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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

MAÇONARIA E OS CÁTAROS

MAÇONARIA E OS CÁTAROS

O Catarismo se espalhou por toda a Europa entre os séculos XI e XIII. Desenvolveu-se principalmente em Languedoc, sul da França, de onde tomou o nome Albigenses, devido à cidade de Albi. A palavra "cátaro" vem do grego "Katharos", que significa "puro". Pra dizer a verdade o Catarismo é erroneamente considerado uma heresia cristã, já que em tudo se assemelha a uma outra religião. Sua origem permanece obscura, mas sua doutrina se aproxima em muito das filosofias gnósticas e maniquéias que circularam na Idade Média durante o terceiro e quarto séculos.

Note que também a franco-maçonaria alega ter herdado os "mistérios de iniciação do Catarismo", através da intermediação dos Templários. De acordo com os Cátaros, dois princípios eternos dividiram o universo. O bom criou o mundo dos espíritos e o mal criou o mundo material. O homem é a junção dos dois princípios. Ele é um anjo decaído aprisionado a um corpo material. Sua alma originou-se do bom princípio, mas seu corpo foi criado pelo mau princípio. O objetivo do homem seria pois então libertar-se do mundo material através de uma purificação espiritual, a qual necessitaria obviamente de uma série de reencarnações.

Como todos os heréticos, os Cátaros proclamavam que sua doutrina é que era o verdadeiro cristianismo. Eles mantinham a terminologia cristã ao mesmo tempo que distorciam a essência dos dogmas. Eles diziam que Cristo era o mais perfeito de todos os anjos e que o Espírito Santo era uma criatura inferior ao Filho. Eles se opunham ao Antigo Testamento, o qual era considerado obra do mau princípio. Eles negavam a Encarnação, a Paixão e a Ressurreição de Jesus. Eles alegavam que a Redenção floresceu muito mais da pregação evangélica do que da morte na cruz.

Os Cátaros diziam que a Igreja se corrompera desde os tempos de Constantino e rejeitavam todos os sacramentos. Definitivamente o Catarismo foi uma espécie de paganismo sob uma máscara de cristianismo, o qual se assemelha ao Budismo em muitos pontos.

Sendo o mundo material intrinsecamente mau, a ética cátara condenava todo o contacto com a matéria. Casamento e procriação eram proibidos porque uma pessoa não deveria colaborar com a obra de Satanás, o qual seria o responsável pelo aprisionamento das almas em seus corpos. Uma vez que a morte era considerada como a libertação do espírito, o suicídio era encorajado. Eles aplicavam a "endura", ou seja essa "libertação do corpo material" aos doentes e `as vezes até mesmo as crianças, para acelerar o retorno dessas almas ao céu. Os Cátaros proibiam também juramentos sob o pretexto de que não deveriamos misturar Deus aos afazeres temporais e condenavam toda a espécie de riqueza.

Por fim, os cátaros desejavam atingir o estado de "desencarnação" similar àqueles dos "faquirs" (ascetas hindus). Além disso, os cátaros negavam o direito do Estado empreender guerras ou punir criminosos.

Obviamente tal programa não poderia atrair muitos adeptos e pra remediar a situação os cátaros estabeleceram duas classes de discípulos: os "perfeitos" e os "crentes simples". Os primeiros, poucos em número, eram os iniciados que viviam em mosteiros e se conformavam inteiramente à filosofia moral do Catarismo. Os segundos, que constituiam a vasta maioria, estavam isentos de todas as obrigações morais não apenas em matéria sexual como em assuntos comerciais.

Os cátaros não se submetiam às regras cristãs que sempre proibiram a usura e que impunham o princípio do preço justo. Além disso, o "crente simples" tinha a garantia de ir para o céu se, antes de morrer, ele recebesse o "consolamentum" que era uma espécie de paródia do sacramento da extrema-unção.

Promiscuidade, contracepção, aborto, eutanásia, suicídio, capitalismo selvagem, intenso materialismo e salvação para todos.

É incrível como a moralidade cátara se assemelha ao liberalismo dos dias de hoje! Os cátaros então ensinavam a moralidade em dois degraus: asceticismo para a minoria e libertinagem para a maioria, somando-se salvação a baixo custo para todos. Agora podemos entender o que fez de sua doutrina um verdadeiro sucesso!

Apesar disso, a vasta maioria do povo permanecia fiel ao Catolicismo. Os cátaros foram recrutados basicamente entre os negociantes das cidades. Eles não eram numerosos, provavelmente constituíam apenas 5 ou 10% da população de Languedoc, mas eram ricos e poderosos. Alguns deles praticavam a agiotagem ou usura. O Conde de Toulouse, o mais importante senhor de Languedoc, aderiu à causa cátara.

Assim, como podemos ver, os cátaros não eram de forma alguma "pobres ovelhinhas" sem defesa, vítimas de uma fanática e cruel Inquisição. Muito pelo contrário, eles formavam uma poderosa e arrogante seita que propagava uma doutrina imoral, oprimindo os camponeses Católicos com a agiotagem e perseguindo sacerdotes. Eles conseguiram até mesmo assassinar o Grande Inquisidor São Pedro Mártir, também conhecido como São Pedro de Verona. A Igreja demonstrou grande paciência antes de tomar medidas para conter o perigo cátaro. As heresias dos Albigenses foram condenadas pelo Concílio Regional de Toulouse em 1119, mas até o ano 1179, Roma se satisfazia apenas em enviar pregadores a Languedoc. Diga-se de passagem, homens santos como São Bernardo e São Domingos. Esses missionários tiveram pouco sucesso. Em 1179, o Terceiro Concílio de Latrão pediu às autoridades civis para que interferissem. Os reis da França, Inglaterra e Alemanha já haviam começado, por sua própria iniciativa, a suprimir o Catarismo que estava ameaçando a ordem social com suas perversas doutrinas sobre a família e a questão dos juramentos.

É bom lembrarmos que o sistema feudal se fundamentava nos juramentos de um homem a outro. A palavra empenhada era o documento que circulava. A negação do valor do juramento era algo grave na sociedade medieval do mesmo modo como seria grave a negação da autoridade da lei na sociedade moderna. Pra piorar, os pregadores do Catarismo encorajavam a anarquia e comandavam bandos armados que recebiam diferentes nomes em diferentes países: "cotereaux", "routiers", "patarins", etc. Esses bandos saqueavam igrejas, profanavam a Eucaristia e massacravam sacerdotes. Os cátaros eram tão violentos e sacrílegos quanto os protestantes do século 16 ou os revolucionários de 1793.

Em 1177, o rei da França, Filipe Augusto, se viu obrigado a mandar exterminar um bando de 7000 desses malucos e o Bispo de Limoges teve que marchar contra 2000 desses anarquistas.

Cena idêntica ocorreu na Alemanha e na Itália. Em 1145, Arnoldo de Brescia e seus "patarins" conseguiram avançar sobre Roma e expulsar o povo. Eles proclamaram uma república e permaneceram no poder por 10 anos até serem conquistados e condenados às chamas pelo imperador alemão Frederico Barbarossa. O Catarismo provocou desordens sociais em toda a europa e reinou em Languedoc.

Em 1208, os homens de Raimundo VI, Conde de Toulouse, assassinaram o legado papal, o Bem Aventurado Pedro de Castelnau. Finalmente, Inocêncio III decidiu pregar a Cruzada contra os Albigenses. Esta foi liderada por franceses do Norte sob o comando de Simão de Montfort.

Os cátaros resistiram por quatro anos (1200-1213) e tomaram as armas novamente em 1221. Isso serve pra comprovar o quão poderosos eles eram. A sua última fortaleza, Montségur, não caiu antes de 1244. Mas nem por isso o Catarismo desapareceu. Ele transformou-se numa espécie de sociedade secreta bem parecida com a franco-maçonaria.

Como em todas as guerras, também durante a Cruzada contra os Albigenses houveram excessos. A tomada de Béziers (1209) foi um verdadeiro massacre. Era impossível discernir os Cátaros entre a população Católica da cidade. Conta-se que o legado papal, Arnold de Citeaux , teria dito na época: "Matem a todos. Deus saberá reconhecer os seus". Provavelmente tais palavras são apócrifas e são repetidas como jargões nos lugares mais comuns do anticlericalismo. De qualquer modo elas refletem um fato indubitável: os Cátaros, que há muito tempo vinham atraindo o ódio do povo por causa da sua imoralidade e agiotagem, corriam o risco de um linchamento geral. Foi a Inquisição que preveniu esse massacre ao fazer uma distinção entre os heréticos e os ortodoxos, entre os líderes e os seguidores e ao aplicar a punição proporcional aos diversos graus da heresia.

Finalmente a Inquisição acabou por ser um trabalho humanitário. Ao punir severamente os líderes, ela poupou as massas que haviam aderido ao Catarismo, as quais eram muito mais vítimas do que responsáveis pela heresia. Ao neutralizar os heréticos que se refugiaram na clandestinidade, a Inquisição livrou a sociedade cristã da possibilidade do renascimento do Catarismo e de todas as desordens sociais e morais que sua doutrina provocou.

Um célebre historiador, embora hostil à Inquisição, não hesitou em concluir que na Cruzada contra os Albigenses: "... A causa da ortodoxia Católica não era outra coisa senão a civilização e o progresso humano... Se essa crença, o Catarismo, tivesse conseguido recrutar a maioria dos fiéis, o resultado seria trazer a Europa de volta à mesma barbárie dos seus tempos primitivos..." (Léa, Henri-Charles, Historie de l'Inquisition au Moyen Age, Paris, Éd Jêrome Millon, 1986, 3 vols).

Jean-Claude Dupuis
(http://agnusdei.50webs.com/div246.htm)

Um século depois de Agostinho, que fora maniqueu antes de ser cristão católico , Atanásio, bispo de Alexandria, professava uma doutrina da alma digna de um verdadeiro gnóstico. Tertuliano teria sido um dos primeiros fiéis da Igreja dos “puros” (catharoï); como Montanius, fundador da primeira Igreja cátara em 140; como Novat, bispo cátaro em Cartago; como Novatiano, que se tornou papa, e permaneceu papa (em 250) durante vinte anos!

Foi nesse verdadeiro cadinho espiritual alexandrino que se confrontaram a sabedoria de Hermes, o essenismo e o neoplatonismo com o cristianismo, em cujo espírito o catarismo se desenvolveu.

Desde a aurora dos tempos, os que transmitiram a sabedoria, a Gnosis, incitaram a humanidade a descobrir que um caminho de regresso à perfeição original existe e que um processo imenso e misterioso leva à verdadeira vida, a vida do homem-alma-espírito. Em verdade, de Rama, o arquidruida, até Hermes Trismegisto, de Hermes a Pitágoras, de Pitágoras a Virgílio, de Virgílio a Dante, é a mesma corrente espiritual e secular que gira. Celtismo e pitagorismo são irmãos. Druidismo e cristianismo se completam, e não é de modo algum por acaso! A essência da doutrina dos druidas é cristã em seus fundamentos puros, embora ela tenha sido elaborada antes de Cristo.

Índia, Egito, Palestina, Grécia e Alexandria;Pitágoras, Platão, Jesus; Dante, Gnosis islâmica; para finalmente aparecer na Europa com os cátaros, os templários, os rosacruzes...Uma longa corrente áurea, uma série de elos conectados uns aos outros.Mas é sempre o mesmo pensamento no trabalho, um fundamento espiritual idêntico que reencontramos sob símbolos diferentes: a Gnosis, o templo do Espírito, a Fraternidade Universal.O Mistério envolve todas as origens: a do mundo, a do cristianismo, a do homem.Cristo, ele próprio, trabalha em uma “nuvem luminosa”; e quando ele enraíza profundamente o trono divino, vemos surgir através do matagal confuso três ramos-raiz:

O ramo judeu e tradicional de São Pedro;
O ramo grego de São Paulo;
O ramo oriental, platônico e místico de São João.

A qual dessas três ramificações primitivas se ligam os cátaros, o catarismo dos Pireneus franceses, com o maniqueísmo aquitano, os templários e mais tarde os rosacruzes?Evidentemente à última, a de João, filho de Zebedeu, o discípulo bem amado do Senhor!Moisés desceu das nuvens trovejantes do Sinai portando as Tábuas da Lei. Cristo, ascendendo em sua glória, deixa ao mundo apenas seu Verbo. O Verbo se condensa em um evangelho primordial. Esse arqui-evangelho hebreu é dividido em quatro evangelhos gregos que se fragmentam em uma multiplicidade de lendas evangélicas escritas em idiomas orientais. Cada nação tem sua própria biografia de Jesus, cada grupo de fiéis modifica a imagem de Cristo de acordo com suas próprias idéias:

Para os judeus, ele é “filho de Abraão”;
Para os gregos, ele é “Filho do Homem” e suas origens remontam a Adão;

Os orientais ignoram toda sua genealogia humana e vêm nele apenas o Verbo, Filho de Deus.Cristo também tem sua mitologia. A igreja se arroga o direito de tornar proscrita essa diversidade de lendas apócrifas e considera verdadeiros apenas os quatro evangelhos: o homem, o leão, o touro e a águia. O concílio de Nicéia os declara “os únicos ortodoxos”. Mas a fonte dos quatro rios, o exemplar único e original, o arqui-evangelho, desapareceu! Gregório de Naziance, bispo greco-asiático do século IV, patriarca de Constantinopla, dizia:

“Mateus foi escrito para os hebreus;
Marcos, para os romanos;
Lucas, para os helenos;
João, para todos os povos do Universo.
”No lugar do “Verbo”, os cátaros invocavam o Paracleto.

O Evangelho de João se constituía quase inteiramente sua Bíblia, onde sua história principiava. O Apocalipse de Patmos abria sua epopéia. Seu espírito tinha o temperamento da águia, símbolo de “Boanerges” (filho do trovão). Pelo apóstolo João, o “amado do Salvador”, e pelo seu evangelho, os cátaros eram não somente da mais pura linhagem evangélica, mas ainda da mais alta origem ortodoxa. Entretanto, eles ultrapassaram esse poderoso impulso até o mais alto ideal cristão. O evangelho espiritual estava ligado ao sentido da mais alta realização: o homem-espírito.

