(republicação)
A questão abaixo fica omitida o nome do consulente, sua Loja, Obediência e Oriente devido a assunto polêmico, bem como a intenção de se evitarem asperezas. Também fica sutilmente alterado o texto da pergunta no sentido de que não haja identificação.
Recebi seu contato de um Irmão Deputado Federal e seu amigo. Ele me disse que o Irmão seria a melhor indicação para esclarecimento de minha dúvida que segue abaixo. Paira sobre o nosso Oriente, uma dúvida e um mal estar consequente dele, mas, tudo em função da famosa vaidade. Alguns Veneráveis Mestres não aceitam os Atos do Grão Mestre nomeando representantes que não sejam Mestres Instalados para representá-lo. Defendem que sob o Dossel só senta Mestre Instalado, sendo nomeado pelo Grão Mestre para representá-lo ou não. Já ouvi referirem-se a Deputados como caçadores de alfaias em um discurso de represália a um destes Atos do Grão Mestre que nomeava um Deputado Federal para representá-lo. Confesso que tenho um entendimento a favor de que se cumpra na íntegra o Ato do Grão Mestre, mas, em função dos meus poucos anos de Ordem, me falta todo o conhecimento necessário para a perfeita interpretação do correto. Peço então seu apoio para esclarecer minha dúvida.
CONSIDERAÇÕES:
É mesmo lamentável e no mínimo um ilícito maçônico a desobediência de um Ato do Grão-Mestre.
No meu entendimento a nenhum Venerável é dado esse direito e ainda mais sob a alegação de uso do título distintivo de Mestre Instalado que, diga-se de passagem, é título e nunca grau maçônico.
Um Grão-Mestre pode nomear quem ele quiser para ser o seu representante em uma Sessão Maçônica, desde que o nomeado seja um Mestre Maçom - não um Aprendiz e nem um Companheiro. Isso devido que os portadores desses Graus não terem ainda atingido a plenitude maçônica e com isso em Loja aberta, eles não teriam acesso ao Oriente.
Pela sua questão aqui também cabem algumas ponderações. Sou rigorosamente pelo que está escrito no Ritual de Aprendiz em vigência nas suas páginas 15 e 67, onde exara que a cadeira da direita do Venerável na ausência do Grão-Mestre Geral ou o seu Adjunto ela fica vazia, enquanto que a da esquerda não estando presente o Grão-Mestre Estadual ou o seu Adjunto (na ausência de ambos) o Mestre Instalado anterior mais recente da Loja, destacando-se que caso os três não estiverem presentes a cadeira não será ocupada (o grifo é meu).
Assim, representantes do Grão-Mestre tomam assento no Oriente, porém abaixo do sólio. A Planta do Templo na página 22 do ritual citado indica apenas duas cadeiras no sólio ao lado do trono. Autoridades e Mestres Instalados estão claramente apontados no Oriente, entretanto, não no sólio.
Outro aspecto é o que exara o Regulamento Geral da Federação no tocante ao Mestre Instalado e o Primeiro Vigilante (Artigos 43 e 120) que dá ao Mestre Instalado o direito de dirigir Sessões Magnas de Iniciação e colação dos Graus de Companheiro e Mestre (Elevação e Exaltação), porém também dá ao Primeiro Vigilante o direito de substituir o Venerável.
Nas Sessões Magnas isso acontece devido à Sagração e o uso da Espada Flamejante, enquanto que na Ordinária é o Primeiro Vigilante, seja ele instalado ou não.
Note que se o Primeiro Vigilante não substituísse o Venerável em hipótese alguma, isso não estaria escrito no RGF.
Também em havendo alegação de que no Ritual essa substituição pelo Primeiro Vigilante não está escrita, do mesmo modo nele não há qualquer indicação de que seja o Mestre Instalado o substituto – dois pesos, duas medidas.
O Primeiro Vigilante como substituto do Venerável é regra universalmente aceita, espontânea e imemorial. No Artigo 42 do RGF, está claro que a categoria de Mestre Instalado não é grau, senão uma categoria especial honorífica.
Ainda sobre essa substituição ela é tida apenas em caráter precário e emergencial, já que o impedimento definitivo do Venerável é devido uma nova eleição. Assim, essa “estória” que sob o Dossel sentam-se apenas Mestres Instalados não está bem de acordo com a interpretação.
A título de esclarecimento, a Instalação para a ocupação do cargo de Venerável, embora hoje arraigada e tendo virado lei desde 1.968 no GOB∴, ela não é autêntica no Rito Escocês Antigo e Aceito. Nele – que é um rito de origem francesa – ela não deveria existir, todavia, já que é Lei, temos que rigorosamente cumpri-la, entretanto também não nos impede de apontar o equívoco para pelo menos amenizar essa alienação de se dar mais valor ao molho do que para a carne.
Mestre Instalado é um ex-Venerável que devido a sua experiência adquirida, deve se despir das “vaidades” e ajudar o Canteiro (Loja), ao tempo de alguns ficarem procurando assento no lado de determinados Veneráveis que outorgam essa ostentação.
Infelizmente, o próprio Ritual acaba dando margem a essa especulação quando dá o direito do ex-Venerável mais recente sentar-se ao lado esquerdo do Venerável, desde que não esteja presente o Grão-Mestre Estadual, ou o seu Adjunto. Menos mal e de modo hilário, felizmente é só o ex-Venerável mais recente.
Ainda a título de esclarecimento, na França, de onde somos filhos espirituais, o Mestre eleito para o cargo de Venerável, apenas toma posse. Completado o seu tempo ele é o Ex-Venerável, não existindo, portanto o título de Mestre Instalado. Rigorosamente nesse caso Instalação significa posse.
Cerimônia de Instalação para ocupação do cargo de Mestre da Loja (Venerável) é característica da Maçonaria Inglesa, por conseguinte lá, o ex-Venerável é um Mestre Instalado, cujo ex-ocupante do cargo é conhecido como “Past-Master”.
Dadas essas considerações, um Venerável não deve descumprir a vontade do Grão-Mestre na sua indicação de representante. Se for desejo dele, pode ser um Deputado, pode ser um Secretário, ou qualquer outra autoridade, ou ainda um Mestre Maçom.
A despeito dessas indicações pelo que está escrito no ritual, só tem direito de sentarem-se ao lado do Venerável, os Grão-Mestres, ou seus Adjuntos, ou ainda o ex-Venerável mais recente. Fora isso, seus representantes, tomam assento no Oriente, porém abaixo do sólio.
Nesse sentido, antes de descumprir um Ato do mandatário maior, melhor seria o Venerável observar a salutar prática do bom senso e a rigorosa observação do aspecto legal.
Pelo que sei, não está escrito em lugar nenhum que um Grão-Mestre ao nomear um seu representante, deva fazê-lo escolhendo restritamente um Mestre Instalado.
Por fim quero deixar aqui uma observação: os meus escritos não têm qualquer objetivo de denegrir a imagem dos Mestres Instalados. Pelo contrário, eu mesmo fazendo parte desse grupo, entendo o valor da experiência adquirida pela posse um dia do primeiro malhete da Oficina.
Da mesma forma, não faço uso da generalização, todavia dentre nós, e isso é perfeitamente compreensível, nem todos compreenderam, ou compreendem verdadeiramente a “Arte” que, desprovida das distinções mundanas, tem como um dos seus pilares de sustentação a virtude da humildade.
Assim entendamos o que disse o pregador “vaidades de vaidades, tudo é vaidade”.
T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 0884 Florianópolis (SC) 03 de Fevereiro de 2013.
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