Irm∴ Edeildo Ferreira da Silva Júnior
...“A palavra da Lei é θΕΛΗΜΑ (vontade)”... “Fazes o que tu queres deverás ser o todo da Lei”... “Amor é a Lei, amor sob vontade”... “A palavra do pecado é Restrição”... “Não existe Lei além de fazes o que tu queres”..., estas são as frases mais emblemáticas do Livro da Lei (Liber Al Vel Legis), que foram ditadas pelo espírito Aiwass (o ministro de Hoor-paar-kraat), através da médium Rose Edith Kelly, durante lua de mel com Aleister Crowley, seu marido. Crowley (1875-1947), acreditado ser o profeta do Novo Aeon (nova Era), era um ocultista britânico e escritor que usava o pseudônimo de Therion (A Grande Besta), que ficou conhecido por suas obras sobre magia cerimonial, magia sexual e misticismo. Foi membro da Ordem Hermética da Aurora Dourado (Golden Dawn), co-fundador da Astrum Argentum (Estrela de Prata) e, mais tarde, líder da Ordo Templi Orientis (Ordem Templária Oriental).
Toda essa ideia de vontade, que logo se tornou a verdadeira vontade, fundamenta a filosofia religiosa fundada por Crowley, chamada de Thelema (θέλημα), cujo palavra deriva do verbo “thelo”, que significa “desejar”. Ainda, a filosofia de Thelema deriva seus principais deuses e deusas da antiga religião egípcia, em que a mais alta divindade de sua cosmologia é a deusa Nuit, tendo seu corpo representando o Universo repleto de estrelas. Daí o conceito Thelêmico de que “todo homem e mulher são estrelas”.
Bom, considerando todo o contexto da “verdadeira vontade” introduzidos por Thelema, bem como, utilizando alguns aspectos da Kabbalah Hermética do misticismo judaico, convido-o a iniciar uma reflexão sobre o Maçom e sua verdadeira vontade. Vivendo em um mundo profano (Malkuth, o plano terreno), quando o indivíduo profano inicia sua jornada de estudos, idealizações/desejos ou vontade (Yesod, a lua) em se aprimorar e se tornar Maçom. Desse modo, este deve ter em mente o compromisso assumido para com ele mesmo, com o G∴A∴D∴U∴, com sua A∴R∴L∴S∴, bem como, para com seus membros fraternos. Assim como a régua de 24 representa a ferramenta de planejamento temporal das ações do Maçom, esta pode ser entendida planejamento e estudos. Já o maço, ferramenta que remete à força da fraternidade, abastecida pela centelha divina ilimitada do G∴A∴D∴U∴, remonta a ideia da intenção, ou seja, a vontade.
Vale salientar que esta vontade que se fala aqui não é a vontade banal, aquela que é medíocre e passageira; pelo contrário, trata-se da verdadeira vontade, aquela que deve ser usada para executar “a grande obra”. Assim, o Maçom virtuoso, executando a sua grande obra (do latim, Magnum Opus), será como um grande Sol (Tiphereth), irradiando virtudes sobre aqueles que o cercam, dentro ou fora de loja.
Neste contexto, a grande obra refere-se a uma atividade específica (hobby, vocação, profissão, etc) em que o indivíduo executa sob vontade com excelência/maestria, a qual pode ser utilizada para inspirar e instigar virtudes em outras pessoas. Para Crowley, a grande obra referia-se um conhecimento adquiro por um indivíduo após conversação com o seu SAG (Sagrado Anjo Guardião), em que este recebia a informação de qual seria sua verdadeira vocação/missão no plano terreno.
O Maçom deve entender e aceitar o seu papel de “tijolo” no templo, em que a temperança e união fraternal devem estar acima das turbulências que o mundo profano possa causar. Então, o Maçom deve ter a postura de um pêndulo que, ao balançar, retorna ao equilíbrio (5º princípio Hermético: o Ritmo). Dessa forma, a vontade, com V maiúsculo, do Maçom deve estar diretamente relacionada ao compromisso de se fazer presente nas reuniões da sua A∴R∴L∴S∴, nas atividades de sociais, nas comemorações e/ou quaisquer atividades da loja.
