Páginas

PERGUNTAS & RESPOSTAS

O “Perguntas & Respostas” que durante anos foi publicado no JB News e aqui reproduzido, está agora no “Blog do Pedro Juk” . Para visita-lo ou tirar suas dúvidas clique http://pedro-juk.webnode.com/ ou http://pedro-juk.blogspot.com.br

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

A IDADE SIMBÓLICA DO MESTRE MAÇOM

Em 09/06/2017 o Respeitável Irmão Henri Marques, Loja Cavaleiros de São João de Ribeirão Preto, 4.171, Rito Brasileiro, GOSP-GOB, Oriente de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo, pede esclarecimento para o seguinte.

S⸫AA⸫ e M⸫

Gostaria de saber por que a idade do Mestre Maçom é "S⸫ aa⸫ e m⸫" e não apenas s⸫ aa⸫, sobretudo no Rito Escocês e Brasileiro?
Nos outros sistemas maçônicos - como o York e o Emulação - a idade do Mestre é s⸫ sem esse "mais".
Aliás, isso me fez lembrar o que disse o saudoso mano José Castellani, no seu Consultório Maçônico, quando diz que na Câmara do Meio as baterias e as luminárias devem ser em número de 7 e não de 9. O que é esse "9"? "7 e mais" ou "9"? Que confusão!

CONSIDERAÇÕES:

Antes algumas explanações que interessam à doutrina maçônica sobre a abordagem simbólica do número sete.

Assim como no simbolismo iniciático o número três é relativo ao Aprendiz e o cinco ao Companheiro, o sete é especulativamente o número do Grau de Mestre Maçom na Moderna Maçonaria.

Desde a Antiguidade, sem que se pense em colocar a Maçonaria nesse período da História, em muitas concepções iniciáticas, o número sete sempre ocupou lugar de destaque como tema para estudo - é o caso, por exemplo, dos babilônios quando se ocuparam com a construção dos sete recintos cúbicos na Torre de Babel. Assim também ocorre no Livro da Lei Sagrada adotado pela Maçonaria quando o número sete é largamente mencionado em muitas passagens bíblicas - sete eram as vacas e as espigas do sonho do faraó (Genesis, 41 – 26), sete os dias dos pães ázimos, sete os dias da consagração dos sacerdotes (Êxodo, 29 -35), sete os braços do candelabro (Menorá), sete os planetas da Antiguidade e sétimo o dia santificado por Deus(shabat). Ainda no Novo Testamento em Mateus, 18-21 e 22-25; Marcos em 12-20; Lucas em 17-4 e 20-29 e Atos em 6-3 (os sete homens de boa reputação).

Outro exemplo que pode ser observado no que diz respeito à liturgia maçônica e o número sete está em Provérbios 9-1: “A Sabedoria edificou a sua casa e lavrou suas sete colunas” - foi dessa expressão o caráter pelo qual a Moderna Maçonaria determinou a composição de um mínimo de “sete Mestres na Loja para torna-la justa e perfeita”.

Ainda outra citação que merece ser mencionada sob o ponto de vista da liturgia maçônica é a Menorá (candelabro de sete braços). Da tradição hebraica, ele simboliza os sete planetas da Antiguidade e a luz dos astros vinda do Sul. À época os sete planetas conhecidos eram o Sol, a Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno, os quais, como se percebe, não eram todos planetas, pois, nessa relação há uma estrela, o Sol, e um satélite, a Lua. Essa representação e influência setenária astronômica é perfeitamente visível na decoração da abóbada celeste no REAA⸫, por exemplo.

Em se comentando a abóbada celeste do Templo, nela também se apresentam as constelações relativas ao Aprendiz, o Cinturão de Órion[1] (três estrelas); ao Companheiro, as Híades[2] (cinco estrelas) e ao Mestre as Plêiades[3] constituída por sete estrelas.

Dados esses breves apontamentos, há que se observar então quanto o número sete (setenário) tem sido importante como tema para estudo no Terceiro Grau, destacando-se as particularidades que cada rito e trabalho maçônico possam possuir.

Adotado no ideário maçônico especulativo, o número sete, tal qual o significado do shabat na cultura hebraica, é um símbolo numérico relacionado à criação, à conclusão e ao resultado.

Provavelmente foi por isso que o sistema especulativo maçônico também o associou à idade simbólica do Mestre como que a exaltar a experiência adquirida, o que, de modo sumário, se resume na conclusão do aprendizado necessário para suplantar todas as etapas apresentadas durante o percurso pela vereda maçônica (observe-se a escada sinuosa com lances de três, cinco e sete degraus).

Sob o ponto de vista prático e tradicional, sete anos era o tempo que o artífice da construção levava para se especializar na “arte” e com isso adquirir o direito de constituir sua própria Guilda. Em síntese, após sete anos comprovados ele adquiria o direito de se locomover livremente (franco), contratar obras, instruir e admitir novos membros para a Guilda. 

Se, como exposto, literalmente à época da Maçonaria Operativa o artífice da pedra calcária levava em média sete anos para se preparar e aparelhar as suas ferramentas, esse conceito mais tarde viria sugestivamente também ser agregado ao costume especulativo (dos Aceitos) aparelhado pelas doutrinas ritualísticas das duas principais vertentes da Moderna Maçonaria – a inglesa e a francesa.

Foi dentro desse entendimento doutrinário que os Maçons Aceitos, conforme a sua vertente maçônica, fariam aparecer à idade simbólica do Mestre - pura e simplesmente como S⸫ AA⸫ (tempo determinado), ou de tempo indeterminado como S⸫ AA⸫ e M⸫, embora alguns autores, como Alec Mellor, substituíssem a conjunção “e” por “ou”, ficando então S⸫ AA⸫ ou M⸫.

Idade de S⸫ AA⸫
Na autêntica vertente inglesa de Maçonaria, geralmente o Craft determina a idade simbólica do Mestre por tempo determinado, ou seja, pura e simplesmente como S⸫AA⸫. Isso se explica porque a doutrina de aperfeiçoamento do Terceiro Grau no Craft é ilustrada pelo completo domínio das Sete Ciências e Artes Liberais da Antiguidade, o que é comumente apresentado nas preleções sobre o último lance (conjunto) da alegórica escada sinuosa que é constituído por sete degraus, dos quais, cada degrau corresponde a uma das Sete Ciências[4]

Na verdade essa alegoria menciona que a Árvore da Vida, situada no topo da escada sinuosa, só será alcançada por aquele que possuir completo domínio das Sete Ciências e Artes Liberais – Gramática, Retórica, Lógica; Aritmética, Geometria, Música e Astronomia. 

Essa ideia de concepção emblemática busca enaltecer no tempo correspondente a cada um dos sete anos (vida simbólica), uma das Sete Ciências, de tal modo que cada ano seja uma qualidade própria para produzir efeitos e disposição constante para a prática da moral, como é o caso, por exemplo, da Geometria (uma das Sete Ciências correspondente ao quinto ano) que denota a regra de orientar o Maçom a construir conforme as exigências Arte. Em síntese é o processo de moral elevado que se aplica na construção da Obra da Vida.

Ainda na vertente inglesa de Maçonaria e a sua relação com a idade do Mestre, aparece também à alegoria da Estrela de Sete Pontas que é encontrada na Tábua de Delinear do Primeiro Grau ficando ela posicionada no topo de uma escada que se apoia no Livro da Lei Sagrada e vai até o firmamento. Sobre os degraus dessa escada, de maneira equidistante, arranjam-se os três símbolos das Virtudes Teologais - Fé, Esperança e Caridade. 

Para relacionar essa alegoria à idade completa do Mestre, somam-se às Três Virtudes Teologais as virtudes da Justiça, da Prudência, da Temperança e a da Coragem, cujos símbolos encontram-se representados pelas as quatro Borlas colocadas nos quatro cantos da Tábua de Delinear (Tracing Board). O resultado da soma dessas virtudes é o número sete que corresponde às pontas da estrela que fica no topo da escada e que, por sua vez, satisfaz à idade do Mestre, ou seja: S⸫ AA⸫ completos, ou de tempo determinado. 

