Páginas

PERGUNTAS & RESPOSTAS

O “Perguntas & Respostas” que durante anos foi publicado no JB News e aqui reproduzido, está agora no “Blog do Pedro Juk” . Para visita-lo ou tirar suas dúvidas clique http://pedro-juk.webnode.com/ ou http://pedro-juk.blogspot.com.br

domingo, 12 de junho de 2011

A MULHER NA MAÇONARIA

Ir∴ Anatoli Oliynik*

A base da Instituição maçônica é a fraternidade. Por isso reúne os homens em suas Lojas, nas quais reinam a moral, a tolerância e a solidariedade. Porém, a Maçonaria também dedica à família o melhor de suas atenções. E embora a mulher não participe diretamente dos trabalhos maçônicos, não se pode dizer que não lhes presta a sua colaboração, pois, enquanto os maridos se dedicam aos trabalhos da Loja, as esposas se constituem em guardiãs do lar e dos filhos.

Os Maçons tributam, portanto, à mulher não somente o respeito que ela merece como mãe, esposa, irmã e filha, mas também pela admiração a que tem direito por ser o ornamento da humanidade, na qual tem exercido um grande papel civilizador e propulsor do progresso dos povos.

A Maçonaria não admite, por tradição, as mulheres em suas Lojas como membros ativos. Mas, em muitas Lojas, têm a seu cargo os trabalhos assistenciais da Oficina , e espalham a seu redor o carinho, o amor ao próximo e todas as virtudes peregrinas que formam os dotes da sensibilidade feminina.

Giz G. Huard (L‟art Royal – p. 145) que no seu famoso discurso, datado de 21 de março de 1737, Ramsay justificou a exclusão das mulheres da Maçonaria, alegando que a sua presença poderia alterar a pureza dos costumes.

Sabemos, no entanto, que os motivos são muito diferentes e remontam aos alvores das sociedades humanas. No que se refere propriamente a instituição maçônica, convém ter na devida conta que, ao ser fundada a Maçonaria Moderna , as suas reuniões se realizavam em tavernas, as quais, por mais seletas que fossem, não eram locais muito apropriados para as senhoras. Além da tradição da arte dos pedreiros que excluía as mulheres da profissão, os clubes, então em grande voga, só admitiam homens que se reuniam entre si para tratar dos seus negócios. Os ingleses sempre gostaram dos clubs only for man (clubes somente para homens) e a maçonaria nasceu na Inglaterra.

Esta regra, contudo, não foi expressa em palavras precisas em nenhum dos “Antigos Deveres” (Old Charges), embora todos os regulamentos se refiram apenas a homens e muitos deles, de forma alguma, poderiam ser aplicados a mulheres. Os regulamentos corporativos proibiam o emprego das mulheres na indústria, com exceção da viúva do mestre da oficina, e mesmo de sua filha.

A exclusão da mulher, na Maçonaria operativa, prendia-se, muitas vezes, ao fato de a mulher operária daquela época, ganhando salário inferior ao homem, tornar-se uma concorrente tão poderosa quanto nefasta, ou pelo menos assim julgava uma sociedade que vivia atrofiada pela falta de mercados e de empregos.

Mas se a corporação deixava a mulher viúva ou filha órfã, do mestre, continuar o negócio-privilégio do marido para poder manter-se e aos filhos, não lhe permitia, contudo, aceitar aprendizes, por lhe faltarem conhecimentos profissionais para instruí-los devidamente.

Sabe-se, porém, por meio das relações do imposto de capitação, da existência de mulheres gesseiras, almofarizeiras , e mais raramente pedreiras. Não obstante, Bernard E. Jones fala de várias viúvas que faziam parte da Companhia de Maçons de Londres.

Somente em 1723, nas Constituições maçônicas é que, pela primeira vez, a palavra “mulher” foi introduzida na lei. Diz-se, e de maneira explicita, que “as pessoas admitidas como membros de uma Loja devem ser homens bons e verdadeiros... e não escravos, nem mulheres etc.”

Eliane Brault em La F.M. et l‟Émancip. des Femmes (A Franco- maçonaria e a emancipação da mulher) expõe os motivos dessa medida. Dizendo:

“Decretando desde a sua fundação que não aceitaria senão homens livres e de bons costumes, a Maçonaria afastava os mercenários (o termo proletário não existia ainda naquela época) como privados de liberdade, os assalariados dependendo de um patrão, os judeus que não tinham ainda conquistado os direitos de cidadãos, os comediantes e os artistas, que não eram considerados como de bons costumes, já que o acesso à igreja lhes era proibido; a fortiori era obrigada a afastar as mulheres, visto que as leis e os costumes as mantinham em estado de menoridade e de subordinação” (pp. 12-13).

Apesar da Maçonaria Moderna excluir terminantemente as mulheres de qualquer participação ativa na Loja, são conhecidas algumas narrativas de casos raros de mulheres que receberam o Primeiro Grau. As narrativas referem-se a:

1. Sra. Aldworth (Elisabeth Saint-Leger - 1693-1773) 
Conhecida na Inglaterra como a “Dama Maçom” teria sido iniciada, ainda solteira, por volta de 1710. Era filha do 1º Visconde de Doneraile, do condado de Cork, na Irlanda, casando- se, em 1713, com Richard Aldworth. Entretanto, não há evidências documentais de que a Sra. Aldworh tenha sido efetivamente iniciada no Primeiro Grau da Maçonaria.

2. Sra. Beaton: 
Escondeu-se uma tarde no forro de madeira de uma Loja de Norfolk, na Inglaterra, surpreendendo os segredos maçônicos. Foi então iniciada. Esta mulher, que era chamada “o Maçom”, guardou o segredo até a sua morte em 1802. Não existem evidências documentais que confirmem o fato narrado.

3. Madame de Xaintrailles:
Segundo a narrativa, que não cita a data em que se passou, o fato teria se passado na Loja des Frères Artistes , em França, presidida pelo Irmão Cuvelier de Trie, quando era celebrada uma Festa de Adoção.

“Antes da introdução dos membros femininos, os Irmãos abriam a Loja no primeiro grau". "Entre os visitantes que esperavam na antecâmara estava um jovem oficial em uniforme de cavalaria". "O Irmão encarregado do exame dos visitantes pediu-lhe o diploma ou o certificado (de maçom) para ser examinado pela Loja". "Após uma pequena hesitação (o oficial) entregou um papel dobrado que foi imediatamente encaminhado ao Orador da Loja, o qual, ao abri-lo, descobriu tratar-se de uma patente de ajudante de ordens, outorgada pelo Diretório (1795-1799) à esposa do General Xaintrailles, uma mulher que, com várias outras, naqueles tempos conturbados, tinha revestido o traje masculino, alcançando uma graduação militar pela espada".

Maçonaria Feminina ou de Adoção

O estado de inferioridade física da mulher foi o motivo de menoridade jurídica em que se achou relegada até este século. E também a razão por que não foi admitida, pelo menos oficialmente, na Maçonaria Operativa e, conseqüentemente, na Maçonaria Moderna, salvo uma ou outra exceção, que não fazem mais do que confirmar a regra geral.

As Constituições maçônicas de 1723 tornaram explicita a exclusão da mulher na Ordem maçônica. Esta regra transformada em Landmarque , é uma daquelas que são exigidas para a regularidade de uma Obediência maçônica e o subseqüente reconhecimento.

Não obstante, na sua Convenção de 1935, a Grande Loja de França encarregou o seu Conselho Federal de “submeter ao estudo das Lojas, de acordo com as Lojas de adoção, as modalidades permitindo a outorga a essas Lojas da independência ou da autonomia, mesmo obediencial, que lhes permitiria, em condições novas de administração, prosseguir, do ponto de vista feminino, a obra de fraternidade e de tolerância da Maçonaria masculina”.

Isto significa, do ponto de vista daquela Potência francesa, que a tutela masculina não se justificava mais, daí a necessidade de adaptar as Lojas femininas. Porém a Guerra de 1939-1945 atrasou a realização do projeto. Não obstante, na Convenção de 1945 da Grande Loja de França, diz Alec Mellor, o Grão-Mestre Michel Dumesnil de Gramont voltou ao assunto nos seguintes termos:

“Desejaria chamar a vossa atenção sobre a participação da mulher na obra maçônica e, por conseguinte, sobre as Lojas ditas de adoção. Hoje, a emancipação da mulher é, no domínio político, plenamente realizada. É de se pensar que o será, brevemente, no domínio jurídico. – Seria realmente um paradoxo ofensivo de ver a Maçonaria, inteiramente voltada para o progresso, permanecer como último refúgio da concepção antiquada, visando manter a mulher num estado humilhante de menoridade. – Assim, quando as nossas Irmãs manifestaram a intenção muito natural de reconstituir as suas Oficinas, decidimos por um termo a uma fórmula já caduca para chegar enfim ao que devia ser a conseqüência lógica do esforço pretendido desde há quarenta anos e mais nas nossas Lojas de Adoção, quer dizer à criação, em França, como isto existe na Inglaterra, de uma Maçonaria feminina autônoma.

As nossas Irmãs asseguraram-nos, aliás, que se consideravam sempre como permanecendo sob o patrocínio espiritual da Grande Loja de França e que a sua atividade se inspirava constantemente nos princípios da Maçonaria escocesa.

Quanto a nós, não podemos esquecer que, durante longos anos, as Irmãs, que uma evolução natural terá conduzido à independência, contribuíram para a ação e a prosperidade da Grande Loja.

Isto nos cria para com elas deveres que não poderíamos esquecer e que se devem traduzir por um concurso material e moral tão extenso quanto for necessário, para permitir-lhes organizar a primeira Maçonaria feminina autônoma que a França terá conhecido.

Esperamos, meus Irmãos, que haveis de querer consagrar com a vossa aprovação um ato que pode ter, no porvir, as mais importantes e as mais felizes conseqüências....” (pp. 194-195).

