SINAL PENAL DE COMPANHEIRO
(republicação)
Em 19.05.2015 o Respeitável Irmão Amandio Silva, ex-Venerável da Loja Dom Pedro de Alcântara, REAA, Delegado do SGM do Grande Oriente Lusitano para o Brasil, formula a seguinte questão e pede esclarecimento: amandiosilva7@gmail.com
Seu contato me foi facultado pelo NQI Jerónimo Borges. Analisei com muito interesse sua opinião sobre a execução do Sinal de Companheiro no REAA. Também já tive oportunidade de participar de sessões em Lojas do GOIPE, no Recife, no qual me deparei com a prática do uso exclusivo da mão direita, pelos vistos a correta. Concordo por inteiro com sua avaliação de que o GOIPE não mudou nada, apenas voltou às origens. Não consegui até agora, no entanto recolher a informação de quando, por quê e como o denominado "enxerto" começou a tomar corpo nos rituais do REAA de forma inclusive a se poder considerar amplamente maioritária sua prática, não apenas no Brasil, mas também aliás em todas as lojas do REAA no Grande Oriente Lusitano. Muito agradecia que me pudesse orientar onde devo procurar a desejada informação, até porque estou na disposição de introduzir o tema de forma acutilante no GOL (Grande Oriente Lusitano), dada a sua evidente lógica de ser a mão direita o instrumento da penalização do desrespeito aos preceitos, regras e compromissos nos três graus simbólicos. Na expetativa de seu valioso aconselhamento, peço aceite meu caloroso TFA. (*) Irmão Amandio Silva é ex-Venerável da Loja Dom Pedro de Alcântara (da qual há seis anos é representante na Grande Dieta – equivalente ao Deputado na Assembleia Legislativa- onde integrou as Comissões Nacionais de Relações Internacionais e de Solidariedade) Delegado do SGM do Grande Oriente Lusitano para o Brasil.
Uma das razões do uso equivocado dessa mão esquerda foi o enxerto a partir do século XIX capitaneado pelo ocultismo de Osvald Wirth que via nessa mão erguida um apelo para os céus de para o além. Dessa tese esdrúxula não demoraria a se espalhar esse costume na Maçonaria latina que fatalmente atingiria de cheio os rituais escoceses já então deturpados e misturados, sobretudo enxertados com práticas do Rito Adonhiramita naquela época.
Devo salientar que não estou afirmando que foi o Rito Adonhiramita o culpado, porém influenciado pelos místicos e ocultistas da época, ele serviria como um dos vetores para a miscelânea mencionada.
Outro aspecto para ser considerado nas pesquisas é o perfil latino de comportamento maçônico. Nessa cultura existe propensão para o imaginário, fato que também viria influenciar e deturpar os verdadeiros objetivos da Sublime Instituição – a Maçonaria latina e o “vale o que está escrito”. Bolas para a tradição e o elemento consuetudinário.
Com isso, escreveram, derramaram rios de tinta e publicaram inúmeras obras espúrias que acabariam se tornando equivocados elementos de pesquisa que dariam suporte à profusão de incontáveis rituais temerários para prática maçônica.
A questão hoje é descobrir, separar e vislumbrar o que está certo e o que está errado. Sob essa óptica, um bom pesquisador e historiador de Maçonaria precisa antes de montar a grade acadêmica para a sua pesquisa, ficar atento e compreender a mensagem filosófica e a doutrina do Rito examinado.
Partindo daí, ele poderá vislumbrar quanto enxerto e opiniões pessoais acabaram influenciando os procedimentos litúrgicos e ritualísticos do sistema maçônico pesquisado. Existe uma máxima de que nem tudo é igual nos procedimentos maçônicos – é a mais pura verdade.
Para completar esse modesto apontamento, eu devo citar ainda a influência de outra não menos importante vertente maçônica no simbolismo escocês que é filho espiritual da França e com fortes tendências deístas.
Cito então a influência anglo-saxônica (de tendência teísta) também presente no Rito Escocês, a exemplo do Sinal Penal do Companheiro que nos Trabalhos ingleses originalmente sim adota manter a mão esquerda levantada, todavia não espalmada para frente, senão em forma de “cutelo”, cuja posição “em cutelo” servirá futuramente para completar outro Sinal, porém que não faz parte do Segundo Grau (o de d∴ o b∴ d∴).
Assim muitos pseudo-ritualistas incautos e defensores do achismo e do “é bonito” inseriram esse gesto de maneira equivocada no escocesismo, todavia para entortar a boca de acordo com o uso do cachimbo, colocaram a mão espalmada - às vezes com os dedos unidos e em outras com os respectivos abertos - e definiram essa barbaridade como sustentada pelos conceitos de Wirth que via o gesto como apelo para o além.
Para completar esse “angu de caroço” ainda sugeriram que os cinco dedos da mão espalmada e levantada aludia à Estrela Flamejante – note o absurdo dessa teoria que ainda encontra guarita na mente de alguns.
Nesse sentido, sobretudo os rituais brasileiros, adquiriram esse hábito equivocado juntamente com tantos outros enxertos que fazem do simbolismo escocês por aqui como fosse ele uma verdadeira colcha de retalhos.
À bem da verdade os Sinais Penais são executados apenas com a mão direita na grande e esmagadora maioria dos Ritos e destes, o Rito Escocês Antigo e Aceito (nome conhecido aqui no Brasil) ou Rito Antigo e Aceito, título comum geralmente conhecido na Europa.
Ademais ainda fica a lembrança para pesquisador que o Rito Escocês não nasceu com graus simbólicos. Esses graus eram preenchidos a partir dos Estados Unidos da América do Norte no princípio do século XIX pelas conhecidas Lojas Azuis (simbolismo), cuja base ritualística é originária dos “antigos” da segunda Grande Loja inglesa e que seriam organizados na América do Norte por Thomas Smith Web.
Assim a prática escocesa se servia no princípio da ritualística desses graus simbólicos, pelo menos até o ano de 1.804 quando, já na França, apareceria o primeiro ritual simbólico e autêntico do REAA∴. Isso feria com que o Rito, embora de origem francesa, viesse também a possuir influência anglo-saxônica através do franco-maçônico básico. É daí a origem do termo “antigo” estar inserido no título distintivo do Rito Escocês Antigo e Aceito.
Tudo isso faz parte da pesquisa e que deve ser observado atentamente para uma definição cultural e doutrinária do Rito.
Assim esses conceitos merecem atenção já que são partes integrantes da evolução dos Rituais no século XIX e parte do XX.
Finalizando devo salientar que não existe nada pronto em se tratando de pesquisa maçônica, sobretudo em se tratando da sua vertente latina.
Felizmente às vezes surge uma Luz no fim do túnel, com é o caso dos atuais rituais aprovados no Grande Oriente Independente do Estado de Pernambuco por obra e graça do grande maçom e Eminente Grão-Mestre Antonio do Carmo Ferreira que teve a coragem e capacidade necessária para voltar às origens extirpando esse conceito da mão esquerda levantada no Segundo Grau do simbolismo escocês.
T.F.A.
PEDRO JUK – jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 1.842 – Maringá (PR) – sexta-feira, 16 de outubro de 2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário