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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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terça-feira, 10 de junho de 2025

O SÍMBOLO PERDIDO

Irm∴ Norberto Pardelhas de Barcellos 
Loja Resistência – Porto Alegre/RS

A bem da verdade é um título pomposo. Ao contrário de SÍMBOLO PERDIDO, como alguns assim o denominaram, penso que já seria de bom tamanho chama-lo de SÍMBOLO QUE CAIU NO ESQUECIMENTO ou, até numa linguagem mais popular, o SÍMBOLO QUE O TEMPO DEIXOU DE LADO. Confesso que a literatura é muito precária sobre o assunto e custou um bom tempo folheando páginas e mais páginas. Acontece (e isso não é novidade para os Irmãos) que sou naturalmente curioso. E, graças a essa curiosidade, sou levado à inquietude de buscar respostas para o que não sei. É bom deixar claro que tal constatação não me contempla com qualquer honraria ou mérito. Não sou um pesquisador, repito, mas apenas um neófito engatinhando nos mistérios da Arte Real. Se existe algum mérito, devo ao estudioso e bom pesquisador maçom Irm| Kennio Ismail que levantou o assunto com muita propriedade. Acontece que, não lembro bem se quando Aprendiz ou Companheiro, folheando uma velha revista sobre maçonaria, abandonada na prateleira de um sebo, encontrei desenhos de vestes da Francomaçonaria. Estranhamente, num dos aventais daquela época, observei a existência de uma Colmeia. Fiquei encasquetado. E assim o tempo foi passando sem que eu descobrisse a razão daquele símbolo. Ora, a vantagem de ser curioso é que a curiosidade não dorme nem tira férias. E foi assim que comecei a incansável perseguição quanto a esse questionamento. Senão vejamos: Por muitos de nós desconhecida, a Colmeia de Abelhas é chamada de SÍMBOLO PERDIDO DA MAÇONARIA, segundo o estudioso Nicola Aslan. 

Alguém certamente dirá: uma colmeia? Não seria mais instigante um outro símbolo qualquer? Quem sabe um brasão contendo dizeres e desenhos indecifráveis? Ou quem sabe um malhete todo trabalhado com formas enigmáticas? Algo realmente místico e adornado com misteriosas mensagens? Não vou a tanto, porém difícil ignorar essa descoberta.

Aqui, talvez com outras palavras, reporto-me ao que foi sabiamente analisado e escrito, aqui citado, pelo Irm∴ Kennio.

Acontece que a Francomaçonaria, no século XVIII, ano de 1724, elegeu a colmeia como um símbolo de trabalho. Não existe precisão quanto as datas, mas um documento Irlandês daquela época assim narra: “uma abelha tem sido, em todas as épocas e nações, o grande hieróglifo da Maçonaria, pois supera todas as outras criaturas vivas na capacidade de criação e amplitude de sua habitação. Construir parece ser da própria natureza da abelha”.

Pensando bem, existe total lógica nessa linha de raciocínio, mas insisto: uma colmeia? Ora, então vamos mergulhar um pouco mais nesse símbolo: as abelhas vivem em comunidade, produzem, constroem moradias e respeitam, harmonicamente, uma hierarquia. São disciplinadas. Assíduas e esforçadas. A abelha não trabalha em benefício próprio, mas para a sua comunidade. É, a bem da verdade, o que esperamos de um verdadeiro maçom na sua edificação espiritual.

Entretanto, não posso considerar essa interpretação como tênue, já que essa simbologia possui uma mensagem verdadeiramente construtiva para o nosso crescimento moral e espiritual.

Bastante fascinado pela matéria, mesmo correndo o risco de me tornar enfadonho ou extenuante, busquei na literatura científica um sólido apoio. É claro que não me ative as classificações da variada espécie. Nem me atrevo a escrever sobre as Tetragroniscas, Meliponas, Alvilas ou tantas outras que até acho difícil pronunciar os seus nomes. Para mim toda a abelha tem a mesma cara, embora a ciência prove a existência de 25.000 espécies na sua família biológica. Como não sou um biólogo, mas apenas um curioso vasculhando a intimidade desses encantadores seres, o que me interessa é a vida da abelha. E vejam que interessante: a sua sociedade é tão variada quanto a de um palácio de monarcas ou de uma comunidade humana. Estudos oferecem um olhar atencioso sobre as diferenças de estilo desses fascinantes seres, que a ciência chama essa evolução de EUSOCIALIDADE, ou seja, socialmente organizadas.

