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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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segunda-feira, 14 de novembro de 2022

A RÉGUA DE 24 POLEGADAS

(republicação)
Questão que faz o Respeitável Irmão José Ronaldo Viega Alves, Primeiro Vigilante da Loja Saldanha Marinho, sem declinar o nome do Rito e da Obediência, Oriente de Sant’Ana do Livramento, Estado do Rio Grande do Sul.
ronaldoviega@hotmail.com

Recorro a esse Consultório Maçônico para tentar dirimir uma dúvida, ou para uma orientação sua sobre o assunto. Ao montar uma instrução versando sobre as ferramentas do Aprendiz-Maçom (o que parecia muito simples) acabei por cavar uma dúvida daquelas de tirar o sono. Com referência à Régua de 24 polegadas que é ponto pacífico, um dos instrumentos do Aprendiz. 

Ao fazer algumas pesquisas, e usando do livro clássico de Jules Boucher "A Simbólica Maçônica" deparei-me com algumas citações ali contidas que me confundiram um pouco. Na pág. 35, ele diz o seguinte: "Para o Rito Escocês, a Régua é que deve ser o atributo essencial do Companheiro". E na pág. 36, no segundo parágrafo, assim: "Com efeito, o Aprendiz apresenta-se com uma "Régua lisa" que carrega no "ombro esquerdo" (lado passivo); ao se tornar Companheiro, ele deveria carregar uma "régua graduada" sobre o "ombro direito" (lado ativo). 

A régua graduada está dividida em vinte e quatro seções, e é então designada pelo nome de "Régua de vinte e quatro polegadas". Essas vinte e quatro divisões estão relacionadas com as vinte e quatro horas do dia, que devem ser todas convenientemente empregadas." 

Bem, ainda prosseguindo nas pesquisas que o assunto requeria deparei-me com uma resposta do Irmão Castellani nesse mesmo Consultório Maçônico, em edição da revista "A Trolha " de Janeiro 2003, pág.21, onde ele em resposta à pergunta de um Irmão sobre a Simbologia da Régua de 24 polegadas, em determinado momento ele diz assim: 

"(...) Por isso ela é, também, um Símbolo do Aprendiz, que desbasta a pedra informe, embora alguns Ritos não a coloquem como tal. Essa é a Régua não graduada. A Régua de 24 polegadas, que é usada durante cerimônia de Elevação ao Segundo Grau, é um Símbolo do tempo (como a ampulheta da Câmara de Reflexão) a mostrar a efemeridade da vida humana, sugerindo, então, o bom aproveitamento da existência na construção do Templo espiritual do homem." 

Meu Irmão, no que se refere à interpretação simbólica, tanto uma como a outra não são diferentes. O que eu gostaria de saber é se de fato há uma diferença na régua que o Aprendiz carrega até a entrada no Templo para a Elevação, se a régua muda depois, ou se está havendo alguma interpretação errada nesse sentido. Resumindo: São duas réguas diferentes ou é uma só?

CONSIDERAÇÕES:

Existem algumas ponderações que acho necessárias. O sistema doutrinário dos Ritos Maçônicos se difere em alguns pontos, embora o objetivo especulativo seja sempre o mesmo. 

Para tanto os dois sistemas principais acabaram por adquirir princípios culturais e, mesmo por influência religiosa, também o formato teísta e deísta. O Primeiro faz parte em linhas gerais da Maçonaria Inglesa e o segundo da Maçonaria Francesa. De acordo com o painel instrutivo as ferramentas ganharam mais ou menos importância conforme o Grau.

Nesse sentido existiu a profusão de ritos no Século XVIII em uma distinção bem visível naqueles de vertente francesa e os outros “trabalhos” (na Inglaterra não se reconhecem “ritos”) de origem inglesa.

Assim algumas particularidades que se apresentam em um Grau podem não se apresentarem em outro, dependendo do rito e sistema, ou vertente.

Outro aspecto que não deve passar despercebido era o que acontecia antes do aparecimento dos ritos propriamente ditos, não se esquecendo de que após a inauguração do sistema obediencial em 1.717 em Londres, surgiria ainda à figura da Obediência – Grande Loja, na Inglaterra e Grande Oriente, na França.

Nesse caráter mais antigo só existiam duas classes de trabalhadores, posteriormente tratados de Graus – o Mestre como Grau especulativo só apareceria em 1.724. 

Em se falando em dois graus, a divisão de ferramentas era diferente daquela que conhecemos na Moderna Maçonaria.

Sob essa óptica, muitos ritualistas acabaram por generalizar os procedimentos tanto litúrgicos como ritualísticos e para “engrossar o caldo” ainda apareceriam aqueles que simplesmente “acham bonito”. Isso acabou por resultar em uma miscelânea de costumes e práticas particulares de um em outro rito, cujos rituais ao longo dos tempos acabariam aprovados e não em raras vezes ficaria difícil de explicar um procedimento.