E assim, em 17 de setembro de 1945, a Grande Loja de França ab-rogava os textos regendo a Maçonaria de adoção, abolia esta última definitivamente e em 21 de outubro de 1945 uma nova obediência, a União Maçônica Feminina, realizava a sua primeira assembléia geral. Em 1952, esta obediência passou a denominar- se Grande Loja Feminina de França e em 1959 adotou o Ritual masculino do Rito Escocês Antigo e Aceito, ligeiramente modificado em alguns pontos e detalhes. Em 1963, Alex Mellor (op. Cit.) escrevia ainda:

“A jovem obediência conta atualmente com cerca de vinte Lojas e um pouco mais de 50O membros. A sua orientação difere da do Direito Humano no fato de ela preferir nitidamente as questões de simbolismo, quer dizer as verdadeiras questões maçônicas, às questões de política, mesmo qualificada de „sociais‟”.

“Os Maçons das outras obediências são admitidos como „visitantes‟, incluídos os do Direito Humano e as Irmãs do Direito Humano também, liberalismo que alguns acham excessivo por duas razões: a primeira é que os Maçons do Direito Humano não são admitidos como visitantes nas Lojas da Grande Loja de França, e que a unidade do Escocesismo teria a ganhar se a Grande Loja Feminina de França não desse a esta última uma espécie de reprovação pelo menos aparente". "A segunda é que o Direito Humano não admite como visitantes as Irmãs da Grande Loja Feminina de França, tendo como motivo que esta última seria „irregular‟, crítica que, por certo, não falta de audácia e mesmo de comicidade para quem compara as origens do Direito Humano àquela diretamente saída da Grande Loja de França!"

A Grande Loja Feminina de França compreende certos elementos de valor e várias mulheres célebres.

Falta-lhe resolver um problema difícil: o dos Altos Graus. Até aqui ela só pratica os graus simbólicos, e somente o Supremo Conselho do Rito Escocês poderia permitir às mulheres ter acesso aos graus superiores. A questão não se apresentou ainda, segundo o nosso conhecimento pelo menos. Não é querer ser profeta pelo fato de conjeturar que a Grande Loja Feminina de França permanecerá uma obediência simbólica” (pp. 195-196).

Em 1965, em razão de suas relações cada vez mais íntima com o Grande Oriente de França, a Grande Loja caiu na irregularidade, produzindo-se então uma cisão. O Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito reconheceu a Grande Loja Nacional Francesa como Obediência legitima, para lá se retirando com numerosas Oficinas que o seguiram, depois de proibir à Grande Loja de França que se considerasse, no futuro, escocesa.

O progresso, em nossos dias, estabeleceu, entre homens e mulheres, igualdade de direitos sociais, políticos e jurídicos. Poderá este novo status influir para a reconsideração de uma posição à qual faltam as bases tradicionais que colocavam a mulher sob a dependência e tutela do homem?

Maçonaria Mista ou Comaçonaria

Denominação dada a obediências formadas por Lojas nas quais são admitidas as mulheres, em pé de igualdade com os homens, não sendo por isso reconhecidas pela Maçonaria regular.

A Maçonaria Mista teve início em 1882, com a iniciação de Marie Deraismes, na Loja “Livres Pensadores”, jurisdicionada à Grande Loja Simbólica Escocesa de França, que não reconheceu aquela iniciação e a declarou nula e ilegal e demoliu a Loja.

O Dr. Georges Martin, Venerável da Loja “La Jerusalém Ecossaise”, apresentou, em 1890, uma proposta à Grande Loja para a admissão das mulheres na Maçonaria, que não foi tomada em consideração. Em vista disso, o Dr. George Martin e Marie Deraismes fundaram. Em 1893, a Grande Loja Simbólica Escocesa Mista de França “O Direito Humano”, que não foi reconhecida pelas Obediências francesas “masculinas”.

Em 1903, a Grande Loja de França reconheceu a qualidade maçônica das Obediências Mistas, submetendo, porém, os seus membros masculinos à admissão e regularização, após expedição de sindicâncias.

Em 1920, o Grande Oriente de França reconheceu o “Direito Humano”, havendo troca de Garantes de Amizade. Não admitiu, porém, as Irmãs em seus Templos.

A cooperação da mulher nos trabalhos maçônicos tem sido cogitada pelas Lojas de vários países, todavia as opiniões divergem a esse respeito.

Com o propósito de dar consistência ao desejo das Oficinas de ver os membros femininos das famílias de seus obreiros ocupar- se do setor filantrópico das Lojas, a Constituição de 1967, do Grande Oriente do Brasil criava a “Fraternidade Feminina Cruzeiro do Sul”, entidade paramaçônica sem caráter iniciático, constituída das esposas, das ascendentes, descendentes e colaterais e afins de Maçons regulares, com o fim de prestar os serviços de filantropia, educação e cultura, preconizada pelo Grande Oriente do Brasil.

No Paraná a representante (Presidente) da “Fraternidade Feminina Cruzeiro do Sul” é a nossa cunhada Sarah Gennari.

Com a permissão do meu Confrade na Academia Paranaense de Letras Maçônicas, Irmão Frederico Guilherme Costa, reproduzo a seguir o seu artigo, denominado “O Ideário da Maçonaria e as suas Preocupações com a Questão da Sexualidade”. Trata-se de uma posição particular do Irmão Frederico e que não expressa o pensamento da maioria dos maçons brasileiros, mas que merece a atenção dos maçons e das cunhadas, levando-os a uma profunda reflexão.

O Ideário da Maçonaria e as suas Preocupações com a Questão da Sexualidade.

“Falar sobre a preocupação da Maçonaria com a questão da sexualidade é tratar do assunto da mulher na Instituição, o que não é tarefa muito confortável". "Em l774 temos um rito ou Maçonaria de Adoção, destinado às mulheres. Esta iniciativa coube ao Grande Oriente da França que exigiu subordinação a uma Loja regular masculina. Gervásio de Figueiredo , especialista no assunto, nos fala dos seguintes graus:

l - No Sistema Francês e Escocês, cinco: Aprendiz, Companheira, Mestra Perfeita e Soberana Ilustre Escocesa.

2 - No Sistema de Menfis, cinco: Aprendiz, Velada, Mestra, Mestra Perfeita e Sublime Eleita.

3 - Na Maçonaria Egípcia de Cagliostro, três: Aprendiz, Companheira e Mestra Egípcia.

4 - Na Comaçonaria, cujo lema é o “Direito Humano”, são as mulheres admitidas em perfeita igualdade com os homens, tanto nos graus como nas funções, tal qual foram, segundo acreditam, nos Antigos Mistérios do Egito e da Grécia.

Observamos que uma forte dose de misticismo está presente no único sistema que existe até hoje: o “Direito Humano”, criado em l893, fruto de uma importante reivindicação feminina visando a igualdade civil e política.

Tentando justificar o impedimento da mulher na Maçonaria dita regular, os maçons tradicionais invocam o item dos OITO PONTOS exigido pela Grande Loja Unida da Inglaterra para reconhecer uma Obediência Maçônica:

“Os membros da Grande Loja e das Lojas individuais devem ser, única e exclusivamente homens. Nenhuma Grande Loja poderá manter relações com Lojas que admitam mulheres como membros”.

O maçom francês e católico Alec Mellor procura justificar o impedimento por razões históricas, psicológicas e morais. Tenta demonstrar que na Maçonaria dita operativa não era possível existirem pedreiras, o que é verdadeiro. Com acerto declara que quando da fundação da Moderna Maçonaria, o Club maçônico londrino, a exemplo dos tradicionais clubes de homens, não aceitavam a iniciação feminina. Cabe a transcrição do autor citado:

“Na época da Franco-Maçonaria operativa, por definição, não era possível existirem 'pedreiras'. Quando, no século XVIII, fundaram-se as primeiras lojas especulativas, o seu modelo foi o desta instituição tipicamente britânica, o Club, essencialmente masculinos. Por razões psicológicas e morais: a pretensa inaptidão das mulheres para guardarem segredo é um absurdo puro e simples, mas o mesmo não ocorre com a sua dificuldade de admitirem a igualdade social entre elas, nem com a sua sensibilidade mais viva do que a dos homens. Em um mundo fechado, onde a sensibilidade se torna mais arrebatada, a vivacidade de certas reações femininas decuplicaria, prejudicando o espírito fraternal. Enfatizou-se igualmente a hostilidade muito fácil que as mulheres nutrem umas pelas outras, sobretudo se são de idades diferentes, assim como o perigo que o espírito fraterno correria de eventuais adultérios e também de brigas entre homens tão caras às coquetes”

Mesmo admitindo que a pretensa inaptidão das mulheres para guardarem segredo é um absurdo puro e simples, Mellor tropeça no seu entendimento psicológico quando entende que as mulheres não admitem a igualdade social entre elas e que a vivacidade de certas reações femininas decuplicaria, prejudicando o espírito fraternal ao lado de eventuais adultérios. São argumentos falhos, machistas. Como impedir uma cidadã que elege e é eleita, o ingresso numa sociedade que defende a liberdade e a igualdade? A única resposta possível se encontra no “espírito” do clube londrino, e, não nas absurdas considerações morais e psicológicas, pois para que exista uma adúltera é óbvio que deve, igualmente, existir um adúltero.

Enquanto este “espírito” londrino existir e as Obediências reconhecidas pela Grande Loja Unida da Inglaterra insistirem na necessária regularidade, só restará o protesto e a incompreensão dos maçons que vêem na mulher algo mais do que o simples e agradável prazer sexual.

Isolada, a mulher maçona encontra-se no espaço excludente reatualizando-se a cartografia aristotélica dentro da ética da natureza: “os homens são desiguais pela própria natureza humana”. Embora tratando com carinho a mulher, o maçom, dentro de um processo de longa duração, não quer inseri-la no espaço da produtividade, da eficácia. Excluída dos Templos fica, a “cunhada”, no espaço próprio das reprodutoras dos “sobrinhos”.

