Charles Evaldo Boller
Sinopse: Simbolismo, misticismo e
esoterismo ligados à marcha do aprendiz maçom
Durante a marcha, na
interpretação mística e esotérica da Maçonaria, o aprendiz maçom no Rito
Escocês Antigo e Aceito não deve levantar o pé do chão, e sim arrastá-lo.
Dentro da liturgia maçônica a marcha tem sentido esotérico, ligado a uma
espécie de campo de força do pensamento, gerado pelos irmãos reunidos em loja;
chamam-no Egrégora. Pessoalmente nunca senti a manifestação desta hipotética
energia, talvez porque ainda não alcancei os níveis certos na Escada de Jacó,
ou nunca o alcançarei por possuir mente de formação preponderantemente
cartesiana. Dizem os místicos e esotéricos da arte da Maçonaria, ser este um
campo de força que parte do oriente, tem um polo na coluna da sabedoria, na
pessoa do venerável mestre e termina na pessoa do guarda do templo; sendo esta
a razão do guarda do templo nunca poder sair de seu posto, nem do templo, e a
porta do templo não pode ser tocada por outro irmão oficial qualquer enquanto a
loja estiver aberta.
O aprendiz maçom está ligado às
coisas da matéria, ele constrói seu ser material, ligado à Terra. É o que
significa o esquadro sobre o compasso. O aprendiz maçom está ligado às coisas
materiais e depois, ao galgar outros graus ele passa a tirar os pés do chão.
Alguns irmãos brincam com a
marcha do aprendiz maçom, chamando-a de a marcha do "manquinho",
exatamente devido esta característica do pé esquerdo ser arrastado para frente
e depois o calcanhar direito bate em esquadro no calcanhar esquerdo.
Em nenhum momento, nenhuma das
palmas dos pés, tanto direito como esquerdo descolam do chão. Há quem queira
explicar este arrastar de pés como ligados ao fato do aprendiz maçom ainda não
estar simbolicamente acostumado com toda a luz, então vai tateando.
De tudo o que se lê a respeito, o
arrastar de pés está ligado unicamente ao fato do aprendiz maçom estar ligado
ao chão, à Terra, um dos quatro elementos, porque ainda não galgou a escada em
direção de sua espiritualização. Isto é simbólico, mas pretende passar
sensibilidade com os assuntos da espiritualidade.
Pessoas como eu poderão dizer,
num primeiro instante, que é bobagem, mas sabemos que a ritualística maçônica
carrega em si mensagens em seus símbolos que talvez um dia o iniciado vai
descobrir o significado. Daí, se mudar o símbolo, muda-se a mensagem, então é
importante executar a ritualística com rigor, senão ela realmente não passa de
atitude fingida e não de um símbolo esotérico. E sabemos que estamos na
Maçonaria para nos influenciarmos mutuamente. As quatro linhas de pensamento
básicas da Maçonaria devem fundir-se numa só para preparar o homem em sua
caminhada pela sociedade, onde fará sua obra.
Um exemplo: sabe-se que a espada
do guarda do templo é uma arma branca (que não corta nada fisicamente), mas
além de ser símbolo da honra e do poder, ela é o que espanta as más influências
do mundo externo à Egrégora; e se a espada fosse substituída por um fuzil
AR-15? Este último também é uma arma de ataque, porém, que mensagem esta poderá
transmitir? Será que a mensagem é a mesma da espada? A metralhadora transmite a
mensagem de ser arma de honra? Ou de destruição em massa? É razão para
preservarmos os símbolos exatamente como foram idealizados pelos primeiros
maçons com risco da mensagem original perder-se. O mesmo se dá com o movimento
arrastado dos pés durante a marcha do aprendiz. Será esta uma daquelas
invenções que poluem a Maçonaria Simbólica, dita por Albert Pike?
Ainda não é possível afirmar,
ademais, na Maçonaria tudo parece ter uma razão de ser até prova em contrário;
é assim que funciona. A marcha do aprendiz maçom tem relações com as três
colunas do templo: sabedoria, força e beleza. Sabedoria porque se destaca a
cabeça como se estivesse numa prateleira quando se coloca a mão em esquadro na
garganta; Beleza porque a postura e a marcha devem ser feitos com garbo,
energia, elegância; Força porque devem ser feitos de forma enérgica, orgulhosa
e denotando força moral.
Além disso, o posicionamento da
marcha do aprendiz é emblema de três passagens: nascimento, vida e morte.
Quando bem feito representa discernimento, retidão e decisão. Quando a marcha é
torta e frouxa representa: Inépcia, farsa, vacilação.
Os três esquadros formados pela
mão, braço e pés significam: podem me degolar que não conto os segredos; o
braço e antebraço em esquadria significam força à disposição da Ordem; a
esquadria dos pés significa que o caminho do maçom deve sempre ser pautado pela
retidão do ângulo reto. São três os esquadros porque três é a idade do aprendiz
maçom.
Acima de qualquer especulação ou
consideração, é importante lembrar que existem duas maneiras de efetuar
qualquer tarefa: fazer bem feito ou mal feito: implica que, tanto para fazer
bem feito, como para fazer mal feito leva-se quase o mesmo tempo e se gasta
quase o mesmo recurso; então faça bem feito! Ademais, como estudante da arte
real é importante fazer tudo bem feito, para escalar a Escada de Jacó com
galhardia e progredir espiritualmente para honra e à Glória do Grande Arquiteto
do Universo.
Bibliografia:
1. CASTELLANI, José, Consultório
Maçônico XI, ISBN 978-85-7252-286-1, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha
Ltda., 176 páginas, Londrina, 2011;
2. PIKE, Albert, Morals and
Dogma, of the Ancient and Accepted Scottish Rite of Freemasonry, primeira
edição, Supreme Council of the Thirty Third Degree for the Southern
Jurisdiction of the United States, 574 páginas, Charleston, 1871.
Data do texto: 09/09/2008
Sinopse do autor: Charles Evaldo
Boller, engenheiro eletricista e maçom de nacionalidade brasileira. Nasceu em 4
de dezembro de 1949 em Corupá, Santa Catarina. Com 61 anos de idade.
Loja Apóstolo da Caridade 21
Grande loja do Paraná
Local: Curitiba
Grau do Texto: Aprendiz Maçom
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