J. Filardo M⸫ I⸫
As lojas maçônicas são um universo diversificado no que diz respeito à formação educacional de seus membros. Há de tudo, desde membros com educação elementar até professores doutores com pós doutorado em suas áreas, o que é relativo, porque a vida muitas vezes é uma escola mais eficiente que os melhores estabelecimentos educacionais.
Mas, é inegável que o sistema educacional brasileiro sempre pecou pela anemia de seus currículos escolares, ressalvadas honrosas exceções. A ênfase é sempre colocada na simples transmissão de conhecimentos destinados a dar uma formação profissional ao aluno, sem maiores preocupações com formar um adulto que consiga combinar diferentes esferas de conhecimentos em um todo coordenado e harmônico.
Poucos encontram tempo e disposição para pesquisar fora do seu campo profissional, para complementar seus conhecimentos integrando novas áreas afins ou não de sua formação pessoal.
Com o objetivo aumentar a habilidade de o maçom interpretar a realidade e seus símbolos, oferecemos em nossa revista alguns sumários de assuntos importantes para a vida maçônica e a compreensão de nosso universo.
Um desses assuntos de suma importância é a compreensão do que seja uma cosmovisão.
Definição
Cosmovisão é a maneira como uma pessoa ou grupo de pessoas veem e interpretam o mundo e a realidade ao seu redor. Ela é formada por um conjunto de crenças, valores, e pressupostos que influenciam a percepção e a compreensão do universo, da vida, e do papel do ser humano no mundo. Para a teologia, por exemplo, cosmovisão é um esquema conceitual pelo qual, conscientemente ou não, aplicamos ou adequamos todas as coisas em que cremos, interpretamos e julgamos como realidade.
Vejamos agora alguns pontos principais sobre cosmovisão:
Componentes: Metafísica que são aquelas questões sobre a natureza da realidade, a existência de Deus e a origem do universo.
Epistemologia: Como conhecemos o que conhecemos? Questões sobre a natureza do conhecimento e da verdade.
Ética: O que é certo e errado? Questões sobre moralidade e valores.
Antropologia: O que significa ser humano? Questões sobre a natureza e propósito da humanidade.
Teleologia: Qual é o propósito da vida e do universo?
Exemplos de Cosmovisão
Teísta: Acredita-se em um Deus pessoal que criou e sustenta o universo.
Deísta: perspectiva filosófica que acredita na existência de um Deus criador que não interfere diretamente no universo após sua criação.
Naturalista: Vê o universo como um sistema fechado de causas e efeitos naturais, sem intervenção divina.
Panteísta: Acredita que Deus e o universo são uma única realidade.
Humanista Secular: Enfatiza a razão, a ética e a justiça, rejeitando a crença em seres sobrenaturais.
Fundamentos filosóficos
Somos o resultado de uma civilização antiga em que o filósofos se destacam por suas contribuições significativas. Platão, por exemplo introduziu a ideia de um universo ordenado e inteligível, alinhado com a perfeição geométrica e harmonia. Sua obra “Timeu” descreve a criação do universo por um demiurgo, que impõe ordem matemática ao caos preexistente.
Aristóteles, por sua vez, desenvolveu uma cosmologia baseada na observação empírica e dedução lógica. Ele propôs um modelo geocêntrico do universo, com a Terra no centro, que dominou o pensamento ocidental por quase dois milênios, ou seja forjou a cosmovisão ocidental de seu tempo.
Outro filósofo, bem mais recente, Immanuel Kant é conhecido por sua “Crítica da Razão Pura”, onde ele explora como nossas percepções moldam nossa compreensão do universo. Ele também propôs a ideia de que o universo é infinito e eterno.
A visão global
Considerando a importância fundamental da antiguidade na construção do pensamento ocidental, vejamos como se apresentavam diferentes cosmovisões antigas.
Roma
A cosmovisão dos romanos antes do advento do cristianismo era profundamente influenciada por uma combinação de mitologia, religião, filosofia e práticas culturais. Aqui estão alguns aspectos centrais dessa visão de mundo:
No domínio da Religião e Mitologia, encontramos:
O Politeísmo: Os romanos acreditavam em múltiplos deuses e deusas, cada um responsável por diferentes aspectos da vida e do mundo natural. Entre os deuses mais importantes estavam Júpiter (Zeus na mitologia grega), Juno (Hera), Netuno (Poseidon), Marte (Ares) e Vênus (Afrodite).
Rituais e Sacrifícios. A religião romana era altamente ritualística. Sacrifícios de animais, oferendas de alimentos e libações eram comuns para aplacar os deuses e buscar suas bênçãos.
Mitologia: Muitas das crenças religiosas dos romanos foram herdadas da mitologia grega, adaptadas à sua própria cultura. As histórias dos deuses, heróis e monstros eram parte integrante da educação e da cultura popular.
A filosofia e pensamento romanos sofreu uma enorme influência grega. A filosofia grega teve um impacto significativo sobre o pensamento romano. Escolas de pensamento como o estoicismo e o epicurismo foram adotadas por muitos romanos. O estoicismo, por exemplo, enfatizava a virtude, a razão e a autossuficiência, enquanto o epicurismo focava na busca do prazer moderado e da ausência de dor.
Os romanos valorizavam virtudes práticas como a coragem, a disciplina, a lealdade e o dever (pietas). O ideal do cidadão romano estava centrado na contribuição para a comunidade e na manutenção da ordem social.
Como sociedade e cultura, a sociedade romana era altamente hierárquica, com uma clara distinção entre classes sociais, tais como os patrícios (aristocratas), plebeus (cidadãos comuns), escravos e libertos.
A família (familia) era a unidade central da sociedade romana, com o paterfamilias (chefe da família) exercendo autoridade sobre todos os membros. O Estado romano era visto como uma extensão da família, e o imperador, como uma figura paterna para todo o império. Fustel de Coulanges, em sua obra A Cidade Antiga, nos ensina como essa estrutura social levou à criação da religião.
Os romanos acreditavam no conceito de destino (fatum) e na fortuna (fortuna) como forças que governavam a vida. Embora os indivíduos pudessem exercer alguma influência sobre seu destino através da virtude e do comportamento correto, muitos eventos eram vistos como além do controle humano.
As crenças sobre a vida após a morte eram variadas. Alguns romanos acreditavam em uma vida após a morte no submundo (Hades), enquanto outros, influenciados pelo estoicismo e outras filosofias, viam a morte como um retorno à natureza ou um simples fim da existência consciente.
A cosmovisão romana pré-cristã era, portanto, uma mistura complexa de religiões antigas, práticas culturais e filosofias que enfatizavam tanto a ordem social quanto a conexão com o divino.
Com a queda do Império Romano do Ocidente em 476 d.C., começou o período histórico conhecido como Idade Média. Este período se estendeu até 1453, quando Constantinopla foi conquistada pelos turcos-otomanos. A Idade Média é dividida em duas grandes fases: a Alta Idade Média (século V ao século X) e a Baixa Idade Média (século XI ao século XV).
Cosmovisão medieval
A cosmovisão medieval era profundamente influenciada pela religião, especialmente pelo Cristianismo e pela filosofia clássica. Aqui estão alguns pontos principais sobre essa cosmovisão:
A visão de mundo medieval era centrada em Deus, ou seja teocêntrica. Acreditava-se que Deus era o criador e sustentador do universo, e tudo na vida era visto através dessa lente.
A sociedade medieval era altamente hierárquica, refletindo a ordem divina. Isso se manifestava tanto na estrutura social quanto na organização do cosmos. A realidade era frequentemente interpretada de forma simbólica. Objetos, eventos e seres tinham significados espirituais profundos.
Havia uma tentativa de conciliar a fé cristã com a razão. Filósofos como Santo Agostinho e São Tomás de Aquino trabalharam para integrar a filosofia grega com a teologia cristã.
As influências filosóficas consideradas eram a filosofia patrística, representada por Santo Agostinho que enfatizava a importância da fé e da revelação divina. E a filosofia escolástica, representada por São Tomás de Aquino que buscava harmonizar a fé com a razão, utilizando a lógica e a filosofia aristotélica.
O universo era visto como um cosmos ordenado, criado por Deus com um propósito específico e a natureza era interpretada simbolicamente, com cada elemento tendo um significado espiritual.
