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PERGUNTAS & RESPOSTAS

O “Perguntas & Respostas” que durante anos foi publicado no JB News e aqui reproduzido, está agora no “Blog do Pedro Juk” . Para visita-lo ou tirar suas dúvidas clique http://pedro-juk.webnode.com/ ou http://pedro-juk.blogspot.com.br

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

TU ÉS UM MAÇOM REGULAR?

Não há essa pergunta em qualquer ritual maçônico da atualidade e em nenhum grau da escalada maçônica. Ao que tudo indica, contudo, essa é a pedra angular das organizações maçônicas voltadas mais para a burocracia do que para o simbolismo e filosofia. É lamentável ver um maçom analfabeto que tenha galgado o grau 33, sem saber qualquer significado de lendas ou personagens tratados na jornada para o ápice da pirâmide e que, de outra banda, arroga-se “regular” e imputa ao outro o anátema de “irregular”. Importa saber, antes de mais nada, qual a Loja Simbólica ou Potência/Obediência da qual se está filiado do que avançar o diálogo calcado em conhecimento histórico, simbólico e místico. Assim, o “MAÇOM DE PAPEL” é o primeiro a querer saber da carteira de identificação, do certificado do grau, de atestados, declarações, destinando suas paredes para a exibição. Antes de avançar nessa reflexão, insta questionar o conceito de regularidade. Afinal, o que significa “ser regular?”.

Num tempo próximo, onde os pedreiros reuniam-se em tavernas ou nos átrios de igrejas ou ainda em campo aberto, seria risível perguntar a um irmão - “és regular?”. Lembremo-nos que não havia qualquer templo para reunião periódica, porque nem periodicidade era obrigatória e de praxe entre os maçons.

Os templos, atendendo um conceito contemporâneo, foram fundados em 1726 apenas, e com reservas inicialmente. Não havia “grau superior ou filosófico”, grau de mestre, paramentos mais complexos, painel do grau (que não passava de desenho a giz ou carvão no chão), colunas, nós, degraus, balaustrada, altares, enfim... A instituição maçônica era formada mais de irmãos do que forjada de aparências. E o que dizer dos  “Supremos Conselhos”? O que antes era impensável e motivo de repulsa, hoje digladiam-se para saber quem é e quem não é “regular”. Nem mesmo foi no berço da Maçonaria que foi fundado o primeiro de tantos.

Ultrapassado o preconceito de achar que Maçonaria sempre existiu tal como é hoje, ainda há a questão da regularidade. Evidente que os termos “regular” ou “irregular” significam ambos um CONCEITO DE EXCLUSÃO. Ou seja, quem é regular deverá atender ou atentar para as regras, normas, estatutos, formalidades exigidas de quem se presta a “conceder” a regularidade. Assim, essa disciplina gera subordinação, dominação, submissão a determinado conjunto de normas, usos, costumes da Obediência da qual se pressupõe a regularidade. Mas... e quem foi a primeira “Potência Regular”? Foi a dos Estados Unidos que organizaram o primeiro Supremo Conselho ou da Inglaterra, onde aparentemente se estruturou a primeira Loja ou primeiro Grão-Mestrado? Será menos “regular” a França que teve os pedreiros-livres em seu seio antes mesmo dos Estados Unidos virarem um país independente? E o que dizer no Brasil? Será “regular” o Oriente mais antigo, com e sem vários reconhecimentos internacionais ou o Oriente que se rebelou daquele primeiro, fundando outra potência? Qual das rupturas políticas gerou a “potência mais regular”? E acaso se reconhecem uma e outra que convivem há décadas?

Vê-se que “regularidade” depende da instituição, conselho, congregação, para os quais voltem-se o agrupamento que busque esse título. Esse procedimento é, como tudo o mais na vida, vinculante à coerência. Uma potência pode-se dizer “regular”, quando outra vizinha não a reconhece? Afinal, será que a regularidade maçônica está sob o jugo e cabresto de um conjunto de outras potências externas, elas mesmas lutando por ser “mais regular e reconhecida” que a anterior? Por óbvio, o raciocínio nesse diapasão não poderá prosperar, porquanto teremos a seguinte aporia. Uma potência brasileira “X”, do século XIX diz-se regular, da qual nasceu uma potência brasileira “Y”, por meio de um rompimento. Essa potência “Y” não será regular quanto à potência “X”, mas o será quanto a um Supremo Conselho Internacional... E então, como ficamos? Ora, sempre de um prisma, a Obediência será e não será regular, dependendo da conveniência política de ocasião, da instituição que reconhece, dos interesses em jogo, da penetração social disposta no tabuleiro.

Como chegamos a esse ponto? Onde erramos tanto? Como conseguimos desvirtuar a Maçonaria dessa forma? Atualmente, hoje maçons corrigem maçons, dizendo o que é “certo” e o que é “errado”, sendo que a história nos demonstra que nunca houve nada além de Lojas livres, sem subordinação, sem obediências. Fico abismado ver os doutos expedirem os pareceres sobre cores, colunas, nós, altares, disposição de oficiais, jóias, usos e costumes, e essa pletora de práticas que compõe um ritual que, ele mesmo, sofreu centenas de modificações ao longo do tempo, por razões das mais diversas. A palavra sagrada sempre foi..., o sinal sempre foi..., a cor sempre foi..., a posição sempre foi... Mentira! Foram tantas as mudanças e eram tantas as vertentes locais, regionais e nacionais, ritos dos mais diversos simplesmente “inventados” que não há como se chegar a um consenso entre o certo e o errado. Há os princípios gerais e só. Mais do que isso é fantasiar a história e mitificar a própria Obediência que sempre se arroga como “antiga, regular, aceita” e outros adjetivos. Na verdade, tais qualificações são excludentes.

Será que não nos demos conta que a estrutura profana dominou a maçonaria atual? Tribunais, Ministério Público, Defensoria, Conselhos, Tratados, Direito Maçônico, Jurisprudência, Atas, Secretarias, carimbos,  carteiras. Qual a origem disso tudo? É tradição ou criação moderna?

Então, resta a pergunta: tu és um maçom regular? Como responder? É muito simples, ao contrário do que parece. Vejamos algumas colocações:

1) o maçom estuda com freqüência e conhece o significado dos símbolos de seu próprio rito?

2) o maçom é assíduo na loja da qual é filiado, arcando com todas as obrigações para com sua própria potência?

3) o maçom reflete na própria família os ensinamentos adquiridos nas lojas que freqüenta?

4) o maçom estende a mão a outro irmão, quando necessário, sem

atender à coloração política?

5) o maçom transforma a sociedade em seu redor, atuando positivamente para a fraternidade e liberdade?

6) o maçom julga-se igual ao seu semelhante, não fazendo distinção de credo, raça, religião ou orientação política?

7) o maçom é um exemplo de vida e de compostura diante da sociedade?

8 ) o maçom aplaina as divergências e fomenta o consenso, ainda que se despindo de vaidades?

9) o maçom é discreto quanto à sua própria condição?

10) o maçom está preparado para o Oriente Eterno e prepara os seus que estão à sua volta?

É simples, por conseguinte, ser regular. Não é preciso qualquer certidão na parede para dizer ao público que se é honesto, assim como os atestados de regularidade são plenamente dispensáveis quando a potência ou as lojas semeiam cizânia, discriminam, excluem. A família do “irregular” vive contendas; sua loja não pode contar com ele, porque não sabe se comparece ou não; abandona a loja, ao galgar o grau pretendido; deixa de estudar, de escrever, de dialogar, de palestrar, de conviver, tornando-se um poço de preconceitos sem qualquer explicação razoável.

Meus irmãos, paremos para refletir quanto maior a altura, mais se vê a planície com perfeição. Ocorre, no entanto, justamente o contrário: maçons não preparados para as alturas sentem a “VERTIGEM DOS GRAUS”, na estratosfera onde beiram, sem conseguir respirar esses ensinamentos pelos quais sabem apenas pela audição.

“Ser regular” é ser honesto consigo mesmo e com o grupo a que se deve fidelidade. É simples, meus irmãos, é fácil e é ético. Vamos nos recolher silenciosamente contra a “maçonaria de papel” e somar esforços para seremos livres, verdadeiramente livres e de bons costumes. Seja, pois, regular primeiro consigo e para com os seus e, somente então, cogitar da condição alheia.

Texto original publicado no Blog Consciência Maçônica, por Clóvis Vieira, em 28 de fevereiro de 2008. Disponível em: http://unilojas.blogspot.com/2008/02/cmara-das-reflexes.html

Fonte: JBNews - Informativo nº 190 - 05/03/2011

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