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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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segunda-feira, 24 de julho de 2023

ALTAR DOS JURAMENTOS

 Por Ir Cicero D.

altar dos juramentos

Uma Loja Maçónica simboliza o modo como o Universo era compreendido antigamente [1]. Os nossos primeiros irmãos tiveram grande inspiração quando perceberam que o mundo é um templo, coberto por uma abóbada estrelada durante a noite, e iluminado pelo Sol na sua jornada durante o dia. Um Universo no qual o Homem segue adiante no seu trabalho, alternando luz e sombra, alegrias e tristezas, sempre buscando reproduzir na Terra a lei e ordem presentes no Oriente, que é a origem de tudo [2].

Embora hoje saibamos que o mundo é fisicamente diferente daquele que era conhecido pelos nossos ancestrais, ainda assim aquela inspiração inicial dos nossos primeiros irmãos continua e continuará verdadeira.

Parece-me que a ideia central desta inspiração é que se o Homem tem o propósito de construir o seu próprio Templo Interior, ou se ele está disposto a construir uma sociedade justa e duradoura nessa justiça, então ele deverá estar iniciado nas leis e princípios que regem o Universo no qual ele vive. E para isso, o Homem necessita não apenas de sabedoria, que deve ser desenvolvida, mas também da ajuda de Deus, que é o G∴ A∴ D∴ U∴.

Bem por isso nas nossas Lojas Maçónicas está o Altar – mais antigo que qualquer Templo, e tão antigo quanto a própria vida mesma. Um foco de fé e união. Um símbolo sagrado daquele pensamento inicial que inspirou a nossa Arte Real. Um símbolo sagrado da existência do G∴ A∴ D∴ U∴. Um símbolo sagrado do nosso propósito de erguer Templos à Virtude e cavar masmorras ao vício.

Nada há de mais impressivo na face da Terra que o silencio de uma reunião de seres humanos curvados diante de um Altar. O instinto que faz com que Homens se reúnam para orar é a mesma força invisível que move Homens a desbastar pedras para construírem templos que corporificam o mistério de Deus.

Até onde conhecemos, o Homem é o único ser no nosso planeta que pára para rezar. E a beleza desse acto diz-nos mais sobre nós do que qualquer outro. Por uma profunda necessidade natural, o Homem procura Deus, e em momentos de tristeza ou angústia, ou em momentos de tragédia e terror, ou ainda em momentos de sincera gratidão e felicidade, o Homem deixa de lado as suas ferramentas de trabalho e olha para o horizonte. E sem perceber, acaba por fixar o seu olhar num ponto mais elevado do relevo que está adiante. Talvez tenha nascido aí o termo Altar, substantivo masculino proveniente do latim altare, que por sua vez derivou do adjectivo latino altus (alto, elevado, levantado).

Pelas consultas realizadas, pude imaginar que a história do Altar na vida da humanidade parece ser uma história mais fascinante que qualquer ficção. Da procura inconsciente deste lugar mais elevado ou alto presente na natureza que o cerca, o Homem evoluiu para construir este Altar perto de si. Inicialmente rudimentares, a sua construção dava-se pelo simples amontoar de pedras. A centralidade e importância do Altar tornaram-no mais solene e elaborado, sendo portador de uma série de significados e elemento central dos mais variados rituais (holocaustos, preces, declaração de compromissos, incensações, sacrifícios, etc.). Todas as grandes civilizações e culturas humanas ergueram altares: judeus, cristãos, muçulmanos, hindus, romanos, gregos, egípcios, fenícios, incas, maias e astecas. Indígenas e antigos pagãos de todas as partes tiveram e têm os seus altares. Nunca, porém, o Altar perdeu a sua significação inicial, que é a de conduzir os pensamentos do Homem ao seu elevado Deus, seja ele denominado como for, e ao qual chamamos G∴ A∴ D∴ U∴.

A partir de elementos como estes, podemos começar a perceber o significado do Altar dos Juramentos na Maçonaria, e a razão da sua posição na Loja.

Na Maçonaria primitiva, não havia o Altar dos Juramentos, já que as Luzes da Loja (L∴ da L∴ , Esq∴ e Comp∴ ) ficavam sobre o Altar do V∴ M∴ , onde também eram tomados os juramentos. Posteriormente, em alguns ritos, criou-se uma mesa auxiliar, considerada como extensão do Altar do V∴ M∴. Tal costume deu origem ao Altar dos juramentos, que originalmente, portanto, ficava no Oriente, embora algumas Obediências o tivessem levado para o centro da Loja, em desacordo com as suas origens, segundo Castellani [2].

Na maioria dos ritos, o Altar dos Juramentos está posicionado no Oriente, defronte ao Altar do V∴ M∴. No Rito de York, porém, o Altar dos Juramentos está posicionado sobre o Pavimento Mosaico, no centro da Loja. No R∴ E∴ A∴ A∴, a sua posição original é no Oriente. Posteriormente, no ritual editado em 1980 [4], o Altar foi posicionado no centro da Loja. O ritual de 1998 e o actual, de 2001 [5], fizeram o Altar dos Juramentos retornar ao seu posicionamento original, no Oriente, defronte ao Altar do V∴ M∴ [6].