A Maçonaria, desde o seu início regular, recebeu nos seus quadros uma quantidade significativa de conservadores marcados pelo positivismo do século XIX onde “pensar a sexualidade” não é possível. Muito própria da época, a idéia conservadora não deve ser entendida como uma crítica à Maçonaria dos oitocentos, mas um perfeito enquadramento da sua doutrina com a realidade política praticada na Europa. Todavia permanece o vazio frustrante naquilo que deveria ser o desenvolvimento das idéias maçônicas. Com relação a questão da sexualidade, não seria temerário afirmar que a Maçonaria brasileira não tem tradições intelectuais, apesar de muitos dos seus ilustrados membros, no rigoroso sentido metodológico. Não se consegue saber o que pensa a Maçonaria sobre a sexualidade. Portanto será mais sábio, por enquanto, não falarmos sobre o tema; antes é preciso desembaraçar a Maçonaria das peias do autoritarismo.

A transposição de forma de comportamento social da Europa para o Brasil seria a explicação mais correta às dificuldades opostas à formação de um pensamento maçônico brasileiro na direção de uma discussão mínima sobre a questão da sexualidade, dos excluídos, da mulher, do homossexual, para ficarmos apenas nestes. Fundamentalmente o universo maçônico brasileiro mantém-se coeso em torno do princípio burguês com relação aos excluídos, apesar de alguns maçons se considerarem “liberais” e a favor do ingresso da mulher na Maçonaria, mas somente esta “excluída” eventualmente “poderia” interpretar, “um dia”, a doutrina e as práticas ritualísticas que sempre estiveram sujeitas à localização social dos maçons e, neste espaço, não se discute sexualidade. Compreendem-se, assim, os cismas a partir de uma perspectiva de mudança e ruptura com o modelo existente.”

*Escritor, Pesquisador Maçônico, Palestrante, Membro da Academia de Cultura de Curitiba, Benemérito do Grande Oriente do Brasil e Benemérito da Maçonaria Catarinense. É Obreiro da Loja "Laelia Purpurata" nr. 3496 de Camboriú GOB/SC – Rito York.

Fonte: JBNews - Informativo nº 287 - 11.06.2011

A FORÇA DO RIO E O MOVIMENTO DAS ÁGUAS

Ir∴ Luiz Felipe Brito 

Parte 2

A energia é conduzida de tal forma a gerar movimentos específicos.

Uma eficiência na condução de energia garantirá uma eficiência maior com menor dissipação.

Energia mal conduzida irá gerar retenção com aumento da tensão.

Poderíamos fazer um paralelo entre nossa mente e o funcionamento do universo?

Poderíamos dizer que a ansiedade seria decorrente de um nó energético a gerar tensão, decorrente de uma condução inadequada de energia?

Poderíamos dizer que o sofrimento seria equivalente ao mal funcionamento decorrente da perda de energia? Como um fio mal condutor que gera calor? Sofrimento seria uma conseqüência direta da dissipação de energia?

No organismo cada órgão irá conduzir a energia de forma a garantir funções ou movimentos determinados. Peças especificamente planejadas pela natureza para garantir a continuidade da pesada complexidade.

Na mente poderíamos dizer que os pensamentos e sentimentos são peças condutoras de energia a garantir e sustentar nossa integridade consciencial?

Se assim o for poderíamos conjecturar que aquilo efetuado fora teria repercussão dentro.

Se por exemplo ultrapassarmos um sinal fechado, poderemos não ser flagrados pela polícia, mas os sentimentos e pensamentos gerados serão peças defeituosas a conduzir de forma pouco eficiente nossa energia mental.

Inconscientemente sentiremos uma sensação natural de mal estar e de ansiedade. Nossos pensamentos e sentimentos defeituosos constituídos no momento do ato impedirão uma sensação interior de bem estar ou de eficiente equilíbrio funcional.

O que fazemos fora repercutirá dentro.

Querendo ou não nossas ações têm repercussão direta e simétrica em nossa harmonia e saúde mental.

A moralidade afinal faria sentido. Não seria apenas uma maquiagem de cinismo para uma sociedade hipócrita.

Quanto maior o desvio cometido maiores seriam as conseqüências internas, podendo levar até a fragmentação total, como a loucura.

Existiria uma moral natural afinal.

Pessoas que ostentem uma falsa moralidade sempre serão infelizes no final.

Peças de alta tecnologia fornecem possibilidades múltiplas à condução da energia, com maiores possibilidades adaptativas permitindo um fluxo contínuo e estável.

Pensamentos e sentimentos densos fazem o mesmo.

As virtudes seriam estados mentais. Espaços de possibilidade abertos e mantidos permitindo uma flexibilidade no conduzir da energia propiciando uma fácil solução de problemas e o continuar eficiente do fluxo.

Problemas são lacunas de continuidade. Deficiência de interação eficiente.

Os espaços são abertos pela força da vontade direcionada pela seta da sabedoria, haurida pela forja da experiência.

Depois que alguns estados mentais são estabelecidos criam adaptabilidade perante as necessidades interativas, porém com o tempo se cristalizam em hábitos, se faz necessária demolição e reconstrução para que novos ambientes mentais sejam construídos, frente agora a necessidades mais complexas de interação.

O maçom se reconstrói a cada dia, trocando espaços caducos limitantes por espaços mais adequados ao seu estado de evolução contínua.

Fonte: JBNews - Informativo nº 288 - 12.06.2011

sábado, 11 de junho de 2011

HERANÇA EGÍPCIA NA MAÇONARIA

"A Ciência Maçônica e as Antigas Civilizações" 1a. edição: Editora Resenha Universitária - S. Paulo - 1977 2a. edição: Traço Editora - S. Paulo - 1980. A obra trata da influência de antigas civilizações para a concretização da doutrina maçônica e de seu ritualismo.

José Castellani

Apenas começamos a conhecer, verdadeiramente, o Egito, a partir de 3200 a.C., não havendo, entretanto, qualquer solução de continuidade entre o período Neolítico da Pré-História e a fase histórica, pois o país revela-se, ao mesmo tempo, antigo e contínuo.

Antes do V milênio, homens vindos do Saara, que, rapidamente, se ressecava, foram se estabelecendo em torno do rio Nilo, nesse verdadeiro oásis, em pleno clima saariano, fértil e cultivável, graças às inundações do rio, regulares e extraordinariamente ricas em húmus. A própria configuração da região tornava precária uma unidade territorial e, assim, havia, inicialmente, uma divisão natural entre o Alto Egito, cercado pelos rebordos dos desertos da Líbia e da Arábia, e o Baixo Egito, formado pelo delta do Nilo, um largo leque, repleto de charcos, que tornavam, muitas vezes, difícil a circulação.

Após um relativamente curto período proto-histórico, assinalado pela predominância de povos asiáticos --- civilizações de El-Obeid e Djendet-Nache, da Mesopotâmia --- vindos pelo istmo de Pelúsio, uma revolução nacional realizou, do sul para o norte, a unificação do Egito, fundindo, em uma só, as duas coroas: a vermelha, do Baixo Egito, e a branca, do Alto Egito. Iniciou-se, então, a primeira dinastia do chamado Antigo Império, sendo, a capital do país, situada em Tinis, com o rei Menés, também chamado de Manu. A partir da III Dinastia, a capital transfere-se para Mênfis, junto ao Delta do Nilo. Assim, as duas primeiras dinastias foram chamadas de tinitas e as restantes, do Antigo Império, de menfitas.

É durante os reinado da III, IV e V dinastias --- correspondente, no tempo, ao período acadiano da Mesopotâmia, que sucedeu ao período do povo sumeriano, o mais antigo povo civilizado do mundo --- que se encontra o máximo apogeu do Antigo Império. Na III dinastia, o maior rei foi Djeser, assessorado por seu ministro Imotep, que, mais tarde, seria divinizado e assimilado a Esculápio, na época lágida da Grécia arcaica. Na IV dinastia encontramos os construtores de pirâmides: Khufu, Khafra e Menkhaura, chamados pelos gregos, respectivamente, de Quéops, Quéfren e Miquerinos. A V dinastia assinala o início da decadência do Antigo Império, já que, nele, encontra-se o início da teocracia, implantada pelos sacerdotes da cidade de Heliópolis --- nome dado pelos gregos e que significa "cidade do Sol" --- seguidores fanáticos do deus Rá, que suplanta, politicamente, o deus Ftá, de Mênfis. A decadência do Antigo Império iria até à X dinastia, por volta de 2250 a.C., quando há o esfacelamento do Egito e, posteriormente, a supremacia da cidade de Tebas, iniciando-se o Médio Império, sob a direção dos faraós tebanos, dos quais os maiores foram os da XII dinastia, a dos Amenemat e dos Senusret.

O fim do Médio Império é assinalado pela invasão dos hicsos, povo de origem semita, o qual seria responsável pela ida dos hebreus ao Egito. Ao fim do domínio dos hicsos, que foram suplantados pelos faraós tebanos, inicia-se o Novo Império, cujos principais soberanos foram Tutmés III, Ramsés II e Amenófis IV. Este último, que reinou de 1370 a 1352 a.C., passou à História como o soberano que ousou quebrar o excessivo poder dos sacerdotes de Ámon, tornando-se um místico do Sol, simbolizado por seu disco (Áton); mudou o seu nome para Aquenáton e mudou a sede do reino de Tebas para Aquetáton ("horizonte do disco"), conhecida pelo nome de Tel-el-Amarna, tentando tornar universal a sua religião solar monoteísta. Seu sucessor, contudo, ainda um menino, pressionado pelo grande poderio do clero egípcio, voltou a Tebas e mudou o seu nome, de Tutancáton para Tutancámon, restaurando o culto de Ámon e satisfazendo aso verdadeiros senhores do Egito.

Posteriormente, o país seria esfacelado pelas grandes invasões de seu território pelos assírios, persas, macedônios e, finalmente, pelos romanos, quando deixaria de existir como unidade nacional.

Esses rápidos traços históricos mostram uma civilização evoluída, propensa a obras monumentais --- não só as pirâmides, mas também os templos e monumentos funerários de Tebas, Carnac e do Vale dos Reis --- mas totalmente dominada pela classe religiosa e pela propensão à magia. Devido a isso, é discutível a contribuição egípcia no terreno científico e intelectual, embora alguns eruditos de boa-fé e muitos pseudo cientistas tenham acreditado perceber, na construção das pirâmides, as provas de conhecimentos geométricos e astronômicos extraordinários. Na realidade, nenhuma verdadeira ciência poderia ter sido concebida por tais espíritos demasiadamente religiosos e empíricos, como, de resto, aconteceu com todo o Oriente antigo, permanecendo com os gregos o galardão de terem chegado à ciência pura, teórica e desinteressada, pela total desvinculação das práticas de magia e das pressões de uma sociedade teocrática.

Em relação à Maçonaria, autores ocultistas, ou mistificadores, tomam, como base de suas teorias, a Grande Pirâmide, indo contra a conclusão histórica de que ela seria um monumento funerário e afirmando que sua finalidade era abrigar membros de ordens iniciáticas secretas. A Grande Pirâmide, esse enorme monumento de pedras superpostas, tem, na realidade, muito pouco espaço vazio, ou seja: a Câmara do Rei, uma sala de 50 metros quadrados ; a Câmara da Rainha, no corpo da pirâmide e menor do que a do rei ; a Grande Galeria, um corredor de acesso à Câmara do Rei ; condutos de ventilação e, ainda, uma câmara subterrânea, fora do corpo da pirâmide. Tanto esta câmara, quanto a, erradamente, chamada Câmara da Rainha, eram locais provisórios, para a colocação do corpo do faraó, caso ele viesse a falecer antes da construção total do monumento. Na Câmara do Rei foi encontrado um sarcófago de granito vermelho, sem inscrições e sem tampa ; e suas paredes também não mostravam nenhuma inscrição, ou desenho. Além das duas câmaras serem bastante diminutas, em relação ao enorme corpo da pirâmide, foram encontradas, sobre a Câmara do Rei, cinco salas bastante baixas e com seis metros de largura, que serviriam de amortecedores para aliviar o teto da Câmara da tremenda pressão exercida por toneladas de pedra e, também, para que, em caso de algum cataclismo, que despedaçasse a cúpula da pirâmide, as pedras não caíssem no interior da Câmara. Isso mostra a preocupação com o conteúdo da Câmara do Rei, que só poderia ser o corpo do grande governante, dado o costume egípcio de proteger bastante os despojos de seus mortos ilustres, devido à crença na sobrevivência integral, ou seja, de corpo e de espírito.

Todavia, aqueles que querem fazer crer que a Grande Pirâmide era usada para a prática de ritos iniciáticos (Leadbeater, Paul Brunton e outros), aproveitam-se do fato de o sarcófago da Câmara do Rei encontrar-se vazio e de não existirem as inscrições encontradas em outros túmulo, para contrariar e contestar a finalidade fúnebre da construção. Ora, nenhum outro túmulo faraônico, à exceção do de Tutancámon, foi encontrado intacto, pois, além dos roubos dos objetos de ouro e pedras preciosas, os próprios corpos mumificados foram retirados dos sarcófagos. Além disso, o hábito de encher as câmaras mortuárias com tesouros e objetos de uso pessoal do morto e de preencher as paredes com inscrições e pinturas, é posterior à IV dinastia do Antigo Império.

Os condutos para ventilação, encontrados nas câmaras, comunicando-as com o exterior, também serviram de base para os especuladores, para contestar a finalidade fúnebre da construção. "Os mortos não respiram, logo não precisariam de ar", alegam eles. Teoria de muita má-fé, esta, pois os operários que trabalharam nas câmaras, durante a construção, necessitavam de ar, já que, sob aqueles imensos blocos de pedra, o fluido vital era bastante rarefeito. Além disso, esquecem-se, os mistificadores, de avisar, aos seus leitores, que, quando os homens do califa Al Mamun (filho de Harun Al Rachid), no ano 820 da era atual, conseguiram entrar na Grande Pirâmide --- ninguém havia conseguido antes --- encontraram os condutos de ar das câmaras intencionalmente obstruídos por pequenas pedras ali colocadas e não caídas ocasionalmente, o que demonstra que eles existiam para os vivos e foram obstruídos quando as câmaras ficaram prontas para a sua finalidade específica.

Também, se lembrarmos que os chamados Mistérios Egípcios eram ritos impregnados de magia, praticados pelos sacerdotes de Ámon-Rá --- culto sincrético, que substituiu o culto aos diversos deuses egípcios, um para cada cidade --- e se lembrarmos que a teocracia só dominou o Egito a partir da V dinastia, enquanto as pirâmides foram construídas durante a IV, fica claro que não se destinaria, nessa época, o exíguo espaço livre da Grande Pirâmide para os culto dos mistérios.

Em relação à Maçonaria, há autores que defendem sua origem egípcia, dizendo que as práticas hebraicas, hoje presentes em alguns ritos maçônicos, foram transmitidas aos hebreus por Moisés, que teria sido iniciado nos Mistérios Egípcios. É provável que Moisés, criado por família nobre, depois de ter sido achado boiando, dentro de um cesto, no rio, tenha tido contato com a classe sacerdotal, aprendendo os rudimentos dos ritos mágicos do clero egípcio; todavia, sendo estrangeiro, é pouco provável que tenha se aprofundado nesses ritos, pois os sacerdotes não permtiriam, como não permitiram a outros estrangeiros, como Platão, Pitágoras, Apuleio e Heródoto, que só tiveram acesso à parte mais superficial dos ritos, os Mistérios Menores. Esclareça- se que o próprio nome de Moisés mostra a sua obscura origem : em egípcio "m´ses", ou "moses", significava filho; assim, ao designar os nomes, a palavra vinha sempre junta com outra, designando a filiação, como é o caso dos nomes de diversos faraós, que se apresentavam como filhos de um deus, como, por exemplo, Ramsés, ou Ramoses (filho de Rá), e Tutmés, ou Tutmoses (filho de Toth); o grande condutor do povo hebreu era apenas "M´ses" (filho).

São poucas as influências da antiga civilização egípcia na Maçonaria atual --- foi a partir do século XVIII que os símbolos alusivos às antigas civilizações forem sendo introduzidos --- podendo ser citadas:

1. As colunas do pórtico do templo, que embora baseadas naquelas existentes no templo de Jerusalém, são egípcias, desproporcionais, e mostrando, estilizadamente, as duas plantas sagradas do Antigo Egito: folhas de papiro e flores de lótus. São colunas, como as egípcias, sem função de sustentação, como as colunas gregas, cuja função --- principalmente no caso da coluna dórica --- era suportar o peso de um entablamento. Nesse ponto, os hebreus imitaram os egípcios, ao colocar, no pórtico do templo de Jerusalém, colunas livres, sem função de sustentação e erigidas no sentido de homenagear ancestrais (como é o caso de Boaz e Iachin, ancestrais hebreus).

2. A abóbada estrelada, encontrada em muitos templos maçônicos, tem origem na arte templária do Antigo Egito. Os templos egípcios representavam a Terra, da qual cresciam as colunas (dezenas e centenas delas), como gigantescos papiros, em direção ao céu estrelado. Em Luxor ainda existem templos relativamente bem conservados, onde pode ser vista essa decoração estelar.

3. A lenda de Osíris (o Sol) e de Ísis (a Lua) também deve ser considerada como a precursora da lenda do artífice Hiram Abi, ensinada no terceiro grau maçônico. De acordo com a lenda egípcia --- em rápidas pinceladas --- Osíris, morto por seu irmão Seti, teve o seu corpo encontrado por Ísis, que o escondeu. Seti, ou Tifão, encontrando corpo, esquartejou-o e o dividiu em quatorze pedaços, que foram espalhados pelo Egito. O corpo, todavia, foi reconstituído por Ísis e, redivivo, passou a reinar, tronando-se o deus e o juiz do reino dos mortos, enquanto seu filho Hórus lutava com Seti e o abatia. Essa lenda, inclusive, não é totalmente egípcia, pois, com pequenas variações, fazia parte do patrimônio místico de todos os povos da Antigüidade, como um mito solar ; na realidade, Osíris (o Sol), é morto por Seti (as trevas) no 17º dia do mês egípcio Hator, que marca o início do inverno; e revive no início do verão.

Fonte: JBNews - Informativo nº 287 - 11.06.2011

sexta-feira, 10 de junho de 2011

INSTRUÇÃO DA INSTRUÇÃO

José Eduardo Stamato* 

Instrução – ação de instruir, ensino; lição; explicação ou esclarecimentos dados para uso especial; apontamento, regimento, ordem, explicação que se dá a alguém encarregado de alguma função.

Instruir – ensinar, dar instrução a, doutrinar; informar, esclarecer; adquirir conhecimentos novos, desenvolver os conhecimentos adquiridos; tornar-se sabedor.

Quando falamos em instrução na Ordem Maçônica, o que compreendemos como instrução? Considero como uma diretriz importante e fundamental para que tenhamos um rumo temporário para nossos estudos. Temporário, pois, a compreensão pessoal do que estudamos ao longo dos graus, a nossa experiência pelo tempo de Loja e o que entendemos com isso, acabamos por elaborar nosso próprio entendimento sobre os conhecimentos recebidos.

Nossa instrução pode ser histórica, repleta de dados armazenados ao longo do tempo e que estão à disposição através da literatura histórica concernente ao que desejamos, abrangendo a própria Loja, outras Lojas, Orientes e ou literatura maçônica internacional. O desenrolar maçônico ao longo do tempo firma suas origens pelos dados compilados através dos anais das diversas Lojas espalhadas pelo mundo, que por sua vez armazenou informações de um passado em que as descobertas eram resguardadas como segredos que foram repassados com interessantes anotações no contexto temporal dentro dos diversos períodos históricos. É fonte de conhecimento inesgotável e interessante. Proporciona o conhecimento da luta da Maçonaria por um mundo melhor e mais esclarecido.

A instrução ritualística que trata sempre dos procedimentos dinâmicos em que trabalhamos, visa aprofundar a compreensão desses procedimentos que produzem determinadas ações e alterando determinados comportamentos. Os ritos pouco se alteraram ao longo do tempo. São sempre adequados às suas próprias épocas e sofrem pequenas alterações ocasionadas pela dinâmica do tempo e das consciências (às vezes por conveniência). Só que observamos que essas alterações podem produzir um desvio do sentido original quando de sua criação, pois, na época da sua elaboração, procuraram representar e firmar um conceito importante para o homem de sua época preservando-o para o futuro. Não podem ser desprezados ou alterados sem que as razões que provocaram essa criação possam ser compreendidas em sua integridade. Faz-se necessário a prudência ao rever nossos rituais.

A instrução que visa o comportamento moral (1) procura ensinar, lembrar, ou reforçar toda aquela experiência milenar que a humanidade vem acumulando em forma de normas e preceitos eficazes para a realização da pessoa humana em busca da perfeição. Podemos dizer que são as regras da convivência social. Revela-se como uma ciência normativa, não especulativa.

Devemos lembrar que todos os membros de nossa Ordem são cidadãos consolidados numa sociedade em constante mutação e reorganização, portando educação e comportamento diferentes e por vezes conflitantes que necessita desbaste e melhor adequação, assim sendo, toda liberdade usada por qualquer Ir∴ como forma de ação ou no nível da consciência postula um risco pessoal implicando na responsabilidade moral de seu uso.

A instrução sobre nossa simbologia (2) se reveste de grande importância para o maçom, pois, o símbolo tem a função de provocar certos estados de consciência intelectuais e emotivos proporcionando uma compreensão e significado mais profundo do objeto observado, sedimentando conceitos abstratos através de uma simples visualização. O símbolo se manifesta e se revela no interior de cada um e sua riqueza transparece pelo significado que ele representa para aquele que o procura compreender, pois, cada um enriquece o conceito de determinado símbolo com sua experiência de vida, revelando assim múltiplos significados de um mesmo conteúdo ampliando seu horizonte de conhecimento. O símbolo transcende o conhecimento objetivo e histórico formal, proporcionando uma visão psíquica que pode ultrapassar o espaço-tempo.

Avançando sobre o mais profundo objetivo de nossa ordem, deparamos com a instrução espiritual (3). Podemos falar em instrução espiritual? Sim, precisamos nos preparar e enfrentar esse desafio que tem dificultado o processo maçônico que trabalha com o ser humano e a humanidade como um todo.

Temos na Constituição do GOB, Art.1º, parágrafo I – “proclama a prevalência do espírito sobre a matéria” e no Art.2º como 1º postulado de nossa Instituição “a existência de um princípio criador: o Grande Arquiteto do Universo”, e mais, no RGF, Capítulo I falando da Admissão, em seu Art.1º item IX: “aceitar a existência de um Princípio Criador” e no seu Art.2º: “a falta de qualquer dos requisitos do artigo anterior, ou sua insuficiência, impede a admissão”. O próprio texto de nossos regulamentam enfatizam o caráter espiritual do homem, e como poderemos espiritualizar o homem sem dar a ele a consciência de sua natureza espiritual?

Assim exposto, será necessário abordar o horizonte espiritual do ser humano que não deve e não pode ser confundido com as práticas abordadas pelos sistemas religiosos que se apresentam como dogmas indiscutíveis. Ou essas obrigações são meras formalidades, com as quais não devemos nos preocupar? Mesmo com os dogmas ou as regras de comportamento como as constituições que defendem o Homem em seu caminho evolutivo dentro ou fora de nossa Ordem, à orientação que deve prevalecer é a reflexão pelo conhecimento, pois, as circunstâncias estão em constante mutação acompanhando a dinâmica de cada período. E mais, a ciência e a tecnologia com seus avanços na pesquisa fundamentada têm demonstrado e firmado que muito do que era tido como fantasia, crendice ou superstição tem uma base científica e como toda organização humana é feita de convenções, e quando estas são contrariadas, surge o inevitável conflito que pode ser contornado e ser recuperada a harmonia quando as consciências são elevadas.

Os homens - a Humanidade - têm melhorado suas relações sociais e progredido na relação ao respeito, a responsabilidade, a consideração, a aceitação do próximo, o amor filial (ou melhor, responsabilidade filial), a amizade e a fraternidade, e, como Maçons e membros da família humana corremos atrás desses conceitos pelo estudo, compreensão e dedicação procurando entende-los e conscientizá-los como patrimônio pessoal útil para uma vida em sociedade.

Como Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçons, pedreiros construtores do edifício social, é preciso refletir, tornar clara as idéias, comparando-as, e como conseqüência formando nossos próprios juízos de valor. Perguntamos: entendendo a maçonaria também como uma escola de comportamento, estamos inseridos num processo evolutivo ou ainda nos preocupamos em alcançar a condição de um “status” maçônico (que nos forneça projeção pessoal) que nos confere a Ordem? Claro é que não é este o objetivo, mas essa condição maçônica proporciona esse destaque e “seduz” uma grande maioria de IIr∴ que procuram projeção pessoal e reconhecimento, sendo assim inevitável, pois, temos vaidades e paixões ainda não controladas.

Mas, o que vindes aqui fazer?

Ensinam nossos rituais que é necessário vencer nossas paixões e submeter nossa vontade. Como edificar templos à virtude e enterrar os vícios se somos levados pela turbulência das paixões e lutamos ainda em prevalecer nossas vontades?

Em nosso aprendizado maçônico, de aprendiz à mestre maçom, é extremamente relevante que isso pese em nosso comportamento. Quando alcançamos o domínio de nossas paixões e de nossa vontade, já não fazemos parte das batalhas profanas, não é mais necessário o conflito. Isso não significa omissão, desleixo ou fraqueza de caráter, simplesmente não é mais necessário, pois, compreendemos o Todo e com essa certeza e verdade sedimentada podemos sutilmente alterar e redirecionar atitudes profanas incorretas e insuficientes.

Para que todas essas considerações sejam alcançadas, nossas instruções precisam ser objetivas e direcionadas a todos nós que aqui estamos em busca de mais luzes. Todo trabalho ou instrução nunca é desperdiçado pelo fato de que acendemos luzes em nosso interior promovendo novas idéias, preenchendo lacunas e gerando a vontade de progredir sempre. Será sempre possível e é necessário organizarmos nossas instruções para auxílio de todos que participam dessa Arte. É responsabilidade dos Mestres facilitarem e auxiliarem os Aprendizes e Companheiros na compreensão dos trabalhos maçônicos e sua dinâmica. Se não nos transformamos, como queremos que os que aqui chegam aprofundem sua maneira de pensar e agir? 

Que exemplo esperamos dar?

Sempre enaltecemos a Ordem Maçônica e os trabalhos maçônicos, seus princípios, seus objetivos. Nosso ritual esclarece com perfeição e transparência que “a Maçonaria no grau de Mestre é o laboratório espiritual, onde os iniciados de todas as partes do mundo se reconhecerão e trabalharão em comum, visando solucionar a crise moral da Humanidade, assegurando ainda os direitos e deveres do Espírito”.

Notas:

1. Moral (da raiz latina “mores” como costumes, conduta, comportamento, modo de agir) - é o conjunto sistemático das normas que orientam o homem para a realização de seu fim pelo exercício de sua responsabilidade.

2. Simbologia - estudo dos símbolos, o entendimento de uma imagem empregada para significar um conceito facilitando sua compreensão.

3. Espiritual – que tem a natureza do espírito. Espírito – identifica-se com o que chamamos alma; também a sede das atividades superiores do ser inteligente (os conhecimentos, a erudição, o poder lógico, a capacidade intuitiva, o senso artístico, a reflexão transcendente).

(*)M∴I∴ ARLS Horus nº 3811 - Santo André - SP (Oriente de São Paulo) - Brasil

Fonte: JBNews - Informativo nº 286 - 10.06.2011

ENSINAMENTO MAÇÔNICO SOBRE A ENTRADA NO TEMPLO

Maximiliano Schaefer, M∴M∴ ARLS Capela Aparecidense Nº 2923
Aparecida de Goiânia, Goiás

Quando dizemos que somos de uma loja de São João justa e perfeita elevamos nossa alma ao grande arquiteto pedindo proteção ao nosso coração para mantê-lo puro perante as imperfeições e evoluções constantes no mundo, onde reconhecemos nossa pequenez e nosso grau de aprendiz, que nada sabemos e talvez chegarmos a conclusão que nada saberemos. Simplesmente vivemos e adquirimos maturidade terrena e material, sempre buscando algo que está longe demais de ser alcançado, e quando chegamos vemos que o grande arquiteto tem outros planos, muitas vezes corrige esse curso, outras nos proporciona a oportunidade de evoluir espiritualmente e como pessoa.

Devemos focar nossos objetivos para trazermos paz ao mundo e tranqüilizar os corações amargurados e sofridos em uma vida de tantas provações. Amizade a todos os irmãos, entendendo-os e relevando as mais diversas situações provocadas por seu grau de evolução, mostrando-lhes o caminho das pedras para seu aprendizado individual, refletindo sobre nos mesmos e lembrando constantemente do nosso estágio de aprendiz, que ao contrário do que achamos é cada vez menor, o que perante o grande arquiteto aumenta nossa responsabilidade perante seus objetivos em um mundo em constante modificação.

Prosperar para oferecermos conforto a nossas famílias e criar condições de fazermos algo mais pelo próximo e formarmos exemplo de cidadania, contribuindo assim para um mundo melhor é uma frase conceitual, mas na essência vem acrescida de tantas variáveis que montaríamos uma biblioteca, pois com ela pode vir cobiça, vaidade, ignorância e tantas outras que nos fazem perder o sono à noite. Será que a prosperidade tem algo a ver com longevidade? Algo que está interno ao ser humano e não nos prazeres mundanos? Será que a realização momentânea nos traz um vazio, contemplando aquele sentimento de que sempre nos falta algo? Será que ao estendermos a mão a um necessitado não estaremos prosperando muito além de nossos limites? Fazer a diferença não seja ser uma pessoa digna e um bom pai de família?