Considerando a importância que teve durante séculos para a humanidade e a importância que tem ainda hoje, é preciso detalhar a Cosmovisão cristã.
Cosmovisão Cristã
A cosmovisão do cristianismo foi moldada por suas origens no judaísmo, bem como pelas interações com as culturas greco-romanas da época. Vejamos alguns aspectos dessa visão de mundo:
Ao contrário do politeísmo romano, o cristianismo era monoteísta, acreditando em um único Deus todo-poderoso, criador do céu e da terra. Esse Deus era o mesmo Deus do judaísmo, mas com uma nova ênfase em Jesus Cristo como Filho de Deus e Messias prometido.
A figura central do cristianismo é Jesus de Nazaré, acreditado pelos cristãos como o Filho de Deus e o Salvador da humanidade. Eles acreditavam que Jesus morreu na cruz para redimir os pecados da humanidade e ressuscitou dos mortos, oferecendo a promessa de vida eterna aos seus seguidores.
A salvação era vista como um dom gratuito de Deus, acessível pela fé em Jesus Cristo. A vida após a morte era uma expectativa central, com a promessa de ressurreição e vida eterna no Reino de Deus.
O cristianismo seguia algumas práticas religiosas, tais como o Batismo, um rito de iniciação essencial para os cristãos, simbolizando a purificação dos pecados e a entrada na comunidade dos fiéis.
Outra prática era a Eucaristia, também conhecida como a Ceia do Senhor ou Comunhão, a Eucaristia era (e continua a ser) uma prática central, comemorando a Última Ceia de Jesus com seus discípulos, onde pão e vinho eram consumidos em memória do corpo e do sangue de Cristo.
A oração e a comunhão com outros crentes eram aspectos fundamentais da vida cristã, com reuniões regulares para culto, ensinamento e apoio mútuo.
Aspectos éticos e morais do cristianismo incluíam o mandamento de amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a si mesmo. A ética cristã enfatizava a compaixão, o perdão, a humildade e a caridade. Havia um forte enfoque na pureza moral e sexual, com a condenação do adultério, da fornicação e de outras práticas sexuais consideradas imorais.
As primeiras comunidades cristãs baseavam-se nas Escrituras hebraicas (o que hoje é o Antigo Testamento) e nas tradições orais sobre a vida e os ensinamentos de Jesus, que mais tarde foram escritos nos Evangelhos e outras partes do Novo Testamento. Os apóstolos, especialmente Pedro e Paulo, eram vistos como líderes e fundadores da fé cristã, e seus ensinamentos e cartas eram altamente respeitados.
Os primeiros cristãos frequentemente se viam como separados do mundo pagão ao seu redor. Eles eram chamados a viver de maneira diferente, muitas vezes enfrentando perseguição por sua fé. Havia um forte senso de missão, com a tarefa de espalhar a mensagem de Jesus Cristo para todas as nações. Os cristãos eram incentivados a testemunhar sua fé e converter outros.
A expectativa de um retorno iminente de Jesus e o estabelecimento do Reino de Deus na terra eram crenças centrais. A escatologia cristã incluía a esperança de um novo céu e uma nova terra, onde Deus reinaria supremo e o mal seria erradicado.
A cosmovisão cristã era, portanto, caracterizada por uma fé monoteísta centrada em Jesus Cristo, com ênfase na salvação, na ética de amor e compaixão, e na esperança escatológica de um futuro redentor.
Mas, o cristianismo não foi a única influência sobre o ambiente religioso e ético da humanidade. É importante trazer aqui também as cosmovisões de outras religiões monoteístas, como, por exemplo o Judaísmo.
Cosmovisão judaica
A cosmovisão judaica é complexa e multifacetada, enraizada em uma rica tradição religiosa e cultural que se desenvolveu ao longo de milênios. Ela é fundamentada nas Escrituras Hebraicas (Tanach), nas tradições orais e nos ensinamentos rabínicos.
Sua teologia e crenças centrais incluíam o Monoteísmo. O judaísmo é estritamente monoteísta, acreditando em um único Deus, Yahweh, que é onipotente, onisciente e onipresente. Deus é o criador do universo e está profundamente envolvido na história humana.
A relação entre Deus e o povo judeu é baseada em alianças, especialmente a Aliança Abraâmica e a Aliança Mosaica. Essas alianças envolvem promessas de Deus e obrigações do povo judeu, como a observância da Torá.
Esse livro fundamental do judaísmo inclui os cinco primeiros livros da Bíblia (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio) e é a principal fonte de ensinamentos e leis judaicas. Além da Torá escrita, a Torá Oral, compilada no Talmude, também é fundamental para a prática judaica.
Essas práticas religiosas incluem o Shabat ou sábado que é um dia sagrado de descanso e adoração; ele vai desde o pôr do sol da sexta-feira até o pôr do sol do sábado. É um tempo dedicado à reflexão, oração e descanso, em conformidade com o mandamento de descansar no sétimo dia.
Também são importantes os Festivais Religiosos como o Pessach (Páscoa), Shavuot (Pentecostes), Sucot (Festa dos Tabernáculos), Yom Kipur (Dia da Expiação) e Rosh Hashaná (Ano Novo Judaico) que são centrais na vida judaica. Cada um desses festivais tem significados históricos e espirituais profundos.
Os judeus praticam a Circuncisão (Brit Milá) dos meninos ao oitavo dia de vida e ela é um sinal da aliança de Deus com Abraão e seu descendentes.
Do ponto de vista Ético e Moral, o judaísmo inclui o Mitzvot ou mandamentos. Existem 613 mandamentos (mitzvot) na Torá que cobrem aspectos da vida moral, espiritual e social. Esses mandamentos orientam os judeus sobre como viver uma vida santa e justa.
O judaísmo enfatiza a importância da justiça social e da caridade. Tzedaká (caridade) é uma obrigação moral, e tzedek (justiça) é um princípio central que orienta as ações dos judeus.
Os livros sagrados são o Tanach, composto pela Torá (Lei), Nevi’im (Profetas) e Ketuvim (Escritos) que é a Bíblia Hebraica e a base das escrituras judaicas.
Existe também o Talmude que é um extenso compêndio de tradições orais, comentários e debates rabínicos sobre a Torá. Ele é dividido em Mishná (a compilação da Lei Oral) e Gemará (comentário rabínico sobre a Mishná).
Os judeus se veem como o povo escolhido por Deus para ser uma “luz para as nações” (Or LaGoyim), com a missão de exemplificar uma vida de justiça e santidade.
A história judaica é marcada por períodos de exílio e diáspora. A conexão com a terra de Israel é central, mas a experiência da diáspora também moldou a identidade e a resiliência do povo judeu.
Diferentemente do cristianismo que considera Jesus o messias prometido nas escrituras, o judaísmo continua à espera da vinda do Messias (Mashiach), um líder ungido por Deus que trará redenção ao povo judeu, restaurará a paz mundial e reconstituirá o Templo em Jerusalém.
As crenças sobre a vida após a morte variam entre diferentes tradições judaicas, mas geralmente incluem a esperança na ressurreição dos mortos e um mundo vindouro (Olam Ha-Ba) onde prevalecerá a justiça divina.
A cosmovisão judaica, portanto, é uma rica tapeçaria de crenças teológicas, práticas religiosas, ética e moral, tradições escriturísticas e uma relação dinâmica com o mundo e a história.
Outra cosmovisão importante para a formação do homem moderno vem do islamismo.
Cosmovisão do Islã
A cosmovisão islâmica é baseada em uma fé monoteísta rigorosa e abrange uma ampla gama de crenças, práticas e valores que orientam a vida dos muçulmanos. Fundada nas revelações recebidas pelo Profeta Maomé no século VII d.C., esta visão de mundo é centrada no Alcorão e na Sunnah (os ditos e feitos do Profeta).
Do ponto de vista teológico, o Islã é estritamente monoteísta, acreditando em um único Deus, Alá, que é onipotente, onisciente e onipresente. O Tawhid, a unidade de Deus, é o princípio central que unifica todas as crenças e práticas islâmicas.
Os muçulmanos acreditam que Deus enviou uma série de profetas para guiar a humanidade, começando com Adão e culminando em Maomé, que é considerado o último profeta (o Selo dos Profetas). Jesus Cristo também é considerado um profeta.
O Alcorão, livro sagrado do Islam, é visto como a palavra literal de Deus, revelada a Maomé através do anjo Gabriel. É a fonte primária de orientação para os muçulmanos.
A crença na vida após a morte é central. Os muçulmanos acreditam no Dia do Julgamento, quando todos serão ressuscitados e julgados por Deus. As ações nesta vida determinam o destino no além, seja no Paraíso (Jannah) ou no Inferno (Jahannam).
Os muçulmanos ou islamitas obrigam-se a realizar o que se chama de Cinco Pilares do Islã, a saber:
Shahada: A profissão de fé, declarando que não há outro deus além de Alá e que Maomé é seu mensageiro.
Salah: As cinco orações diárias, realizadas em horários específicos ao longo do dia. Para praticar as orações o fiel precisa, antes, lavar-se o melhor possível.
Zakat: A doação obrigatória de uma parte da riqueza para caridade, ajudando os necessitados.
Sawm: O jejum durante o mês de Ramadã, abstendo-se de comida, bebida e outras necessidades físicas do amanhecer ao pôr do sol.
Hajj: A peregrinação a Meca, que todo muçulmano deve realizar pelo menos uma vez na vida, se tiver condições físicas e financeiras.
Eticamente, o Islã enfatiza a justiça (Adl) e a compaixão (Rahmah). A justiça social, os direitos dos oprimidos e a caridade são altamente valorizados. Ser honesto e íntegro em todas as ações é um valor fundamental. A mentira, a fraude e a corrupção são severamente condenadas e o Islã tem diretrizes claras sobre a moralidade sexual e as responsabilidades familiares. O casamento é altamente valorizado e a família é considerada a unidade central da sociedade.
Os muçulmanos têm no Alcorão a principal fonte de orientação, abrangendo todos os aspectos da vida espiritual e prática e os hadiths (ditos do Profeta) e a Sunnah (práticas do Profeta) são fontes secundárias que ajudam a interpretar e aplicar os ensinamentos do Alcorão.
O Islã se relaciona com o mundo através da Umma, como é conhecida a comunidade global dos muçulmanos. Há um forte senso de solidariedade e responsabilidade mútua entre os muçulmanos, independentemente de sua nacionalidade ou etnia.
Seguem também a Dawa, ou missão de convidar outros para o Islã (Dawa). Essa é uma parte importante da vida muçulmana, realizada através de exemplos pessoais e pregação.
O Islã ensina que no final dos tempos, todos serão ressuscitados e julgados por Deus com base em suas crenças e ações. Este julgamento determinará se eles entrarão no Paraíso ou no Inferno. O Alcorão e os hadiths mencionam vários sinais que precederão o Dia do Julgamento, incluindo desastres naturais, corrupção moral e a chegada de figuras como o Mahdi e Jesus (Isa), que retornarão para restaurar a justiça.
A cosmovisão islâmica, portanto, é uma integração profunda de teologia, prática religiosa, ética e interações sociais, orientando os muçulmanos em todos os aspectos de suas vidas em busca de um equilíbrio entre as necessidades espirituais e mundanas, com um forte enfoque na justiça, na compaixão e na responsabilidade para com Deus e a humanidade.
Cosmovisões Comparadas
As noções de vida após a morte no judaísmo, cristianismo e islamismo têm características distintas, mas compartilham algumas semelhanças, especialmente quando comparadas com a cosmovisão romana antiga.
Senão, vejamos: O Judaísmo tem uma variedade de crenças sobre a vida após a morte, que evoluíram ao longo do tempo. Algumas tradições judaicas falam de Sheol, um lugar de sombras onde os mortos residem. Em períodos posteriores, especialmente no judaísmo rabínico, surgiram crenças na ressurreição dos mortos (Tehiyat Ha-Metim) e no Olam Ha-Ba (Mundo Vindouro), onde os justos serão recompensados.
Para os cristãos, a vida após a morte é um elemento central da fé. Os cristãos acreditam na ressurreição dos mortos e no julgamento final, onde os justos serão recompensados com a vida eterna no céu e os ímpios serão punidos no inferno.
Os muçulmanos têm a vida após a morte como uma crença fundamental. Acreditam no Dia do Julgamento, quando todos serão ressuscitados e julgados por Deus com base em suas ações e fé.
Por outro lado, a visão romana da vida após a morte era influenciada pelas tradições religiosas e filosóficas gregas e etruscas. Os romanos acreditavam em um submundo chamado Hades (ou Plutão), onde os mortos residiam. Acreditava-se que as almas dos mortos atravessavam o rio Estige e eram julgadas por Minos, Éaco e Radamanto.
Vemos assim que tanto o Judaísmo quanto o Cristianismo e p Islamismo têm uma crença clara e desenvolvida na vida após a morte, com recompensas e punições baseadas no comportamento e na fé durante a vida terrena, ao passo que os romanos acreditavam em um submundo onde todas as almas iam, mas a distinção entre recompensas e punições era menos centralizada e mais ligada a mitos e lendas.
O Cristianismo e Islamismo enfatizam a ressurreição dos mortos e um julgamento final que determina o destino eterno das almas, enquanto o Judaísmo coloca Tem, mas com menos ênfase na crença na ressurreição e no julgamento do que no cristianismo e no islamismo.
Os romanos, por outro lado, não tinham uma noção clara de ressurreição e julgamento final. As almas eram julgadas ao entrar no submundo, mas a imortalidade era reservada para heróis e figuras excepcionais.
O Judaísmo enfatiza muito a vida presente e a observância dos mandamentos. O Cristianismo e Islamismo também valorizem a vida presente, mas colocam uma forte ênfase na preparação para a vida após a morte.
Para os romanos, a vida presente era importante, e o culto aos antepassados e aos deuses tinha um papel central. A vida após a morte era menos detalhada e mais mítica.
Tanto o Cristianismo quanto o Islamismo têm conceitos bem definidos de Paraíso e Inferno. O Judaísmo tem ideias de recompensa e punição, mas com menos especificidade do que as outras duas religiões abraâmicas e os romanos acreditavam em destinos como os Campos Elísios para os virtuosos e o Tártaro para os condenados, mas essas crenças eram mais mitológicas do que doutrinárias.
Em resumo, enquanto o judaísmo, o cristianismo e o islamismo possuem visões claras e detalhadas da vida após a morte com recompensas e punições, a cosmovisão romana antiga era mais mitológica e menos centralizada, com uma crença no submundo e em destinos diferenciados para almas virtuosas e pecadoras.
A cosmovisão maçônica
A cosmovisão maçônica é complexa e multifacetada, refletindo uma combinação de filosofia, ética e espiritualidade.
Tem como princípios fundamentais a Fraternidade, vez que a Maçonaria promove a fraternidade entre seus membros, independentemente de suas crenças religiosas ou origens sociais.
Ela incentiva seus membros a buscar o conhecimento e a sabedoria, tanto em termos espirituais quanto intelectuais e enfatiza a importância da moralidade e da ética, encorajando seus membros a viverem de acordo com altos padrões de comportamento.
Utiliza o Simbolismo como pedagogia, para atingir esses objetivos, onde utiliza uma rica simbologia, incluindo ferramentas de construção como o esquadro e o compasso, que representam virtudes como a retidão e a precisão moral.
Muitas das lições maçônicas são transmitidas através de alegorias e rituais simbólicos, que visam ensinar princípios éticos e filosóficos.
Sua cosmovisão é deísta, embora não seja uma religião; exige que seus membros acreditem em um Ser Supremo ou Princípio Criador, referido como o Grande Arquiteto do Universo.
A Maçonaria promove a tolerância religiosa e a liberdade de crença, acolhendo membros de diferentes tradições religiosas.
Tem como objetivo a melhoria pessoal de seus membros. Os maçons são incentivados a trabalhar no aprimoramento pessoal e no desenvolvimento de suas virtudes e a Maçonaria enquanto instituição busca contribuir para o bem-estar da humanidade através de ações filantrópicas e de serviço à comunidade.
Século XXI
A cosmovisão da humanidade no século XXI é marcada por uma diversidade de perspectivas e desafios.
A globalização e a migração têm promovido uma maior interação entre diferentes culturas, resultando em uma sociedade mais diversa e multicultural. Há um foco crescente na promoção da igualdade de gênero, racial e social, com movimentos sociais lutando por direitos e inclusão.