Dadas essas considerações, no sistema inglês de maçonaria, no caso da Régua, ele adota em linhas gerais nos seus “Trabalhos” (Emulação, Bristol, Taylor’s. Humber, Sussex, West End, etc.) a de Vinte e Quatro Polegadas para o Grau de Aprendiz, enquanto que no Rito Escocês Antigo e Aceito, por exemplo, que é do sistema francês embora no seu simbolismo exista influência anglo-saxônica (o termo “antigo”) não adota a Régua graduada para o Primeiro Grau.

O que aparece sutilmente no Primeiro Grau do Rito Escocês é a Régua lisa durante a entrada do Aprendiz para receber o seu aumento de salário, quando ele conduz no ombro esquerdo uma régua sem graduação que simboliza no seu grau o trabalho na pedra e a verificação de arestas a serem retiradas para o bom serviço dessa matéria prima no assentamento. 

Por ser ele ainda Aprendiz, simbolicamente a graduação não é ainda da sua compreensão – isso para o Rito Escocês. Há que se notar que no desenrolar do aperfeiçoamento protagonizado pelas cinco viagens, a régua é substituída pela graduada em 24 polegadas. Isso não implica que um Aprendiz de um sistema seja melhor que o outro. A questão é mesmo de arcabouço doutrinário.

Há que se notar que na alegoria do Companheiro, ele aparece no Rito em questão, com uma Régua graduada apoiada no ombro. Assim ela também aparece no Painel da Loja do Companheiro, diferente do de Aprendiz onde a mesma é inexistente.

Já na doutrina inglesa a relação do bom aproveitamento do tempo está presente nas Instruções Prestonianas da Tábua de Delinear do Primeiro Grau.

Aliás, é bom que se diga que a vertente inglesa (teísta) evoca instruções relacionando o obreiro, as ferramentas e a obra da construção, enquanto que a francesa ao fazer uso desse artifício a faz relacionando também o obreiro às Leis da Natureza (deísta).

Outra questão é que os rituais com raras exceções, não distinguem a Régua, o que acaba na interpretação equivocada de se imaginar o trato de um único instrumento.

Na interpretação do Rito Escocês a Régua graduada para o Companheiro dotado simbolicamente de mais compreensão, é como diz o saudoso Irmão José Castellani, um símbolo do tempo, nem tanto na relação do tempo diário, porém com o que se faz a cada dia no longo da vida. 

Já na interpretação inglesa a graduação envolve desde o Aprendiz, cuja lição principal é a de dosar o tempo diário – tempo do trabalho, tempo do descanso e o tempo da oração (agradecimento) sem cunho religioso dogmático.

Por assim ser e pelos sistemas ou vertentes distintas, a Régua de Vinte e Quatro Polegadas é instrumento do Companheiro no Rito Escocês Antigo e Aceito, enquanto que quase oculta a Régua lisa (sem graduação) seria a do Aprendiz, fato que anda praticamente esquecido, raramente comentado na atualidade. 

Diz-se geralmente no Rito em questão que os instrumentos de trabalho do Aprendiz são o Maço e o Cinzel. Já no Trabalho de Emulação (inglês) é bem claro que esses instrumentos no Grau são o Malho, o Escopro e a Régua de 24 Polegadas.

É bastante provável que a vertente inglesa dê mais ênfase à régua, pelas suas características de nascimento operativo quando o Grau de Companheiro é tido como verdadeiramente o mais genuíno da Maçonaria. 

Já me parece que o outro sistema trata toda essa tradição como um simples grau intermediário – na minha concepção é um ledo engano. 

Antes de finalizar eu gostaria de lembrar que Joules Boucher é sem dúvida um excelente autor, desde que separemos as suas investidas pelo ocultismo. Entendo que concepções, por exemplo, de “lado ativo e passivo” são convicções pessoais e não o pensamento universal da Sublime Instituição. 

Já o excelente José Castellani pela sua obra, conhecimento e contribuição para a cultura da Maçonaria, seria difícil encontrar adjetivos para enaltecer esse Mestre.

Finalizando e ratificando para responder a vossa questão final – No Rito Escocês Antigo e Aceito são duas as réguas, uma graduada e outra sem graduação, cuja aplicação maçônica é dada conforme o Grau Simbólico. 

Se a questão fosse ao sistema inglês, a régua é única - graduada e pertencente ao Grau de Aprendiz. A questão é se souber a que sistema pertence à doutrina. Isso nos leva a entender que Maçonaria não é apenas um Rito, mas um sistema eclético que abriga uma diversidade de “ritos e trabalhos” com enfoque cultural, regional e de período na história, cujos trabalhos especulativos convergem indistintamente para um ponto comum – construir um novo Homem.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 0848 Florianópolis (SC) 22 de dezembro de 2012.

2 comentários:

  1. Muito elucidativa a matéria em prancha. Ficou muito claro a diferença e, ao mesmo tempo, a igualdade de ambas as réguas. Parabéns pela bela explicação. Meu respeitável cumprimento.

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  2. Muito ilustrativo, aprendi mais,muito obrigado, um tríplice e fraterno abraço.

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