Senão vejamos como se compõe a vida dentro de uma colmeia: 

1) Abelha líder que, hierarquicamente, desempenha o papel de comando. Entendo que, caso fosse no templo, seria o VM;

2) Amas – são as operárias que tem como tarefa exclusivamente tomar conta das abelhinhas bebês - na maçonaria, arrisco o palpite, de que talvez fossem os Mestres zelando pelos Aprendizes;

3) Ventiladores – ficam batendo asas para arejar o interior da colmeia;

4) Sentinelas ou vigilantes – guardam o templo e o protejam para que tudo se mantenha organizado além de cuidarem para que não aconteça uma invasão de não membros daquela sociedade;

5) Obreiras, ou seja, aquelas que trabalham na busca de alimentos e água, coletam néctar, secretam e constroem cera na construção do favo, sendo consideradas as operárias da colmeia.

Tais constatações já são suficientes para a Francomaçonaria encontrar motivos de sobra quanto à existência da colmeia adornando estandartes e aventais daquela época, como constatei também nos rituais do Grau de Mestre. Vou mais longe: aqui incluo a Escócia, Irlanda, Inglaterra e Estados Unidos que também utilizaram a Colmeia em suas vestes e nos templos.

Curiosamente, é de se perguntar: foram aqueles maçons os primeiros a utilizarem esse símbolo? Não, não foram. A sua história é muito mais remota. A simbologia da Colmeia existiu muito antes, nos templos do antigo Egito, também entre os romanos e, como era de se esperar, pelos cristãos, o que não é de se espantar a histórica ligação dessa trilogia na trajetória da humanidade.

Celebra a história que, com a mudança e transformações dos rituais, lá pelos idos de 1813, a Colmeia foi sendo posta de lado, caindo no esquecimento, com exceção Maçonaria Americana que, segundo apreciei, ainda existe em certos ritos.

O já citado Nicola Aslan, inspirado no antigo Egito, assim se posicionou:

a colmeia representava as leis da natureza e princípios divinos”.

Lembrava que o homem precisava construir um lugar onde pudesse trabalhar, e isso era representado pelo templo. “Dentro desse templo, acrescenta, todos devem estar ocupados numa produção cooperativa e mútua”.

É evidente, penso eu, que nos parece uma constatação um tanto mística, porém nem por isso, desmerece o seu conteúdo.

Na Enciclopédia da Francomaçonaria, Albert Mackey, escreveu:

“os maçons devem observar as abelhas e aprender como são laboriosas e que notável trabalho elas produzem, prevalecendo os valores da sabedoria, apesar de serem frágeis e pequenas”.

Enfim, resumindo, fica dentro de nós, uma mensagem que, os historiadores, chamam de SÍMBOLO PERDIDO. 

Acontece que nós, maçons, muitas vezes nos distanciamos da tão significativa mensagem que esse símbolo nos proporciona. Penso que, talvez com a seriedade das indicações melhores observadas, com mais disciplina nas nossas sindicâncias, na elevada dedicação aos estudos e o exercício de acentuada união, quem sabe possamos resgatar, na sua forma espiritual, tão belo símbolo.

Sabemos que, mundialmente, a maçonaria vem sofrendo transformações e até abalos. Vemos, muitas vezes, maçons que esquecem o próprio juramento e se deixam levar pela vaidade dos cargos, pela beleza dos aventais e até pela pompa dos seus templos. Mas, questiono: onde ficou a humildade?

Esteticamente, uma colmeia não possui nenhum atrativo arquitetônico, mas é acolhedora para a sua comunidade. As abelhas não são bonitas, porém incansáveis na sua lide diária. São despojadas da vaidade e objetivam tão somente cumprir com a sua missão. Por isso são unidas e não disputam singulares destaques. A natureza fez com que mantivessem respeito e dignidade diante de uma hierarquia.

Nós, nobres seres pensantes, donos de tantas verdades e conhecimentos, precisamos exercitar tais exemplos. Acrescento ainda: a união. Muito temos para aprender com as abelhas. Apenas para exemplificar, caso uma delas seja atingida, de imediato todas se unem em defesa daquela ameaçada, como prova incontestável do quanto são unidas. Sendo assim, podemos até entender que o nosso templo nos reporta para uma colmeia.

E assim exercitarmos a sensibilidade e a sabedoria para acolhermos a sua generosa lição. Resgatarmos dentro de nós a colmeia perdida ou adormecida.

Agora entendo o motivo das Filhas de Jó serem chamadas de ABELHINHAS

E, com certeza, por isso, o mel também se encontra presente, quando no Ritual de Adoção dos Filhos de Lowtow. Sim, o mel, alimento produzido pelas abelhas.

Será que é para adoçar a boca das crianças?

Será uma simbologia que só entenderão depois de adultas?

Será que não é para lembrarmos da nossa missão como membros de uma Organização com elevada responsabilidade tanto individual como coletiva?

Ou será uma mensagem singela do SÍMBOLO PERDIDO, tentando nos mostrar o quanto ainda temos para trilhar no nosso exercício permanente de aprendizado?

Meus Irmãos, peço com humildade maçônica, vamos refletir sobre isso!

Fonte: Revista Cavaleiros da Virtude

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