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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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segunda-feira, 30 de novembro de 2020

SIGNIFICADO DAS COLUNAS

SIGNIFICADO DAS COLUNAS
(republicação)

Em 28/06/2016 o Respeitável Irmão Tristão Antônio Borborema de Carvalho, Orador da Loja Obreiros de Abatiá, REAA, Grande Oriente do Paraná (COMAB), Oriente de Abatiá, Estado do Paraná, formula as seguintes questões: 
tristaocajuru@gmail.com 

Minha dúvida é a seguinte: qual o motivo do Primeiro Vigilante estar na coluna B (norte) ter consigo a Pedra Bruta, ter como joia o Nível, como símbolo a força, a coluna ser Dórica e o Segundo Vigilante ter como joia o Prumo, a seu lado a Pedra Polida e a coluna ser Coríntia estar na coluna J (sul) significando a beleza? Quais as razões filosóficas desses significados e utensílios que estão ao seu lado e qual essa relação com Aprendizes e Companheiros das Colunas? Por que o Aprendiz vai do Nível ao Prumo. 

CONSIDERAÇÕES EM LINHAS GERAIS:

Considerando o que pode mencionar esse ou aquele ritual aprovado nas Obediências brasileiras, os apontamentos relativos à questão se referem à autenticidade da doutrina do simbolismo do Rito Escocês Antigo e Aceito. 

Quanto ao Primeiro Vigilante – a Coluna Vestibular B∴ na sua relação com a Coluna do Norte, além de marcar a passagem do Trópico de Câncer no plano do Templo, simboliza a força e a subsistência, isso porque o Primeiro Vigilante, que fica posicionado no extremo do Ocidente a noroeste, é aquele que fecha a Loja por ordem do Venerável Mestre e paga os Obreiros dispensando-os da jornada de trabalho. 

Essa concepção é haurida dos antigos canteiros medievais da Maçonaria Operativa (nossos ancestrais), quando o primeiro auxiliar imediato do Mestre da Obra tinha sob sua responsabilidade o dever de contratar os artífices e também ficava sob a sua guarda os instrumentos de trabalho do ofício. 

Do mesmo modo, ao final das etapas da construção, era da sua responsabilidade pagar os justos salários pelo merecimento – geralmente isso acontecia nas datas solsticiais, o que reforça o título complementar de “solsticial” dado às Colunas Vestibulares B∴e J∴, também conhecidas como Colunas Solsticiais, já que os solstícios de inverno e verão sempre foram importantíssimos e gratos para as Guildas dos Construtores. 

O título Força dado à Coluna também está associado ao provável significado do termo Boaz que, além de ser o nome de um ancestral de Davi encontrado no Antigo Testamento (vide o livro de Rute), também significa na cultura hebraica, segundo alguns autores, “na força”, “em força”, “com força”. 

Quanto ao substantivo Força, quando relacionado à ordem de arquitetura grega antiga Dórica, embora integrante da mesma alegoria, ela não é a mesma Coluna Vestibular B∴ A Coluna Dórica é apenas representativa (abstrata) no REAA∴ e corresponde ao Primeiro Vigilante. 

A ordem de arquitetura Dórica, de acordo com Vitrúvio, é a mais rústica das três ordens arquitetônicas gregas, cuja provável origem esta em um tipo primitivo de construção. No século V a.C. os dóricos representavam a cidade estado de Esparta, cujo conflito com Atenas os levou à Guerra do Peloponeso. 

Os dóricos, povo identificado com a força da guerra, deram filosoficamente à Maçonaria por meio da sua Ordem de Arquitetura (Dórica) o rótulo de Força. Isso se deu desde a sua inserção nas preleções codificadas por Sir Willian Preston por volta do século XVIII na Inglaterra e conhecidas como Lições Prestonianas. Simbolicamente, pela sua característica relacionada à Força, ela soma-se ao ato de dar ânimo aos Obreiros. Embora essa alegoria se relacione intimamente com a vertente inglesa de Maçonaria, seu aspecto doutrinário paulatinamente acabou por se acomodar também em Ritos de outra vertente - nesse caso a francesa. 

Sobre a Pedra Bruta, quando relacionada ao canteiro de obras (Loja), simboliza a matéria bruta, tosca e primitiva tal qual àquela retirada da jazida. Consignada na Moderna Maçonaria de modo especulativo, ela significa o material de labuta do Aprendiz Maçom que nela trabalha na Coluna do Norte na intenção de relacioná-lo ao princípio ou a base elementar – o começo da jornada do aprimoramento. 

