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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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sábado, 27 de maio de 2023

O QUE É UMA PARÁBOLA?

Fernando de Almeida Silva
ARLS Prof. Alberto Stange Nº 3105 - REAA - GOB – ES
Oriente de Vitória – ES

“A Parábola é uma comparação ampliada”.

O autor da resposta acima é o Dr. W. G. C. Murdoch, ex-diretor e professor da Andrews University (USA), e está no capítulo “Parable”, do seu livro A Symposium on Biblical Hermeneutics.

Introdução

No tempo de Cristo, a parábola encontrou seu significado mais amplo no termo grego PARABOLÊ, do aramaico Mathla e do hebraico Machal. Machal é derivado de uma raiz semítica para efígie (representação), e nem sempre é uma comparação. A Vulgata usa os termos Similitudo e Proverbium. Mas na Septuaginta, o termo “parábola” aparece como Parabolê.

Esse mesmo termo, Machal, no Novo Testamento, designa um símbolo, tipo, exemplo, oráculo, uma alegoria e as máximas, facilmente distinguíveis.

No Velho Testamento, as parábolas são usadas para expor aos ouvintes os segredos do Reino de Deus, e não se sabe exatamente o seu número, inclusive, das existentes no Novo Testamento. C. E. Koetsveld classificou 66; Fr. G. Lisco, 37; Goeble e E. Geswel, 27; Ch. Trente, 30; Adolfo Jülicher, 53; Chr. Bugge, 71; L. Fonk, 72; I. H. Von Wessenberg, 101; e P. Ollivier, 18, no Novo Testamento. (1)

A Bíblia Sagrada, o nosso “Livro da Lei”, na tradução de João Ferreira de Almeida*, faz os seguintes registros das parábolas constantes do Novo Testamento: S. Mt., 15; S. Mc., 4; S. Lc., 20; e S. Jo., nenhuma.

Origem

Quanto à questão da sua origem, as parábolas não foram inventadas por Jesus Cristo mas, largamente usadas por Ele em Seu ministério público. 

No ano 20 a.C., Hillel tinha apresentado duas “parábolas”: “a comparação jocosa do corpo com uma estátua e da alma com um hóspede”. Cem anos depois (80 d.C.), o rabino Jochana bem Zakkai apresentou, pela primeira vez na literatura rabínica, uma parábola, cujas parábolas de Cristo são parecidas com ela (10). Adolfo Jülicher (11), protestante, rompeu com a interpretação alegórica das parábolas, em sua “HISTÓRA DAS PARÁBOLAS DE JESUS” (A Jülichr Die Gleichmisreden Jesu I), e disse (1886) que elas deviam ser olhadas como uma peça da vida real, por serem sensíveis historietas para aplicar os ensinos dos sábios. Não conseguindo concluir sua tarefa, C. H. Dodd (a partir de 1935), toma seu lugar e consegue magistralmente, mesmo com alguns problemas de interpretação. A.T. Cadus (The Parables of Jesus, 1935) acreditou que as parábolas deviam fazer parte da vida de Jesus. B.T. Smith (The Parables on the Synotic Gospel, 1937) procurou esclarecer o fundo histórico de cada parábola, mas se esqueceu da interpretação teológica.

Significado

A parábola, sendo uma comparação ampliada, é uma ilustração que, empregando cenas diárias e comuns, invoca uma experiência religiosa e uma verdade profunda. É diferente da Símile e da Metáfora, que são breves.

As mais profundas lições de Cristo foram ilustradas com parábolas. E essas, relacionadas com fases de Sua vida. A Palestina, sendo uma terra pastoril, facilitou o ensino através das parábolas. As cenas do campo, do mar e familiares, deram maior amplitude à revelação do Reino dos Céus no coração dos homens. Assim é que, atingindo seu objetivo principal, a parábola cumpriu sua missão de ensinar, explicar e revelar as maravilhas do Reino de Deus. E, através de comparações e analogias, as profundas verdades espirituais penetraram no coração dos ouvintes de Jesus. As histórias da vida real ganharam vida e motivação, e os Mistérios do Reino conseguiram firmar o compromisso de uma nova e pujante experiência de vida, que foi o propósito fundamental das parábolas. “Aqueles que estavam desejos de confiar sua vida a Deus podiam compreender o significado das parábolas”. (2)

Algumas vezes os ouvintes, incluindo os discípulos, nada entendiam das lições de Cristo através das parábolas, e pediam uma explicação – S. Mt 13:36. Mas Ele era bem claro e mostrava, logo de início, o que elas significavam. Se não entendiam, era porque seus corações estavam cheios de pecado, ressentimento, e mentes anuviadas pelo remorso e pela hipocrisia. Mesmo assim, Jesus geralmente começava Suas parábolas com as impressivas palavras: “O reino do céu é semelhante...”, o que prova que todas, embora invocassem cenas as mais diversas, tinham um único objetivo: o interesse de Cristo em implantar o Reino da Graça no coração dos homens.

Princípios Fundamentais

Além de seu propósito, princípios fundamentais regem a interpretação das parábolas. Um deles é o chamado “ponto principal”, ou a mensagem a transmitir, em que geralmente muitos erram (e continuam errando), ao aplicar à determinada parábola uma falsa interpretação, completamente diferente daquela real, implícita nela, como em “O Rico e Lázaro”, por exemplo.

O segundo princípio tem a ver com a “visão das circunstâncias” ou determinantes da apresentação. Esse princípio revela três pontos interessantes: primeiro, deve mostrar se a parábola teve como origem a resposta a uma pergunta; segundo, a natureza da pergunta; e, terceiro, os circunstantes, presentes quando da apresentação da parábola.

O terceiro princípio remete-nos ao contexto histórico, maneiras, costumes, símbolos e cultura do povo. “Por exemplo: a parábola se refere à agricultura, então precisamos compreender a agricultura da época, antes de compreendermos completamente a parábola”. (3) Compreendendo o contexto histórico, o próprio contexto da parábola (quarto princípio) deve ser compreendido, para se determinar o seu exato significado. Se não compreendermos o significado das parábolas, não compreenderemos sua aplicação no contexto em que são apresentadas. E isto é muito importante. Muitas vezes um erro de interpretação leva a um erro de aplicação.

O quinto e último princípio refere-se ao ponto doutrinário, que não deve ser mal interpretado, mas apontar para a interpretação dos escritos dos autores inspirados por Deus (inspiração divina).

Teólogos e Comentaristas

Falando sobre a preparação do Reino de deus por Cristo, Agnelo Dantas Barreto (4) diz que a parábola da Ovelha Perdida não é apenas uma linguagem expressiva na pregação de Jesus, porém, a revelação palpitante de Sua própria missão.

Huberto Rohden (5) analisou as parábolas pelo ponto de vista filosófico e não salvífico do Reino. Para ele, elas fazem parte de uma filosofia ainda não explorada pelo homem moderno. Ele disse “que as parábolas não visam, em primeiro lugar, a certa moralidade de agir, mas, acima de tudo, à consciência do ser. Quando o homem se limita a certa vivência do agir moral, e ao atingir a realidade do seu ser metafísico, ontológico, corre o perigo de marcar passo na zona superficial de um moralismo convencional, sem atingir a consciência da realidade”. E acrescenta: “As parábolas nos convidam a um profundo conhecimento metafísico e místico...” (6). 

David A. Redding (7) deu grande importância à sua obra The Parables He Told, mas perde para Keach. Redding a inicia com o This is You God, com as parábolas tri lógicas do Reino, sendo a da Ovelha Perdida, a primeira. No seu entender, na apenas a ovelha está pedida, mas o planeta Terra, a fé dos nossos pais, as ruas da ciência da relatividade dos tempos, o Éden, o nosso caminho, etc.. Segundo ele, Jesus, estando em companhia de publicanos e pecadores, não era um acontecimento isolado, porém, habitual, e por isso Ele desarmava Seus circunstantes com Suas maravilhosas idéias da vida diária (as parábolas). (8)

Keach (9) estudou extensamente cada parábola da Bíblia, porém, do ponto de vista diferente do que ora apresentamos. Mas, suas explicações, no sentido teológico, são cansativas. A profundidade da sua análise e a linguagem com que ele apresenta o assunto, desvia o leitor desavisado, do verdadeiro sentido e da necessidade espiritual do Reino de Deus, forçando-o (ao leitor), a embrenhar-se por emaranhados de Teologia Sistemática, longe, portanto, do alcance do leigo.

A salvação não requer do pecador conceitos técnicos e teológicos, mas, apenas, fé e crença (“Quem crer e for batizado será salva;...”) – S. Mc 16:16. Keach se preocupa em explicar, não o Reino de Deus através de sua explanação das parábolas de Jesus, mas, também, em desenvolver um trabalho altamente técnico, ao alcance de poucos. Enquanto C. H. Dodd ocupa 156 páginas de um pequeno e singelo livro (The Parables of the Kingdom) para revelar-nos o conhecimento das parábolas, Keach vai muito além (891 páginas).

Entretanto, apesar de sua clara compreensão, C. H. Dodd (famoso por sua escatologia realizada), interpreta as parábolas alegoricamente. Ele disse que quando Jesus falou que os doentes é que necessitam de médico, fez uma profunda crítica aos pecadores, escribas e fariseus. Salvou, no entanto, a parábola da Ovelha Perdida. Para Dodd, ela é a parábola moral. E a Moral, como sabemos, vem da raiz latina “mores”, que em nossa língua, vem a ser costumes, conduta, comportamento, modo de agir. “É o conjunto sistemático das normas que orientam o homem para a realização de seu fim”. 

Conclusão

A apologia em favor dos princípios doutrinários das parábolas é esta: elas não são fantasias ou ilustrações ilusórias, como afirmou Dodd. As parábolas são, isto sim, a representação contundente do Reino da Graça, dissipando o materialismo e mostrando ao homem o caminho da salvação.

Dodd, em sua obra, tem seus pontos positivos na interpretação das parábolas, mas, muitos negativos também. Por um lado, ele constrói e esclarece. Por outro, destrói, e confunde os menos avisados.

Para muitos, C. H. Dodd (acatólico) introduziu uma nova era na interpretação das parábolas.

Há, também, quem afirme que as traduções das parábolas de Jesus, do aramaico para o grego e deste para as diversas línguas, tenham perdido grande parte do sentido original e do elemento material das imagens. E que o Velho testamento (o que é verdade), teria contribuído para a formação das imagens empregadas por Cristo.

Cristo usou esse método de ensino porque era comum no Oriente e, porque a parábolas, em si, representava detalhes da vida real. Há, também, outro motivo e o próprio Cristo exemplifica: “Por isso lhes falo por parábolas: porque eles vendo, não veem; e ouvindo, não ouvem” – S. Mt. 13:13.

(1) Enciclopedia de la Biblia, vol. V, Parábola. Barcelona: Ediciones Garriga (2ª ed.), pp. 870-878. 
* Edição Contemporânea Aumentada e Revisada com Ajudas Adicionais, 1996.
(2) Enciclopedia de la Biblia, vol. V, Parábola. Barcelona: Ediciones Garriga (2ª ed.), p. 877.
(3) Idem, Idem.
(4) Agnelo Dantas Barreto, O Anúncio do Reino de Deus. Petrópolis: Editora Vozes Ltda., 1969, pp. 47-49.
(5) Huberto Rohden, Sabedoria das Parábolas. São Paulo: Fundação Alvorada (s.d.), p. 17.
(6) Idem.
(7) David A. Redding, The Parables He Told. USA: Fleming H. Revell Company, 1960, pp. 5-9.
(8) Idem.
(9) Benjamin Keach, Exposition of the Parables. Grand Rapids: Kregel Publications, 1974, pp. 329-370.
(10) J. Jeremias, As Parábolas de Jesus. São Paulo: Edições Paulinas (2ª ed.), 1978, p. 8.
(11) Idem, p. 11.

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