Interpreta-se esse emblema setenário relacionado ao tempo de vida simbólico do Mestre como “a obra construída é a vida do próprio homem, desde que pautada pelos princípios da crença em um Arquiteto Criador, pela confiança em atingir o seu objetivo com complacência e benevolência e vivida pelo princípio da moderação, do comedimento e da resolução, de modo firme e constante”. Eis aí a razão pela qual alguns rituais adotarem para a idade do Mestre apenas S⸫ AA⸫

Vale a pena comentar a influência teísta que é predominante nas concepções simbólicas dos Trabalhos da vertente inglesa de Maçonaria, o que se difere em vários aspectos dos ritos deístas da vertente latina de Maçonaria (francesa) como é o caso do REAA⸫, muito embora nele, em particular, também existam influências do teísmo anglo-saxônico.

Idade de S⸫ AA⸫ e M⸫ 
Na vertente francesa, diferente da inglesa, o Rito Escocês Antigo e Aceito (rito que é filho espiritual da França) a sua compreensão doutrinária deísta concebe a ideia do Homem como investigador da Natureza. Nesse particular, na sua alegoria iniciática principal que envolve os três graus simbólicos, procura-se identificar o Maçom como parte integrante de um ambiente natural geometrizado por um Princípio Criador – a concepção filosófica do deísmo admite a existência de Deus, porém destituído de atributos que interfiram diretamente nas coisas do Mundo.

Sob a óptica filosófica do deísmo a Moderna Maçonaria francesa, especulativa por excelência, viria assim estruturar um ideário de transformação e aperfeiçoamento intelectual objetivando a criação e o relacionamento do Homem com Natureza.

Nessa concepção, o Rito Escocês Antigo e Aceito exalta o teatro iniciático da morte e do renascimento da Natureza relacionando simbolicamente os ciclos naturais que compreendem as estações do ano com as etapas da existência humana.

Apesar do ideário do “morrer para renascer” não ser um patrimônio exclusivo do ensinamento maçônico, ele é, entretanto, latente na estrutura doutrinária do escocesismo simbólico, como se verá a seguir.

Assim, na alegoria iniciática Homem-Natureza, sugestivamente a primavera representa o nascimento e a infância; o verão, a adolescência e a juventude; o outono, a maturidade; o inverno a morte. Em síntese é a duração da vida.

Isso explica, por exemplo, a presença das Colunas Zodiacais no Templo do REAA⸫, já que o seu simbolismo indica que cada ciclo é um tempo existencial pelo qual o iniciado passa ao longo do percurso da vida – o Aprendiz, a infância, o Companheiro, a juventude (Meio-Dia) e o Mestre a maturidade (Meia-Noite). Na verdade tudo se reporta à transformação e o aperfeiçoamento (Luz – Esclarecimento).

Outra consideração importante no rito em questão é a da existência dos três candelabros de três braços que acolhem as Luzes litúrgicas, cujos quais se situam, um sobre o Altar ocupado pelo Venerável Mestre e os outros dois sobre as mesas ocupadas pelos Vigilantes, simbolismo esse que será abordado na sequência desse arrazoado.

Dessa concepção de filosofia deísta e de duração iniciática existencial é que se criou estruturalmente a idade de S⸫ AA⸫ e M⸫ para o Mestre Maçom do REAA⸫, mesmo que nele também persistam feições teístas hauridas de influências anglo-saxônicas (dos Antigos). A questão é de doutrina.

Desse modo, esse enfoque doutrinário de apelo filosófico deísta se baseia desde o renascimento da Natureza, que ocorre na primavera, indo até a sua morte por ocasião do inverno quando a Terra fica viúva do Sol (nove meses).

É esse tempo existencial que explica a idade do Mestre também possuir algo mais além dos S⸫ AA⸫, já que simbolicamente o ciclo existencial da Luz na Natureza é de nove meses, a contar desde o início da primavera até o final outono. Daí a razão dos S⸫ AA⸫ e (ou) M⸫. Na verdade vai além do número sete (criação) até o número nove (existência da luz onde o Mestre vive entre o Esquadro e o Compasso). Se bem observada a Arte e despida de ilações e fantasias, a explicação está na Lenda Hirâmica.

Assim se explica a disposição do mobiliário na Loja onde descansam os três candelabros com as três Luzes litúrgicas que, quando acesas no Terceiro Grau demonstram os nove meses de duração da Luz, já que os outros três faltantes representam os três meses de inverno que deixam a Terra viúva uma vez por ano pela morte do Sol (dias curtos e noites longas). É dessa alegoria solar haurida dos cultos solares da antiguidade que surgiu a expressão maçônica “filhos da viúva”, a despeito de que os maçons são os filhos da Terra que fica viúva do Sol durante o inverno.

Dada à existência simbólica da Luz além do número sete que é o símbolo da criação (o shabat), indo até o número nove, é que a expressão “e M⸫” foi acrescentada à idade de S⸫ AA⸫ no caso do REAA⸫

É oportuno salientar que o número sete, independente da vertente maçônica abordada, sempre será o marco da Criação (... e no sétimo dia Ele descansou). Daí o Mestre, como elemento de criação, ter o número sete como um principal agregado à sua idade, podendo, dependendo do arcabouço doutrinário do Rito, possuir ainda algum complemento de identificação, o que é o caso do “e M⸫”.

É fato, entretanto, que com ou sem complemento na identificação da sua idade, todos os Mestres se equivalem na plenitude alcançada, já que a Lenda do Terceiro Grau revive o Mestre tal como o Sol revive a Natureza após o inverno. Se a sua idade simbólica é de S⸫ AA⸫ isso se dá no Ocidente da Loja, pois depois de revivido ele renasce para o Oriente o que, de acordo com as suas obras, ele permanecerá, além dos S⸫ AA⸫, eterno na mente dos pósteros.

Por fim, é essa a síntese da explicação dessas variações aparentes que nos apresentam as tradições ritualísticas dos Ritos maçônicos. O objetivo da Moderna Maçonaria é sempre o mesmo, o de arrumar e forjar um novo homem nos seus canteiros simbólicos (Loja), entretanto mesmo de objetivo único, os métodos muitas vezes se diferenciam. Assim não há como se generalizar procedimentos na liturgia maçônica. Tradições, usos e costumes muitas vezes são particularidades de cada um dos sistemas maçônicos. Cabe ao maçom compreender com profundidade o que significa cada processo e cada símbolo da ritualística aplicada na Sublime Instituição. O confuso às vezes é apenas aparência, pois a Verdade, embora pareça distante, muitas vezes está mais próxima do que pensamos. Para cada gesto, para cada símbolo ou procedimento na liturgia dos ritos maçônicos, desde que sejam autênticos, sempre existirá uma explicação lógica.

[1] Órion. Está localizada no equador celeste e, por este motivo, é visível em praticamente todas as regiões habitadas da Terra. A constelação de Órion é notável pela presença de muitas estrelas brilhantes. Delas em seu centro figuram três estrelas de brilho similar e alinhadas que constituem o Cinturão de Órion. Asterismo conhecido popularmente como Três Marias.
[2] As Híades são um aglomerado estelar aberto localizado na constelação de Touro e as suas estrelas mais brilhantes formam um "V" oblíquo em redor da grande gigante Aldebarã. Desse aglomerado destacam-se cinco estrelas mais brilhantes.
[3] As Plêiades. É um grupo de estrelas na constelação de Touro conhecido popularmente como sete-estrelo. São facilmente visíveis a olho nu nos dois hemisférios.
[4] Sete Ciências e Artes Liberais da Antiguidade – pesquisar a divisão dada por Boécio em trivium e quatrivium. Veja também as Preleções que se sustentam nas Lições Prestonianas (Sir Willian Preston).

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário