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quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

O CAPITAL SOCIAL DA MAÇONARIA

O CAPITAL SOCIAL DA MAÇONARIA
Autor: Márcio dos Santos Gomes

“Ah, você também por aqui!”

A exclamação acima foi ouvida durante a apresentação de uma palestra no Templo Nobre da GLMMG, quando dois amigos se reencontraram depois de longo tempo e se descobriram obreiros da Ordem. Por que isso acontece? Por que surpresas como essas ocorrem?

Sabemos que no universo empresarial, o Capital Social é representado pelo investimento dos sócios ou acionistas de uma empresa, baseado em um plano de negócios previamente elaborado, que permite movimentar o caixa e adquirir seus ativos para a geração de recursos que a sustente e produza o lucro estimado. Neste contexto o capital é um valor mensurável e os fins são claramente identificados.

Nas situações do dia a dia, outra forma de capital pode ser construída em decorrência das interações entre as pessoas, como resultado da criação de vínculos que melhorem as relações de amizade, cooperação mútua e satisfaçam necessidades de um modo geral, com benefícios individuais e para toda a comunidade. Para comprovar, nesta era da internet, estão aí os modernos meios de comunicação, com as redes de relacionamentos online repercutindo com uma força avassaladora e que, bem utilizadas, se constituem instrumentos valiosos de aproximação, participação, mobilização e transformação social. Dados recentes da União Internacional das Telecomunicações, órgão vinculado à ONU, informam que já são 3,2 bilhões de internautas no mundo.

Ao professor e escritor americano Lyda Judson Hanifan (1879-1932), da área de educação rural e apologista da importância do envolvimento da comunidade para as escolas de sucesso, é atribuída a introdução do conceito de capital social, entendido como as variáveis intangíveis que são importantes para o cotidiano das pessoas, como a boa vontade, o companheirismo, a simpatia e as relações sociais entre os indivíduos e as famílias que compõem uma unidade social. Segundo ele, o indivíduo é impotente socialmente se entregue a si mesmo, porém, quando entra em contato com o(s) seu(s) vizinho(s) haverá uma acumulação de capital social que pode imediatamente satisfazer suas necessidades sociais e ainda ostentar uma potencialidade social suficiente para a melhoria substancial das condições de vida de toda a comunidade. Enquanto o indivíduo vai encontrar nas suas associações as vantagens da ajuda, da simpatia e da comunhão dos seus vizinhos, a comunidade como um todo se beneficiará pela cooperação de todas as suas partes.

Para o antropólogo organizacional Ignácio García, da Universidade de Buenos Aires, o termo Capital Social envolve as redes de relacionamentos baseadas na confiança, cooperação e inovação que são desenvolvidas pelos indivíduos dentro e fora da organização, facilitando o acesso à informação e ao conhecimento.

O capital social tem sido utilizado como referência de pesquisa promovida pela ONU para elaboração do “Relatório Mundial da Felicidade”, que classifica os países em mais ou menos felizes. O ranking leva em consideração, além do Produto Interno Bruto (PIB) e da expectativa de vida, valores como o apoio mútuo entre os indivíduos, a boa governança, a preservação da cultura e do meio ambiente, o desenvolvimento econômico sustentável, a confiança, a liberdade de fazer escolhas, a ausência de corrupção, dentre outros. Um pequeno país que fica no Himalaia, conhecido como Butão, foi o pioneiro e tem sido tomado como modelo, onde há mais de três décadas é medido o índice de Felicidade Interna Bruta (FIB).

Nesse cenário, a Maçonaria Universal como uma escola de aperfeiçoamento moral, intelectual e espiritual, se impõe como um celeiro de construtores e articuladores sociais, que se caracteriza por um rico capital humano. Seus valorizados membros, portanto, gozam de reconhecimento e diferenciação pelos bons princípios perseguidos.

Grandes nomes da Maçonaria são vinculados a momentos decisivos da história e à fundação de entidades de ajuda humanitária, que funcionam em todo o mundo, e congregam pessoas de todos os matizes. São notórias as ações de manutenção de hospitais, asilos e entidades filantrópicas ao redor do mundo, prestando serviço desinteressado e minorando o sofrimento daqueles menos favorecidos pela sorte. Sabe-se que em alguns países a Ordem mantém instituições que acolhem Maçons em idade provecta e que demandam por amparo qualificado.

Por seu turno, a Ordem Maçônica oferece uma rede de proteção bem discreta a seus associados, em face da possibilidade de ajuda entre os irmãos, quando enfrentam dificuldades momentâneas como, por exemplo, algum tipo de assistência financeira proporcionado pelos membros da sua Loja, inclusive em caso de falecimento de um dos cônjuges, este com recursos administrados por um Fundo de Assistência Maçônica, além de solução de conflitos familiares, por intermédio do aconselhamento entre os irmãos de cada Loja, dentre outros.

Para a Maçonaria, a família é a célula da humanidade e, portanto um patrimônio muito especial, pois é através dela que se edificam os valores morais e humanitários e onde os laços de solidariedade se tornam fortes. Por isso, as esposas dos maçons são muito valorizadas e têm papel de destaque no fortalecimento e consolidação da estrutura familiar, dignificando, enobrecendo e edificando os princípios e valores que fundamentam a cidadania. São motivo de orgulho os trabalhos realizados pela Fraternidade Feminina das Lojas a que pertencem seus esposos e, em nosso caso particular, pela Fraternidade Feminina da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, tendo bastante repercussão as atividades do GFEM – Grupo Feminino Esposas de Maçons “Arco-Íris”.

É tradição na Maçonaria as cerimônias de reconhecimento conjugal, onde o Obreiro após ter se casado devidamente segundo as leis civis, pode apresentar sua esposa aos demais irmãos de forma solene ou em comemoração de bodas. Outro costume é a adoção de Lowtons, onde filhos, enteados e netos (de ambos os sexos) de Maçons, que tenham idade entre 7 e 14 anos, são adotados por uma Loja Maçônica que contrai para com eles a obrigação de servir-lhe de tutor e guia na vida social. Prestando o último tributo e marcando a passagem do Maçom para o oriente eterno e quando autorizado pelos familiares, causa grande comoção o ritual fúnebre maçônico.

No campo familiar, merecem destaque, também, as quase centenárias entidades paramaçônicas, como a Ordem DeMolay, para jovens do sexo masculino entre 12 e 21 anos, e a Ordem Internacional das Filhas de Jó, para jovens do sexo feminino entre 10 e 20 anos, que orientam para os princípios fraternais, filosóficos e filantrópicos. Vale o registro de que meninos entre 9 e 11 anos, e meninas entre 6 e 9 anos, têm também a oportunidade de participar dos projetos “Ordem dos Escudeiros “ e “Abelhinhas”, respectivamente, como etapa preparatória antes que possam ingressar como membros dessas entidades Paramaçônicas.

A Ordem da Estrela do Oriente, com mais de 150 anos de existência, e que chegou ao Brasil em 1997, é outra organização fraternal e paramaçônica constituída por homens Maçons e mulheres acima dos 18 anos com parentesco maçônico, que tem como um de seus objetivos congregarem a família maçônica e dar suporte à Ordem Internacional do Arco-Íris para Meninas e a Ordem Internacional das Filhas de Jó, tendo se destacado por inúmeras obras assistenciais.

Ainda pouco conhecida, inclusive entre os Maçons, vale registrar a fraternidade Shriners International, que se identifica como uma organização compostas exclusivamente por Mestres Maçons regulares, com a participação das esposas e que cuida do atendimento gratuito na área de saúde para crianças com até 18 anos, por intermédio dos Hospitais Shriners para Crianças®. Trata-se de uma entidade filantrópica reconhecida pela ONU e atuante em vários Países.

Em nosso meio, destaca-se, ainda, a Academia Mineira Maçônica de Letras – A Casa de Tiradentes, que reúne os pensadores da Maçonaria, com a finalidade de promover e estimular o cultivo e divulgação das artes, das ciências e das letras, e o estudo da filosofia maçônica, bem como a conservação e o desenvolvimento da Cultura em geral. Em seu mais recente trabalho de pesquisa divulgado, consubstanciado na obra “A Verdade dos Inconfidentes”, são apresentados detalhes intrigantes da vida dos personagens que bem ilustram o movimento libertário nascido em Minas Gerais.

Com essa vitrine e por outras ações é que a Ordem exerce um grande atrativo por parte de homens livres e de bons costumes que comungam dos mesmos valores, e estes, quando convidados a aderir ao movimento e aceitos, criam profundos vínculos de amizade em decorrência do companheirismo e como fruto de sadia, fraterna e ecumênica convivência.

Não é segredo que a condição para o convite de adesão tem como referência a honra ilibada e a probidade inconteste do candidato, pois a força da Maçonaria reside na seleção rigorosa de seus integrantes. Uma recomendação sempre presente é a de que “o candidato seja sincero perante sua própria consciência, quando do preenchimento da proposta de admissão”, considerando-se que todas as informações serão objeto de sindicância.

Ao incorporar-se à Maçonaria o iniciado vê descortinar-se à sua frente uma série de desafios e oportunidades de crescimento pessoal, voltados para a ampliação de conhecimentos, desenvolvimentos de habilidades para lidar com situações da vida cotidiana e conscientização acerca de atitudes decisivas e transformadoras para fazer a efetiva diferença no seu meio social, em benefício da Família, da Pátria e da Humanidade. Neste particular, a formação de líderes ganha novos contornos, vez que embasados em ideais maçônicos de melhor servir e sempre de forma desinteressada, sem vislumbrar ganhos pessoais.

Em face dos estudos e discussões proporcionados pelas reuniões de trabalho, o Maçom nunca se vê deslocado em qualquer evento social onde tenha que emitir uma opinião acerca de qualquer assunto de interesse geral, vez que nas Lojas são debatidos temas envolvendo valores familiares, ética e filosofia, arte, história, políticas sociais, economia, liderança e gestão, filantropia, autodesenvolvimento, dentre outros. Por isso, sempre que a situação assim o exigir, sem abrir mão da discrição e do respeito ao contraditório e às opiniões, o Maçom tem condições de demonstrar conhecimento e argumentação consistentes.

É por esses e outros motivos que um maçom sempre reconhece um irmão em eventos sociais ou no campo profissional, em decorrência de alguns gestos, termos ou expressões que são agregados ao seu modo de se expressar e agir e que por vezes despertam alguma curiosidade, por alguns interpretados como uma vantagem competitiva ou um dividendo do capital social e intelectual patrocinado pela Ordem.

Assim, a condição de maçom implica responsabilidades e cuidados adicionais que demandam vigilância diuturna, não permitindo deslizes rotineiros verificados no dia-a-dia de um cidadão comum. Apenas para citar um exemplo, imaginem a situação de um irmão orgulhoso de sua condição, que ostente em seu veículo de uso permanente uma identificação maçônica, e que reage a uma provocação no agito diário ao fazer um gesto obsceno ou proferir uma palavra impublicável a um motorista emocionalmente desequilibrado e apressado forçando uma ultrapassagem. Basta “ligar lé com cré” para concluir que o conceito da Ordem Maçônica fica maculado para aqueles que testemunham tal situação. Certamente, no mínimo com um quê de ironia vão pensar: “Essa é a tal Maçonaria?”.

Na mesma toada, denigre a imagem da Maçonaria aquele que maneja ser aceito para tirar proveito pessoal, servir de meio para atingir interesses na área profissional ou imagina participar de um clube social ou apenas e tão-somente conquistar novas amizades, desfrutar do seu status ou conquistar algum cargo de relevo. Esses, quando identificados, representam o joio que precisa ser expurgado por se caracterizar em erro de seleção pelos respectivos padrinhos e falha do processo de sindicância.

Conscientes desta realidade é que os obreiros vez por outra se surpreendem aos encontrar velhos conhecidos ou amigos em eventos ligados à Maçonaria e proferem a expressão de alegria (ou de espanto!) contada na abertura desta prancha. O processo de seleção dos membros é bastante discreto. Sempre há vagas na Maçonaria, mas o critério implícito é de qualidade do capital humano e não de quantidade de membros, por isso não existe um guichê de inscrições. Os Mestres espalhados pelo mundo estão sempre observando possíveis candidatos. O ambiente de trabalho na Maçonaria é agradável e o salário oferecido é compensador, apesar de não se traduzir em números. O maior orgulho é reforçar um capital social e transformador inestimável.

Não obstante todo o respeito que a história da Maçonaria inspira e é sobejamente decantado pelos seus obreiros mais dedicados e orgulhosos do status conferido pelo sentimento de pertencimento, ainda é difícil explicar a postura de alguns que preferem omitir a condição de Maçons e preferem a discrição a ponto de reagirem quando questionados a respeito, devolvendo a pergunta sobre o porquê da curiosidade da outra parte, demonstrando certo constrangimento. Permitimo-nos vislumbrar muita insegurança desse irmão, para não ser mais indelicado com os que assim se comportam. Por que não assumir? Talvez o comportamento reflita o desconhecimento da grandeza da Ordem, por falta de estudos e medo de demonstrar ignorância ou negligência nos estudos, e quem sabe seja o resultado da falta de frequência aos trabalhos em Loja. Essa constatação responde, em parte, a pergunta formulada no primeiro parágrafo acima.

É cediço que a Maçonaria face ao seu grande potencial transformador não pode ficar restrita às Lojas ou Oficinas. Por isso o maçom precisa se impor e não apenas a Maçonaria. Esta prepara seus obreiros e espera que atuem a serviço da humanidade. Urge que esteja nas ruas, praças e na sociedade civil, ensinando pelos seus valores morais, histórico de obras, não somente em discurso, mas em ações concretas. Muitos ainda, na condição de saudosistas, ficam a relembrar as glórias do passado, para não dizer que ainda vivem lá, descurando do presente e do que precisa ser feito, do capital social que precisa ser fortalecido constantemente para a construção das pontes que unam as pessoas e as demais forças da sociedade.

Um grande exemplo do que pode ser feito pela Maçonaria está representado no projeto de lei de iniciativa popular denominado “Corrupção Nunca Mais”, lançado na Assembleia Geral Plenária da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, realizada em 21.03.2015, acolhido e aprovada pelas 27 Grandes Lojas que compõem a Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil. O projeto visa a estabelecer procedimentos e punições mais severas para os crimes da espécie e ora se encontra na fase de coleta de assinaturas, para posterior encaminhamento ao presidente da Câmara Federal, para os trâmites legais.

Todas essas iniciativas promovem a coesão e a credibilidade da Ordem, e se constituem em ingredientes indispensáveis na formação do capital social e, estamos conscientes de que este capital quanto mais se usa mais ele aumenta e proporciona frutos inestimáveis em valor e em benefícios para toda a Sociedade.

Nestes termos, para que os dividendos deste capital social sejam sempre positivos e perenes, e se traduzam em ganhos para a sociedade, a fraternidade não pode ser utilizada em proveito próprio, devendo todos se tratarem em condições de igualdade, reconhecendo no outro um irmão, sem espaço para privilégios e exceções, unidos pelos sentimentos mais nobres e respaldados na confiança mútua que é o fruto mais saboroso da liberdade, que se consubstanciam nos pilares do edifício social, moral e ético representado pela Maçonaria Universal.

Fonte: https://opontodentrocirculo.com

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