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sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

BALANDRAU

BALANDRAU
Carlos Alberto dos Santos

Abrindo o presente trabalho, nos valeremos do auxílio do resumo do verbete, conforme consta às folhas 152/153 do volume I do “Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia”, do saudoso Mestre e escritor maçom Nicola Aslan:

"Espécie de opa ou beca com mangas, o Balandrau é fechado até o pescoço, sendo confeccionado de tecido preto que pode variar de acordo com o clima. O Balandrau é usado por certas irmandades em atos religiosos, tendo sido adotado como vestuário pelos Irmãos de várias Lojas do Brasil.

O Balandrau do Ir∴  Experto, bastante comprido, é munido de uma capa ou mantelete e de um largo capuz, a fim de não ser reconhecido pelos profanos antes de receberem a Iniciação Maçônica.

O uso do Balandrau, segundo nos parece, é uma particularidade da Maçonaria brasileira, pois nenhum autor ou dicionarista maçônico, fora do Brasil, refere-se a ele como indumentária maçônica. A nosso ver, o uso do Balandrau remonta à última metade do século XIX, tendo sido introduzido na Maçonaria pelos Irmãos que faziam parte, ao mesmo tempo, de Irmandades Católicas e de Lojas Maçônicas, Irmãos estes que foram o pivô da famigerada Questão Religiosa, suscitada no Brasil em 1872.

Esta peça de vestuário parece ter sido adotada pelos maçons brasileiros como substituto barato e confortável do traje a rigor preto, exigido nas Cerimônias Maçônicas, que é o smocking com gravata borboleta e luvas brancas. Esta indumentária tinha a vantagem de poder ser confeccionada com qualquer tecido leve e barato, o que, além de não ser dispendiosos, permitia suportar, em tempo de canícula, altas temperaturas em recintos fechados. Estas razões ponderáveis o fizeram adotar por muitas Lojas no Brasil, e o seu uso não foi objeto de qualquer objeção por parte das altas autoridades maçônicas.

Assim, o uso do Balandrau não foi aprovado nem desaprovado; foi simplesmente tolerado, não constituindo, portanto, um traje litúrgico.

Atualmente, nas Sessões Magnas, admite-se o traje de passeio em cores escuras, dando-se, porém, preferência ao preto.”

Apesar de o resumo acima quase dispensar outros esclarecimentos, acrescentaremos mais alguns dados, objetivando enriquecer e dissecar o assunto.

Indispensável acrescentar que o Balandrau deve ser usado sempre com sapatos e meias pretos.

“O Balandrau é traje eminentemente maçônico, não sendo encontrado em lojas de modas, e iguala a todos os Iniciados, lembrando-lhes sempre sua condição de Maçons. Tendo o comprimento adequado, até os pés, devendo, preferencialmente, estar complementado pelo uso do capuz, tem, esotericamente, a função de manter a energia interna circulando, sem perdas para o exterior. Deixando à mostra somente as feições e mãos que, exprimindo inteligência, gestos e emoções, distinguem o Homem do restante da Criação, uma vez que somente aquele pode usar de expressões faciais e gesticulação para exteriorizar as faculdades e os sentimentos mais nobres de que é dotado.” (Nota: trecho extraído do livro “TEMAS PARA A REFLEXÃO DO MESTRE MAÇOM”, de Marcos Santiago).

Importante se frisar, ainda, que, apesar do seu uso já incluído nos “Usos e Costumes” maçônicos, não é difícil observar-se o “torcer de nariz” de alguns maçons “puristas”, que não aceitam o Balandrau, sendo rigorosos na exigibilidade do uso do terno.

Como o assunto diz respeito à indumentária maçônica, ou seja, o traje maçônico, importante que reproduzamos o pensamento do não menos culto e grande escritor maçônico, que foi o nosso Ir.: JOSÉ CASTELLANI, que dizia (No seu “DICIONÁRIO ETIMOLÓGICO MAÇÔNICO”):

“BALANDRAU - substantivo masculino, designa a antiga vestimenta, com capuz e mangas largas, abotoada na frente e, também, certo tipo de roupa usada por membros de confraria, geralmente religiosas. O Balandrau é largamente utilizado em Maçonaria, durante as Sessões de Loja, sendo uma forma de uniformização; no Grau de Mestre Maçom, em quase todos os Ritos, é obrigatório para todos os maçons presentes à Sessão, enquanto o V.: M.: usa um manto de veludo negro. Embora alguns autores insistam em afirmar que o Balandrau não é veste maçônica, na realidade o seu uso remonta à primeira das associações organizadas de ofício (hoje chamada de Maçonaria de Ofício, ou Operativa), a dos ‘Collegia Fabrorum’, criada no século VI a.C., em Roma: quando as legiões romanas saíam para as suas conquistas bélicas, os ‘collegiati’ acompanhavam os legionários, para reconstruir o que fosse destruído pela ação guerreira, usando, nesses deslocamentos, uma túnica negra da mesma maneira, os membros das confrarias operativas dos franco-maçons medievais, quando viajavam para outras cidades, feudos, ou países, usavam um Balandrau negro. 

Assim, o Balandrau, que é veste talar (deve ir até os talões, ou calcanhares), foi uma das primeiras vestes maçônicas, sendo plenamente justificado o seu uso nas Sessões de Loja”.

Transcreveremos, ainda, a seguir, um pequeno trecho (Pág. 136) do livro “A Maçonaria OPerativa”, do escritor Nicola Aslan, por julgá-lo um importante acréscimo:

“A vestimenta do Maçom operativo medieval, conforme J. Fort Newton, citando “History of Masonry” de Steinbrenner é descrita no texto: ‘A vestidura consistia numa túnica curta e negra; no verão, de linho, e, no inverno, de lã, aberta aos lados, com uma gola à qual ia unido um capucho, ao redor da cintura traziam um cinturão de couro, do qual pendiam uma espada e um surrão”.

Segundo o escritor maçônico Marcos Santiago, em sua obra “Temas para Reflexão do Mestre Maçom”,supracitada, à pagina 100, “...Em gravuras de época do século XVIII, vemos maçons trazendo o Avental por sobre calções bufantes, casacos com peitilhos rendados, e usando meias três quartos e sapatos alambicados, como se usava então; (...) se o personagem fosse realmente Maçom seria essa roupa sobre a qual envergaria o Avental nas reuniões de Loja”.

Acrescenta, ainda, o supracitado escritor que “mesmo considerando que há de haver um traje definido por sob o Avental, penso, quer por motivos históricos ou esotéricos ou simbólicos, que o indicado seria mais o Balandrau que o terno, o qual, aliás, para ser mesmo “terno” deve se compor de calça, paletó e colete (três peças). Este traje é de uso comum em várias situações do mundo profano, no que é uma imitação terceiro-mundista - dos que vivem em clima tropical – dos hábitos do primeiro mundo, de climas mais frios”.

O Balandrau, diferentemente do terno, é traje extremamente maçônico. É a conclusão a que chegamos, através das pesquisas.

Esta é a nossa opinião a respeito do assunto.

*O autor desta matéria é M∴M∴da A∴R∴L∴S∴Renascimento no 8 – oriente de Cabo Frio, jurisdicionada ao GOIRJ; Deputado da Soberana Assembléia Legislativa do GOIRJ; Titular da Cadeira no 14 da Academia Niteroiense Maçônica de Letras, História, Ciências e Artes e Editor Responsável do informativo maçônico O Pesquisador Maçônico.

Fonte: Revista Arte Real nº 2

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