OS MAÇONS OOPERATIVOS - EPÍTOME DA HISTÓRIA DA MAÇONARIA
Ir∴ Carlos Frazão
Resp∴ Loja Ocidente, do Grande Oriente Lusitano – Lisboa
O estudo da Maçonaria deve iniciar-se precisamente pela sua História. Só assim o iniciado pode perceber o porquê de muitas situações que ele irá encontrar ao longo da sua carreira maçónica.
Hoje, o acesso à documentação maçónica está extraordinariamente simplificado, podendo dizer-se que só não sabe Maçonaria quem não queira perder, ou ganhar, depende do ponto de vista e do interesse individual, algum tempo na investigação e leitura do que sobre esta matéria a internet proporciona.
Mas, para abordar o tema da História da Maçonaria, para a enquadrar em dez ou quinze minutos de discurso temos de fazer um esforço de simplificação, que terá forçosamente de ser complementado pelo trabalho de busca, nas fontes de informação existentes e que referiremos oportunamente.
Pois bem, para iniciarmos a nossa conversa sobre a História da Maçonaria comecemos por a dividir em três períodos distintos, ou sejam:
- A Maçonaria Primitiva ou Pré-Maçonaria;
- A Maçonaria Operativa, e
- A Maçonaria Especulativa.
A Maçonaria Primitiva ou Pré-Maçonaria
Este período é de facto e como seria previsível, o mais nebuloso, dando azo às mais diferentes teorias e e conjecturas sobre as raízes da moderna Maçonaria.
A falta de documentos e de registros credíveis favorece claramente a especulação, dando origem a várias linhas de pensamento, cada uma com a sua visão particular do processo evolutivo da Maçonaria.
Há quem garanta que ela radica na Mesopotâmia, outros confundem os movimentos religiosos do Egipto e dos Caldeus com essas raízes. Outros ainda garantem que a influência da filosofia Essénia, de que Jesus seria seguidor, seria a base do que somos hoje.
O estudo da Maçonaria é de tal modo aliciante que em 1884, nasce, no seio da Grande Loja Maçónica Unida de Inglaterra, de Londres, a primeira e mais prestigiosa Loja Maçónica de investigação do mundo, a “Quatuor Coronati” nº 2076.
“Os objectivos dos fundadores foram o desenvolvimento do interesse dos maçons pela investigação, designadamente histórica, o incentivo ao estudo da Maçonaria, a apresentação de pranchas e a sua discussão e crítica e a atracção da atenção e da cooperação de investigadores maçónicos em todo o Mundo.
Para tal, estabeleceram um estilo novo de investigação da Maçonaria, ignorando as conclusões sem fundamento derivadas da escrita imaginativa de alguns autores anteriores e, devido a isso, a Loja veio a ser considerada o paradigma da investigação histórica da Maçonaria. Graças aos esforços dos seus membros, os trabalhos dos historiadores anteriores foi colocado sob atento escrutínio e muito do que tinha sido anteriormente aceite passou a ser rejeitado”.
Para nós, as verdadeiras raízes da Maçonaria Moderna estão nos colégios ou associações de mestres construtores, que criaram modos muito particulares de convivência onde existia um forte espírito corporativo, cujo objectivo único era o de defender os seus interesses de classe.
Mas, note-se que não eram só os construtores que defendiam a sua classe de intrusos indesejáveis. Os ourives, os marceneiros e outros também tinham as suas organizações corporativistas. Mas era a dos Arquitectos a mais influente e prestigiada.
Podemos dizer que a primeira prova de existência da classe de arquitectos se situa durante o consolado de Numa Pompílio, rei de Roma, que fazia acompanhar as suas legiões de Colégios de Arquitectos (Collegia Fabrorum), com o objectivo de reforçar a colonização dos novos territórios conquistados, através da construção de caminhos, pontes, aquedutos, quartéis, casas e templos.
A classe foi evoluindo e o seu prestígio alcança o zénite na idade média com a construção de catedrais, por toda a Europa. Estrasburgo, Colónia, Notre Dame etc. são exemplos dessas magníficas obras, muito bem pagas pelos seus mentores. Portanto os mestres construtores defendiam os seus métodos de construção com unhas e dentes. A geometria Euclidiana era quase secreta. Os seus conhecimentos eram transmitidos de mestre a aprendiz, mas só depois de este demonstrar que era de tal merecedor. Cite-se, como graça, que nem todos os construtores saberiam dividir o círculo em treze partes iguais.
Esta necessidade de resguarda ros conhecimentos foi a verdadeira razão do isolacionismo da classe nas suas Lojas, ou sejam nos locais de estudo, projecto e organização da obra. E então aqui surge a necessidade dos sinais e códigos de comunicação entre iguais com garantia de que outros não os entenderiam.
E este espírito, de conservar as suas tradições e rituais, durou até às portas do séc. XVIII. ”Esta simbólica arcaica, com as suas palavras e senhas, permitiu que os seus membros se reconhecessem e ajudassem durante todo o tempo em que se manteve em vigor a maçonaria operativa” (Maçonaria Universal” de Miguel Martin-Albo).
Após os Colégios Romanos, e com a queda do império Romano, desenvolveu-se na Lombardia, mais concretamente numa das ilhas do Lago Como, a partir de um grupo de construtores originários de diferentes países, um estilo de construção muito particular, a que se atribui a difusão de um estilo italiano pré-românico, que foi amplamente difundido pela Alemanha, França, Inglaterra e Espanha. Estes construtores ficaram conhecidos pelo nome de Magistri Comacini.
O prestígio destes construtores foi-se consolidando de tal modo que em 643, o rei lombardo Rotary concedeu privilégios especiais à designada “corporação de arquitectos da Ilha de Como”.
A consequência da expansão desta corporação de arquitectos, principalmente na Alemanha, deu origem, mais tarde,à constituição das célebres Guildas (ou Grémios) de ofícios.
Mas, entre uma e outra época desenvolveu-se, na cidade de Subiaco, próxima de Roma, e na cidade de Cassino,a noroeste de Nápoles um estilo de construção levado a cabo por monges conduzidos por São Benito, que criaram, a partir do séc. IX, os designados Centros Construtores. Estava-se em pleno Período Monacal da evolução da arquitectura.
Aos monges Beneditinos seguiram-se mais tarde outras ordens como os monges de Cluny, os Cistercienses etc. Eles modificaram a face da Europa primeiro com o estilo Românico e depois com o Gótico.
É assim, sob a protecção monacal,que encontramos as primeiras evidências de uma Pré-maçonaria.
“No alvorecer da Baixa Idade Média, como produto do crescimento comercial e o crescimento do tamanho e da importância das cidades e vilas, surgem, na vida económica e europeia, agrupamentos sociais caracterizados pela procura comum de um interesse mercantil específico, denominados de Guildas ou Grémios, principalmente organizados como Grémios de Comerciantes.
Nos séculos XIV e XV os Grémios de Comerciantes enfrentaram a maior ameaça ao seu poder, constituída pelos Grémios de Artesãos, que acabaram por monopolizar a venda de bens e serviços.
Estes Grémios de Artesãos, também conhecidos por Corporação de Ofícios, eram entidades associativas fechadas e de índole familiar onde também eram aceites as mulheres,particularmente nas Corporações de Tecelãs.
E aqui surge já uma organização de trabalho em que os obreiros se dividiam em Aprendizes, Companheiros ou Oficiais e Mestres.
Estamos perante o embrião daquilo que designámos de Maçonaria Operativa, onde só tinham entrada os profissionais da especialidade.
Com o advento do capitalismo os Grémios de Artesãos foram desaparecendo, ou sobrevivendo ao incorporar novos membros que sem serem operários do respectivo ofício estavam com ele relacionados, como, por exemplo, fornecedores de materiais e ferramentas, advogados, médicos empreiteiros etc.
Entre os séculos XVI e XVII só sobreviveram na Europa os Grémios de Artesãos que tomaram a decisão de se transformar em associações económicas sectoriais. Entre eles, alguns Grémios de Construtores, chamados Maçons, devotos de S. João Batista, foram admitindo no seu seio membros não pedreiros, na qualidade de “Aceitos”. É no século XIV que se começa a chamar de “Franco-Maçons” aos construtores que se achavam associados em Grémios e se generaliza o termo “Loja Maçónica”, parta designar o local onde se reuniam.
Por outro lado, se todos os artesãos medievais tinham segredos relativos aos seus ofícios, os Maçons eram decididamente obsessivos com os seus, dado que associavam espiritualmente as origens de sua corporação com o “mistério” dos números.
Tinham uma idéia pseudo-científica desenvolvida em torno dos números, as proporções e os intervalos, e memorizavam séries de números para tomar decisões e traçar suas linhas. Como no antigo Egito – outra cultura de pedra esculpida – eles tinham uma tradição de “oficina” muito forte e regras estabelecidas para qualquer contingência estrutural. Transmitiam os seus conhecimentos verbalmente e os aprendiam de cor, escrevendo no papel o menos possível. Os manuais de construção não existiram até o século XVI”. O elemento mais importante que o Maçon poderia desejar era o da Geometria de Euclides.
Mas, entretanto começam a surgir problemas entre os obreiros da mesma loja. Isto é, entre os Mestres artesãos e os aprendizes ou os companheiros, o acordo tinha durado enquanto estes tinham podido facilmente elevar-se à condição de Mestres. Mas o dia em que tendo deixado de aumentar a população, e as encomendas das grandes obras entraram em queda, os Grêmios viram-se obrigados a estabilizar, por assim dizer, sua produção e a aquisição da mestria tornou-se mais difícil. A tendência a reservá-la às suas famílias manifestou-se por toda sorte de medidas: prolongamento da aprendizagem; aumento das taxas que se devia pagar para obter o título de Mestre; necessidade da Obra Mestra como garantia da capacidade de quem aspirava a dito título, etc.
Numa palavra: cada grêmio de artesãos convertia-se pouco a pouco em uma capela egoísta de patronos que só desejavam transmitir a seus filhos ou a seus genros a clientela de suas pequenas oficinas.Não é, pois, de surpreender que se observe desde meados do século XIV, entre os aprendizes, e sobre tudo, entre os companheiros que perdiam a esperança de melhorar sua condição, um descontentamento que se revela por constantes solicitudes de aumento de salário, e, enfim, pela reivindicação de participar ao lado dos Mestres no governo do Grêmio.
Surgem então algumas associações específicas de Aprendizes e Companheiros cujo principal objetivo é o de se proteger da exploração exercida pelos Mestres. A mais famosa destas associações é a que aparece na França com o nome do Compagnonnages – Em português ; Companheirismo, que não tem nada a ver com o 2º grau da Maçonaria Simbólica- e que eram organizações exclusivamente operativas.
Durante o século XVII, os Franco-maçons que se achavam organizados nas Lojas Maçônicas, começaram a receber no seu seio, novos membros que não praticavam o ofício da construção, mas que sim estavam relacionados com ele, como já se disse acima.
Era, portanto, natural que no princípio começassem recebendo carpinteiros, vidreiros, ferreiros, transportadores, etc., até que finalmente, os novos Maçons ampliaram os requisitos de admissão, trocando em conseqüência o caráter da Loja Maçônica e o de seus membros, em que só ficava a linguagem instrumental, das ferramentas de desenho e de construção, do ofício original.
Por alguma razão, estes Maçons não construtores, advertiram que o sistema moral e ético, e o modo de comunicação do conhecimento nas velhas Lojas Maçônicas Operativas, podia-se adaptar a um novo método de construção pessoal e social, e formaram, sabendo ou não, o que dali para frente se conheceu como Lojas Maçônicas Especulativas, mais aptas para a formação intelectual geral do indivíduo e da sociedade, do que para o exercício da arquitetura. Estas novas Lojas Maçônicas Especulativas, abertas assim aos cidadãos burgueses em geral, propagaram-se rapidamente pela Inglaterra, França, Alemanha e Espanha.
Estamos agora no limiar da Maçonaria Especulativa.
Alguns historiadores consideram que os primeiros Maçons especulativos foram os Templários sobreviventes à matança do rei Felipe o Belo da França e do Papa católico Clemente V, ordenado em 1307 e levado a cabo até 1314, em que morre na fogueira o seu Grão-Mestre Jacques de Molay, com o fim de se apoderarem dos bens e posses da afortunada e bastante independente Ordem doTemplo e ressaltar a muito mais dócil Ordem de Malta.
Segundo esta hipótese, alguns Templários fugiram para as altas Terras de Escócia para receber proteção do rei Robert Bruce, e se vincularam à economia local, em especial ao Grêmio dos Construtores.
Este encontro Templário/Construtores faz com que os Grêmios de Construtores Escoceses adquiram características cavalheirescas que não existiam no continente europeu. Finalmente, Sir William Sinclair de Rosslyn, em 1737, renunciou ao privilégio hereditário de sua família de dirigir a Maçonaria Operativa nessa nação e submeteu seu nome à votação para o cargo de Grão-Mestre, resultando eleito. Desde aí à frente a Maçonaria escocesa se vincularia a corrente geral da história.
Mas este considerendo é ele próprio especulativo, porquanto na época (princípio do séc. XIV) não se vislumbrava qualquer sinal da especulatividade da maçonaria. Ela viria sim, mas muitos anos mais tarde.
Igualmente se sustenta que no ano de 1517, em Paris, França, constituiu-se uma “Loja Franco-Maçônica” de caráter nitidamente especulativo, sob a direção do gênio Leonardo da Vinci, e a proteção do rei Francisco I.
A história é a seguinte:
Morto Leonardo em Paris, em 1519, sua iniciativa especulativa derivaria, quatro anos mais tarde, em 1523, numa “Assembléia Geral de Franco-Maçons ” franceses em que se apoiavam nuns princípios e numa organização básica, sobre a qual vale a pena determo-nos porquanto representa uma nova orientação ideológica, liberal e progressista, no seio da Maçonaria, ao lhe atribuir à Ordem uma finalidade filosófica e científica.
O texto desta novidade normativa é como segue:
Princípios Básicos Constitutivos da Franco-Maçonaria Universal, aprovados em “A Assembléia Geral de Franco-Maçons” que se reuniu em Paris no ano de 1523. (“História da Maçonaria” de Ivan Herrera Michel)
1. Sete ou mais Franco-Maçons, devidamente capacitados, reunidos sob a abóbada celeste, a coberto da indiscrição profana, para discutir e resolver livremente, por maioria de votos, os assuntos que lhes interessem coletivamente, formam uma Loja Franco-Maçônica, similar às da Maçonaria Operativa.
2. Os trabalhos numa Loja Maçônica se verificam durante as horas livres de ocupação dos reunidos, e, preferivelmente, entre o meio-dia e a meia noite, sob a direção de um Mestre Aprovado (Presidente) e dois Zeladores, também Passados (Vice-presidentes). As reuniões se efetuavam diante dos utensílios de trabalho conhecidos, colocados no Ara do Meio na forma costumeira, estando resguardado o ingresso ao recinto da reunião por um Guardião seguro e resolvido, e um Perito telhador/trolhador dos visitantes. Todos os que desempenham cargos são eleitos por maioria de votos dos Franco-Maçons reunidos, seja para uma Assembléia ou para um período determinado por eles.
3. Os Franco-maçons reunidos numa Loja Maçônica, de acordo com as regras e costumes conhecidos desde tempos muito antigos, podem, com prévia averiguação em relação aos candidatos, Iniciara os profanos nos Mistérios (Segredos) da Franco-Maçonaria e examinar aos Aprendizes e Companheiros para elevá-los aos graus de capacitação superiores imediatos, tirando deles a promessa de fidelidade na forma costumeira, diante dos utensílios simbólicos do Trabalho e da Ciência e lhes comunicando os sinais, os toques e as palavras secretas de reconhecimento e de socorro, universais entre os Franco-Maçons.
4. É costume antigo, firme e inviolável, não admitir como Franco-Maçons os seus inimigos naturais que são: os clérigos das religiões, os possuidores de títulos e privilégios das castas da nobreza e os homens que têm convicções contrárias aos princípios básicos da Franco-Maçonaria, salvo nos casos de rebeldia destes contra a ideologia dos grupos mencionados.
5. Não se admitem como Franco-maçons os escravos, os menores de idade e os incapacitados física e mentalmente.
6. União, Solidariedade e Cooperação são os princípios de organização interna da Franco-maçonaria Universal.
7. A inclinação ao estudo e trabalho, a vida e costumes sãos e normais, o comportamento decoroso, o tratamento fraternal entre os associados da Franco-Maçonaria, a preocupação constante pelo progresso e bem-estar do gênero humano e sua própria perfeição, são atributos de um bom Franco-Maçom.
8. Para possuir os direitos completos do Franco-Maçom dentro dos agrupamentos e dentro do povo Maçônico em geral, é indispensável e imprescindível escalar os três Graus de capacitação de Aprendiz, de Companheiro e de Mestre, e conhecer em essência a Lenda não alterada da Maçonaria Antiga em relação à Construção do Templo de Salomão;
9. São direitos essenciais de um Franco-Maçom:
A. Voz e voto numa Loja Maçônica e na Assembléia Geral (Grande Loja Maçônica) dos Mestres Maçons;
B. Eleger e ser eleito para todos os cargos dentro de seus agrupamentos;
C. Pedir a revisão dos acordos tomados numa Loja Maçônica diante da Assembléia Geral dos Mestres Maçons;
D. Exigir numa Loja Maçônica a responsabilidade dos eleitos no desempenho de seus cargos;
E. Pedir justiça Franco-Maçônica em casos de conflitos entre os associados às Lojas Maçônicas afins;
F. Formar triângulos e estrelas para trabalhar Maçonicamente nos lugares onde não é possível e reunir-se numa Loja Maçônica por causas de força maior;
G. Desfrutar de socorro, ajuda e proteção mútuo entre os Franco-Maçons;
I. Pedir o Certificado de Retiro da Loja Maçônica sem explicação de causas, estando em pleno gozo de seus direitos.
10. São deveres primitivos dos Franco-Maçons, lutar:
a. Pelo reconhecimento do princípio da separação da filosofia e da teologia;
b. Pela liberdade de pensamento e de investigação científica;
c. Pela aplicação do método científico experimental na filosofia;
d. Pelo intercâmbio dos conhecimentos e das práticas entre os homens, para o bem próprio e da humanidade;
e. Pela liberdade de consciência religiosa e a proibição absoluta aos clérigos das religiões de se misturarem nos assuntos políticos;
f. Pela abolição dos privilégios das castas da nobreza e do clero;
g. Pela proibição de empregara os escravos nos ofícios dos homens livres;
h. Pelos direitos dos povos de se governarem livremente, segundo suas leis e costumes;
i. Pela abolição dos Tribunais especiais de justiça do clero e das castas da nobreza, e o estabelecimento dos Tribunais comuns, de acordo com os costumes e leis dos povos.
11. Outras disposições Constitucionais:
a. Toda Loja Franco-Maçônica é soberana, não pode misturar-se nos assuntos internos de outras Lojas Maçônicas, nem elevar a graus de capacitação superiores aos Aprendizes e Companheiros filiados a outras Lojas Maçônicas sem seu consentimento ou a solicitude delas;
b. Um pacto entre as Lojas Maçônicas significa a Cooperação e não a renúncia total ou de parte de sua soberania;
c. Sete ou mais Lojas Franco-Maçónicas de território determinado, podem formar uma Federação (Grande Loja Maçónica) e três ou mais Federações podem se unir numa Conferação;
d. Para conservar intactos os princípios de União, Solidariedade e Cooperação não é recomendável a formação de duas Federações ou Confederações sobre o mesmo território;
e. A Assembléia Geral dos Mestres Maçons é a autoridade suprema do território de uma Federação, dita as leis, nomeia e controla o seu governo federal e elege os seus representantes e formam parte da Assembleia da Confederação;
f. Todo Franco-Maçom capacitado, eleito para um cargo ou representação, é responsável diante de seus eleitores e pode ser destituído por eles em qualquer momento;
g. Entre os Franco-Maçons e suas associações não podem existir diferenças apoiadas na distinção de raças, cor ou nacionalidade;
h. Os Princípios da Universalidade, Cosmopolitismo, Liberdade (não escravidão), Igualdade (diante das possibilidades)e Fraternidade (como base de relações entre os homens)são as metas da Franco Maçonaria;
i. Como produto do pensamento filosófico-progressista, os conceitos básicos da Franco-Maçonaria são sagrados e invioláveis. Estes preceitos não podem estar em contraposição com os progressos das ciências nem com as idéias avançadas de épocas posteriores; portanto, os Franco.Maçons não podem tergirversar-los nem omiti-los, sem perder a sua qualidade de progressistas e de Franco-Maçons;
“Pelo triunfo da Verdade, cientificamente demonstrável, pelo progresso do Gênero humano, pela União, a Solidariedade e Cooperação entre os Franco-Maçons, e pela fraternidade Universal.”
Salientar a importância destas normas que como se disse atrás, datam de 1523. Se bem observarem a moral defendida nesta assembleia não se afasta quase nada da moral que ainda hoje defendemos.
A ALVORADA DA MAÇONARIA MODERNA
Em 1717, quatro Lojas de Pedreiros Livres – “O Ganso e o Espeto”; “A Cervejaria e a Coroa”; “A Tavernada Macieira” e a “Taverna da Caneca e do Vinho” – decidiram organizar-se numa espécie de Federação a que deram o nome de Grande Loja.
Elegeram então um primeiro Grão-Mestre, com autoridade sobre todos os Maçons.
Quatro anos mais tarde foi redigido um primeiro regulamento e, em 1723, foi cometida ao pastor escocês James Anderson a tarefa de redigir umas “Constituições” que fossem aceites porto dos os Maçons.
Andersen, com o auxílio de vários outros irmãos, incluiu no seu texto – que ainda hoje é venerado e respeitado por toda a Maçonaria – não só os deveres e os direitos dos Maçons, mas também a história lendária da nova Fraternidade.
Estas constituições, conhecidas em todo o mundo maçónico por “Constituições de Andersen” conheceram sucessivas edições e foram traduzidas em diversas línguas.
O texto original reflectia de certa forma a vida, as crenças e os compromissos sociais da época. Todavia, na sua essência a quase totalidade das suas normas e ensinamentos mantêm actualidade.
Muitas dúvidas têm surgido acerca da redacção destas Constituições. Para uns elas seriam consequência do trabalho de Andersen, para outros, ele ter-se-ia limitado a ser o escrivão de maçons intelectualmente mais brilhantes.
Para outros ainda, ter-se-iam destruído, propositadamente, documentos antigos como: “O Poema ou Manuscrito Régio”, o “ Manuscrito Cooke” ou os “Estatutos dos Trabalhadores de pedreira Alemães”. Felizmente foi possível recuperá-los e como tal provar-se que a Maçonaria Especulativa não nasceu em 1723 mas sim alguns séculos antes.
As constituições de Andersen são, como se disse a base da Maçonaria Moderna. Mas, A Maçonaria Moderna tem duas fortes correntes divergentes.
AAnglo-saxónica, que prepondera no Reino Unido e na América, em particular nos Estados Unidos da América, e a corrente europeia continental.
Há algumas diferenças entre elas mas a que torna difícil todo e qualquer diálogo é o da obrigatoriedade que a Maçonaria Anglo-saxónica impõe de o Maçom acreditar numa verdade revelada.
A Maçonaria europeia continental é uma Maçonaria liberal que entrega a crença em qualquer Deus, seja ele regulado pela Bíblia, pela Tora ou pelo Corão, a cada Maçom, de acordo com a sua sensibilidade interior.
Trata-se de uma opção pessoal e íntima.
As potências Maçónicas aderentes a este princípio estão congregadas numa assembleia que reúne periodicamente, designada de CLIPSAS.
TESES ALTERNATIVAS
A tese que acabámos de apresentar é a considerada de “Tese Tradicional”. Têm, no entanto, surgido outras que pretendem apontar outros caminhos para a criação da designada Maçonaria Especulativa ou Maçonaria Moderna.
Achamos ser útil, para os nossos estudos, referenciar duas dessas teses por apresentarem uma lógica ponderável e como tal dignas de serem analisadas.
Uma primeira, designada de“TEORIA DA TRANSIÇÃO” diz que devido aos conflitos religiosos entre católicos, protestantes, luteranos e puritanos, a construção de edifícios religiosos diminuiu radicalmente, até acabar praticamente. Em consequência verificou-se uma perda de prestígio e de importância social das corporações de pedreiros. A estrutura tradicional maçónica estaria em vias de extinção.
Este facto teria sido aproveitado por indivíduos notáveis, nobres e de cultura superior, que atraídos ainda pela mística e pela aura misteriosa que tinha a maçonaria, aceitariam integra-la, uns, e solicitavam o ingresso nela, outros, que a troco de doações apreciáveis possibilitaram a reativação de algumas lojas e a recuperação do prestígio que as corporações de ofícios ambicionavam.
É lógico que nestas circunstâncias a direção dessas lojas foi passando cada vez mais para as mãos dos agora chamados de “Maçons Aceitos”.
Este seria um dos caminhos apresentados para chegarmos á Maçonaria Moderna do início do séc. XVIII.
Uma outra tese, chamada de “TESE DO EMPRÉSTIMO”, defendia que os maçons ter-se-iam limitado a reciclar utensílios da profissão, transformando-os em símbolos que serviriam de base a um projeto filosófico de razoável abrangência.
Segundo Alan Bauer o seu fim era o de “Acabar com as discórdias religiosas e transformar o progresso científico no novo motor da História”. (Aux Origines dela franc-maçonnerie: Isaac Newton et les newtoniens, Dervy, 2003).
Apesar de a sua aceitação não merecer a unanimidade dos Maçons, ela teria tido o apoio histórico da Royal Society, de Londres.
Esta sociedade tinha sido criada em 1660, em Londres e muitos dos seus elementos teriam feito parte da maçonaria Especulativa criada no início do séc. XVIII, ou seja em 1717, onde teria ocupado lugares de destaque que nos quadros das Lojas quer no desempenho de cargos dirigentes.
Recorde-se o nível intelectual e social dos maçons constituintes da primeira Grande Loja criada em 24 de Junho de 1717. Não custa aceitar esta parte da tese.
Poder-se-ia então colocar a seguinte questão: “e se a maçonaria tivesse sido imaginada neste “clube” de eruditos e pensadores, que pouco teriam a ver com os antigos profissionais da construção ?” (“A SAGA DOS MAÇONS” de Marie-France Etchegoin e Frédéric Lenoir ). E se ela tivesse sido pura e simplesmente inventada por académicos à procura de uma utopia, de fundamento científico e moral, em contraposição com as inúmeras facetas religiosas que se apresentavam ao cidadão da época e que eram mais geradoras de conflitos, do que agregadoras da espiritualidade desejada?
É conhecido que para além destas três teses bastantes outras se encontram expostas em inúmeros documentos. Todavia reputamos estas três como as mais credíveis na busca de uma Verdade que está longe de se encontrar reconhecida e consolidada.
Bibliografia:
- História da Maçonaria, de Ivan Herrera Michel;
- Dicionário de Maçonaria Portuguesa de A.H. Oliveira Marques
- Dicionário de Maçonaria de Rizzardo da Camino
- “A Saga dos Maçons” de Marie-France Etchegoin e Frédéric Lenoir
Flemming, M∴M∴ da Resp∴ L∴ Ocidente - Agosto de 2012
Fonte: JB News – Informativo nr. 1.759
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