Estudiosos contemporâneos defendem a ideia de que se um indivíduo deseja saber se está ou não executando sua verdadeira vontade, basta se fazer três questionamentos:
1-Quando está executando sua grande obra, conta as horas para retornar ao seu lar?
2-Imagina-se fazendo outra coisa que não a grande obra que está executando?
3-Consegue imaginar-se não podendo mais executar sua grande obra?
Se a resposta for NÃO para todas as perguntas acima, então é provável que o indivíduo esteja exercendo sua verdadeira vontade e, consequentemente, a sua grande obra. Muitas vezes esta verdadeira vontade pode ser interpretada como a verdadeira vocação de um indivíduo. Assim deve se sentir o Maçom, quando em loja, desejando não estar em mais nenhum outro lugar, doando-se 100% à sua confraria. Este deve permite-se ser como um virtuoso Sol, que ilumina e auxilia o Ven∴M∴ (Kether, a coroa) a também executar a sua grande obra.
É necessário, para o Maçom, entender que ele deve evoluir como ser humano, requerendo dedicação e disciplina, em que cada Maçom é inteiramente responsável por seu próprio crescimento intelectual. Tal aprimoramento pessoal necessita de sacrifícios.
Assim como o deus Moloch, cultuado pelos amonitas na terra de Canaã, que era conhecido como o devorador de crianças durante sacrifícios cerimoniais pagãos, nada mais é do que uma metáfora para que o homem remova o véu da inocência de sua consciência (ou seja, esqueça sua criança interna) e se lance no abismo do oculto para atingir sua iluminação e crescimento pessoal.
Considerando tais aspectos, ser Maçom não é para curiosos, ou para aqueles que desejam fazer fortunas (por muitas vezes adotando métodos não completamente lícitos), nem para aqueles que desejam aproveitar-se das virtudes de seus fraternos. A verdadeira vontade do Maçom precisa estar presente na sua entrega em loja, no pensamento de avançar no estudo do oculto e na transmutação de sua própria consciência existencial. Logo, não basta estar adimplente com suas obrigações financeiras em loja.
Para se autolapidar, muitas vezes é necessário que o Maçom se “desconstrua” para então se “reconstruir”, daí a expressão em latim “Solve et Coagula”, que significa “dissolve e coagula/aglomera”. Do mesmo modo que uma pepita de ouro deve ser forjada no calor do fogo para gerar uma bela aliança, o Maçom deve possuir a verdadeira vontade para aprimorar-se nas três principais esferas da vida: espiritual, mental e social; seguindo-se exatamente esta ordem, pois uma reflete na outra. Ainda, o Maçom deve ter vontade suficiente para frequentar a loja, trocar informações, ensinar e aprender; e quando retornar ao seu lar, ter a sensação que retornou um home melhor do foi, mesmo que em uma escala tímida.
Contudo, a jornada do Maçom em direção à sua verdadeira vontade é um caminho árduo de autoconhecimento e evolução contínua. Ao abraçar essa filosofia e reconhecer a importância de sua participação na confraria, o Maçom se transforma em um agente de luz e virtude, capaz de irradiar conhecimento e fraternidade. A verdadeira vontade, longe de ser um capricho passageiro, é a expressão mais pura de seu ser, guiando-o na busca incessante por sabedoria e realização pessoal. Assim, ao se comprometer com sua “grande obra”, o Maçom não apenas constrói seu próprio templo interno, mas também contribui para a edificação de uma sociedade com menos injustiças e mais iluminada, alinhando-se ao Universo e à sua própria essência.
Fonte: Revista Cavaleiros da Virtude nº 068
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