(Conto – Ficção)
Hercule Spoladore – Loja de Pesquisas Maçônicas “Brasil” – Londrina – PR
Sessão Magna de Iniciação linda! Durara quase quatro longas horas. Todos
satisfeitos, apertos de mãos, abraços tríplices, elogios sem fim, alguns exagerados
por parte de alguns Irmãos, mas é assim mesmo nestas ocasiões. A emoção toma
conta de todos, mas com maior intensidade especialmente por parte de alguns.
Ele estava satisfeito e feliz, havia se tornado maçom, e agora um antigo
sonho seu estava realizado. Seu Pai, grau 33, seu grande modelo de vida, agora no
Oriente Eterno, ou onde quer que esteja estará orgulhoso do seu amado filho.
Ele fora o único candidato que se apresentou naquela Iniciação. Por ironia os
outros dois não compareceram não puderam ser iniciados naquela noite.
Aliás, ele havia pensado muito neste aspecto quando ele estava na mofada
Câmara de Reflexão, situada no velho porão do templo antigo. Quanta coisa lhe
passou pela mente naqueles momentos e depois seguindo-se a cerimônia, até lhe
tirarem a venda, quanta surpresa. Jamais pensou que ser iniciado na Maçonaria era
daquela forma. Ainda estava em estado de graça, em estado alterado da mente,
raciocinando normalmente, mas sem poder julgar friamente tudo o que estava se
passando consigo. Será que todos os iniciados que passam por aquele lugar cheio
de mofo e ácaros, ar impuro, sentem as mesmas emoções?
Foi encaminhado após a Sessão ao salão de banquete, alegre, um pouco
cansado, mas muito tranquilo e feliz, admirou todos os maçons presentes todos bem
vestidos ternos escuros engravatados, achou bonito estes costume, um pouco
inusitado atualmente, mas sabendo que era tradicional, achou bonito.
Durante o banquete quando iniciaram os discursos, achou que estes
destoaram muito de toda aquela festa, porque três ou quatro Irmãos proferiram
longas e repetitivas falas, algum trecho sem nexo, estando um deles embriagado.
Ele pensou: será que maçom tem também este costume? Mas tudo bem. Hoje é dia
de festa.
Terminado o banquete o seu Padrinho, seu velho amigo que o havia
acompanhado até a porta do templo e o deixado lá horas antes para ser preparado
para a iniciação, também o levou para casa.
No caminho, o carro sendo dirigido em baixa velocidade, ambos conversando
trocando ideias e impressões sobre a cerimônia que acabava de ser realizada. O
afilhado todo entusiasmado começou a fazer perguntas. E o Padrinho respondendo-
as em detalhes, com aquele ar de superior solenemente tentava explicar todo o
simbolismo da Iniciação.
Conversa vai conversa vem ele começou a citar o que mais lhe havia
impressionado durante a Iniciação. Disse que em primeiro lugar foi quando lhe
tiraram a venda, não imaginava que havia tantos maçons dentro do templo, alguns
com espadas voltadas para si, ficou tomado de forte emoção. Achou até que os
Irmãos deveriam estar ao seu lado empunhando as espadas não contra si, mas
contra um provável inimigo oculto talvez representado por algum símbolo. Apesar da
fala do venerável explicando o simbolismo daquele procedimento, as espadas em
realidade estavam voltadas para ele.
O Padrinho sempre explicando que todos estes procedimentos são
simbólicos, que as espadas eram para defendê-lo e não agredi-lo.
Em segundo lugar foi quando estava na Câmara de Reflexão. Lembrou-se
dos símbolos lá existentes. Começou a comentar os dizeres escritos na parede, a
vela acesa, o galo, duas tíbias (ossos), um crânio, a ampulheta e outras coisas mais
que se lembrava, além da cobra empalhada que estava num canto da câmara no
chão, que por alguns segundos ele teve a impressão de que a vira realizar
movimentos leves.
O Padrinho estupefato perguntou: “cobra? Que cobra?”.
O Afilhado respondeu: “Ora, aquela cascavel empalhada num canto do quarto
apertado onde eu estava. O que é que a cobra simbolicamente representa na
Maçonaria? E porque uma cascavel? Não poderia ser outra cobra?”.
O Padrinho, confuso, engoliu a seco, quis mudar de assunto, mas antes
aplicou o famoso golpe de certos mestres que quando não sabem o que os
aprendizes e companheiros lhes perguntam respondem solenemente e com ar de
grande sabedoria:
“Não posso falar sobre este símbolo agora, você saberá quando chegar lá.
Você não iria compreendê-lo agora, no seu grau”.
Falaram sobre outros pormenores Iniciação e por fim deixou o Afilhado em
sua residência. O Padrinho estava intrigado. Agora quem não conseguiria dormir era
ele. Chegando em casa, telefonou para o zelador da loja e perguntou que
brincadeira era aquela, uma cobra empalhada na Câmara de Reflexão. O zelador
não sabia de nada, mas disse que no dia seguinte iria verificar.
Realmente havia no chão, num canto da Câmara de Reflexão uma cobra
cascavel, de noves guizos contados após o sacrifício do pobre réptil, inquilino
solitário e inocente do porão do templo...
Nota: Este conto de ficção maçônica foi baseado num fato verídico ocorrido numa
loja do interior do Paraná.
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