Páginas

PERGUNTAS & RESPOSTAS

O “Perguntas & Respostas” que durante anos foi publicado no JB News e aqui reproduzido, está agora no “Blog do Pedro Juk” . Para visita-lo ou tirar suas dúvidas clique http://pedro-juk.webnode.com/ ou http://pedro-juk.blogspot.com.br

quinta-feira, 20 de abril de 2023

BANQUETE RITUALÍSTICO OU LOJA DE MESA

Em 06.12.2022 o Respeitável Irmão Wagner Coswig. Loja Acácia, 3978, REAA, GOB-SC, Oriente de Camboriú, Estado de Santa Cataria, apresenta a seguinte questão:

LOJA DE MESA OU BANQUETE RITUALÍSTICO

Estou fazendo uma pesquisa acerca do jantar ritualístico o qual nossa loja realizará em nossa próxima sessão dia 07/12, e como alguns Irmãos têm dúvidas sobre sua origem e significado resolvi fazer um breve estudo sobre o assunto. Porém estou achando dificuldades pois fala-se em banquete em loja, banquete ritualístico, algumas literaturas confundem com o Ágape tradicional ao final das sessões. Se o Irmão puder me esclarecer estas dúvidas sobre o banquete ritualístico, suas origens, significado, o porquê ser realizado nos solstícios, ficarei imensamente agradecido novamente.

CONSIDERAÇÕES:

No caso, o título apropriado de uma reunião ritualística de comensais em torno de uma mesa, cujo desenvolvimento se dá obedecendo a um ordenamento litúrgico exarado por um ritual maçônico denomina-se Loja de Mesa.

Esse título se justifica porque na ocasião é de fato aberta ritualisticamente uma Loja seguindo o ritual vigente de uma Obediência.

Não se pode confundir ágapes fraternais (jantares), conhecidos em alguns casos como “copos d’água”, e que geralmente ocorrem após o final dos trabalhos em recintos apropriados, com uma Loja de Mesa que obedece a liturgia de um determinado rito.

Esses jantares, que costumeiramente ocorrem após a sessão com brindes aleatórios, nada tem a ver especificamente com uma Loja de Mesa. Longe de ser uma Loja de Mesa, a tradição de se reunir em um jantar após as sessões maçônicas advém dos tempos primeiros em que os maçons especulativos ainda se reuniam em tabernas e cervejarias. Nessa época ainda não existiam templos maçônicos. O primeiro deles somente apareceria em Londres no ano de 1776.

Na Maçonaria anglo-saxônica, é possível se encontrar Lojas que possuem um tempo para recreação, oportunidade em que os trabalhos são suspensos para que os Irmãos participem de um jantar e se regozijem com brindes efusivos. Encerrado o evento, todos retornam à Loja para dar continuidade aos trabalhos. Essa prática não pode ser confundida com a abertura de uma Loja de Mesa.

Embora de uso consagrado em alguns países, o título de “banquete ritualístico” de fato não é o nome mais apropriado para uma Loja de Mesa.

Quanto à história das Lojas de Mesa na Maçonaria, a sua origem se deve às associações simplesmente religiosas da época que, a partir do século XII, começavam a formar corpos profissionais, ou seja, as Guildas de mercadores e artesãos.

Às Guildas deve-se o primeiro documento onde é mencionado a palavra “Loja” para designar uma corporação de ofício e o seu espaço de trabalho e exposição – guildas de alfaiates, de sapateiros, de jardineiros, etc.

Nessa conjuntura, vale mencionar que as Guildas, junto com as organizações dos Ofícios Francos foram as principais precursoras da Maçonaria (Francomaçonaria).

O termo Guilda, (Gild), é de origem teutônica e se deriva de um antigo título dado a um ágape religioso que era comumente praticado na antiga região da Escandinávia. Durante esse ágape, em uma cerimônia apropriada, eram despejados no chão três chavelhos (copos de chifre) cheios com cerveja, oportunidade em que eram homenageados deuses, antigos heróis e a memória de antigos parentes já falecidos. No encerramento desse cerimonial, os comensais então juravam defender uns aos outros como irmãos, socorrendo-se mutuamente nos momentos em que a vida pudesse lhes apresentar reveses.

