Em 07/11/2022 o Irmão Thiago Wu, Aprendiz Maçom da Loja 3 de Maio, 4323, Rito Brasileiro, GOB-PR, Oriente de Santa Terezinha de Itaipu, Estado do Paraná, apresenta a dúvida seguinte:
TELHAMENTO
Conheci o trabalho e estudos do Sr. após o último ERAC Sudoeste.
Gostaria de perguntar sobre o tema que é meu trabalho de Aprendiz (O Telhamento, no Rito Brasileiro) pois vi em seu blog que já estuda há algum tempo sobre a matéria.
Os Irmãos de minha Loja sempre dizem que o telhamento é a parte já dentro de Loja em que o Venerável Mestre realiza o questionário aos visitantes, todavia, vejo que há grandes divergências no entendimento dos Irmãos de outros ritos e Orientes, pois chamam de telhamento o questionário inicial feito fora da Loja (no rito brasileiro chamamos isso de exame de um Irmão desconhecido), será que se trata de divergência por conta dos Ritos? Ou seria algum engano de alguma das partes?
CONSIDERAÇÕES:
De início, vale lembrar que a prática do “telhamento” não é exclusividade deste ou daquele rito maçônico. O ato de se praticar o telhamento a eventuais desconhecidos que se apresentem para os trabalhos é prática universal na Maçonaria.
Em relação à questão presentada, o que me parece é que toda a “turma” aí anda é mesmo equivocada, pois não existe essa de se relacionar a ação de um telhamento fora ou dentro do templo – tudo é telhamento.
Ora, a qualquer exame feito para se verificar a qualidade maçônica de alguém, seja na parte interna ou externa do edifício que abriga a Loja, dá-se o nome de “telhamento”.
A palavra “telhamento” é um neologismo maçônico que se originou de telhadura – como está no dicionário da língua portuguesa; é a ação de cobrir com telhas.
Em Maçonaria, de maneira figurada, telhamento está diretamente relacionado à cobertura do Templo, isto é, cobrir no sentido de que ninguém possa de fora ver ou ouvir o que se passa no seu interior.
A cobertura do recinto de trabalho maçônico é muito antiga e é originária dos tempos da Maçonaria Operativa ou de Oficio (nossos ancestrais).
Desse modo, as corporações de ofício da Idade Média guardavam os planos da obra debaixo de sete chaves. O segredo profissional e do processo de construção de uma catedral, por exemplo, era estritamente observado, sobretudo porque envolvia os trâmites de negócios financeiros da corporação. Exigia-se segredo absoluto.
Sob o segredo profissional também havia uma severa vigilância, principalmente para que ao cowans[1] não interferissem na qualidade dos trabalhos.
Assim, quando um intruso era apanhado espionando algo no canteiro de obras, como castigo, geralmente o curioso era então amarrado e conduzido para debaixo das calhas de águas pluviais onde, como pela pelo delito, se submetia às águas geladas oriundas das chuvas que ocorriam nas baixas temperaturas, comuns no norte da Europa.
Graças a isso, o vocábulo telhamento se relacionou diretamente com a cobertura do recinto, ou o lugar onde a chuva não penetra. Essa é a origem do termo “goteira” que é dado na Maçonaria a um não iniciado que se aproxima.
Desse modo, nessa conjuntura os substantivos goteira, telhamento e cobertura são interligados, já que notadamente nessas circunstâncias o edifício que abriga a Loja é coberto por telhas, não por trolhas.
No argumento prático da liturgia maçônica, o templo é coberto pelo Cobridor, oficial que na Maçonaria latina tem por ofício "cobrir" os trabalhos da Loja. Na Maçonaria de origem inglesa esse oficial é o Tyler - de telhador.
Vale então dizer que em Maçonaria, qualquer ação ou prática que envolva o exame para a verificação da qualidade maçônica de alguém, chama-se “telhamento”.
Houve tempo em que graças a uma tradução errada dizia-se que telhamento era o trolhamento. Na verdade, o termo trolhamento está relacionado à trolha que é a desempenadeira utilizada pelo pedreiro para se servir da argamassa e para alisar as superfícies das paredes rebocadas. Dá-se também o nome de trolha à colher que o pedreiro utiliza para assentar pedra e tijolos na elevação das paredes. Em Maçonaria, a trolha é um instrumento que simbolicamente alisa, ou seja, elimina eventuais rusgas que porventura possam existir entre os Irmãos. Já a o telhamento é o ato de telhar, ou cobrir com telhas.
À vista disso, “telhamento” também é o nome dado ao questionário aplicado ritualisticamente pelo Venerável Mestre aos visitantes desconhecidos.
Para concluir, quem cobre o templo é o Cobridor e, diante disso, quando alguém se retirar dos trabalhos, temporária ou definitivamente, diz-se que esse alguém teve para si o templo coberto (pelo Cobridor). Portanto, é equivocada a forma de se dizer que é o retirante quem cobre o templo. Como dito, quem cobre é o Cobridor.
(*) Cowan – palavra originária de um dialeto praticado na Escócia e significa aquele que assenta pedras sem argamassa. Em linhas gerais era o profissional de qualidade inferior e que apenas empilhava pedras na construção de muros.
T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br
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