Prosperar! Palavra forte e concreta que nos remete ao céu, uma grande diferença entre a migração de uma coluna à outra, de um estudo conceitual a uma ideologia mágica de satisfação plena.

É somente isso trazes consigo?

O venerável mestre, aquele cuja responsabilidade é creditada a conduta de seus aprendizes, vos saúda com respeito e admiração, agradecendo em nome de todo seu templo de origem o privilégio de abrigar com o mesmo carinho que esse filho foi recebido em sua vida o dos irmãos de convívio, fazendo-o ter uma visão diferente, mitigando sua curiosidade a outros fatos que contribuam para o seu aprendizado, razão pela qual de seu glorioso nome... venerável mestre.

Quando construímos templos à virtude remetemo-nos aos notáveis cavaleiros templários, figuras fortes e marcantes que tanto contribuíram com nosso desenvolvimento, demonstrando garra, robustez e perseverança, trabalhando com muita alegria, cavando masmorras ao vício. O mesmo vício de fazer o bem e nos fazer progredir e acreditar que existem muitas variáveis que não temos conhecimento, migrando-os ao simples - louvável - aprendendo que os detalhes fazem as diferenças, que é na minúcia que descobrimos a arte.

Nesse momento lembramos de Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni, provável free maçom de sua época, estaria errado em tantos progressos nas áreas de engenharia, arquitetura, sociedade, música e artes cênicas de hoje? O nível de detalhe dos seus projetos nos levam a pensar que realmente temos muito a aprender, que realmente somos aprendizes.

Muitas paixões foram vencidas, muitas vontades submetidas para realizar um dos trabalhos mais bonitos que a história protagoniza até hoje - a capela Sistina - que demonstra com suavidade e vigor toda energia despendida por um aprendiz que buscava algo, que tanto criou e contribuiu ao mundo e, talvez, tenha viajado as estrelas e ainda hoje continue buscando algo.

E o que ele queria? Um lugar que a história lhe reservou ou somente um lugar entre nós?

“De tempos em tempos, o Céu nos envia alguém que não é apenas humano, mas também divino, de modo que através de seu espírito e da superioridade de sua inteligência, possamos atingir o Céu.” (Giorgio Vasari)

E seu venerável mestre lhe concedeu... e o mestre de cerimônia lhe acompanhou ao seu lugar de direito.

Fonte: JBNews - Informativo nº 286 - 10.06.2011

A INICIAÇÃO

Ir∴ Laurindo Roberto Gutierrez Loja Regeneração 3ª. – Londrina - PR

A iniciação é um ato decisivo e definitivo na vida de um profano prestes a se tornar maçom. Não existe outra oportunidade igual. Ela é única. Se não for bem conduzida e plena de emoção e respeito por parte dos envolvidos neste ato, é possível que o recipiendário não vivencie e não sinta intensamente cada movimento, passo, ruído, som e odores no desenrolar da cerimônia.

A iniciação tem mais que emoção e sentimento em si, do que se pode imaginar, e cada um reage á sua maneira de acordo com sua sensibilidade e percepção. O silencio e a seriedade no ambiente devem ser perfeitos para que todos, em especial os neófitos, possam assimilar o que acontece.

Os que conduzem a cerimônia devem se compenetrar da importância do ato e os que a assistem tem a obrigação de colaborar para que tudo saia à perfeição, pois neste momento a egrégora esta formada e todos irmanados num só espírito. O ambiente deve estar envolvente e harmonizado para que se possa “ouvir” o silêncio.

A impostação de voz deve ser observada e treinada antes, pois o iniciado em quase estado de quase transe precisa que tudo tenha muita clareza para melhor compreensão. Consideremos que depois de horas privado da visão ele deve estar psicologicamente desgastado e com dificuldade de entendimento.

Um irmão de minha loja diz que enquanto estava com os olhos vendados e de tal forma envolvido, sentiu uma leveza de espírito que o fez conhecer deus.

Abordo o assunto, a iniciação , pois sabemos que ainda hoje, pseudo maçons insistem em transformar a sessão magna de iniciação antes mesmo que ela tenha início, num ato para seu divertimento expondo o candidato ao ridículo fazendo-o andar sem destino pela cidade ou deixando-o numa praça pública à espera de seus “algozes” e ainda hoje se usa a famigerada tábua de pregos. Estes maçons praticam esta covardia contra um profano amigo, que vendado não pode se defender nem identificar quem assim age. É desumano e anti-maçônico. É uma prática medieval.

Se o iniciando não sentir nem entender as mensagens transmitidas na iniciação, seu ingresso na ordem poderá ser uma perda de tempo e resultar num retumbante fracasso com mais um faltante crônico as sessões de sua loja. Creio que uma iniciação bem feita pode formar um maçom verdadeiro, ou apenas revestir um profano com o avental, se não bem realizada. Ela é a mais importante atividade maçônica, e deve ser realizada somente entre irmãos reunidos em absoluto segredo e dominados pelo sentimento de amor que só os iniciados nos augustos mistérios, são capazes de sentir.

Fonte: JBNews - Informativo nº 286 - 10.06.2011

quinta-feira, 9 de junho de 2011

A CATEDRAL GÓTICA DE MILÃO

Ir∴ Antônio Rocha Fadista M.'.I.'., Loja Cayrú 762 GOERJ / GOB - Brasil

O caso da construção da Catedral de Milão – IL Duomo – é de extrema importância no estudo da geometria sagrada. Ele interessa em dois sentidos, o documental e o simbólico. A Catedral de Milão foi fundada em 1386 e, por essa razão, estava no centro de um encarniçada controvérsia relativa a que forma de geometria sagrada deveria ser utilizada: ad quadratum ou ad triangulum. Um grande número de peritos reuniu-se a fim de determinar o que seria feito na construção dessa obra-prima potencial. Talvez por causa da grande quantidade de peritos, desenvolveu-se entre os adeptos de um e de outro sistema uma encarniçada discussão.

Sabe-se que já em 1321, durante a ereção do domo da catedral de Siena, os cinco inspetores escolhidos para examinar a construção objetaram contra a continuação da obra “porque, se terminada como foi iniciada, ela não teria as medidas de comprimento, largura e altura que as regras previam para a igreja”. Uma disputa similar se verificou a respeito da construção da Catedral de Milão.

Atualmente, a Catedral de Milão é considerada uma obra-prima da arquitetura gótica tardia. Recentemente, sua estrutura foi algo sacudida pelas vibrações dos carros, dos ônibus e do metrô que trafegam ao seu redor, mas a sua gestação foi tão cheia de recriminações que parecia que ela nunca seria terminada.

A Catedral foi terminada em 1386 por ordem de Gian Galeazzo Visconti, que conquistara influência na cidade de Milão, graças ao expediente da morte de seu tio. Entretanto, nenhum outro edifício tão portentoso foi construído na Lombardia durante séculos, e logo os maçons experientes, encarregados do projeto, se defrontaram com sérios problemas. O lado teórico da geometria sagrada, segundo a qual o edifício deveria ser construído, se atolou numa discussão aparentemente insolúvel.

Inicialmente, a planta baixa da catedral foi desenhada de acordo com o ad quadratum, baseado no quadrado e no quadrado duplo, com uma nave central pronunciada, e naves laterais de igual altura. Essa planta, foi logo abandonada e foi substituída pelo ad triangulum, para a elevação – e foi aí que os problemas começaram. A altura de um triângulo eqüilátero, a base do ad triangulum é incomensurável com o lado do mesmo triângulo. Colocá-lo sobre uma planta baixa baseada no ad quadratum seria transformar a geometria sagrada e todas as proporções da elevação estariam completamente erradas.

A fim de retornar à lógica da geometria sagrada, foi chamado um matemático de Piacenza, Gabriele Stornaloco. Ele recomendou um arredondamento da altura das naves, de 83,138 braccia (braças), para 84 braças, que poderia ser facilmente dividida em seis unidades de 14 braças. Embora fosse aceitável em princípio, o esquema de Stornaloco foi posteriormente modificado, produzindo-se uma dedução na altura e trazendo-se a catedral para mais perto dos princípios clássicos. O Mestre Maçom alemão, Heinrich Parler se enfureceu com esse compromisso de medida verdadeira. Seus protestos levaram-no a se demitir do posto de consultor, em 1392. Em 1394, Ulrich von Ensigen veio da cidade de Ulm como consultor, mas ficou apenas seis meses em Milão. Os maçons da Lombardia lutaram entre si até 1399, cada qual defendendo a sua tese, quando Jean de Mignot foi chamada da França, para supervisionar as obras.

Mignot também não ficaria no cargo por muito tempo. Suas críticas aos princípios maçônicos locais foram tão pesadas que um comitê foi chamado para discutir os pontos que ele levantou.. Uma tal ignorância dos princípios geométricos e mecânicos góticos foi demonstrada pelos maçons lombardos, que eles tentaram argumentar que os arcos pontiagudos não poderiam justificar a geometria aberrante pretendida para o edifício. Exasperado, Mignot disse: “Ars sine scientia nihil est” (A arte não é nada sem a ciência). Recebeu a seguinte réplica dos maçons de Milão: “Scientia sine arte nihil est” (A ciência não é nada sem a arte).

Mignot voltou para Paris em 1401, sem ter feito progresso algum com os intransigentes maçons lombardos. Por métodos pragmáticos, os italianos improvisaram e terminaram o coro e os transeptos, por volta de 1450. Nem toda a catedral foi terminada, até que a fachada oeste foi finalmente acabada sob as ordens de Napoleão, em 1809.

A geometria do Duomo foi preservada numa edição de Vitrúvio, publicada em 1521. Ela mostra o plano e a elevação da catedral como uma ilustração dos princípios vitruvianos. Só esta ilustração é uma prova da unidade essencial dos sistemas clássicos e maçônicos da geometria sagrada. O esquema apresentado na gravura baseia-se no rhombus ou vesica. A elevação triangular dos corte transversal da catedral é mostrada em superposição a círculos concêntricos em que o quadrado e o hexágono são desenhados, demonstrando a relação da elevação com o a quadratum do plano básico.

