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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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sábado, 15 de dezembro de 2018

LEWIS - OS FILHOS DO LOBO

O Lewis ou o Lobo é um dos dispositivos que permitiam que um Maçom operativo levantasse cargas de pedras pesadas, dos tamanhos exigidos pelo planejamento da construção, e que os colocasse com segurança e precisão no local escolhido.

O símbolo apresentado, tem o formado de um tripé, ou seja, três pernas conectadas por um sistema de cordas e polias, a uma pedra cúbica polida. Aparece em alguns painéis do grau de aprendiz e sua função e significado simbólico é explicado em alguns rituais, mas não em todos os ritos.
Este símbolo, visto globalmente, evoca outras imagens: por exemplo, o delta luminoso, a conexão entre o ternário e a unidade e a subida do fio condutor. O próprio Lewis, uma ferramenta dos construtores de pedras, é a peça de metal na forma de cauda de pato que é inserida na pedra e conectada à corda e às polias, permitindo a ação de elevação.


O nome de Lewis provavelmente vem do latim “leuis”, o que significa levantar-se. O orifício especificamente formado para acomodar o dispositivo é chamado de “furo no Lewis” ou “lugar do Lewis”. Ele é preenchido com a mesma argamassa da construção após a colocação da peça.

De acordo com certas fontes, Lewis seria originalmente do termo francês “Lobo”, cujo uso é documentado desde 1611 e uma segunda explicação é a que se refere à analogia entre o arco, símbolo de constância e perseverança, e o maxilar de um lobo, onde sua presa é impossível de se libertar quando é atacada. 

Esta etimologia proposta, demonstra a função do Lewis e o conjunto em que está inscrito, constituindo a ferramenta de levantamento, própria do ritual de emulação; ritual cuja transmissão, ocorre na tradição inglesa, normalmente de forma oral, partindo do princípio de que se aprende praticando, sem escrever.





O ritual de emulação não inclui referências alquímicas e outros elementos da “fantasia da imaginação” que caracterizam os ritos de origem francesa.

Por exemplo, a circunvolução, o princípio da purificação pelos elementos e as viagens na cerimônia de iniciação que são praticadas por alguns ritos continentais. Trabalhando na “Glória do Grande Arquiteto do Universo”, os ritos repletos de referências judaico-cristãs, são caracterizados pela predominância do ritual sobre as pesquisas, porque, como alguns afirmam, “o coração da Maçonaria está dentro de seu ritual”.

Então, tradicionalmente, no ritual de emulação (praticado na Inglaterra), há poucos ou nenhum trabalho (peça de arquitetura) nas sessões, mas mantém a possibilidade de apresentação destes, durante os ágapes. Permito-me aqui apresentar um ponto especial e importante desse ritual, que indica uma diferença nos costumes de alguns maçons continentais: O direito de falar é dado aos aprendizes! … e eles usam!

Aqui, uma interessante explicação é necessária: os ritos ingleses praticam o princípio do “aprendiz adotado”, o “aprendiz recebido” e o “aprendiz admitido”.

O aprendiz adotado é a condição ao lidar com o filho de um Maçom, chamado “louveteau” (em francês), o filho do lobo, e estará isento de investigação social ao ingressar na ordem. No Brasil, foi adotado o nome “Lowton” para esta condição.

O aprendiz recebido é o candidato leigo, que ainda não foi iniciado, mas que se beneficia de algumas instruções antes da cerimônia.

O aprendiz admitido é aquele que já foi iniciado e participa dos trabalhos da loja. O silêncio não é mais imposto, mas proposto, o que de modo algum diminui a importância inicial e o leva se perguntar sobre sua própria jornada. Isso também implica, que o mais antigo aprendiz admitido é aquele que dá a primeira lição aos novos iniciados durante a cerimônia de recepção.

Uma vez que o cenário está explicado, voltamos para o Lewis, o lobo. Uma primeira observação: o lobo levanta uma pedra cúbica esculpida e não uma pedra áspera.

