Ir∴ Marco Antônio Nunes – Florianópolis – SC
ARLS “Fraternidade Catarinense” nº 9 – GOSC martoni.nunes@gmail.com
Não importa onde estejamos sempre estaremos no centro do mundo que nos cerca, no tempo e no espaço.
Na Loja, costumamos dizer que o Mestre trabalha em Câmara do Meio, mais com o desejo de situar os mestres numa sessão de terceiro grau do que localizá-los geograficamente.
Mergulhando superficialmente no mar da pesquisa, encontram-se alguns indícios de que a Câmara do Meio não foi necessariamente trazida dos templos de Salomão, como muitos acreditam.
Assis Carvalho, no seu livro “O Mestre Maçom”– 2ª Edição – 1994 –, menciona a confusão que se faz entre Câmara do Meio, que é a sessão de Mestres Maçons, com o Centro da Loja, o corredor existente entre as colunas do Sul e do Norte, e leva-nos a uma viagem mais longa para descobrir as verdadeiras origens. Essa viagem tem início na época do primeiro Templo de Salomão, segundo os textos de Reis, Crônicas e Ezequiel; a Câmara do Meio e a Escada em Caracol formariam um mesmo conjunto e como tal seriam consideradas pelos simbolistas como sendo um símbolo do segundo grau, tendo sido separadas, posteriormente, pelos ritualistas ingleses, colocando a escada no grau de companheiro e a Câmara do Meio no terceiro Grau.
Jules Boucher, na sua obra “A Simbólica Maçônica”, repete o que é mencionado na obra anterior citada sobre a confusão que se formou com relação à leitura dos textos bíblicos onde as palavras que dariam sentido de “câmara” seriam, na realidade, entendidas por “andar”, tudo isso na tentativa de descrever-se o verdadeiro significado de “Câmara do Meio” e suas verdadeiras origens. A palavra hebraica “Tichoanah”, traduzida como “Meio”, teria, na realidade, o sentido de “o mais baixo”, formando, dessa forma, idéias diferentes dos planos em que se situavam as câmaras dos palácios descritos nas obras. Acrescente-se à confusão o fato de que não houve apenas um Templo de Salomão, mas três. As descrições feitas das câmaras e das entradas do Palácio confundem-se, em certos aspectos, a qual dos palácios. Se o primeiro, construído no ano 586 a.C., o segundo, 70 anos após a destruição do primeiro, ou se ao terceiro templo, construído 550 anos após o segundo.
Para não entrar nessa barafunda histórica e no mérito do verdadeiro significado do que seja Câmara do Meio, prefiro ater-me ao assunto de uma forma menos polêmica e dentro dos meus limites de compreensão, já que o tema enseja uma pesquisa mais detalhada, exigindo um garimpo mais minucioso nos compêndios históricos e no que pensam os diversos estudiosos das nossas bases Maçônicas.
A Loja de Câmara do Meio ou do Terceiro Grau é assim chamada por constituir-se na evolução da vida Maçônica. Iniciado na Câmara de Reflexões, o Maçom experimenta, entre as colunas que sustentam o seu mundo, o despertar para uma nova vida. É sua infância, onde irá crescer e aprender a conhecer o seu novo mundo.
Muitos de nós achamos que o nascimento é muito menos traumático do que a morte. Só que esquecemos importantes detalhes que fogem das nossas percepções ávidas por resultados imediatistas e concretos como um muro diante dos nossos olhos. A morte é simplesmente uma transição instantânea, independentemente das suas causas, e é somente percebida por quem reconhece o fenômeno como um prolongamento da própria existência. Ao passo que o nascimento é uma preparação que tem seu início muito antes da concepção biológica e vem acompanhada por toda uma gama de incertezas e angústias pela expectativa do desconhecimento do futuro. Preparação essa ditada pelo livre arbítrio do querer enfrentar uma nova jornada onde esse mesmo livre arbítrio pode nos trair e nos jogar a novas e infindáveis experimentações vivenciais. É a venda que impede o iniciado à vida maçônica de enxergar e poder perceber os seus limites.
Já ouvi alguém dizer que ser Maçom é um dom que vem da hereditariedade genética e espiritual do que somos. É um dos condicionamentos propostos para o início da nova missão que escolhemos para cumprir rumo a evolutiva jornada do aperfeiçoamento.