Essa exposição da geometria sagrada maçônica de uma catedral é indicativa da atitude modificada diante dos mistérios antigos exibidos pelos escritores da Renascença. Ela se encaixa perfeitamente na tradição de Matthäus Röriczer, um maçom que revelou a sua arte, quebrando seu juramento de sigilo. Röriczer, que morreu em 1492, pertencia à terceira geração de uma família que servia de mestres maçons na Catedral de Regensburg. Matthäus era o Mestre de uma Loja onde fora projetada e executada toda a obra de construção, e assim era o responsável por todas as molduras e entalhes, por seu esboço e por seu desenho definitivo. Embora sendo um maçom, e estivesse preso ao juramento de não divulgar os mistérios maçônicos aos não-iniciados, ele deu um grande passo com a publicação de detalhes anteriormente ocultados nos livros de anotações da Lojas Maçônicas Operativas.

Embora a única obra publicada por Röriczer fosse um pequeno panfleto que deu solução a um problema geométrico, ela tem importância fundamental, porque é a única chave sobrevivente da geometria sagrada maçônica. A obra, intitulada On the Ordination of Pinacles, forneceu a solução para o problema de como erigir uma pináculo de proporções corretas a partir de uma dada planta baixa. Por volta do final do período medieval, os maçons estavam produzindo obras-primas do gótico flamboyant e perpendicular pelos meios mais simples. As plantas de execução (conhecidas na Inglaterra como “plats”) eram preparadas pelos maçons até nos seus mínimos detalhes. Ainda existem alguns “plats”, como os que foram desenhados para a fachada oeste da Catedral de Estrasburgo, por Michael Parler em 1385, e o da agulha da Catedral de Ulm, por Mathias Boblinger. Cada uma das partes do intrincado desenho é relatada aos seus camaradas por meio da geometria. O Maçom Operativo, equipado com esse diagrama, podia tomar uma dimensão como ponto de partida e como ela, utilizando-se de régua e compasso, a geometria chega ao plano do tamanho natural, desenhado sobre um “piso de decalque” de gesso, fazendo-se em seguida os gabaritos de madeira, segundo os quais as pedras finais eram cortadas e talhadas.

A exposição do sistema por Röriczer demonstra a simplicidade desse método canônico. Em vez de uma referência constante a medidas num plano, como na moderna prática da arquitetura, o pináculo (ou o pinásio, a ombreira da porta, o componente da abóbada, etc.) era “desenvolvido” a partir de um quadrado. A geometria, diferentemente da medida, é auto-reguladora, e quaisquer erros podem ser identificados de imediato. Seja qual for o tamanho do quadrado inicial, todas as partes do pináculo estão relacionadas a ele, em proporção natural. Como as dimensões do quadrado original poderiam ter sido derivadas como uma função da geometria global da igreja, o tamanho do pináculo estava relacionado harmoniosamente com o todo.

O livreto de Röriczer foi dedicado ao Príncipe Wilhelm, Bispo de Eichstadt, descrito na dedicatória como “um cultor e um patrono da arte livre da geometria”. Wilhelm era membro ativo do conselho de construções das igrejas de Regensbur, Ulm e Ingolstadt. Assim, Wilhelm não era apenas um administrador, mas uma pessoa bastante interessada em conhecer a metodologia exata que está por trás da geometria sagrada. Esses homens foram os primeiros “maçons especulativos”, patronos ricos que desejavam sinceramente conhecer os segredos dos maçons operativos. A fim de obter esses segredos, os patronos eram geralmente admitidos na Irmandade dos Maçons por meio de ritos iniciatórios típicos. Como as atividades dos maçons diminuísse com o surgimento dos arquitetos, aumentou o número de “maçons especulativos”.

Nesse meio tempo, as Lojas operativas maçônicas foram sendo fechadas. A última delas foi a primeira Loja da Europa – a de Estrasburgo, que fechou em 1777. A partir de então, as artes e os mistérios da Maçonaria foram mantidos apenas pelos maçons especulativos.

Sobre a Catedral de Milão, acrescentamos por último que ela foi construída sobre as bases de um templo romano, construído no estilo românico. Na entrada da Catedral fica a escada que leva às escavações feitas no seu subsolo. Nestas escavações, podem ser vistos ainda os restos do antigo templo, bem como as relíquias que o decoravam.

Fonte: JBNews - Informativo nº 285 - 09.06.2011

IGUALDADE

Anatoli Oliynik*

O lema da Maçonaria moderna, constituído pelas expressões Liberdade, Igualdade e Fraternidade, não é novidade para os maçons.

Todos os maçons sabem que, após a Revolução Francesa em 1789, a Maçonaria retirou as duas primeiras expressões, Liberdade e Igualdade do lema da própria revolução, acrescentando a elas uma terceira: Fraternidade, retirada do lema da 2ª República (1848), que substituiu a “ou la Mort” daquela.

Estas expressões são pronunciadas pela maioria dos maçons até a exaustão, entretanto, nem todos sabem o significado de cada uma destas palavras.

Neste ensaio procuraremos precisar a real dimensão da palavra igualdade, a mais desejada pelos povos e a menos compreendida.

Segundo o dicionário Aurélio, o verbete igualdade, de origem latina [aequalitate], é um substantivo feminino significando:

1. Qualidade ou estado de igual; paridade.
2. Uniformidade, identidade.
3. Eqüidade, justiça.

Temos ainda, segundo o conceito da ética, a “Igualdade moral” com o seguinte significado:

“Relação entre os indivíduos em virtude da qual todos eles são portadores dos mesmos direitos fundamentais que provêm da humanidade e definem a dignidade da pessoa humana.”

Afinal, o que é Igualdade?

Os homens são iguais por sua origem, natureza e destino.

Nos povos antigos, inexistia a compreensão da igualdade entre os homens. Platão (429-347 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C. defenderam amplamente a instituição da escravatura, tida, à época, como normal. Aliás, no nosso país a escravatura foi considerada normal até por volta de 1850 quando foram iniciados os movimentos abolicionistas.

Na democracia ateniense, costumeiramente louvada entre nós, havia quatro escravos para cada homem livre. Em Roma, não era diferente, onde os escravos eram numerosos e postos a exercer muitas atividades.

Deve-se ao Cristianismo a mais antiga proclamação de igualdade substancial entre os homens: “criados por Deus, à sua imagem e semelhança, portadores da mesma essência e destinados ao mesmo fim, que é o próprio Deus, mediante o resgate advindo da Redenção”.

Essa igualdade confere aos homens uma dignidade ontológica, que lhes assegura o direito a igual tratamento no âmbito da ordem legal. Isso não significa que se deixe de atender aos princípios de justiça, pois, se é certo que é preciso tratar com igualdade os iguais, não é menos certo que se devem tratar com desigualdade os desiguais.

Nisto não vai nenhum atentado contra a dignidade humana, como pretendeu Marc Sangnier (1873-1950) ao defender uma igualdade absoluta que o levava até mesmo a insurgir-se contra a obediências – por entende-la contrária à “eminente dignidade da pessoa humana”- substituindo-a por uma “autoridade consentida”.

Estamos aqui diante de uma falsa dignidade humana, que acaba comprometendo a reta ordenação da sociedade. É o que vem acontecendo com determinados grupos de “Direitos Humanos” que se utilizam desta premissa, distorcendo completamente o conceito de tratar com desigualdade os desiguais.

O direito à igualdade, aliás, quando se defronta com o exercício de outros direitos fundamentais, acaba encontrando limitações que demonstram a insubsistência de seu caráter absoluto.

Quando a Revolução Francesa levantou a bandeira da “Liberté, Igualité, ou la Mort”, a igualdade irrompia com ímpeto radical, visando a extinção de todo e qualquer privilégio e hierarquia social. Na verdade, porém, o que se pretendia era menos a derrubada de um regime político do que a implantação de uma outra concepção do homem e da sociedade.

“Todos os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos”, diz o artigo 1º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789. Mas não há igualdade entre uma criança e um adulto, entre um homem honesto e um homem desonesto etc. É justo, pois, que tenham tratamento desigual.

A igualdade absoluta, além de resultar de uma concepção abstrata do homem, põe a perder a justa compreensão da verdadeira igualdade, que considera os homens iguais quanto ao ser (origem, natureza e destino), mas não pode ignorar a evidência de que, ao mesmo tempo, são desiguais quanto ao modo de ser (inteligência, cultura, talento, aptidão, competência, iniciativa, empenho etc.). Estas desigualdades pessoais se harmonizam com a natureza das coisas e conferem dinamismo à vida social, especialmente se esse dinamismo, aberto aos princípios de justiça, ganhar expansão no quadro de uma estrutura orgânica da sociedade.

Enquanto a igualdade pretendida pelo liberalismo acabou gerando desigualdades odiosas, que deram origem ao intervencionismo do Estado e conseqüentemente mutilação da liberdade, a igualdade da utopia socialista, onde tentou implantar-se, mas não conseguiu mais do que um nivelamento mecanicista, ao preço da liberdade e do direito, sob a égide de um burocratismo assoberbante, elitizado na nomenclatura. ( 1 )

Isto posto, a igualdade, assim como a liberdade, é um ideal. Sendo um ideal, passa a ser um conceito abstrato, relativo e não absoluto, que pode ser interpretado de muitas maneiras.

Na Grécia antiga, por exemplo, a idéia de igualdade caracterizava a democracia. Entre nós é caracterizada como repartição e paridade.

O conceito de igualdade, na prática, é relativo ao menos a três variáveis que precisam ser consideradas todas as vezes que se introduz o discurso sobre o maior ou menor desejo de realização da idéia de igualdade:

a) os sujeitos entre os quais se trata de repartir os bens e os ônus;
b) os bens e os ônus a serem repartidos;
c) o critério com base no qual os repartir.

Em outras palavras, nenhum projeto de repartição pode deixar de responder a estas três perguntas:

a) igualdade entre quem?
b) em relação a que?
c) com base em quais critérios?

