Os livros bíblicos que tratam da construção do Templo de Salomão e mencionam Hiram Abif, divergem quanto à sua filiação:
Em I Reis (7:14), Hiram Abif é apresentado como “filho de uma viúva da tribo de Neftali e fora seu pai um homem de Tiro”.
Em II Crônicas (2:14) é mencionado como sendo “filho duma mulher das filhas de Dã, e cujo pai foi homem de Tiro”.
Portanto, os textos bíblicos são concordes quanto ao seu pai: um homem de Tiro, isto é, um fenício da cidade-estado de Tiro.
Concordam também quanto ao fato de ser ele um “filho da viúva”: em I Reis é assim apresentado e em II Crônicas está implícito, com a utilização do verbo no passado (“foi homem ...”). Assim, a divergência é quanto à tribo a que pertencia sua mãe, uma judia: Dã ou Neftali.
Historicamente, tanto a tribo de Dã quanto a de Neftali tinham uma origem comum: eram descendentes da relação entre Jacó (Israel) e Bilha, escrava de Raquel, uma de suas esposas.
Geograficamente, Neftali dispunha de um território mais extenso e fértil, as duas tribos situavam-se no extremo norte e eram fronteiriças, com Dã a leste e Neftali a oeste. Dã não fazia fronteira com a Fenícia, ao contrário de Neftali, situada a leste de Tiro.
Politicamente, ambas as tribos participaram do cisma ocorrido no reinado de Roboão, filho e sucessor de Salomão, formando o Reino de Israel sob o reinado de Jeroboão. Somente as tribos de Judá e Benjamim permaneceram fiéis a Roboão, formando o Reino de Judá.
Sob o ponto de vista religioso, após o cisma, foi erigido em Dã um bezerro de ouro para ser cultuado pelo povo. Além disso, segundo o profeta Isaías, Neftali um dia veria a luz da libertação (Isaías 9:1), esperança que se realizou com Jesus, que fez das cidades de Neftali o centro de todo o seu ministério na Galiléia. Dã, ao contrário, é a única tribo sem eleitos a serem salvos, conforme o livro do Apocalipse (7:4-8).
Entre os autores – cristãos, judeus ou Maçons – que se detiveram neste tema, não há consenso. Uns consideram a mãe de Hiram Abif como sendo da tribo de Dã e outros da tribo de Neftali. Existem até os que afirmam, sobretudo judeus, sem qualquer argumento lógico, que o seu pai era um judeu que morava em Tiro. No nosso entendimento, o que menos importa é a tribo de sua mãe. O fato é que ela era uma judia.
Quanto a seu pai, não resta dúvida que era um fenício de Tiro. E mais: Hiram Abif morava na Fenícia (se morasse em território judeu Salomão e não Hiram o conheceria), e quando seu pai morreu já possuía idade suficiente para dele receber os ensinamentos que o fez famoso em Tiro, a ponto do Rei Hiram conhecê-lo e indicá-lo nominalmente ao Rei Salomão. Além disso, em II Crônicas (2:14), consta que ele sabia trabalhar em púrpura, maior riqueza e um dos principais segredos dos fenícios, que detinham o monopólio da fabricação do corante.
Sumariando, Hiram Abif era filho de um fenício de Tiro e de uma judia. Foi criado em Tiro, dentro da tradição fenícia. Depois, foi indicado pelo Rei de Tiro ao Rei dos Judeus, para fazer todas as obras de adorno do Templo de Salomão.
Consoante o que consta na Bíblia (I Reis 7:14 e II Crônicas 2:13-14), o Rei de Tiro ao apresentar Hiram Abif a Salomão, disse ser ele um homem inteligente, sábio, engenhoso e conhecedor de todas as ciências necessárias à realização de qualquer gênero de obras. Era, portanto, extremamente versátil. Entendia de metalurgia, trabalhando em ouro, prata, cobre, bronze e ferro; de alvenaria, de escultura, de carpintaria e de marcenaria, manejando o buril com habilidade em todos os tipos de pedras, mármores e madeiras; de tinturaria e de tecidos, usando púrpura, carmesim, azul, jacinto e linho fino. Além de todos esses atributos, a tradição maçônica credita a Hiram Abif amplos conhecimentos de Arquitetura e o considera como sendo o arquiteto-chefe do Templo de Salomão. Gerard Brett, citado por Alex Horne in O Templo do Rei Salomão na Tradição Maçônica, afirma que tanto Clemente (século II) quanto Eusébio (século IV), este utilizando como fonte o escritor judeu Eupolemo (150 a.C.), se referem a Hiram Abif “mais como arquiteto do que como fundidor de bronze”. Bernard E. Jones, igualmente citado por Horne, assim se posiciona a respeito: “Como os escritos desses dois autores antigos (Clemente e Eusébio) duraram até hoje e são conhecidos dos estudiosos, deve ter havido, em todo o decorrer do período medieval, homens doutos sabedores de que, nos primeiros séculos da era cristã, Hiram tivera um lugar na tradição de um arquiteto. É portanto possível, e até não é improvável, que persistisse uma lenda em alguns setores, através dos séculos, de que Hiram era mais do que o fundidor de metais de Salomão – pois era, na realidade, seu principal arquiteto ...” E Alex Horne conclui: “Os modernos estudiosos da Bíblia de um modo geral – fora do campo maçônico – aceitam, satisfeitos, a imputação arquitetural que se transformou no núcleo central da tradição maçônica, a despeito da ausência de uma clara corroboração das Escrituras. Assim, o Dicionário da Bíblia de Smith fala de Hiram como nós o fazemos, como ‘o arquiteto-chefe do Templo’. O Dicionário da Bíblia de Hastings faz o mesmo, ao passo que o Professor Paul Leslie Garber, o planejador de um dos mais autênticos modelos modernos do Templo, baseado ‘nos últimos achados do estudo dos textos e nos dados importantes da arqueologia bíblica’ escreve sobre ‘O Templo de Jerusalém que Hiram desenhou e construiu’ ...” A isso, acrescente-se que Hiram Abif era, segundo o relato bíblico, conhecedor de todas as ciências necessárias à realização de qualquer gênero de obras, podendo-se incluir, no rol dessas ciências, a Arquitetura.
Para a Maçonaria, Hiram Abif representa a Beleza, pois foi ele quem fez as obras que adornaram e embelezaram o Templo de Salomão. Nas Lojas maçônicas, o Segundo Vigilante personifica Hiram Abif e a deusa Vênus, símbolo clássico da Beleza.
Excertos do livro (em elaboração) Maçonaria para Maçons, Simpatizantes, Curiosos e Detratores do Irm.’. Almir Sant’Anna Cruz
Fonte: Facebook_O Templo e o Maçom
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