Como Aprendiz da vida não temos a percepção do significado e para onde irá a pedra bruta que começamos a lapidar. Temos noções de que aquela pedra fará parte de algo maior e, dependendo do nosso grau evolutivo, poderemos imaginar que aquela pedra irá compor uma parede e essa parede poderá ser tanto de um grandioso templo, quanto de um simples muro ou de uma lúgubre e escura masmorra. Da qualidade do trabalho desenvolvido resultará a destinação da peça trabalhada.
O empenho em aprender, em ser alguém melhor do que a nossa realidade, nossa ânsia de evoluir nos colocará num plano em que poderemos visualizar, com melhor compreensão, o verdadeiro significado da nossa existência. Teremos a certeza de que o plano em que nos encontramos é o primeiro de uma série enorme de degraus que deveremos galgar e que a pedra que deixou de ser bruta em nossas mãos necessita de alguns retoques para ter o destino final na obra. Essa compreensão da nova realidade é o fim da infância maçônica e o início da juventude onde passaremos a viver na câmara de dentro, iluminados por uma nova estrela, após as colunas, participantes mais íntimos das aspirações maçônicas.
No grau de Companheiro passamos a ter melhor compreensão de tudo o que vivenciamos na Câmara de Reflexões, planejando melhor o futuro e direcionando as aspirações para objetivos mais nobres.
Há quem afirme que o tempo não existe. Que o passado, o presente e o futuro se confundem num mesmo plano temporal que a nossa compreensão não alcança com facilidade, programados que estamos para cumprir o ritmo dos segundos, das horas, dos dias e das noites. Nesse caso, vivemos em função do tempo que passa, sempre na expectativa do que irá acontecer e muitas vezes não nos preparando corretamente para isso.
Colocados no plano da inexistência do tempo, nós somos aprendizes, somos companheiros e também somos mestres. Temos o sentimento de tudo conhecer e o nosso EU cósmico passa a sintonizar o plano universal e a dialogar com as esferas mais altas à medida que galgamos os degraus da imensa escada erguida à nossa frente. Como Companheiros, no segundo grau, começamos a ter essa percepção e, preparados convenientemente para enfrentar a vida, passamos ao esperado grau de mestre onde iremos experimentar, na prática e na realidade da existência, aquele sonho tão acalentado na nossa infância e juventude maçônica.
Na maturidade dos sentimentos, onde as ilusões, os sonhos, as aspirações e as incertezas dão lugar à realidade da vida transcendental é que os conhecimentos até então armazenados no cérebro transferem-se para o coração. O instinto e a inteligência que sempre nos animaram a agir, passam a ter a participação ativa da razão. Como Mestres, passamos a fazer parte de um outro plano, dentro de um imenso círculo, onde somos o ponto do centro, para onde tudo converge e de onde vislumbramos a vastidão do infinito. Esse ponto onde nos situamos é, a meu ver, a Câmara do Meio.
Todo esse trajeto percorrido não nos deixa no destino. Continuamos e continuaremos eternamente nessa Câmara do Meio, sendo o ponto central de um mundo em transformação. Estamos sempre a ser exigidos e impedidos ao total repouso, pois a realidade não permite o prolongamento dos nossos sonhos.
Valorizemos, pois, a oportunidade que tivemos, e que nos foi permitida, de virmos com essa missão de trabalhar para um mundo justo e perfeito para todos. De não ficarmos eternamente como um ponto isolado no meio de um círculo, como se o mundo somente a nós pertencesse.
Devemos compartilhar a nossa experiência e faze-la útil a uma sociedade cada vez mais carente de valores éticos e morais. Revitalizemos a força maçônica que existe em cada um de nós resgatando os valores perdidos pela letárgica acomodação como se estivéssemos brincando de Maçonaria, limitando-nos a enaltecer os feitos que nossos Irmãos realizaram no passado, impondo a força das decisões deliberadas em loja que, mesmo juradas de nada revelar, materializou-se em ações concretas no mundo profano.
Vamos trazer para a Câmara do Meio os nossos Irmãos políticos que ocupam cargos eletivos e cobrar deles a sua postura de Maçons perante o compromisso assumido para com a sociedade. Vamos lembrá-los de que os juramentos um dia feitos entre colunas, também valem para a sua postura como profanos e a sua responsabilidade, pelo fato de serem Maçons, é muito mais relevante do que um político que não teve o privilégio de ter recebido a luz e provado do conteúdo da segunda taça.
Vamos nos unir para recolocar o nosso Brasil numa imensa CÂMARA DO MEIO.
Fonte: JBNews - Informativo nº 301 - 25 de Junho de 2011
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