Rizardo da Camino indica que “o Altar maçónico não tem forma nem medidas definidas ou convencionais; ora é construído no formato de um cubo ora de um triângulo e frequentemente de um quadrilátero; nada é colocado na parte interna” [7].

Embora paire divergência entre os autores consultados acerca da localização em Loja e do formato que deve ter, facto é que todos concordam que o Altar dos Juramentos não é simplesmente uma peça imprescindível no mobiliário maçónico. Muito mais do que isso, ele identifica a Maçonaria como uma instituição de cunho religioso.

A Maçonaria não é uma religião, mas é religiosa na sua fé e nos seus princípios básicos, no seu espírito e nos seus propósitos. A Maçonaria não é uma religião, muito menos uma seita, mas um culto em que todos os homens se podem unir porque ela não pretende explicar, ou dogmaticamente estabelecer, o que ou quem é deus. Maçonaria e religião andaram juntas até esta última ingressar no feudo do sectarismo. A Maçonaria pretende unir homens, e não dividi-los.

Assim, o Altar dos Juramentos é um altar de fé – profunda e eterna fé que está na base de todo e qualquer credo religioso. Fé num Criador que é a pedra angular e a chave para compreensão de tudo. Fé sem a qual a vida se torna adivinhação e fraternidade se torna futilidade.

Ao mesmo tempo o Altar dos Juramentos é um Altar de Liberdade – não liberdade pela fé, mas liberdade da própria fé. Seja qual for a sua fé, pode o Maçom se unir aos seus irmãos. A Maçonaria, antes de ser operativa ou especulativa, é co-operativa. E cooperação faz-se pela união.

O Altar dos Juramentos exorta sentimentos natos de respeito ao Criador, conduzindo o Maçom a tornar-se o operário trabalhador e consciente, cujo labor de aperfeiçoamento moral e espiritual resultará no engrandecimento da Ordem em geral e no bem-estar de toda a Humanidade em particular [8].

E faz-nos lembrar também que o mais sagrado altar da Terra é a nossa própria alma – Templo interior de fé, esperança, pureza, tolerância e amor ao próximo.

Notas

[1] Quanto a isto, por exemplo, esclarece-nos a 2ª Instrução do Gr∴ de A∴ M∴ , constante do Ritual do R.E.A.A. editado pelo GOB em 2001, p. 157. “VEN∴ (o) – Que forma tem o nosso Templo? 2º VIG∴ – A de um quadrilongo, sendo as suas medidas: – A largura, do Sul ao Norte; – O comprimento, do Oriente ao Ocidente; – A altura, da Terra ao Céu; – A profundidade, da superfície ao centro da Terra. VEN∴ – Ir∴ 1º∴ Vig∴ , por que o Templo tem essas medidas? 1º VIG∴ – Porque a Maçonaria é Universal, e o Universo é um Templo.”

[2] O Ritual do R∴ E∴ A∴ A∴ editado pelo GOB em 2001, p. 158 também nos dá a indicação de que a origem de tudo provém do Oriente, e que a lei e ordem presentes no Oriente devem estender-se ao resto do Universo: “VEN∴ – Por que o Templo Maçónico está situado do Oriente ao Ocidente? 1º VIG∴ – Porque assim estão situados todos os Templos, pois o início da vida aconteceu no Oriente, estendendo-se ao Ocidente, e assim será até o fim dos Tempos.” (sublinhados meus).

[3] CASTELLANI, José. Dicionário Etimológico Maçónico. 1ª ed. Editora Maçónica A Trolha: 1990. n 8, p. 30-31.

[4] Classificado como “horrível” por Castellani, conforme se pode verificar em https://seguro002.ifxweb.com.br/lojasmbr/consu3a/respo497.htm

[5] Vale notar que o Decreto do GOB n. 467, de 24 de Abril de 2001, que “aprova e determina a aplicação do Ritual do 1º Grau – Aprendiz Maçom do Rito Escocês antigo e
Aceito, Edição 2001” menciona expressamente nos seus considerandos que “o Ritual do 1º Grau, Aprendiz Maçom do Rito Escocês antigo e Aceito sofreu, ao longo do tempo, mudanças e acréscimos que o tornaram distante das suas origens” e que “a edição de 1998 do aludido Ritual, procurou imprimir correcções e ajustes, sem alcançar entretanto, a excelência desejada”.

[6] Segundo o Ritual do R∴ E∴ A∴ A∴ editado pelo GOB em 2001, p. 4, “no centro do Oriente, entre os degraus do Trono e a balaustrada, fica o Altar dos Juramentos, que é uma pequena mesa triangular ou uma pequena coluna de um metro de altura, com caneluras e truncadas, em cima da qual ficam o L∴ da L∴ (Bíblia), um Esquadro e um Compasso”.

[7] CAMINO, Rizzardo da Dicionário maçónico. Madras: São Paulo, 2006. p. 37.

[8] MONDEN, Ilson. O altar dos juramentos. In. A TROLHA, n. 231, Janeiro/2006. p. 29.

Referências

  • Ritual do R∴ E∴ A∴ A∴ editado pelo GOB em 2001
  • CASTELLANI, José. Dicionário Etimológico Maçónico. 1ª ed. Editora Maçónica A Trolha: 1990. n 8

Fonte: https://bibliot3ca.com

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