No estudo deste símbolo, escolhi usar as referências bíblicas por causa do contexto e do ritual judaico-cristão. E também e acima de tudo, porque esse texto pode ser usado como fonte de elementos simbólicos, sem qualquer tipo de abordagem verdadeiramente religiosa; O Tetragrammaton é então entendido como uma referência à essência do Ser, seja essa fonte chamada Deus, GADU ou outro.

Dentro de uma cerimônia no ritual de emulação, uma análise do painel da loja fornece os elementos de explicação dos símbolos que são representados e que incluí o Lewis, no grau de aprendiz. A explicação do ritual afirma que … “a pedra bruta é o símbolo do homem na sua infância ou nos estágios iniciais de sua vida”, enquanto a “pedra cúbica simboliza o homem ao declínio de seus anos”. A transição de um para o outro é realizada pelo iniciado, “graças à atenção amorosa e vigilante de seus pais ou seus mestres, dispensando uma educação liberal e virtuosa, que eleva sua alma”. Essa pedra cúbica ou pedra polida representa, veremos mais tarde, uma pedra fundamental.

Na explicação do painel da loja, exposta ao novo iniciado durante a cerimônia, nos fala em primeiro lugar da transmissão da Força usada na ação de levantar a pedra, em vez de evocar a Força no que a transmissão se baseia. Ela ressalta que “O Lewis ou o lobo, simboliza a Força”.

O Lewis transmite a força de elevação e possibilita o deslocamento da pedra a que está ligada. O processo de transmissão das forças na elevação da pedra, ilustra um dos propósitos da ligação simbólica entre o Lewis e a Força: cada um deve enfrentar suas dificuldades, algumas vezes consideradas demasiado pesadas para os componentes de nossa personalidade, mas que mesmo pesado, temos que fazer esforços para carregá-los.

O Lewis, ilustra a transmissão da força para mover a pedra que parece muito pesada, e então elimina qualquer tentação de ignorar algumas das pedras que compõem nosso caráter, por medo de não poder agir sobre elas. O que serve também em relação ao que enfrentamos em termos maçônicos. Essa força leva à consolidação da consciência, a capacidade de se estruturar em torno das pedras fundamentais que são nossas construções culturais em constante adaptação.

Além disso, de acordo com a explicação maçônica, “Lewis é o nome dado ao filho de um maçom. Ele ajuda seus pais a suportar o fardo dos problemas diários que ele deve encontrar por causa de sua idade, sua ajuda em momentos de necessidade e, assim, faça o resto de sua vida feliz e livre de preocupações … Se a educação for boa, o lobinho se torna o apoio de seus pais, se a educação tiver êxito, se a transmissão for recebida, então a criança cuidará de seus pais”.

A iniciação maçônica mantém um forte vínculo com a ordem social e torna-se uma filigrana como meio de salvaguarda. O símbolo é principalmente um instrumento de reprodução de uma determinada sociedade, particularmente em certas classes sociais, por sua moralidade social, não importa se se reconheça que certas escritas enunciam os princípios de tolerância mútua que algumas famílias, hoje em dia, podem ignorar. “Ao fazê-lo, ele (o lobinho) terá o privilégio de ser recebido Maçom antes de qualquer outra pessoa, tão digno e merecedor quanto ele”.

Assim, este símbolo, dentro da tradição maçônica que o emprega, representa, em primeiro lugar, uma visão moral da sociedade e um código de conduta na forma como um pai educa seus filhos e os filhos honram seu pai. E ninguém pode negar, embora nos preocupe, que o caminho maçônico constitui uma educação que também tem a função de assegurar a reprodução da sociedade em que atua.

A maçonaria torna-se assim o guardião da ordem social, o paradigma da civilização. E o prêmio para o filho, como mérito, mas também para o pai, é a concessão de privilégios no processo de integração na loja.

