dias, nosso satélite natural
muda de aspecto e posição.
Não existe possibilidade de se obedecer fielmente a essas
fases, porque, as Lojas se reúnem em conformidade com as condições impostas
pelos vários interesses de cada um de seus Membros, ou nas cidades maiores,
para que mais de uma Loja possa se reunir em dia preestabelecido. Nas capitais,
onde, geralmente, cinco ou mais Oficinas se reúnem dando origem às
Fundações que as congregam, os horários deverão ser bem estudados para dar
oportunidade a que todas possam encetar seus trabalhos, ora à noite, ou à
tarde e às vezes, nos dias de Domingo pelo período matutino. No interior dos
Estados, nas cidades menores, onde apenas existe uma Loja, os trabalhos por ela
executados deveriam obedecer rigorosamente às distintas fases lunares que
compreendem: Lua Nova, Quarto Crescente, Lua Cheia e Quarto Minguante.
Indubitavelmente, os dias de reunião não seriam fixos, mas
móveis o que não causaria nenhum tipo de transtorno, pois haveria a
confecção de um calendário para orientar os Membros do Quadro. Mas...
O efeito produzido pela fase lunar é de todos conhecido;
como influencia na agricultura, obviamente essa influência deverá ser sentida
no homem e em seus trabalhos, incluindo-se os relativos à Maçonaria. É a
parte astronômica da Arte Real, que a observa, sem, contudo cultuá-la, haja
vista que ornam os Templos, o Sol e a Lua. Infelizmente não sendo o objetivo
de nossa compilação nos deter nesta matéria, apenas sugerimos aos que
porventura se interessarem pelo assunto em pauta que até procurem informar-se
a respeito.
Retornando, frisamos que a Sala dos Passos Perdidos
apresenta caracteres próprios, de molde a que, um profano verifique tratar-se
de uma sala “diferenciada” dos ambientes tidos como comuns, encontrados nos
lugares públicos. Nas paredes, quadros alegóricos; estátuas, avisos,
retratos de personalidades, quer maçônicas quer históricas, de filósofos,
ou heróis, galeria de Ex-Veneráveis, enfim, uma antessala profusamente
ornamentada; mesas, cadeiras, poltronas, para emprestar à mesma um aspecto
acolhedor; cortinados, lustres, tapetes com a finalidade de enriquecê-la.
Assim sendo, é formado um ambiente adequado e que conduza a um “bem estar”, um
refúgio onde verdadeiros amigos deverão se abraçar.
Uma vez que todos estejam devidamente aparamentados ou
revestidos com as suas insígnias, são convidados pelo Mestre de Cerimônias,
para ingressarem no Átrio. Este ingresso deve acontecer de forma silenciosa;
cessam as conversas, os comentários; cada qual se coloca em seu respectivo
lugar, sendo que os Aprendizes Maçons deverão estar nas proximidades da
Entrada do Templo e os mais “graduados”, perto da porta de entrada do recinto.
Faz-se silêncio completo. Convindo a luz ser amenizada.
Surge “ao longe”, um hino, uma melodia. O Mestre de Cerimônias faz uma rápida
preleção, para conduzir o pensamento de todos ao fim colimado. É a
preparação para o ingresso no Templo!
Nesse momento cabe uma observação: o Irmão não somente
ingressará no Templo da sua Loja, conduzido pelos seus próprios passos, como
“ingressará”, no seu “Templo Interior”, no verdadeiro “Templo de Dentro”, o do
seu espírito, o da sua alma, o do seu “Infinito”. Pois, sendo o verdadeiro
objetivo da Maçonaria, fazer com que o “homem se descubra”, o seu primeiro
passo deverá ser o de “ingressar” em si mesmo, para o derradeiro encontro
entre o “ego” e o “Eu”. É a parte considerada esotérica e mística, que
acontece, justamente dentro do ambiente do Átrio; daí a grande relevância
desse momento.
Se a Sala dos Passos Perdidos tem tudo a ver com o
“Consciente”, ainda um tanto ocupado pelos problemas apresentados pelo mundo
profano, ou seja, “de fora”, o Átrio deverá representar o “Subconsciente”,
ocupado, apenas, pelos problemas de “dentro”, na preparação para o encontro
com o “hiperconsciente”, ou seja, o “Espírito”. Esta conscientização de
colocação dentro do Átrio deve ser despertada pelo Venerável Mestre que deverá determinar ao
seu Orador que instrua a todos, para a viabilidade de poder o Quadro, ingressar
no Templo, devidamente preparado. Ninguém em Loja poderá assumir qualquer
trabalho sem uma prévia preparação; esta até poderá ser rápida ou...
demandar um longo período de aprendizado, dependendo do interesse de cada um.
Sabe-se que um profissional no exercício da medicina, além
de cursar as bases de sua preparação intelectual, após alfabetizar-se,
gradativamente, deverá assumir novos esforços até ingressar na Universidade
e graduar-se; preparado para a profissão que tão bem escolheu, poderá
desempenhá-la a contento. De idêntica maneira é o conhecimento maçônico;
primeiramente como Aprendiz Maçom, e assim sucessivamente até alcançar o
Mestrado; estará nos preparatórios até que se lhe dê a oportunidade de
ingressar nos Graus ditos Filosóficos. Depois de uma paciente e longa
escalada, deverá atingir o conhecimento pleno e só assim, poderá
“compreender” o que hoje lhe são conhecidas como “meias-palavras”, e
mistérios. No fundo, inexiste o segredo propriamente dito; o que há é a
falta de capacidade para entender a Filosofia Maçônica no seu todo, talvez
por isso convenha considerarmo-nos como “Eternos Aprendizes”.
O Mestre de Cerimônias quando prepara o ingresso no Templo,
o deve executar como se estivesse dirigindo uma prece; cada Irmão passa do
estado consciente, através da meditação, a fazer parte de um todo
homogêneo, marchando silencioso, ingressando no Templo, atravessando as
Colunas e penetrando em um Mundo Novo, místico, simbólico, onde deverá
encontrar-se a “si mesmo” e achar de forma real o seu “verdadeiro Irmão”, que
se desnuda totalmente e se revela com o amor fraternal que açambarca a todo
grupo, qual Cadeia cujos elos se fundem em uma única simbologia. Assim
preparados, existe possibilidade de compreender o Ritual e o seu digno
desenvolvimento; o homem receberá a “carga positiva”, a “Egrégora”, que
deverá sustentá-lo por mais sete dias, tornando-o um “vencedor” nas suas
atividades profanas e na sua “missão” social.
Enfim, ao adentrar no Templo, o Maçom ingressará no
“Sanctus Sanctorum” (O “Santo dos Santos”) de seu próprio Templo onde deverá
encontrar o “Espírito” a quem denomina e respeita – o “Grande Arquiteto do
Universo”.
A importância cabida ao Átrio exsurge do relato bíblico;
vemos no Livro do Êxodo 27-9:19, que diz:
“Farás também o Átrio do
Tabernáculo; para um lado, isto é, para o lado meridional que olha para o sul
o Átrio terá cortinas de linho fino retorcido de cem cúbitos (0,5 m) de
comprimento; as suas Colunas serão vinte, todas feitas de cobre; os ganchos
das Colunas e as vergas (ficam na parte de cima de toda porta, janela ou
qualquer outra abertura) serão de prata.
Igualmente para o lado do norte ao comprido haverá cortinas
de cem cúbicos de comprimento, serão vinte as suas Colunas, e vinte as suas
bases, todas feitas de cobre; os ganchos das Colunas e as vergas serão de
prata. Para a largura do Átrio ao lado do ocidente haverá cortinas de
cinquenta cúbitos, as Colunas serão dez e as suas bases dez.
A largura do Átrio ao lado oriental que olha para o
nascente será de cinquenta cúbitos.
As cortinas para um lado da entrada serão de quinze
cúbitos; as suas Colunas serão três e as suas bases três. Para a entrada do
Átrio haverá um anteparo de vinte cúbitos, de estofo azul, púrpura,
escarlate e linho fino retorcido, obra de bordador; as suas Colunas serão
quatro e as suas bases quatro. Todas as Colunas ao redor do Átrio terão
vergas de prata; os seus ganchos serão de prata, e as suas bases de cobre.
Todos os utensílios do Tabernáculo em todo o seu serviço,
e todos os seus pregos e todos os pregos do Átrio, serão de cobre.”.
Nesse Átrio, havia, portanto, aproximadamente, cinquenta
metros por vinte e cinco, compreendendo uma sala com uma área útil de mil
duzentos e cinquenta metros quadrados! O número de Colunas era de cinquenta e
quatro, assim distribuídas: lateralmente na parte longitudinal, vinte de cada
lado; na parte do poente que era a entrada para o Templo apenas, quatro
Colunas, pois devia ser reservado espaço para a porta de entrada. Na parte do
nascente, dez Colunas.
A sala tinha cinco metros de altura, e não são dadas as
medidas das bases e das Colunas.
É por isso que damos bastante importância ao Átrio; se
houve de parte de Jeová, tanta preocupação e detalhes, significava que no
Átrio deveria processar-se cerimonial adequado à preparação para o ingresso
no Tabernáculo.
O que chama muita atenção é que no Átrio não havia nada
que fosse confeccionado em ouro. Simplicidade requerida por “Elevados
Princípios?”
Ir.'. Paulo Roberto -
M.'. I.'. da Loja Pitágoras nr. 15
Grande Secretário Adjunto Guarda-Selos da GLSC
prp.ephraim58@terra.com.br
Fonte: JB News – Informativo nr. 2.072
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