Combinando estas três variáveis pode-se obter uma variedade enorme de tipos de repartição, todos passíveis de serem chamados de igualitários apesar de serem muito diversos entre si. Os sujeitos podem ser: todos, muitos, poucos e até mesmo um só. Os bens a serem distribuídos podem ser direitos, vantagens ou facilidades econômicas, posições de poder. Os critérios podem ser a necessidade, o mérito, a capacidade, o esforço e outros mais; e no limite da ausência de qualquer critério poder-se-ia dizer: A mesma coisa para todos.

Na sociedade familiar, por exemplo, o critério prevalente na distribuição dos recursos é mais a necessidade do que o mérito, mas este não está excluído. Na escola, por sua vez, o mérito como critério deve ser exclusivo, porque a escola não pode deixar de ter uma finalidade seletiva, assim como os concursos para um emprego qualquer.

Por outro lado, a máxima “a cada um o seu” é, em si mesma, vazia e deve ser preenchida especificando-se não apenas a quais sujeitos está referida e qual o bem a ser distribuído, mas também qual é o critério, exclusivo ou prevalente, que, com relação àqueles sujeitos e àquele bem, deve ser aplicado.

Segundo a maior ou menor extensão dos sujeitos interessados, a maior ou menor quantidade e valor dos bens a distribuir, e com base no critério adotado para distribuir tais bens a um certo grupo de pessoas, podem ser distinguidas doutrinas mais ou menos igualitárias.

Partindo-se da dupla constatação, de um lado a diversidade dos homens e, de outro, a multiplicidade de modos com que se pode responder à pergunta: “igualdade em que?” poder-se-ia afirmar que não existem teorias completamente inigualitárias, pois todas propõem a igualdade em alguma coisa como meio que conduz a uma boa vida. O juízo e a mensuração da igualdade dependem da escolha da variável - riqueza, felicidade, renda, etc. - que conforme as circunstâncias é selecionada pelas diversas teorias. A igualdade baseada em uma variável obviamente não coincide com a igualdade baseada em outra.

Destas observações, pode-se concluir que é tão irrealista afirmar que todos os homens devem ser iguais quanto todos os homens devem ser desiguais. Realista é apenas afirmar que uma forma de igualdade é desejável.

* O Ir∴ Anatoli Oliynik é Escritor, Pesquisador Maçônico, Palestrante, Membro da Academia de Culturde Curitiba, Autor de vários livros, Benemérito do Grande Oriente do Brasil e Benemérito da Maçonaria Catarinense . É Obreiro da Loja "Laelia Purpurata" nr. 3496 de Itapema GOB/SC – Rito York.

Fonte: JBNews - Informativo nº 285 - 09.06.2011

RITUAL PORTUGUÊS DI SÉCULO XIX

Ir∴ A.H. de Oliveira Marques, "Para a História do Ritual Maçónico em Portugal no Século XIX (1820-1869)", separata da Revista de História das Ideias, Vol. 15, Faculdade de Letras, Coimbra, 1993

De 1820 a 1869 praticaram-se na Maçonaria portuguesa seis ritos diferentes: o Rito Francês, o Rito Simbólico Regular, o Rito Escocês Antigo e Aceite, o Rito de Heredom, o Rito Eclético Lusitano e o Rito de Adopção:. Diga-se desde já que o primeiro e o terceiro predominaram, a grande distância, sobre os quatro outros:.

A constituição maçónica de 1806 adoptara o Rito Francês como oficial e único no seio do Grande Oriente Lusitano:. Enquanto nesta obediência se esgotaram os trabalhos maçónicos portugueses, o Rito Francês manteve a sua exclusividade:. E
mesmo depois, quando já os maçons portugueses se achavam divididos em facções numerosas, o Rito Francês continuou a prevalecer:.

O Rito Simbólico Regular parece ter sido utilizado na loja de exilados instalada em Inglaterra durante o reinado de D. Miguel:. Depois, esteve morto ou moribundo durante quase todo o período em estudo:. Há notícias de uma única oficina a praticá-lo, a loja 24 de Agosto, criada antes de 1843 na obediência da Maçonaria do Norte e, em seguida, da sua sucessora Confederação Maçónica:. Esta loja já não existia em 1867:.

O Rito Escocês Antigo e Aceite foi introduzido em Portugal em 1837, ao nível dos três primeiros graus:. Deveu-se à Grande Loja de Dublin (Irlanda), que instalou em Lisboa, nesse ano, a loja Regeneração I:. No conjunto dos 33 graus, o Rito Escocês surgiu três anos mais tarde, sob a chefia de Silva Carvalho e da loja Fortaleza, que constituíram o chamado Grande Oriente do Rito Escocês, conseguindo, em 1841, autorização para erigir um Supremo Conselho:. Neste mesmo anos de 1841, o Grande Oriente Lusitano introduziu o Rito em algumas das suas lojas, criando, pouco depois, um segundo Supremo Conselho:. O Rito Escocês Antigo e Aceite penetrou ainda no Grande Oriente de Portugal (1849), na Confederação Maçónica Portuguesa (após 1849), no segundo Grande Oriente Lusitano (1859) e, evidentemente, no Grande Oriente Português (1867):. Apesar da manutenção e consolidação do Rito Francês foi, sem sombra de dúvida, o Rito com maior dinamismo e força expansiva nos meados do século XIX, registando aumentos contínuos e consistentes no número de lojas que agrupava:.

O Rito de Heredom ou Rito de Perfeição foi o antepassado do Rito Escocês Antigo e Aceite e não passa de uma variante sua:. Pelo menos na década de 1840 confundia-se com o Rito Escocês, coexistindo, em diplomas, as duas terminologias:. Tem 25 graus, com os mesmos títulos e características dos primeiros 25 graus do Rito Escocês, à excepção dos nº 20, 21, 23 e 24, onde se registavam variações:. Que se saiba, seguiu este Rito em Portugal uma única oficina, a loja Fonseca Magalhães, fundada em Lisboa talvez em 1858 ou 1859, na dependência directa do Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceite, presidido por Domingos Correia e Arouca:.

O Rito Eclético Lusitano deveu-se a Miguel António Dias e parece ter sido, até hoje, a única tentativa de constituir um rito próprio e exclusivo dos maçons portugueses:. Aquele autor esforçara-se, desde 1838, por reformar toda a Maçonaria portuguesa, adoptando como rito as práticas básicas dos Rito Francês, embora revisto e adaptado a Portugal:. Neste sentido redigiu umas "Bases Gerais" em seis capítulos e 34 artigos, que publicou na sua Architectura Mystica do Rito Francez ou Moderno (1943) e depois, novamente (1853), nos Annaes e Codigo dos Pedreiros Livres em Portugal, agora com lei orgânica e regulamento apensos:. Neste mesmo ano, Miguel António Dias conseguiu controlar uma série de oficinas, levando-as a aceitar o novo rito e a sua presidência de um governo provisório coordenador:. Para elas instalou-se formalmente o Grande Oriente da Maçonaria Eclética Lusitana, com cinco lojas, sendo três em Lisboa (Regeneração 20 de Abril, Firmeza, e Fraternidade), uma em Setúbal (Firmeza) e uma em Torres Novas (Torre Queimada):. A nova obediência conseguiu ainda elaborar a sua Constituição (28 de Setembro de 1860), mas não parece ter durado muito para além dessa data:. Algumas das oficinas abateram colunas e outras integraram-se no Grande Oriente de Portugal e na Confederação Maçónica Portuguesa, não sabemos se mantendo o Rito Eclético Lusitano, se voltando ao Rito Francês:.

O Rito de Adopção, destinado exclusivamente a mulheres, surgiu e manteve-se como ponte entre uma maçonaria estritamente masculina e arrogando-se de ortodoxa, e uma maçonaria aberta a ambos os sexos:. Assim, cada loja deste rito era fundada e patrocinada ("adoptada") por uma loja regular


masculina, que nela superintendia e a controlava:. Para não se criar, nas lojas femininas, a ilusão de igualdade com as masculinas, através de práticas que fossem idênticas em ambas, forjou-se um rito diferente - embora com alguns elementos comuns -, o chamado Rito de Adopção:. Este Rito, na variante com cinco graus, foi introduzido em Portugal em 1864, com a loja feminina Direito e Razão, aparentemente subordinada à Confederação Maçónica Portuguesa:. Mas achava-se definido e teorizado, com rituais em português, desde havia muito:.


Conclusões:

A existência e a adopção teóricas dos ritos não significavam necessariamente a sua aplicação prática:. Para começar, muitas lojas, "não tendo rigorosamente seguido rito algum especial, têm confundido muitos ritos diferentes" o que se devia, quer à falta ou à escassa divulgação de manuais, quer à semelhança existente entre os vários ritos, mormente nos três primeiros graus, quer ainda ao desinteresse, ao nível de Obediência ou de oficina, pelo próprio ritual:.

Em 1822, por exemplo, saiu a público um manual do Rito Adoniramita, que chegou a ser anunciado no Diario do Governo:.

Era, provavelmente, o Cathecismo de Aprendiz do Rito Adonhiramita, s.l., s.d., cujas divergências do Rito Francês seriam mínimas e que pode ter sido utilizado nas lojas:. A preferência pelo Rito Francês imposta pela Constituição maçónica, levou acaso ao abandono da iniciativa tradutora:.

As influências francesa e brasileira na prática e teoria ritualistas parecem também claras, exercendo-se sobre a esmagadora maioria das lojas de quase todas as Obediências:. Originalidade portuguesa praticamente não existiu, a não ser no caso esporádico da doutrinação de Miguel António Dias:.

Por fim, releve-se a extensão e prolixidade de todos os rituais, cuja prática escrupulosa levaria a sessões de várias horas, equivalentes a espectáculos lúdicos de qualquer género:.

A participação em loja obedecia também à necessidade de ocupar o tempo, numa sociedade onde as distracções não abundavam e o convívio pessoal se impunha:.

Fonte: JBNews - Informativo nº 285 - 09.06.2011