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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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quarta-feira, 31 de dezembro de 2025

MAÇONARIA E TOLERÂNCIA: PORTO SEGURO DA HUMANIDADE

A tolerância no mundo atual é um conceito crucial para a harmonia social, mas, enfrenta desafios significativos como a polarização e a disseminação de ódio. Embora seja essencial para proteger a diversidade e os direitos humanos, a falta de compreensão profunda sobre o que significa tolerar pode levar à perpetuação de práticas intolerantes. A intolerância se manifesta em diversos âmbitos, desde conflitos em ambientes domésticos devido ao excesso de convivência até a violência e discriminação religiosa, como mostram dados recentes no Brasil. 

Um desafio é a própria definição da tolerância, que não é aceitar passivamente tudo, mas sim respeitar a diversidade de opiniões e modos de vida, exigindo a capacidade de estabelecer limites quando ações violam direitos fundamentais, um conceito conhecido como o "paradoxo da tolerância". O paradoxo da tolerância, proposto pelo filósofo Karl Popper, descreve o dilema de uma sociedade tolerante ter que decidir se deve tolerar a intolerância. Uma sociedade tolerante pode ser destruída se permitir que grupos intolerantes operem livremente.

O combate à intolerância deve ocorrer, inicialmente, através de argumentos racionais e debates. No entanto, se a intolerância persistir e se tornar uma ameaça real, deve ser coibida por meios legais e institucionais (leis, punições), não necessariamente por violência física, para proteger a sociedade. Ideias que ferem a dignidade humana, como a apologia ao racismo, ao fascismo, aos discursos de ódio, à violência etc. não são aceitáveis sob o pretexto de tolerância, pois, ultrapassam os limites do que é coletivamente combinado em uma sociedade civilizada.

A tolerância, na verdade, exige uma postura ativa de defesa dos valores democráticos. Embora a tolerância não seja o foco, a vontade geral, ao buscar o bem-estar de todos, implica a tolerância como um dos seus princípios, especialmente no que diz respeito aos direitos de todos os cidadãos. Ao entrar no contrato social de Rousseau, o indivíduo renuncia à liberdade que tinha no "estado de natureza" para se submeter à vontade geral da comunidade. A lei justa, que emana da vontade geral, não deve oprimir ninguém nem favorecer um grupo em detrimento de outro. 

Rousseau argumenta que a tolerância deve distinguir entre o que é essencial para a moral e a ordem pública e o que são opiniões acessórias. Crenças que não prejudicam a moralidade pública ou a obediência ao pacto social devem ser toleradas. A verdadeira harmonia social é um estado de equilíbrio social, mediado por leis justas derivadas da vontade geral, onde a tolerância é uma ferramenta política para proteger essa ordem de ameaças sectárias ou intolerantes. Neste estado o "ser cidadão" (construtor social) prevalece sobre o "ser indivíduo" (egocêntrico).

O "ser indivíduo" (buscando autonomia e interesses pessoais) é a base da dignidade humana e dos direitos individuais. O "ser cidadão" (atuando como construtor social) é o que permite a coexistência harmoniosa e o progresso da comunidade. A maioria das sociedades democráticas busca um equilíbrio dinâmico entre os direitos e liberdades individuais e as responsabilidades coletivas para o bem-estar comum, do qual emerge a felicidade (eudaimonia) que só é possível por meio da interação social, da linguagem e da vida em comunidade (a pólis), segundo Aristóteles. 

Para sociólogos como Durkheim, a sociedade sempre prevalece sobre o indivíduo. As normas, regras, costumes e leis sociais (os "fatos sociais") exercem coerção sobre os indivíduos, moldando seus comportamentos e garantindo a perpetuação da sociedade. A identidade individual é, em grande parte, construída a partir do pertencimento a grupos sociais e da assimilação de valores coletivos. Uma sociedade justa e próspera requer tanto a proteção robusta dos direitos individuais quanto um compromisso firme com o bem-estar coletivo e a responsabilidade social.

A responsabilidade social é o compromisso de indivíduos e organizações em contribuir para o desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade de vida na comunidade onde operam sob os auspícios da tolerância que se estabelece pelo respeito, pela aceitação e pelo apreço à diversidade de culturas, modos de expressão e maneiras de ser dos seres humanos. Não se trata de passividade, mas, de uma escolha ativa e diária de exercitar a empatia, o diálogo e a cooperação, combatendo preconceitos e a exclusão, erigindo as bases da melhor convivência social.

Maçonaria é convivência, preceitua José Linhares de Vasconcelos Filho, um legado vivo da maçonaria cearense. Sob o olhar da alteridade, a Maçonaria discerne que o outro tem o direito de ser e pensar de forma diferente, sem que isso exija concordância mútua em todos os aspectos. A alteridade é a virtude que busca tornar feliz a humanidade pelo amor, pelo aperfeiçoamento dos costumes, pela tolerância, pela igualdade, pelo respeito à autoridade e à crença (convicção) de cada um. E a semeadura da dignidade social cuja sega substituir uma cultura de guerra por uma cultura de paz.  

Maçonicamente, a dignidade social é o reconhecimento da dignidade inerente a cada indivíduo, que exige que todos sejam tratados com respeito, valor e igualdade, independentemente de suas características pessoais. Isso se traduz no direito a ter as necessidades básicas atendidas, como saúde, educação e moradia, e na proteção contra qualquer tratamento degradante. A dignidade social, sob a égide tanto a tolerância (harmonia na diferença) quanto a responsabilidade social (desenvolvimento sustentável e qualidade de vida para todos), lastreia um mundo mais equitativo, sereno, igualitário e feliz.

Promotora da felicidade humana, A Maçonaria considera a Felicidade social como o bem-estar coletivo que se constrói através de relações saudáveis, interação com outros e um senso de pertencimento e propósito na sociedade, ou seja, um claro reflexo da inclusão social eficaz, percebida na Maçonaria. Segundo ela, a felicidade é o objetivo da ordem social e, por sua vez, a ordem social é um meio para alcançá-la. Transcende a felicidade individual ao enfatizar que o desenvolvimento humano e a satisfação pessoal estão profundamente ligados às conexões interpessoais, à solidariedade, às ações que beneficiam a comunidade na construção da consciência social.

Segundo Luís Carlos Fernandes, integrante da A.:R.:L.:S.:  Acácia de São João n° 266, sediada em José Bonifácio-SP, “Consciência é a Maçonaria, e o seu estudo, indispensável para que possamos conhecer-nos a nós mesmos, é o que constitui os mistérios que a envolvem. A Maçonaria conduz seus membros a encontrar formas ótimas de lidar com as diferenças. O contato com o diferente é a possibilidade de aprender algo novo, é a possibilidade real de alargar as fronteiras deste saber. Mais do que respeitar o diferente, agraciá-lo com a compreensão é dever sublime.

Não somente tolerando o diferente, que, por vezes, finda em arrogância e preconceito; tão pouco apenas respeitando o diferente, que, muitas vezes radica a indiferença, mas, percebendo que o fundamental é reconhecer-lhe por seu verdadeiro valor, o que potencializa o humano no maçom. Viver maçonicamente é dialética efusivamente plena, como anuncia a Teoria de Santiago: a vida como um processo de conhecimento em constante aferição, aprimoramento e evolução, portanto, se a quisermos conhecer a contento, é pertinente saber como os seres vivos a conhecem.

Tudo que há é interdependente. Sinergia fervorosamente constante. Cuidar-se e zelar pelo progresso de todos e do mundo é a consciência basilar e proativamente inculcada aos adeptos da Maçonaria a cada nova reunião, na qual renovam suas convicções e seus propósitos de viverem em perfeita igualdade, intimamente unidos por laços de perfeita estima, confiança e amizade, concitando-se, mutuamente, à prática das sublimes virtudes. Como justos e valentes ocupam-se em defender os hipossuficientes, protegendo-os, pois, tal ação é a glória desta antiga confraria.

Confraria composta por homens sábios e virtuosos, que não buscam o individualismo, e sim a individualidade. Que compreendem que o irascível nacionalismo xenófobo e excludente está afastado, pois, ainda que se saibam cidadão d´algum país, têm compromisso de cuidado e zelo com a Terra inteira, que é sua Pátria incontestavelmente. estimulados, perenemente, a combater os preconceitos e erros; a enaltecer o direito, a justiça e a verdade, suplantando os vícios e rutilando virtudes, pois, ser Maçom é pertencer à uma Família Universal por si aceita e por escolha sua.

Concernentemente, a benfazeja atuação da Maçonaria não se limita à filantropia, pois, suas iniciativas no plano mundial têm influenciado incontáveis e notórios acontecimentos mundiais ao longo de sua existência, tendo sempre como premissa inequívoca fazer o bem que pelo amor ao próprio bem e, nisto, escutar a voz da própria consciência, estimar os que são bons, lamentar os fracos, fugir aos maus, porém, não odiando a ninguém, exercendo proficuamente a tolerância que faz dela (Maçonaria) a habilidosa mãe dos construtores sociais que forma de geração em geração. 

Em um mundo onde o “vil metal” imbui e condiciona inescrupulosamente, labuta a Maçonaria, desde sua mais tenra idade, estabelecida na alteridade que a permeia e a motiva, inaugurando a diferença entre o desencanto e a esperança em meio a esta cultura acintosamente mercantilista; empreendedoramente associando a boa vontade de seus adeptos à ação otimamente projetada ao bem fazer à coletividade. Agindo assim, a Maçonaria contribui para um ambiente social positivo, onde promove o desenvolvimento pessoal e moral de seus membros, radicando a certeza de que a capacidade de tolerar o outro nasce do reconhecimento e da aceitação às suas diferenças; emerge dessa alteridade a essência da Maçonaria. 

A alteridade reflete o que há estabelecido: “a ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama aos outros cumpriu a lei". (Romanos 13:8). Sob este auspício, a Maçonaria exorta a todas as sociedades, a partir de seus membros, a serem exemplos de família universal realizada contentemente, pois, esta é, claramente, uma semente de felicidade para a humanidade. Humanidade que se realizada no homem, assim como, a maçonaria se realiza no maçom. Irrefutavelmente, a família célula mater da sociedade se realiza na simbiose manifesta pelo homem e sua consorte, fortalecidos pela inequívoca convicção: família acima de tudo é um lábaro de satisfação e altruísmo para os homens por ela humanizados. Homens que constroem a humanidade tolerante e feliz que lhes garante um convívio harmônio e próspero.

O conceito de tolerância maçônica encontra-se notoriamente presente na Declaração de Princípios sobre Tolerância, firmada em 16 de novembro de 1995 pela UNESCO, que define a tolerância como o respeito e a apreciação da rica variedade das culturas do mundo e das formas de expressão. Essa declaração reforça a ideia de que a tolerância não é indulgência nem indiferença, mas sim, um princípio ativo de entendimento e pacificação entre diferentes grupos culturais, religiosos e políticos. A Maçonaria, ao promover a tolerância, (re)alinha esse ideal universal, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva, onde a diversidade é valorizada como fator de progresso.

A tolerância maçônica também é vista como um imperativo ético que permite superar os óbices impostos pelas diferenças individuais, favorecendo a solidariedade e o espírito fraterno. A instituição, ao exigir tolerância, garante a liberdade de investigação da verdade e a convivência pacífica entre irmãos de todas as tendências, mesmo que divergentes. Assim, a Maçonaria, ao promover a tolerância, atua como um espaço de diálogo e entendimento, consubstanciando e inspirando os valores defendidos pela UNESCO. A prática da tolerância é parte do processo de aperfeiçoamento moral e espiritual do maçom, que busca crescer como pessoa e contribuir para o bem-estar da humanidade. 

Culturalmente robustecida pela tradição que a sustém, porém, vanguardista desde sua ciese, a Maçonaria vara os séculos erodindo os pilares do obscurantismo: a intolerância, o egocentrismo e a vilania. A tolerância maçônica possui limites. Ela não compactua com opiniões ou ações que dilaceram a sociedade ou os seres humanos, como a opressão ou a falta de liberdade. Uma tolerância ilimitada levaria ao fim da própria tolerância. A Maçonaria proíbe discussões políticas e religiosas em suas lojas para evitar divisões e promover a união baseada em princípios morais e éticos compartilhados. Para o maçom, a Ordem pode funcionar como um ambiente de maior segurança e estabilidade ética, onde valores perenes são cultivados, em oposição ao caos e à incerteza do mundo "profano".

Coluna de magnífica sabedoria, a Maçonaria restabelece a solidez à sociedade liquefeita que eflui para a barbárie da autotutela dos direitos instituindo a falência das instituições e o caos social jamais vista antes. Os princípios sólidos e duradouros da Maçonaria, incluindo a tolerância, o amor fraternal e a lealdade, oferecem um contraponto à volatilidade e à falta de raízes da sociedade líquida. A tolerância maçônica representa um ideal de convivência ética e limitada por princípios, que se destaca em um cenário social "líquido", marcado pela fluidez das relações e a ausência de valores sólidos e duradouros. O desafio para a Maçonaria hoje é manter seus ideais de tolerância e solidez moral em um mundo que se molda rapidamente e onde muitos buscam gratificação imediata e superficial, em vez do aprimoramento contínuo. 

Nesse toar, mais do que nunca, a tolerância maçônica se apresenta não apenas como um valor passivo, mas, como um desafio ativo para os maçons: o de promover a união, a ética e o respeito em um mundo que tende à fragmentação e à superficialidade das relações humanas. A Ordem Maçônica é desafiada a manifestar-se contra a falta de tolerância e a instabilidade, através da educação e da disseminação de um discurso baseado na racionalidade e no bem-estar da humanidade. Uma reverberante conclamação a que sejamos ferramentas culturo-sociais, desobscurecendo a visão de nossa época, promovendo o senso de pertencimento e o diálogo, sabendo moldar a cultura doando-lhe proficiência, influência e sine qua non riqueza intelectual, que tanto contribuem para preservar a história e identidade humana. Não havendo humanos, fenece a humanidade!

Fonte: https://brunobmacedo.blogspot.com/

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