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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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terça-feira, 3 de setembro de 2024

A ENTRADA NO TEMPLO MAÇÔNICO

Mauro José de Oliveira*

De acordo com Lavagnini (2008), a palavra templo se origina do latim tenebrae, que significa trevas. O mesmo autor nos diz que tal nome alude ao antigo costume de se fazer os templos em grutas ou criptas – lugares escuros e ocultos – ao amparo da indiscrição profana. E que assim, todos os templos deveriam ser, antes de tudo, ambientes de recolhimento e silêncio, distinguidos por uma penumbra favorecedora da concentração e elevação mental.

Oliveira Filho (2022) ressalta que “uma vez consagrado, um Templo Maçônico passa a ser um recinto santo, exigindo-se respeito e veneração.” Assim, ninguém poderá ingressar nesse ambiente, qualquer que seja o pretexto, antes do início da Sessão, excetuando-se os Obreiros que tiverem que prepará-lo1. Há regras para a organização do cortejo e para a entrada e saída do recinto. Não somente, todo obreiro retardatário deverá ingressar no espaço ritualisticamente, e os Irmãos só poderão retirar seus paramentos e insígnias quando estiverem novamente no átrio.

Sobre os espaços contíguos ao Templo Maçônico, Da Camino (2014) nos instrui que

“na sala dos passos perdidos, permanece o efeito do profano, uma vez que o maçom ingressa no edifício onde está instalado o templo e mantém diálogos profanos, cumprimentos, assuntos interrompidos da semana passada, enfim, o dia a dia comum. Lentamente, prepara-se o ingresso no átrio, que é o subconsciente; tudo o que é profano permanece na sala dos passos perdidos.”

Em contraste com o exposto, é relativamente comum que as práticas maçônicas para realizar as reuniões não sejam totalmente seguidas, ou que, tomados pelas preocupações cotidianas que a todos alcança, tenhamos dificuldade para nos concentrar nas reuniões. Indo um pouco mais além, sabemos pela experiência que, individualmente, possui alta volatilidade os sentidos que os símbolos nos evocam, como interpretamos os momentos vividos e como apreendemos as informações que nos chegam. O significado que daremos para cada um dos eventos que experimentamos é dependente sobretudo do nosso estado emocional no instante do ocorrido. Por exemplo, um trecho das Sagradas Escrituras pode ser entendido de certa maneira em um momento, enquanto a releitura, mais adiante, provavelmente evocará no leitor sentido diverso. Outro fato relacionado com a percepção humana é o de que se ouvirmos uma nota contínua emitida no limite da audibilidade, o som parecerá interromper-se a intervalos regulares para começar de novo. Esse fenômeno é causado por oscilações da nossa atenção e não por qualquer modificação na nota (Jung, 2002). Esses eventos revelam sutilezas da natureza humana, e evidenciam o quão difícil é manter a concentração nas diversas situações que vivemos.

Evidentemente, há estratégias para minimizar nossas limitações físicas e psíquicas, e, visto sob esse prisma, fica mais fácil compreender a necessidade de se melhorar a aderência ao ritualismo maçônico. Consequentemente, não será difícil perceber a relevância do que ocorre nos momentos que precedem cada reunião, para que essa seja mais proveitosa.

Assim, não por acaso, a adoção de rituais é procedimento farto ao longo das eras. Nesse sentido, caracterizam os espaços ritualísticos desde tempos imemoriais, a presença de etiquetas e símbolos, combinados com o bom uso da sonoridade e do refinamento da plasticidade do ambiente. Juntos, esses recursos possuem o poder de despertar, integrar e harmonizar os sentidos dos presentes, criando sutilmente, condições para o exercício da atenção, da reflexão e da acomodação do espírito.

No caso da Maçonaria, são formalidades diligentemente aperfeiçoadas no decurso de milênios, e representam a sabedoria acumulada pelas gerações. Temos assim à nossa disposição, os frutos, embora eternamente inacabados, de inumeráveis experimentações, lutas e sacrifícios, nos exigindo apenas zelo e disciplina a favor do cumprimento do que foi estabelecido para a realização das cerimônias.

E a entrada no templo, relevante parte desse contexto, quando sistematicamente executada de acordo com as tradições, nos remeterá imediatamente às expectativas e preparação psicológica relativas à reunião da qual estamos prestes a participar.

Ademais, é muito provável que a adoção rotineira da entrada ritualística proporcione vários outros desdobramentos benéficos aos trabalhos da Loja. A pontualidade para o início da reunião a ela se interliga. O uso da Sala dos Passos Perdidos fortalece a interação entre os Irmãos, condicionando a qualidade da formação da Egrégora Maçônica quando no Templo. A previsibilidade e repetição própria dos ritos favorece a integração psíquica do participante. Esses aspectos colaboram também para a otimização do tempo da reunião. Se curto, não cria meios para suavizar a inquietude. Se longo, atribula os sentimentos. No tempo perfeito, os procedimentos seguem com fluidez, como uma brisa suave que toca a face e modula a alma de cada Obreiro. E, como resultado, desperta o vibrante desejo que a próxima reunião logo chegue.

(*) Mestre da Loja Maçônica Novos Tempos Nº 288 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte

Nota 1 - Aprendiz Maçom Gr⸫ 1 – R⸫E⸫A⸫A⸫, 2012 ↩︎

Referências
  • DA CAMINO, Rizzardo. Breviário Maçônico, 6ª. ed., São Paulo: Madras, 2014
  • Ritual de Companheiro Maçom Gr⸫ 2 – R⸫E⸫A⸫A⸫, 2017
  • D’ELIA JÚNIOR, Raymundo. Maçonaria: 100 instruções de aprendiz, São Paulo: Madras, 2012
  • JUNG, C. G. O Homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002
  • LAVAGNINI, Aldo. Manual do Aprendiz Maçom – A Maçonaria Revelada, Porto Velho, 2008
  • OLIVEIRA FILHO, Denizart Silveira de. A Lenda de Hiram Nos Graus Inefáveis do R⸫E⸫A⸫A⸫ – O Templo de Salomão. São Paulo: Madras, 2022
  • Ritual Aprendiz Maçom Gr⸫ 1 – R⸫E⸫A⸫A⸫, 2012
  • Ritual de Companheiro Maçom Gr⸫ 2 – R⸫E⸫A⸫A⸫, 2017
Fonte: https://opontodentrocirculo.com

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