A tecnologia digital transformou a maneira como vivemos, trabalhamos e nos comunicamos. A internet, as redes sociais e a inteligência artificial são componentes centrais dessa transformação.
A preocupação com o meio ambiente e a sustentabilidade tem se tornado uma prioridade, com esforços para combater as mudanças climáticas e promover práticas sustentáveis.
O aquecimento global, a perda de biodiversidade e a poluição são desafios críticos que exigem soluções globais e a disparidade econômica entre diferentes regiões e grupos sociais continua a ser um problema significativo.
Ocorreu já no século XX um aumento do secularismo, com muitas pessoas adotando uma visão de mundo mais científica e racional. E, ao mesmo tempo, há um interesse crescente por espiritualidade e práticas meditativas, muitas vezes desvinculadas de religiões tradicionais.
Politicamente, a defesa da democracia e dos direitos humanos continua a ser um valor central, embora enfrentando desafios em várias partes do mundo e o crescimento do populismo e do nacionalismo tem impactado a política global, muitas vezes em oposição aos valores de globalização e cooperação internacional.
Esses são apenas alguns dos aspectos que moldam a cosmovisão da humanidade no século XXI.
Grandes questões que se colocam
Como fica a cosmovisão dos maçons no ambiente do Século XXI, considerando a queda sensível no nível da educação oferecida em nível familiar, onde a concorrência com os meios sociais, priva os pais do contato necessário para inculcar os valores básicos para o ingresso na Ordem, e em nível da escola onde a preocupação predominante é a de mera transmissão de informações visando a aprovação no exame vestibular ao ensino superior ?
Como esperar formar maçons que sejam capazes de preservar a instituição sem fugir daquela cosmovisão ideal descrita acima, quando não mais se ensina filosofia nas escolas, a ética sofre um desgaste evidente diante da exposição diária das pessoas às redes sociais onde os limites entre bem e mal, entre certo e errado, entre justo e injusto são continuamente erodidos e borrados?
Como educar um Aprendiz que como todo homem moderno perdeu a capacidade de interpretar símbolos ?
Autores importantes
Um dos autores mais influentes sobre cosmovisão é James W. Sire, conhecido por seu livro “The Universe Next Door: A Basic Worldview Catalog”. Este livro é amplamente utilizado em estudos sobre cosmovisões e oferece uma análise detalhada das principais cosmovisões que moldam o pensamento contemporâneo.
Outro autor importante é Charles Colson, que escreveu “How Now Shall We Live?”, um livro que explora a cosmovisão cristã e sua aplicação prática na vida cotidiana.
Se você estiver interessado em uma perspectiva mais filosófica, N.T. Wright é um autor renomado que aborda a cosmovisão cristã em muitos de seus escritos, incluindo “Simply Christian” e “Surprised by Hope”.
Thomas Kuhn é famoso por seu livro “A Estrutura das Revoluções Científicas”, onde ele introduz o conceito de paradigmas científicos e como eles moldam nossa visão do mundo.
Esses autores têm contribuído significativamente para o entendimento e a discussão sobre cosmovisões, cada um trazendo uma perspectiva única e valiosa.
No Brasil
No Brasil, vários autores têm se destacado por suas contribuições sobre cosmovisão. Aqui estão alguns deles:
Ailton Krenak. Um dos principais pensadores indígenas, autor de “Ideias para Adiar o Fim do Mundo”, onde explora a cosmovisão indígena e sua relação com a natureza.
Eduardo de Oliveira. Professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), autor de “Cosmovisão Africana no Brasil” e “Filosofia da Ancestralidade”, que abordam a filosofia e a cosmovisão africana no contexto brasileiro.
Cristiano Nickel Junior e Arthur Wesley Dück. Autores do artigo “Uma Análise Filosófica, Teológica e Antropológica do Conceito de Cosmovisão”, publicado na Revista Cógito.
Esses autores têm contribuído significativamente para o entendimento e a discussão sobre cosmovisões no Brasil, cada um trazendo uma perspectiva única e valiosa.
Fontes
https://periodicos.ufs.br/index.php/prometeus/article/download/8529/8248https://pt.wikipedia.org/wiki/Cosmovis%C3%A3o
Fonte: https://bibliot3ca.com
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