Sob essa aparência, o Primeiro Vigilante, posicionado no extremo do Ocidente da Oficina, operativamente no ofício da cantaria era o que conferia a produção da jazida, cuja extração da pedra calcária sustentava o canteiro com a matéria prima para o desenvolvimento dos trabalhos. Se bem compreendida a Arte, assim também acontece de modo especulativo com o Aprendiz na Moderna Maçonaria. Ele é o sustentáculo (alicerce) da Loja, pois dele depende o futuro da Sublime Instituição. 

No que diz respeito ao Nível, tido com um dos instrumentos imprescindíveis na execução de obras perfeitas e duradouras, ele tem sua finalidade especulativa haurida da Maçonaria Operativa, sendo que o primeiro auxiliar imediato do Mestre da Obra (atual Primeiro Vigilante) à época era o responsável pela determinação, marcação e conferência da horizontalidade da construção no canteiro. Simbolicamente essa é a razão pela qual o Primeiro Vigilante traz ainda na Moderna Maçonaria o Nível como a joia que o identifica. 

Pela relação do Nível ao que é horizontal, o aspecto doutrinário especulativo deu a esse objeto a concepção de Igualdade (todos os alicerces nivelados são iguais na horizontalidade). Filosoficamente o Nível e a Igualdade se relacionam com ensinamento do princípio legal entre os homens, onde todos são iguais perante as Leis. Não se distinguem entre eles quaisquer exterioridades sob essa óptica. O direito é aplicado com base na Igualdade. Assim, o Nível em Maçonaria, embora associado ao Primeiro Vigilante, ele não é um símbolo da Força, porém é o emblema da Igualdade. 

Quanto ao Segundo Vigilante - a Coluna Vestibular J∴ é relativa à Coluna do Sul e, além de marcar a passagem do Trópico de Capricórnio pelo plano da Loja, representa a Beleza e a nobreza da Obra porque simbolicamente o Segundo Vigilante, que fica situado no meridiano do Meio-Dia (nesse caso sinônimo de Sul), é aquele que fiscaliza os obreiros e os dispensa para a recreação. 

A Beleza integrada à Luz, ao Meio-Dia, é observada pelo Segundo Vigilante que do meridiano vê a passagem do Sol pelo zênite em direção ao ocaso. Essa concepção prática é haurida dos antigos canteiros medievais da Maçonaria Operativa quando o Segundo Vigilante (o segundo auxiliar imediato do Mestre da Obra) recebia os novos artífices instruindo-os nas suas obrigações. 

Sob a sua responsabilidade também ficava o plano de trabalho relativo à elevação dos cantos aprumados das paredes. Do mesmo modo ele era também o responsável por mandar os operários à recreação (descanso) e chama-los de volta para os trabalhos – literalmente isso acontecia no período solsticial, época que marcava o final do inverno, pois durante essa estação, no hemisfério Norte, todos repousavam na intenção de fugir das agruras do clima. 

Assevera-se assim também a importância das Colunas Vestibulares e a sua relação solsticial já que os ciclos da Natureza (estações do ano) marcavam concomitantemente o desenvolvimento dos trabalhos nas Guildas de Construtores da Idade Média. 

Em relação ao nome da Coluna à direita de quem entra, segundo alguns autores, em hebraico Jachim se traduziria no termo “Ele Estabelecerá”. O pronome pessoal Ele, nesse caso, é a referência feita ao inefável Criador, em cuja Beleza da sua Obra está o objetivo que acaba de ser estabelecido. 

A interpretação que envolve as duas Colunas Vestibulares do Templo de Jerusalém, segundo alguns exegetas, os dois títulos, J∴ B∴, se lidos da direita para a esquerda, à moda da escrita hebraica, a junção dos seus nomes sugere a expressão: Ele (Javé) Estabelecerá com Força - Deus estabelecerá com força, solidez o Reino de Israel. 

Já o substantivo Beleza, quando relacionado à Ordem de Arquitetura Coríntia, se integra nesse estilo do período helenístico, porque os arquitetos da época passaram a fazer uso de ornamentos nos capitéis das colunas inspirados nas folhas de acanto e outras plantas originárias da região do Mediterrâneo, cuja característica principal era possuir a aparência de um sino invertido e adornado - sem dúvida essa composição lhe deu uma inquestionável formosura. 

Assim, a Ordem de Arquitetura Coríntia, que na Maçonaria abrilhanta a Coluna do Sul, filosoficamente e pelas mesmas Lições Prestonianas anteriormente mencionadas, assumiu o atributo da Beleza. Essa perfeição se fundamenta a partir da elevação da construção desde que obedecidas às proporções e volume estabelecidos. Em síntese implica que o material desbastado e esquadrejado esteve de acordo com as exigências da Arte. Literalmente é o Companheiro evoluído pela posse de mais conhecimento. 

A Pedra Cúbica como joia fixa da Loja e relativa ao Segundo Vigilante, representa o material preparado (desbastado e esquadrejado) apropriado para a “elevação”. Significa que o Obreiro, menos instruído, adquiriu ao longo de sua estada no Norte, experiência e prática pelas instruções judiciosas recebidas (aprendizado). Pela sua perseverança, ele desbastou as arestas da Pedra Bruta até torna-la própria e digna para se juntar às outras que serão unidas pelo mesmo cimento da fraternidade. Em linhas gerais é o resultado do aperfeiçoamento segundo as exigências, já que ao Sul, mais iluminado, os trabalhos agora podem ser iniciados ao Meio-Dia (Companheiro – juventude, ação e trabalho). É o verão e a Terra que fecundada traduz o auge da Natureza. A Pedra bruta transformada em Pedra Cúbica. 

O Prumo - como outro instrumento de uso imprescindível na construção justa e perfeita serve para aprumar os cantos que se elevam sobre o alicerce nivelado. Assim o Prumo – que não pende como as oblíquas – concebe a Justiça e o Direito individual (equidade). Aos reflexos da Luz ao Meio-Dia, a Beleza do resultado associa-se ao trabalho realizado. Note que a pragmática do Companheiro é a “juventude, a ação e o trabalho”. 

Especulativamente a joia distintiva do Segundo Vigilante (Prumo) constitui-se nesses ensinamentos, a despeito de que a origem da aplicação operativa da Perpendicular também está na Maçonaria de Ofício, lembrando que no início e final dos trabalhos os cantos da obra eram constantemente conferidos no intuito de se saber se a qualidade estava de acordo para que cada um dos operários fosse dispensado e pago com o salário justo e merecido. Essa é a razão de na dialética maçônica se afirmar que o Segundo Vigilante fiscaliza e dá o repouso, enquanto que o Primeiro paga os salários e despede os Obreiros contentes e satisfeitos. Note-se que para tudo na liturgia e na ritualística existe uma explicação. 

No que concerne às Colunas Solsticiais e a sua relação com os Aprendizes e Companheiros, a questão é iniciática. A Coluna Vestibular B∴, que marca o Trópico de Câncer, corresponde à Coluna do Norte, cujo topo (parede setentrional) é o lugar dos Aprendizes. Por razões iniciáticas o Norte, sob o ponto de vista desse mesmo hemisfério, quanto mais afastado do equador mais se está afastado da Luz (sombras), assim a senda do Aprendiz em busca do aperfeiçoamento, começa sua jornada a partir do Norte (do mais escuro para o mais claro). Daí se explica a situação das seis primeiras Colunas Zodiacais (partido de Áries – primavera no Norte) estarem posicionadas no Setentrião, inclusive ali está posicionada simbolicamente a constelação de Câncer. 

A Coluna B∴, cuja etimologia identifica Força, pelas razões já mencionadas designa o corolário iniciático do Aprendiz. A Pedra Bruta, como a Coluna Dórica (Força), corresponde à sustentação da Loja. É um dos pilares que sustentam a moral maçônica. 

No que diz respeito ao Companheiro e a Coluna Vestibular J∴, essa Coluna baliza a passagem do Trópico de Capricórnio e corresponde à Coluna do Sul em cujo topo (parede meridional), os Companheiros tomam assento. No desenvolvimento iniciático correspondente ao aperfeiçoamento, do pondo de vista do Norte, o Sul é mais iluminado (Meio-Dia), o que sugere ser o Obreiro mais instruído (aperfeiçoado). 

Na verdade, em linhas gerais é a continuidade da senda iniciática no Segundo Grau. Essa compleição também explica a posição das outras seis Colunas Zodiacais (partindo de Libra – outono no hemisfério Norte) se apresentarem no topo do Sul, mostrando inclusive que no meridião se situa a constelação de Capricórnio. Assim J∴se associa à Luz que abrilhanta e sugere o ciclo iniciático do Companheiro. A Pedra Cúbica tal como a Coluna Coríntia reproduz a Beleza que adorna a Obra elevada. Em resumo é essa a alegoria iniciática do Aprendiz (Força) e do Companheiro (Beleza) no REAA∴ 

A título de esclarecimento, é a inclinação da Terra em relação ao seu plano de órbita na translação em volta do Sol que dá essa condição para que as estações do ano se invertam conforme o hemisfério e que faz duração dos dias e das noites conforme os ciclos naturais. Nesse sentido, em Maçonaria, relaciona-se sempre o Norte, já que foi nessa meia-esfera que nasceu a Sublime Instituição. 