Nas Guildas, geralmente essas reuniões comensais e religiosas ocorriam nos solstícios de inverno e de verão no hemisfério Norte. Nada a estranhar nesse sentido, já que os cultos solares sempre fizeram presentes na cultura e tradição das antigas civilizações.

Ainda no século XII, época do aparecimento da Maçonaria de Ofício ou dos Ofícios Francos - que eram corporações de construtores com privilégios concebidos pela Igreja – os seus membros comumente se reuniam em festas solsticiais. Graças a isso é que as suas Lojas ficariam conhecidas como as Lojas de São João, pois que as datas comemorativas a João, o Batista e João, o Evangelista, respectivamente, ocorrem em datas muito próximas aos solstícios de verão e de inverno no hemisfério Norte.

Nessas circunstâncias, vale lembrar que a referência feita ao hemisfério Norte se dá porque foi nesta região que a Maçonaria nasceu e floresceu (Norte da Europa).

Sob o ponto de vista do ofício e o profissional da construção, os rigores do ciclo invernal nas latitudes do Norte da Europa eram impróprios para o trabalho, que geralmente era paralisado nessa estação.

Isso, de certo modo acabava regulando o desenvolvimento profissional, fazendo com que o verão e o inverno servissem como uma espécie de baliza para o calendário do ofício.

À vista disso, a Moderna Maçonaria conserva a tradição de comemorar em Lojas de Mesa a plenitude e a volta da Luz, daí as comemorações solsticiais de verão e de inverno, ambos períodos associados às festas patronais de João, o Batista, a 24 de junho e João, o Evangelista, a 27 de dezembro – base nos cultos solares.

Além dos períodos solsticiais mencionados nesse contexto, ainda, no lastro do misticismo iniciático da Luz e a Maçonaria, também é comum, mas menos frequente, se abrirem Lojas de Mesa nas datas equinociais da primavera e do outono que ocorrem no hemisfério Norte.

Nessa alegoria solar, a primavera simboliza o renascimento e da ressurreição da Luz (Natureza), e o outono a maturidade e o resultado dos bens produzidos pelas estações.

Em relação aos rituais e a liturgia das Lojas de Mesa na Maçonaria, muito se escreveu a respeito e com isso, além de se encontrar bons escritos, também é possível se encontrar toda a sorte de “achismos” e invenções. Assim, remontar os conceitos mais apropriados é uma empreitada que requer perseverança e observação isenta e acurada.

Há rituais sofríveis, e outros aceitáveis. Inicialmente o pesquisador deve rever a condição e os porquês da existência de uma Loja de Mesa, tanto na sua conjuntura histórica como na sua mística e iniciática.

Não há dúvida que o simbolismo de uma Loja de Mesa é precioso para atender e alcançar o seu objetivo iniciático. Contudo, infelizmente, talvez pela imensa quantidade de rituais que já foram editados, também toda a sorte de invencionices e procedimentos condenáveis podem ser encontrados. A prova disso é quando se chama uma tradicional Loja de Mesa de “banquete ritualístico”, não obstante outros rituais que prevêem se ficar à Ordem sentado e ainda por cima fazer o Sin∴ Gut∴ se utilizando de um dos talheres que compõem a decoração da mesa. Desafortunadamente ainda há rituais em vigência que adotam esse tipo de absurdo.

Na verdade, tudo isso não passa de um amontoado de procedimentos contraditórios que vem sendo copiados e inseridos em novos rituais editados. Sem dúvida, dentre eles existem bons rituais, mas os restos dos dinossauros ainda se fazem presentes por serem difíceis de se consumir.

Sobre a composição, liturgia, ritualística e decoração de uma Loja de Mesa, sugiro uma atenção acurada para que na sua pesquisa seja separado o joio do trigo.

Muitos dos elementos tradicionais que compõem a decoração de uma Loja de Mesa são nominados com base em ferramentas e materiais de construção (telhas, picaretas, areia branca, materiais, etc.). Essa é uma característica natural herdada dos tempos do ofício. Outras, ainda se conservam porque se derivam de costumes naturais das Lojas Militares (canhão, barricas, fogo, armas, pólvora fraca, etc.), principalmente das inglesas que, pelas características expansionistas da Coroa Britânica da época, acabariam se espalhando pela face da Terra.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário