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terça-feira, 8 de março de 2022

PAINEL DE COMPANHEIRO

PAINEL DE COMPANHEIRO
Joaquim G. Santos

O Quadro de Loja de Companheiro no REAA – História e Simbólica

A historiografia dos Rituais Maçónicos tem sido feita, na maior parte dos casos, fundamentalmente com base na correlação dos textos das sucessivas revisões, produzidas ao longo de três séculos de prática, com as correntes de ideias político filosóficas suas contemporâneas.

Se é certo que esta linha de raciocínio se tem revelado profícua, resultando hoje claro que alterações de paradigmas político-sociais, ou obedienciais, suscitaram sempre revisões de rituais, não é menos verdade que um ritual maçónico tem sempre, para além de uma componente cultural, também uma vertente iniciática.

Muito embora a primeira destas facetas reflita sempre o contexto sociologico-filosófico­politico da época, a segunda, que integra os Arcanos do Ritual, remonta, em geral, a uma tradição anterior, dependendo essencialmente da compreensão, ou da simples perceção de um corpus esotérico, que se apresenta também com caráter evolutivo, ao longo da cadeia iniciática.

Linhas de investigação recentes, mais centradas em alguns elementos da História Material da Maçonaria, tais como os Quadros de Loja, ou os Paramentos, têm-se revelado de extrema utilidade na compreensão de rituais dos séculos XVIII e XIX, sublinhando aspetos à partida não evidentes, apenas com base na leitura dos textos.

Um exemplo flagrante desta situação sobressai quando se estuda a História e, a Simbólica, do Quadro de Loja de Companheiro, no REAA.

Neste caso, é notória a existência de uma ligação direta entre a evolução das representações iconográficas, e as sucessivas revisões dos rituais, reflexo das subsequentes alterações verificadas, quanto ao entendimento do conteúdo simbólico deste Grau.

Este tem vindo, progressivamente, a diferenciar-se do Primeiro Grau, bem como a incorporar novos símbolos, em consequência de diversos sincretismos, traduzindo-se todo este processo num grande enriquecimento do corpus do Companheiro Escocês, e do seu Quadro de Loja.

Todavia, no que concerne ao aparecimento deste elemento de decoração do Templo, tudo começou no século XVIII.

Muito embora existam evidencias da sua utilização em Inglaterra, na tradição da Grande Loja dos Modernos, é na Maçonaria Continental oitocentista que se encontra a verdadeira génese do Quadro de Loja, na sua conceção atual. Assim:


Figura 1 – “Catéchisme des francs-maçons “ de Leonard Gabanon, 1744

– Em 1744 o “Catéchisme des franc-maçons “ de Leonard Gabanon (pseudónimo de Louis Travenol) para além de incluir reproduções de um “Plano da Loja para a receção de um Aprendiz-Companheiro” e, de um “Plano de Loja para a receção de um Mestre” apresenta uma série de gravuras, que ilustram a realização das cerimónias de Iniciação e, de Exaltação.

– Em 1745 a exposição “L’Ordre des franc-maçons trahi et le secret des mopses révélé“, reproduz igualmente modelos de Quadros de Loja para os mesmos graus.


Figura 2 – Quadro de Loja para a recepção de um Aprendiz-Companheiro “L’Ordre des franc-maçons trahi et le secret des mopses révélé“ 1733

De toda esta informação e, em especial, das gravuras de Léonard Gabanon, ressalta que a importância do Quadro de Loja era, à época, marcante na realização das cerimónias maçónicas, utilizando-se o mesmo modelo como suporte dos trabalhos relativos aos dois primeiros graus.

A tal não era alheio o facto de, anteriormente a 1780, na maior parte das Lojas os Graus de Aprendiz e de Companheiro serem conferidos na mesma Sessão, exaltando-se o novo Irmão poucas semanas depois, o que demonstra o caráter pós-operativo, mas ainda não iniciático, dos primeiros decénios da Maçonaria Continental.

Este aspeto encontra-se refletido nos “Rituais do Marquês de Gages”, manuscrito datado de 1763, nos quais a receção no segundo Grau se efetuava no seguimento da Iniciação, e se resumia, fundamentalmente, à realização de mais duas viagens em torno da Loja, no fim das quais o Recipiendário entrava no Templo de Salomão, transpondo os sete degraus representados no Quadro de Loja, através dos Passos Rituais de Companheiro.

Estes consistiam, partindo de Ocidente, num passo lateral para o Meio-Dia, seguido de novo passo lateral para o Setentrião, terminando a Oriente através de um terceiro passo, que recolocava o Recipiendário de regresso ao eixo central original, definido pelos passos de Aprendiz, completando assim um périplo pelos quatro pontos cardeais.

Em alguns rituais encontramos referências à conclusão do primeiro passo no 3° degrau, e do segundo passo no 5° degrau, sendo assim os sete degraus da “Escada Misteriosa” subidos por 3, 5 e, 7.

Figura 3 – Recepção de um Companheiro – Gravura dos “Fundos Georg Kloss”, 1745

Tanto nos “Rituais do Duque de Chartres”, de 1784, como no “Régulateur du Maçon”, fixado em 1786 e publicado em 1801, a recepção no segundo Grau integra já a realização de cinco viagens, no fim das quais o Recipiendário subia cinco degraus (sobre o Tapete de Loja) para aceder ao Templo, contemplando então a Estrela Flamejante e, a letra “G”, que significava, simultaneamente, Geometria e, a inicial do Supremo Arquiteto do Universo.Nos últimos dois decénios do século XVIII, com a estruturação do Regime Escocês Retificado, e do Rito Francês, o Grau de Companheiro foi ganhando corpo ritual.

Na ótica do final do século XVIII temos, pois, uma estruturação simbólica muito vinculada ao mito da construção do Templo de Salomão, na qual o Companheiro depois de ter acedido a um plano superior, através do conhecimento e, da prática das virtudes, antevia um nível sobre-humano.

Destaca-se, nesta evolução do Grau, o papel estruturante que o número cinco assume, materializado no número de viagens realizadas, de degraus transpostos e, de pontas da Estrela Flamejante. Tal reflete já, para o Companheiro oitocentista, uma perspetiva centrada no Homem, e no seu aperfeiçoamento moral e intelectual.

Esta evolução dos rituais pressupõe, naturalmente, uma diferenciação entre os Painéis de Loja dos dois primeiros Graus, não sendo pois de estranhar que a mesma já se encontre plasmada na coletânea de Rituais denominada “La Maçonnerie des Hommes”, de 1785, na qual podemos encontrar um Quadro distinto para a Loja de Companheiro, diferindo apenas do de Aprendiz, pela inclusão da Estrela Flamejante, posicionada centralmente, a Oriente, entre as duas Luminárias (Sol e Lua).

Começa igualmente a sobressair, neste período, uma preocupação com a normalização dos Quadros de Loja, encontrando-se descritos tanto nos Rituais de Referência fundadores do RER (de 1782), como nos do Rito Francês (de 1786), os elementos simbólicos a considerar no Painel de cada Grau.

É, contudo, com o advento dos Graus Simbólicos do REAA, em 1804, que aparecem as primeiras representações gráficas normalizadoras dos modelos de Quadro de Loja a adotar.

Foram publicados em vários Telhadores do Escocismo, dos quais destacamos o de Vuillaume, com edições de 1820 e 1830, e o de Teissier, editado em 1856, modelos-tipo de Quadro de Loja, distintos para cada um dos Graus Simbólicos do Rito, sendo alguns deles ainda utilizados na atualidade.

Se analisarmos os primeiros Rituais Escoceses relativos ao 2º Grau, escritos em 1804 e publicados, supostamente em 1820, numa compilação denominada de “Guide des Maçons Écossais”, poderemos constatar que a cerimónia de Aumento de Salário é, em quase tudo, idêntica à praticada no Rito Francês, integrando as mesmas cinco viagens consideradas no “Régulateur”, com idênticas interpretações, centradas nos cinco anos de Aprendizagem, e nas quais o Recipiendário transporta, em ambos os casos, os mesmos instrumentos (Malhete e Cinzel – Régua e Compasso – Régua e Alavanca – Régua e Esquadro – Mãos Livres).

Para além de algumas diferenças de pormenor, verifica-se, contudo, a existência de uma “nuance” importante.

Enquanto que o Companheiro Francês acede ao Templo e descobre a Estrela Flamejante e a letra “G” após ter subido os cinco degraus, o Companheiro Escocês executa o seu último trabalho de Aprendiz, sobre a Pedra Bruta, sendo-lhe depois mostrados, no Oriente, os mesmos símbolos, com idênticas interpretações.

Esta diferença espelha uma diferença conceptual existente, à época, nos dois Ritos, quanto à localização das Lojas de Aprendiz e, de Companheiro.

Assim, enquanto que no Rito Francês as mesmas se localizavam à Porta do Templo de Salomão, no REAA as Lojas dos dois primeiros Graus estavam situadas no seu interior, situação esta que justificaria a inversão da posição das Colunas B e J, verificada entre os dois Ritos, que seriam observadas segundo perspetivas diferentes, respeitando-se, em ambos os casos, as localizações definidas no “Livro dos Reis” “da Bíblia

O Companheiro Escocês não podia, pois, aceder ao Templo no culminar da cerimónia de receção, tal como sucedia ao Companheiro Francês, porque já se encontrava no seu interior, desde o 1º Grau.

Da análise dos primeiros Quadros de Companheiro do REAA, em especial do que consta da gravura publicada na edição de 1820 do “Tuilleur de Vuillaume”, constata-se que muito embora o Painel reflita já uma sistematização de distribuição dos símbolos mais elaborada do que a verificada nos Quadros de Aprendiz-Companheiro do século anterior, são ainda pouco diferenciados os Tapetes relativos aos dois primeiros Graus, o que não deixa de ser também um reflexo da indiferenciação entre os Rituais de 2º Grau Escoceses e Franceses.


Figura 4 – Quadro de Loja de Companheiro, “Tuilleur de Vuillaume” , 1820

A geometria dos Quadros de Loja convergiu, nesta época, para uma forma regular, materializada por um retângulo pitagórico, cujos lados se relacionam dimensionalmente na proporção de três para quatro.

Por vontade de precisão técnica, decorrente do desenvolvimento do pensamento científico, os pontos cardeais iniciáticos (Oriente-Ocidente-Meio-Dia-Setentrião), utilizados no século anterior, foram correntemente substituídos pelos pontos cardeais profanos (Norte-Sul-Este-Oeste).

O espaço mítico retratado no Quadro desenvolve-se segundo três planos, um primeiro inferior ou terrestre, revestido pelo Pavimento de Mosaico, a partir do qual, através de um lanço de escadas, se acede à Porta do Templo, localizada num plano intermédio mais elevado, ao qual se sobrepõe um plano superior constituído pela Abóbada Celeste.

Nestes primeiros Quadros de Loja Escoceses de Companheiro o número de degraus considerado é, ainda, de sete, à semelhança do século XVIII, ou já de cinco, diferenciando-se, assim, neste aspeto, do Quadro de Loja de Aprendiz do mesmo Rito, no qual o número de degraus é sempre de três.

A Porta do Templo de Salomão, em alguns painéis fechada, em outros aberta, apresenta-se ladeada pelas duas colunas. Estas, nos Quadros de Loja do REAA, encontram-se já dispostas segundo o posicionamento Antigo (J à direita – B à esquerda).

Tal como no Primeiro Grau, as colunas aparecem encimadas por três Romãs e, o frontão do Templo, que se sobrepõe à porta, normalmente é espiritualizado através da ostentação de um Delta Radiante.

Não encontramos mais, neste período, representações de portas a Oriente e, no Meio-Dia, que figuravam nos Painéis de Aprendiz-Companheiro do século anterior, mantendo-se a presença das três janelas, nas suas formas e disposições habituais (Ocidente, Meio-Dia, Oriente).

Para além das Joias Móveis (Esquadro, Nível e Perpendicular), Imóveis (Pedra Bruta, Pedra Trabalhada e, Prancha de Traçar), do Malhete, do Cinzel, da Régua, da Alavanca e, do Compasso, não subsistem outras alfaias anteriormente utilizadas, tais como a Trolha, que não se encontra presente nos Graus Simbólicos do REAA.

Todos estes símbolos, derivados dos utensílios empregues na construção, aparecem igualmente distribuídos nos Quadros de Aprendiz e de Companheiro, muito embora a maior parte deles se reporte ao Ritual do 2º Grau.

A Pedra Trabalhada é, nesta época, representada na sua forma cúbica pontiaguda, sendo entendida como o fecho da Abóbada do Templo, que o Companheiro deve executar, e já não tanto como “a Pedra na qual os Companheiros afiam as suas ferramentas”, como é frequentemente referido nos Catecismos e Rituais do século anterior.

O Sol e a Lua aparecem na parte superior do Painel, estabilizando-se o primeiro à direita e, a segunda à esquerda.

Entre os dois, como já se podia encontrar nos primeiros Quadros de Companheiro individualizados para este Grau, aparece em posição destacada, como símbolo principal, a Estrela Flamejante, na qual se encontra circunscrita a Letra “G”.

A corda passou a simbolizar a Cadeia de União, circundando todo o painel, com exceção do Ocidente, no qual permanece aberta, para ilustrar que a Maçonaria se encontra sempre recetiva a receber novos obreiros. No princípio do século XIX o número de laços de Amor utilizado é o de nove, primeiro número ímpar que transcende o número de sete nós utilizado no Painel do Grau anterior.

Sendo sete o número simbólico da conclusão, a corda representada no Quadro de Companheiro pretende transmitir que neste Grau se ultrapassa ainda esse nível, acedendo-se, pela construção do Templo, à Transcendência, representada pela Estrela Flamejante.

Tal ideia encontra-se igualmente presente no simbolismo da Pirâmide que encima o Cubo da Pedra Trabalhada, representando o seu vértice superior a Quintessência, sobrejacente ao quaternário dos vértices do Quadrado que constitui a sua base, numa ilustração clara de que o Espírito se sobrepõe à Matéria.

No “Tuilleur de Vuillaume” publicado em 1830, constatamos a introdução de algumas alterações, relativamente ao Quadro-Tipo de Companheiro incluído na primeira edição da mesma obra (de 1820).


Figura 5 – Quadro de Loja de Companheiro, “Tuilleur de Vuillaume” 1830

Assim, o número de degraus fixa-se em cinco e, as três Romãs que encimavam os capiteis das Colunas são substituídas pela Esfera Terrestre, que coroa a Coluna B e, pela Esfera Celeste, que se sobrepõe à Coluna J.

Esta alteração decorre de uma revisão dos primeiros Rituais Escoceses, realizada na década de vinte, tendo o Supremo Conselho de França publicado uma nova versão dos mesmos, em 1829, sob o título de “Anciens Cahiers 5t29”.

Nesta nova publicação, foram introduzidas profundas alterações no Ritual de Companheiro, diversificando-o substancialmente da versão do Rito Francês, no que concerne à interpretação das Viagens realizadas no decurso da cerimónia de Aumento de Salário.

Muito embora estas se tenham mantido inalteradas em número e, em instrumentos transportados, o sentido das mesmas foi substancialmente modificado.

Assim, as Viagens passaram a referir-se, sucessivamente, aos cinco Sentidos, às cinco Ordens de Arquitetura (Dórica – Jónica – Coríntia – Toscana – Compósita), às sete Artes Liberais (Gramática – Retórica – Lógica – Aritmética – Geometria – Musica – Astronomia), às duas Esferas (Terrestre – Celeste), assumindo a última uma interpretação claramente deísta, na qual o Recipiendário, com base no Autoconhecimento e, no estudo dos vários domínios do Conhecimento Humano, descobre a unicidade da Entidade Divina.

O Ritual de 1829 introduziu, na decoração do Templo destinado à receção no Segundo Grau, três Quadros Temáticos relativos à interpretação das primeiras três viagens, figurando estes suspensos nos Pilares, bem como duas Esferas (Terrestre e Celeste) dispostas no chão, entre o Quadro de Loja e o Oriente.

Daí a razão da substituição das Romãs pelas Esferas no Quadro de Loja-tipo do Grau de Companheiro, aparecendo a mesma referida no Catecismo de Jean-Marie Ragon, relativo a este Grau, no qual à pergunta:

P: “Porque é que as Esferas substituem sobre as Colunas as Romãs ?”

Segue-se a resposta:

R: “Porque neste Grau científico, estas Esferas simbolizam a harmonia do Universo e designam o género de estudo ao qual o Companheiro se deve aplicar.”

Podemos pois concluir, que o Ritual de 1829 e, o Painel de Loja a ele associado configuram um afastamento claro do conteúdo temático do Grau de Companheiro do Rito Francês, introduzindo um sentido Deísta mais acentuado, uma vez que nos discursos relativos às viagens se encontra claramente plasmado que o conhecimento da Divindade se alcança pelo “espetáculo das maravilhas da natureza e com o recurso da inteligência”, dispensando assim qualquer tipo de revelação.

Estamos, pois, na fase Romântica da Maçonaria novecentista, no seu máximo apogeu, considerando, pessoalmente, que o Grau de Companheiro Escocês nasceu, realmente, em 1829, tendo em conta que foi aí que este se diferenciou, constituindo a matriz deste Ritual já o “esqueleto” sobre o qual assentaram todas as revisões de rituais subsequentes, até à atualidade.

Como é tradição no REAA, os elementos incorporados na interpretação das viagens (Sentidos, Ordens de Arquitetura, Artes Liberais, Esferas) deste Ritual, e que conferiram ao Grau a sua identidade própria, não são originais deste Rito.

Os mesmos podiam já ser encontrados anteriormente, na Maçonaria Anglo-Saxónica, nomeadamente nos livros “Ilustrations of Masonry”, de William Preston, publicado em 1772, e “Freemason’s Monitor” de Thomas Smith Webb, com primeira edição de 1797, nos quais aparecem igualmente reportados ao Grau de Companheiro.

O Ritual de Companheiro, no REAA, manteve até à atualidade, a mesma estrutura de 1829, tendo, contudo, variado as interpretações das duas últimas viagens, da Estrela Flamejante, e da Letra “G”.

No final do século XIX o Rito sofreu uma forte influência positivista e laicisista, que conduziu a que no Ritual de 1880, do Supremo Conselho de França, a quarta viagem se passasse a reportar aos Grandes Filósofos (Solon – Sócrates – Licurgo – Pitágoras – INRI), sendo a quinta viagem uma Exaltação da Liberdade e, uma Glorificação do Trabalho. A Estrela Flamejante perdeu, nesta revisão, o caráter metafisico anterior, passando a ser um símbolo da Inteligência, associando-se a Letra “G” apenas à Geometria.

Esta corrente gerou uma contracorrente de sentido simbolista, que contou com o contributo, já no século XX, de Oswald Wirth e, de Jules Boucher.

Muito embora os Quadros de Loja de Companheiro deste período tenham mantido, essencialmente, os padrões da edição do “Telhador de Vuillaume” de 1830, devem-se precisamente a Oswald Wirth a introdução de algumas alterações de pormenor, que apareceram nesta época, tais como a substituição, na representação da Pedra Trabalhada, da Pedra Cubica Pontiaguda por um simples Cubo.

De acordo com este autor, a Pedra Cúbica Pontiaguda reportar-se-ia ao Grau de Mestre pois, “o Companheiro não tem de ao sobre-humano. Pertence-lhe realizar o Cubo puro e simples, ou a Pedra retangularmente talhada, própria a ocupar o seu lugar no edifício social. Adaptar-nos exatamente à função que somos chamados a preencher no interesse geral, tal é a perfeição perfeitamente realizável à qual nós devemos aspirar”.

A partir da década de 50, do século XX, os Rituais dos Graus Simbólicos do REAA, e os respetivos modelos de Quadros de Loja foram revistos, no âmbito da Grande Loja de França, tendo vindo a acentuar-se algumas influências marcadamente Anglo-saxónicas.

Tal evolução (ou involução, conforme as diferentes opiniões) deveu-se à vontade desta Obediência de ser reconhecida pela Grande Loja Unida de Inglaterra, o que motivou esta tentativa de tornar a prática ritualística dos Graus Simbólicos do REAA mais semelhante aos “workings” ingleses e, como tal, mais aceitável pelos Irmãos do outro lado do Canal da Mancha.

O modelo de Quadro de Loja proposto para o Segundo Grau reflete, não só a evolução das interpretações das viagens e dos principais símbolos do Companheiro, como também uma alteração conceptual verificada neste período, no que concerne à localização das Lojas dos dois primeiros Graus, face ao Templo de Salomão.

Vários autores contemporâneos, tais como Alain Pozarnik, Claude Guérillot ou, mais proximamente, Jean-Claude Mondet, evidenciaram a existência de uma incoerência geográfica no pressuposto até então assumido, de que as Lojas de Aprendiz e de Companheiro, no REAA, se localizariam no interior do Templo de Salomão (no Hekal).

De facto, muito embora uma Loja Maçónica esteja orientada, à semelhança das Igrejas Cristãs, de Ocidente para Oriente, o Templo de Salomão tinha a orientação inversa, pelo que a Loja, para ter a sua disposição geográfica coerente com este aspeto, só pode estar localizada à entrada do Templo, ou seja no Oulam.

Este reposicionamento levantou a questão de se saber se seriam os Ritos Antigos, ou os Modernos, que assumiriam o posicionamento das duas Colunas (B e J) coerente com o descrito no Livro dos Reis, na medida em que se a localização da Loja for a mesma, apenas uma destas disposições estará conforme com as referências Bíblicas, tendo-se de assumir tratar-se a outra de um posicionamento convencionado.

Analisado o texto das Escrituras, nomeadamente o constante do Primeiro Livro dos Reis (7, 15-21) e (7, 38-39), conclui-se que a Coluna Jakin se encontrava à direita, e que a Coluna Boaz se encontrava à esquerda (21), depreendendo-se do posicionamento do Mar de Bronze, que se entende por direita o lado Sul do Templo (39).

Nestes termos, apenas a disposição de Colunas dos Ritos Antigos, com a Coluna J disposta no lado Sul, se apresenta coerente com a Bíblia, sendo este o entendimento atual, entre os simbolistas do REAA contemporâneos.

O Ritual de Referência da Grande Loja de França, de 1986, que serviu de inspiração ao modelo atual de Quadro de Loja desta Obediência, introduziu alterações no que concerne aos instrumentos transportados pelo Recipiendário, no decurso das viagens.

Assim, se na primeira viagem se mantêm o Malhete e o Cinzel, nas subsequentes o Aprendiz transportará, sucessivamente, a Régua e a Alavanca, o Fio de Prumo e o Nível, e o Esquadro, concluindo a Quinta Viagem com as mãos livres, tal como já era anteriormente praticado.

As interpretações das três primeiras viagens, bem como da última, permanece a mesma, mas a Quarta Viagem passou a reportar-se aos Grandes Iniciados (Moisés – Pitágoras – Sócrates – Jesus – Koung-Fou-Tseu).

A Estrela Flamejante, neste Ritual, passou a representar, simultaneamente, o Supremo Arquiteto do Universo, e o Iniciado Perfeito, assumindo assim um sentido bivalente, de Transcendência e, de Imanência.

A cada uma das cinco pontas da Estrela foi atribuído um significado (Geometria­-Gravitação-Geração-Génio-Gnose) sendo esta interpretação importada do Rito Francês, no qual entrou por via da Revisão Amiable (1887).

Todos estes fatores conduziram a que tenha sido elaborado um modelo de Quadro de Loja-Tipo associado a este Ritual, que é substancialmente diferente dos anteriores, e que permanece atualmente em utilização, na referida Obediência.


Figura 6 – Quadro de Loja de Companheiro, Grande Loge de France, 1968

Este Painel pretende integrar graficamente, a disposição de Loja de Companheiro, os Símbolos do Grau, e o Percurso Iniciático que o mesmo configura. Assim:

– O Quadro apresenta-se exteriormente delimitado por uma cercadura aberta no Ocidente, que representa a Loja, na qual o Aprendiz já entrou.

– Sobre esta cercadura encontra-se representada uma Corda, aberta no Ocidente, e dotada de cinco Nós em Laço de Amor. Se a Corda se reveste da mesma interpretação já assumida no Primeiro Grau, o número de Nós reflete a idade do Companheiro e, contrapõe-se aos doze nós da Corda do Painel de Aprendiz, passando-se assim do Macrocosmos para o Microcosmos, ou seja, do que está em cima para o que está em baixo.

– Penetrando na cercadura, encontramos uma Escada que assenta sobre o Pavimento de Mosaico. É o percurso iniciático que se sobrepõe ao Binário, dominando-o e subjugando-o.

– A Escada inicia-se por três degraus, alinhados verticalmente, seguidos de um degrau desfasado para a direita, e de novo degrau posicionado no alinhamento original. Trata-se de uma alusão clara à Marcha do Companheiro, representando o Quarto Degrau o seu “Pas de Côté”.

– Ao subir esta Escada, e quando sai do seu alinhamento original, o Companheiro encontra a representação de uma espiga de trigo, numa clara referência à Palavra de Passe deste Grau, que lhe permite atravessar as Colunas e entrar no Templo.

– No coroamento dos cinco degraus da Escada aparecem representados mais dois degraus, em traço interrompido, que infletem para a esquerda. Os mesmos pretendem antever o acesso à Câmara do Meio e, que se concretizará no Grau subsequente. Trata-se de uma influência clara dos Quadros de Loja Anglo-Saxónicos, nos quais se encontra plasmado que o Companheiro recebe o seu salário na Câmara do Meio, localizada num andar superior existente do lado da Coluna B, ao qual se acede por uma Escada em espiral. Tal não é, contudo, compatível com a tradição do REAA, na qual os Companheiros recebem o seu salário junto à Coluna J.

– As Colunas apresentam-se com a disposição Antiga, como é tradicional no REAA;

– As Esferas que coroam as Colunas foram invertidas, neste Painel. Assim, a Esfera Celeste encima a Coluna B e, a Esfera Terrestre sobrepõe-se à Coluna J, para se apresentarem coerentes com os números de Nós das Cordas associadas aos dois primeiros Graus, identificando assim o Macrocosmos com o Grau de Aprendiz e, o Microcosmos com o Grau de Companheiro.

– As Três Janelas figuram, neste Quadro, com distribuição idêntica à adotada no Primeiro Grau, mas dotadas de grelhas mais abertas, porque o Companheiro já pode suportar uma iluminação mais intensa do que o Aprendiz.

– O Painel contempla todos os instrumentos ligados à Construção que são transportados nas viagens, aparecendo o Malhete e o Cinzel junto à Coluna B, a Régua e Alavanca no topo da Escada, o Nível e o Fio de Prumo um pouco acima, e o Esquadro ainda mais elevado.

– A Pedra Bruta desapareceu deste Painel, por ser entendido que a mesma se reportava ao Grau de Aprendiz, ideia esta já anteriormente defendida por Jules Boucher, no seu livro “La Symbolique Maçonnique”, de 1948.

– O mesmo sucedeu à Prancha de Traçar, considerada como símbolo do Terceiro Grau. Refira-se que este entendimento tinha antes sido criticado tanto por Oswald Wirth como por Jules Boucher, na medida em que se compete aos Mestres conceberem os planos, os Aprendizes e os Companheiros devem saber interpretá-los, para os poderem executar, e como tal não é desprovida de sentido a presença deste símbolo nos Quadros de Loja dos dois primeiros Graus.

– A Pedra Trabalhada permanece, na sua forma Cúbica, em consonância com a posição anteriormente defendida por Oswald Wirth.

– Num plano superior podemos encontrar as Três Grandes Luzes (Esquadro + Compasso + Livro da Lei), sobre o qual se sobrepõem, ainda as duas Luminárias (Sol e Lua).

– Ao centro, e encimando tudo, encontra-se representado o símbolo-chave do Grau, a Estrela Flamejante que contem a Letra “G”, constituindo a sua descoberta o objetivo desta Via traçada pelo Quadro de Loja.

Fruto da diversidade simbólica existente entre os vários Ritos Maçónicos, em outros sistemas, os Painéis de Loja assumem aspetos substancialmente distintos dos considerados no REAA.

No Rito Francês Groussier, muito embora o Quadro de Loja não seja um elemento de decoração do Templo indispensável, ou sequer recomendado, o Ritual de Referência GOdF 6009 inclui um modelo tipo, a ser seguido pelas Oficinas, pelo menos no seu trabalho simbólico.

Este é quase idêntico ao utilizado no Primeiro Grau, diferindo deste apenas no número de degraus representado, que passa de três a cinco, e na substituição do Delta Radiante pela Estrela Flamejante.

Neste Painel o número de Nós da Corda permanece doze, em alusão à universalidade da Cadeia de União da Maçonaria, e a Pedra Trabalhada continua a ser representada na sua forma Cúbica Pontiaguda.

Tratando-se o Rito Francês de um sistema no qual a construção assume um papel central, a Pedra Cúbica Pontiaguda é entendida como o fecho da abóbada da edificação do Templo, ou seja, a última obra que o Companheiro é chamado a executar antes de aceder à Mestria.

Destaca-se, ainda, que este Painel não é orientado, uma vez que neste Rito não existe sacralização ritual do espaço iniciático, sendo apenas convencionado o tempo mítico no qual decorrem os trabalhos.


Figura 7 – Quadro de Loja de Companheiro Rito Francês Groussier, Grande Orient de France, 2009

Em Inglaterra a utilização do Quadro de Loja só se fixou e, generalizou após o Ato de União de 1813, tendo os modelos ainda hoje utilizados nos Ritos Anglo-Saxónicos sido pintados por retratistas famosos, do princípio do séc. XIX, tais como John Harris (1791- 1873) ou Josiah Bowring (1757-1832).

Nestes painéis, que se caraterizam por serem desenhados em perspetiva, representando cenas alegóricas que exprimem o simbolismo do Grau, abundam as cores utilizadas. A respetiva interpretação consta dos discursos dos Rituais de alguns dos “Workings”, como é o caso do Emulation.


Figura 8 – Quadro de Loja de Companheiro, Emulation Ritual

Neste “Working”, o Quadro de Loja do Segundo Grau representa o percurso para a Câmara do Meio, na qual o Companheiro, nos Ritos Anglo-Saxónicos, recebe o seu salário.

Encontramos, pois, plasmada neste Painel a Escada em Espiral, que arranca do nível da base da Coluna B, e dá acesso a um piso superior.

As Colunas aparecem encimadas pelas duas Esferas, denotando a universalidade da Maçonaria.

Entre elas encontra-se representado o Rio Jordão, e a Espiga de Trigo, em alusão à Palavra de Passe do Grau.

A Escada compõe-se de três lanços, o primeiro com três degraus, o segundo com cinco, e o terceiro com sete ou mais degraus, referindo-se estes números aos Irmãos que tornam uma Loja Justa e Perfeita.

Estes números simbólicos de degraus reportam-se ainda, o três a Salomão, Hiram de Tiro, e Hiram Abiff, o cinco às Ordens de Arquitetura e, o sete às Artes Liberais.

Uma vez chegado à Câmara do Meio, o Companheiro é confrontado com a Letra “G”, que representa o Supremo Geómetra do Universo, “a quem nós temos todos de submeter, e devemos muito alegremente obedecer”, refletindo assim o texto do Ritual a linha Teísta do Rito.

No Rito de Adoção, através do qual começaram a ser iniciadas Mulheres, no século XVIII, o conteúdo simbólico baseia-se, essencialmente, em vários temas vétero­-testamentários.

Os Painéis do Segundo Grau deste Rito são, pois, substancialmente diferentes dos ligados aos Ritos, à época, exclusivamente masculinos, mais centrados na construção do Templo de Salomão. Os relativos à Maçonaria de Adoção exibem, assim, imagens alusivas aos temas centrais da Companheira Maçona, a tentação de Eva pela Serpente e, a Queda do Jardim do Éden.


Figura 9 – Quadro de Loja de Companheira, Rito de Adoção, Séc. XVIII

Por último assinale-se que os Quadros de Loja do Rito Escocês Retificado, por obedecerem a diretrizes constantes dos Rituais de Willermoz, de 1782, são os que refletem mais a prática do século XVIII.

Figura 10 – Quadro de Loja de Companheiro, RER, Séc. XX

O Painel de Loja de Companheiro do RER difere do de Aprendiz apenas pela exibição da letra B, evidenciada a meio do fuste da Coluna do Meio-Dia, apresentando em tudo o mais a mesma simbologia e distribuição.

Para além do Quadro de Loja, no RER existe, ainda, um Quadro do Grau, colocado em frente ao altar do Venerável.

O do Segundo Grau, subordina-se à divisa “Dirigit Obliqua”, encontrando-se nele representada uma Pedra Trabalhada, com geometria Cúbica, sobre a qual assenta um Esquadro.

O segundo Grau Retificado é, de longe, aquele que se afasta mais da Tradição Maçónica Francesa, no qual as viagens, reduzidas a três, perderam todo o seu significado operativo, centrando-se no despojamento dos Metais (Prata-Bronze-Ferro).

O Companheiro Retificado é instruído que o Homem deve desembaraçar-se das impurezas grosseiras, se pretende aceder à vida do Espírito, sendo este despojamento análogo ao trabalho sobre a Pedra.

A Pedra Polida do Quadro do Grau representa, pois, o Trabalho sobre si próprio já desenvolvido, sendo a verificação do mesmo, pelos Mestres, representada através do Esquadro.

Este Quadro é sempre desenhado em branco, sobre fundo negro, em analogia com o teor do Prologo do Evangelho de João, segundo o qual “A Luz brilha nas trevas mas as trevas não a compreenderam”.


Figura 11 – Quadro do Grau de Companheiro, RER, Séc. XX

Além de conter os símbolos do Grau, o Quadro de Loja de Companheiro é, por si só, um símbolo, que assume, no REAA, um papel indispensável, tal como já acontecia no Grau anterior.

Ao sobrepor-se, na Abertura dos Trabalhos, ao Painel de Loja de Aprendiz, reflete o princípio de que uma Loja em Segundo Grau assenta sobre uma Loja em Primeiro Grau, o que simboliza, também, que os Graus Maçónicos são cumulativos, não se deixando de trabalhar como Aprendiz, por se ter sido recebido como Companheiro.

Como “caixa de ferramentas” de suporte dos Trabalhos dos Companheiros, o Tapete de Loja reveste-se de uma riqueza pedagógica excecional, permitindo uma reflexão simbólica extremamente profícua, que possibilita a cada Irmão ir acrescentando o seu contributo às primeiras letras, que os Irmãos, por quem anteriormente circulou a palavra, lhe dão.

De tudo o atrás exposto, podemos concluir que o Grau de Companheiro do REAA, do qual o seu Quadro de Loja é um reflexo, foi ganhando, ao longo do tempo, uma identidade própria, encontrando-se-lhe associada uma grande riqueza simbólica, construída à custa de sincretismos de múltiplas proveniências e, de um elevado sentido Humanista, fruto de influências de diversas correntes filosóficas, algumas delas com sentidos bem antagónicos.

Tal configura, para o Companheiro Escocês atual, um percurso abrangente, que tanto religa à Coluna de Pitágoras como à de Hermes, assentando, pois, numa base de pensamento simultaneamente Racionalista, e Espiritualista.

Depois de ter trabalhado a Pedra Bruta, adquire, nesta etapa, as Ferramentas Simbólicas e, os Meios de Conhecimento, que lhe permitirão edificar o seu Templo e, tornar-se nessa Estrela, que ressalta a elevação do Humano a um Plano Superior, reunindo em si o que está em cima, ao que está em baixo, e flamejando em Amor por esta Humanidade, em cuja Grande Obra de Construção é, aqui e agora, chamado a ser Pedra Trabalhada.

Tal é a riqueza, e a importância, de que o Grau de Companheiro se reveste no Escocismo, refletindo a história das suas representações iconográficas uma mensagem fundamental, que permite tornar a nossa visão substituída, de Maçons contemporâneos, numa visão reencontrada, pela compreensão da cadeia iniciática subjacente, e do corpus simbólico-esotérico que a sustentou.

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Publicado em Academia.edu

Fonte: https://bibliot3ca.com

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