Tradução J. Filardo
Publicações recentes criaram um debate sobre como a Maçonaria Escocesa é diferente de outras formas de Maçonaria. Nós explicamos anteriormente que há diferenças substanciais nos paramentos (o uso de aventais embaixo do paletó é apenas um exemplo), ou em seu ritual visto que não existe ritual e regulamento escocês “padrão” (As lojas escocesas têm uma ampla independência nesses assuntos).
No entanto, estas são manifestações externas de razões mais profundas, mais fundamentais, a respeito de porque essas diferenças existem. Tendo sido questionados sobre o que podemos fazer melhor que reproduzir este artigo que, esperamos, responderá a todos aqueles que pediram mais informações. Infelizmente, não é possível responder a todos os emails e mensagens sobre este assunto – daí a postagem deste artigo.
A Grande Loja da Escócia reconhece numerosas Grandes Lojas em todo o mundo como ‘regulares’ e as Lojas visitantes sob aquelas Grandes Lojas Irmãs são permitidas desde que acordos sejam feitos através dos respectivos Grandes Secretários. As Grandes Lojas Irmãs Reconhecidas são corpos soberanos por direito próprio e a Grande Loja da Escócia não pode interferir nos assuntos internos dessas Grandes Lojas, embora o conselho possa ser oferecido se solicitado. Em outras palavras, cada Grande Loja tem seus próprios procedimentos internos, burocracia em alguns casos, definições quanto ao significado de vários aspectos da Maçonaria. No último caso, tais definições são aplicáveis apenas à Grande Loja em questão e não podem ser ‘transferidas’ para a Maçonaria Escocesa.
Recentemente tem havido alguma discussão como o ‘significado’ do Ritual Maçônico Escocês, Paramentos e Simbolismo. Ao ler a Constituição e as Leis da Grande Loja da Escócia (GLoS), alguém poderia ser perdoado por pensar que não havia opiniões sobre esses assuntos. O silêncio sobre o significado de todos os aspectos da Maçonaria Escocesa, não apenas na Constituição e nas Leis, mas também em outras publicações oficiais, não significa que tais opiniões não existam, muito pelo contrário. Por que então não há explicações oficiais de nenhum dos elementos da Maçonaria Escocesa? Esta questão vai para o ponto crucial do que é a Maçonaria Escocesa.
A GLoS acredita que a Maçonaria Escocesa é uma estrutura dentro e ao redor da qual indivíduos realizam sua jornada maçônica. Essa visão é criada em parte pela história e origem da Maçonaria Escocesa, bem como pela psique dos escoceses em geral. Sem entrar em muitos detalhes, é suficiente explicar que, antes da criação da GLoS, em 1736, existia uma rede nacional de Lojas, desde pelo menos 1598, senão antes, cuja composição incluía maçons operativos e não operativos. Havia Lojas cuja composição era inteiramente de maçons operativos (por exemplo, a Loja Journeymen Masons, No. 8), Lojas que não tinham maçons operativos como membros (por exemplo, a Loja Haughfoot) e Lojas que tinham tanto maçons operativos como não operativos como membros (por exemplo, a Loja de Aberdeen 1ter). Essas Lojas existiam independentemente umas das outras e sem qualquer “sede” para direcioná-las de um ponto central. Esse sistema era, e até certo ponto ainda é, bem adequado à psique dos maçons escoceses (se não a população em geral). A independência das Lojas antes de 1736 também se traduziu em um grau significativo de independência para as Lojas fundadas depois de 1736.
Ao contrário de outras Grandes Lojas, que têm e usam muito mais poder e autoridade do que a GLoS, ela funciona mais como um facilitador e órgão consultivo. Não se conhece esse método não autoritário de governança em outras partes do mundo maçônico e ele tem um impacto direto sobre a natureza da Maçonaria Escocesa. Em primeiro lugar, porque a participação na Maçonaria é uma experiência pessoal que difere de pessoa para pessoa, o significado de diferentes aspectos da Maçonaria também pode diferir de pessoa para pessoa. Embora possa haver um consenso entre alguns maçons escoceses sobre o que qualquer palavra ou símbolo particular pode significar, pode haver outras explicações alternativas.
A letra “G” será suficiente para ilustrar esse ponto. Um maçom que seja cristão pela fé geralmente interpretará a letra ‘G’ como G_D, mas um maçom que é muçulmano pode muito bem rejeitar essa ideia porque ele não pode aceitar que G_D possa ser reduzido a uma mera letra de um alfabeto humano. (1) Ele argumentará que a letra ‘G’ significa geométrica ou talvez geometria. Por razões semelhantes, um maçom que seja judeu pode argumentar que ‘G’ representa a bondade – a bondade inata dentro de cada ser humano. Existem várias outras interpretações possíveis. Uma vez que a GLoS expressasse uma opinião quanto ao significado da letra ‘G’, essa se tornaria a interpretação de fato e, portanto, amplamente aceita pela maioria dos maçons escoceses. Se a GLoS fornecesse tais interpretações, ela criaria, de fato, um dogma maçônico escocês e que poderia ser usado para definir a Maçonaria como uma religião – algo que os maçons regulares sempre rejeitaram.
A Maçonaria Escocesa é, portanto, considerada uma experiência individual, ou jornada, ainda que tomada com a ajuda, assistência e orientação de outros maçons. O significado e a interpretação do Ritual Maçônico Escocês, Paramentos e Simbolismo, por uma boa razão, não são fixos e são deixados à interpretação do maçom individual. Esta é uma das razões pelas quais a Maçonaria Escocesa permanece única no mundo e deve permanecer assim por muito tempo.
Robert L D Cooper, FRSA, BA, FSA Scot
Curador do Museu e Biblioteca da Grande Loja da Escócia
(1) G_D é usado aqui em deferência aos nossos irmãos judeus e muçulmanos que não interpretam G_D da maneira cristã.
[Reproduzido do GLoS Year Book, 2015 – Ed.]
Fonte: https://bibliot3ca.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário