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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

SILABADA OU SOLETRADA

SILABADA OU SOLETRADA
(republicação)

Questão apresentada pelo Respeitável Irmão André A. Kraemer, Loja Templários do Apocalipse, 2.973, REAA, GOB-ES, Oriente de Vila Velha, Estado do Espírito Santo.
aakraemer@hotmail.com

Irmão Pedro Juk, durante uma instrução aos Aprendizes de minha Loja, surgiu uma dúvida que por incrível que possa parecer, nunca tinha observado mesmo lendo o Ritual com frequência. Estou tomando como base o Ritual impresso em 2009. Na pag. 165 diz "a pa⸫ sagr⸫ dá-se let⸫ por let⸫ e depois sil⸫ por sil⸫", em seguida diz “que quando pedida a pal⸫ deve-se dizer Não v⸫ p⸫ v⸫ d⸫ s⸫sol⸫ dai-me a p⸫ let⸫ etc". Aí no meu entender já existe uma contradição. Somente soletrada e também silabada? Não bastasse isso, na pag.49 instrui como o Venerável deve passar a pal⸫ para o 1º Diácono que mais uma vez conflita. Como ele deve passar? Há um erro de gráfica no Ritual? Como surgiram muitas "opiniões" diferentes em Loja, e não estando bem certo, peço sua ajuda já que sou sabedor do grande conhecimento que tens de nossa ritualística. Particularmente entendo que é unicamente soletrada e não silabada, mas gostaria de confirmar isso já que nossa Loja prima muito pela ritualística e cumprimento rigoroso do RGF.

CONSIDERAÇÕES:

Tenho derramado rios de tinta para extirpar essa anomalia dos nossos rituais, todavia até agora nada!

O que acontece é o seguinte: Essa prática equivocada vem de há muito tempo sendo praticada na Maçonaria brasileira sem que se apercebesse que existem dois sistemas doutrinários distintos na Sublime Instituição – a francesa e a inglesa. No sistema francês, donde o Rito Escocês é filho espiritual, a palavra no grau de Aprendiz é simplesmente dada soletrada (letra por letra), enquanto que no sistema inglês, em linhas gerais ela é dada de trás para frente, ou “partida ao meio”. Esse termo “partida ao meio” é que viria acabar gerando essa confusão no Rito Escocês no Brasil particularmente, pois ritualistas do passado por mera graça de se “achar bonito” inseriram esse costume que simplesmente contradiz a doutrina do Rito. No sistema francês onde o Aprendiz representa a infância, a Palavra “deveria” ser simplesmente soletrada, sem que houvesse a prática de ao final os protagonistas a pronunciassem por sílabas. Ora, a pronúncia silabada é no Rito Escocês, prática do Grau de Companheiro. A regra é muito simples: o Aprendiz (infância) soletra; o Companheiro (juventude) dá por sílabas e o Mestre (maturidade) transmite por inteiro de forma normal. Obviamente que a regra se aplica a cada palavra senha no procedimento de transmissão ou reconhecimento, já que cada grau simbólico possui a sua própria palavra e esta é transmitida sempre na forma do Grau – Primeiro Grau, soletrada; Segundo Grau, silabada e Terceiro Grau na forma normal. É sempre bom lembrar que aqui está se tratando do Rito Escocês Antigo e Aceito que, apesar do nome, é de origem francesa. Também é imprescindível que o estudante de maçonaria tenha por conta a importância de se conhecer os dois principais sistemas doutrinários maçônicos – o inglês e o francês. Embora o objetivo da Maçonaria seja único, os sistemas de aperfeiçoamento em não raras vezes se diferem, sobretudo a partir do Século XVIII com o surgimento dos ritos maçônicos com particularidades de usos e costumes regionais.

Voltando ao tema, há que se observarem alguns pormenores não menos importantes. Existe a transmissão da palavra por conta do que se averigua a qualidade maçônica que é o telhamento (neologismo maçônico) e faz parte do “cobridor do grau” (cobre-se com telhas e não com trolhas).

Nesse caso os protagonistas soletram a palavra cada qual por sua vez, dando a primeira letra sempre aquele que pergunta, obtendo como resposta a segunda e assim por diante. Isso bastaria. Todavia o ritual, enganosamente embasado provavelmente em outro costume evoca ao final que os protagonistas deem a palavra também por sílabas (o que está escrito nos obriga a cumprir, mas que está errado, isso está).

Retomando, existe no Rito em questão a prática da transmissão da palavra por ocasião da abertura e encerramento dos trabalhos da Loja. Essa prática litúrgica e ritualística não é “telhamento”, porém a simples transmissão, fato que faz diferença no ato entre os protagonistas (o Venerável, os Diáconos e os Vigilantes). Nesse caso quem transmite a palavra a pronuncia por inteiro conforme o Grau – soletrada no Grau de Aprendiz; silabada no de Companheiro e de forma normal no Grau de Mestre. Não existe nesse caso troca de letras ou sílabas entre os coadjuvantes. Os protagonistas são Mestres e entre eles na oportunidade o ato não é de reconhecimento, porém da simples transmissão.

Finalizando, devo alertar que se cumpra o que está escrito, legalmente aprovado em vigência. Essa é sem dúvida mais uma das inúmeras questões controvertidas existentes na Maçonaria, não por culpa da Instituição, todavia por conta de falsas interpretações que ganham guarida em rituais antigos e ultrapassados. Enquanto isso ocorre, fica difícil explicar racionalmente para o Aprendiz, por exemplo, que simbolicamente ele, por representar a infância, deve apenas soletrar sua palavra de reconhecimento, ao mesmo tempo em que o Ritual em algumas ocasiões contradiz essa tese.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com 
Fonte: JBNews n. 698, 25/07/2012

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