A passagem do Nível ao Prumo – locução também conhecida como “passar para a perpendicular ao nível”, é a expressão que representa o deslocamento de alguém na Loja da Coluna do Norte para a do Sul. Note que o Aprendiz ocupa o Topo do Norte e o Companheiro o Topo do Sul (Topo é toda a parede Norte e toda a parede Sul respectivamente). 

Iniciaticamente essa passagem significa que o Primeiro Grau, no início da jornada e com conhecimento muito limitado, exerce o trabalho na Pedra Bruta. Mais instruído, ele então adquire a prática do Ofício e sai do Norte (mais escuro) e ocupa o Sul (mais iluminado). Como o Nível é o distintivo do Primeiro Vigilante ao Norte e o Prumo, o do Segundo Vigilante ao Sul, a expressão designa a passagem do Nível para o Prumo – em síntese é o deslocamento do Aprendiz Iniciado que ao cruzar o eixo to Templo pela sua Elevação é agora o Companheiro do Ofício. A alegoria é a passagem do Nível para a perpendicular (vertical – Prumo). Essa alegoria está representada pelos adereços que vão presos no avental do Mestre Instalado (vulgarmente chamado de Tau invertido). Os dois segmentos que compõem esse adereço significam: o horizontal o Nível e o vertical o Prumo ou Perpendicular. Em síntese é a passagem do alicerce nivelado para o canto elevado e aprumado. 

Considerações finais – Obviamente que esse é um escrito sintético dos fatos. Dele demandam ainda muitas explicações. É mister que a Loja ensine aos seus integrantes a doutrina do REAA∴, cuja estrutura doutrinária deísta está embasada nas Leis da Natureza – método comum à vertente francesa da Moderna Maçonaria. 

Nesse sentido se faz cogente compreender minuciosamente a topografia e a simbologia do Templo, sobretudo despindo-se do ranço imaginativo de que o espaço da Loja é o arquétipo do Templo de Salomão (sic). 

O primeiro Templo de Jerusalém na Maçonaria é apenas uma lenda que ensina importantes lições de ética, moral e sociologia, todavia ele não é um acontecimento histórico, muito menos foi construído por maçons. Muito menos ainda existia Maçonaria à época da construção do Templo. 

A Loja maçônica objetivamente é a representação simbólica de um canteiro de obras. Alegoricamente é um espaço situado sobre a superfície da Terra, cujos limites, confrontações e os seus elementos topográficos se dão pelos quadrantes conhecidos pela geografia como pontos cardeais. Seu teto é o firmamento e o piso o solo terrestre. 

Muitos elementos simbólicos do Templo Maçônico são às vezes abstratos no REAA∴. Um bom exemplo disso são as Colunas da Sabedoria, da Força e da Beleza. Essas genuinamente não são palpáveis no escocesismo, todavia são concepções ecléticas de filosofia. Em síntese, nem tudo é visível, porém é uma ideia. 

Infelizmente, há ainda muitos rituais que inventam e copiam procedimentos de outros Ritos e Rituais. Estes não raras vezes têm vindo acompanhados de verdadeiras peripécias e firulas explicativas que nada mais são do que produtos da invenção e da fertilidade imaginativa. Como foi dito, é uma pena que muitos rituais brasileiros ainda insistam em deturpar a verdadeira topografia da Loja escocesa como, por exemplo, colocar Colunas Zodiacais no Oriente e colunetas sobre as mesas dos Vigilantes. Ainda, interiorizar as Colunas Vestibulares B∴ e J∴, posicionar o Altar dos Juramentos ao centro do Ocidente, formação de pálio, Diáconos com bastão, etc. 

Há que se entender, no entanto, que quando isso acontece, essas invenções se chocam com a doutrina do Rito e dela acabam saindo explicações contraditórias ou, quando não, em verdadeiros ranços repletos de opiniões pessoais. 

Se eu mencionei essas particularidades, foi porque tenho observado ao longo da minha trajetória maçônica, que muitas Lojas com grande parcela dos seus Mestres não sabe ainda nada da liturgia maçônica, que dirá então explica-la. 

Assim ratifico que o que escrevi aqui foi no mínimo um condensado de elementos básicos que um Mestre Maçom pelo menos deveria saber. 

Concluindo, espero que não tomes as minhas observações finais como um destempero. Se assim me comportei foi apenas com a intenção de passar o mínimo de conhecimento da doutrina maçônica para os meus Respeitáveis Irmãos. Sem dúvida tenho a convicção de que conheço somente uma gota e desconheço um oceano, porém permaneço à disposição para contribuir um pouco com a cultura da nossa Sublime Instituição. 

T.F.A. 
PEDRO JUK – jukirm@hotmail.com 
Fonte: JB News – Informativo nr. 2.335– Florianópolis (SC), segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

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