Esse reconhecimento da qualidade do Lewis ao filho do maçom, também pode, sob certas regras, ser objeto de uma cerimônia e permitir que este use um avental especial. Mas esse reconhecimento não é equivalente a uma iniciação e não lhe permite participar como membro de pleno direito da loja. A explicação também lembra a todos os que participam da cerimônia, que a pedra não é removida mais do que o estritamente planejado em um projeto arquitetônico que organiza uma transmissão e uma recepção, e que acompanhar esta construção possibilita a evolução.

O confronto consigo mesmo, dá a cada passo a habilidade de dizer “eu”, de ser consciente e encontrar seu lugar como pedra na arquitetura. A importância da alteridade na construção de uma capacidade de pensar sobre si mesmo como indivíduo no “caminho do ser” para compreender o Ser na temporalidade, e reafirmar, recordar a todos aqueles que experimentaram a iniciação, que estão sozinhos quando nascem e vão morrer sozinhos, porque a experiência é em grande parte incomunicável. Mas também recorda que lhe permite progredir e somente a introspecção tornada possível pela ritualística em cada reunião, é integrada em cada um, à sua maneira.

Paremos por um momento no ponto preciso de ancoragem, no cubo de pedra do Lewis. Esta ancoragem sofre tanto com as forças gravitacionais, como com as forças de elevação utilizadas para levantar a pedra na Força pela qual a Elevação torna-se possível.

Assim, o movimento ocorre quando as forças da oposição não são equilibradas, mas ainda é necessário que esse movimento seja sinônimo de criação e progresso, de que as forças que nos impulsionam a olhar para trás e a nos envolver, não são mais poderosas do que o profundo desejo de libertação, que o chamado da luz que um dia nos levou a bater na porta do templo.

Neste ponto, devemos retornar.

É verdade que a câmara de reflexão não existe no ritual da emulação, mas para aqueles de nós que são de ritos que o possui, o ponto de ancoragem do Lewis somos nós e nos conecta, especialmente, ao VITRIOL.

O profano é colocado na câmara de reflexão para lhe indicar, por meio de símbolos, que a iniciação exigirá que ele vá ao centro de si mesmo, ao ponto de ancoragem do Lewis, ponto de apoio para seus esforços. E para essa jornada imóvel, é que ele começará a identificar os múltiplos componentes do que ele verá durante sua iniciação. A Cabala ensina que a criação do mundo nasceu de um “tsimtsoum”, um movimento de retração do Ser que abriu a possibilidade de que o universo existisse e ofereceu à humanidade, um espaço onde o acesso ao pensamento e ao livre arbítrio foi concedido.

A iniciação, pelo silêncio, oferece a descoberta de um maçom, abre-se às fases de introspecção e externalização, contração e expansão da consciência e neste duplo movimento, leva à compreensão da complexidade, da alteridade interna e externa que compõe a unidade da sua consciência.

Este ponto de ancoragem, será o ponto de retração, o primeiro ponto do Tsimsoun interior, antes de uma fase de expansão?

Existe algum ponto que relaciona o aspecto humano, a um componente do sagrado?

Eu falo aqui sobre o Ser, que alguns acreditam refere-se à fé e referência a Deus. Mas, talvez seja algo mais simples, mas muito mais perturbador, o ponto de origem dos impulsos do ponto, de onde o EGO devorador se estende.

E quando o trabalho de iniciação não ocorre da maneira correta, quando um elemento não vai ao lugar desejado, não corremos o risco de elevar a pedra cúbica através de um EGO muito afiado?

Alguns podem pensar que, se o ponto de união, o ponto de partida, se refere a Deus, a iniciação se refere à vontade divina; outros que, se o ponto de ancoragem fosse o VITRIOL, o iniciado abriria os canais internos da maneira apropriada.

Nessa abordagem, a primeira hipótese é determinista, enquanto que no outro, o iniciado se abre para o mundo voluntariamente.

Blibliografia

Uma adaptação ao texto “Les Enfants de la Louve” de autor não identificado.

Fonte: http://www.oprumodehiram.com.br

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