Eles não eram apenas místicos, eram também gnósticos.Seu cristianismo era uma “gnose”, um “conhecimento” dos mistérios divinos e uma pregação. Seu chefe era o Verbo que ensina. Como o Deus Salvador de Platão, ele salvava pela verdade, não pela expiação ou martírio.A razão nunca pôde explicar a coexistência simultânea do infinito e do finito, de Deus e do mundo. Se o Espírito é o Ser, a matéria é o nada. Se o Espírito é o bem, a matéria é o mal, ou seja, o não-ser. Deus, sendo o Ser infinito, a carne é apenas uma sombra, o mundo uma aparência, o destino um drama trágico, fantasmagórico!Havia gnósticos judeus e gnósticos greco-sírios. A estes últimos estava ligado o catarismo da região dos Pireneus. Eles eram gregos orientais.Greco-hindu, o catarismo rejeitava o judaísmo, os livros hebreus, as violências de Moisés, os trovões de Jeová.“Deus é Amor”.

Ele se distingue claramente do maniqueísmo persa ao rejeitar o dualismo entre o Espírito e a matéria, seu mal eterno, seus resquícios do mazdeísmo. Zoroastro lhe era tão estranho quanto Moisés.Cristão, anterior ao cristianismo do Concílio de Nicéia, o catarismo não aceita os livros judeus, nem os evangelhos judaicos, nem os símbolos da Igreja imperial, nem as pompas pagãs da teocracia romana.Ele está ligado, sobretudo, a Montanius, a Marcion, os primeiros “cátaros” (140-199), a Novat, a Novatiano (o papa cátaro).

Gnóstico, ele se separa dos outros gnósticos deixando de lado os éons, os Abraxas, os diagramas, os números cabalísticos. Ele se separa do tronco cristianismo pelo ramo-raiz de São João e forma como um neo-cristianismo mediante a elevada idéia geradora do Paracleto.“Religião do Espírito” (Mani, manas, mens, designando o pensar superior, o Espírito).

É a religião de Hermes, o Mercúrio da cultura latina.Nos ensinamentos “herméticos”, a tônica é colocada no pensamento superior que é a alma divina: somente a alma, nascida no coração, se liga ao Espírito. Ela “conhece” Deus. Ela serve a Deus pela razão esclarecida. Somente o Espírito, manifestado na Alma, salva o ser humano.

Inspirado por Alexandria, esse movimento se diferencia do neoplatonismo por rejeitar todas as mitologias e tradições órficas, homéricas e olímpicas, para se unir, por intermédio de João, a Cristo.O Evangelho de João é para ele, “o livro levado pelo anjo ao Zênite do Céu”.Ele se destaca de Francisco de Assis, bem como de Joaquim de Flore, pelos seus dogmas alexandrinos e por seu insuperável horror a Roma, dos horrendos processos da Inquisição, da morte dos hereges proclamada por Leão I em 447, da vergonhosa condenação do livre pensamento pelos grandes teólogos católicos, dos quais o modelo, sem sombra de dúvida, foi fornecido por São Tomás de Aquino.

O que eles adoravam era “Mani”, ou o Espírito Santo. Maneísmo não é sinônimo de maniqueísmo. Que trágico erro tem causado esta confusão propositada! É todo o drama cátaro!

A Occitânia (sul da França) foi a terra do reencontro predestinada da corrente cristã de origem bogomila, introduzida no ocidente pelos mercadores “boulgres” ou búlgaros (dentre os quais Paulo, o Armênio) no século X, com a corrente pirenaica vinda da Espanha. A corrente espanhola surgiu na costa oriental do Mediterrâneo durante o século I. Ela se fortificou em Alexandria em contato com o neoplatonismo de Plotino e Orígenes. Então, essa corrente espiritual de “Mani” ganha a África do norte com Marcos de Menfis e Fausto de Milevo (ao qual se opõe Agostinho, que renegou os maníqueus, do qual não pôde penetrar os aspectos interiores).O maneísmo, em sua própria essência, é anterior ao espírito dogmático do Concílio de Nicéia.“Pode-se considerar o maneísmo aquitano, ou occitano (denominado mais tarde albigense), como uma evolução nova do cristianismo e como seu desabrochar definitivo, sua sutilização suprema e celestial.”

“Se o judaísmo é a religião do Pai (de Jeová), se o cristianismo é a religião do Filho (de Jesus), então o catarismo é a religião do Espírito (do Paracleto).Como o cristianismo se distingue do judaísmo pelo Verbo, o catarismo se distingue do cristianismo eclesiástico pelo Paracleto.”Segundo o cristianismo das igrejas, o gênero humano foi salvo pelo Filho. Acreditar nele traz a salvação.

No catarismo, a salvação provém do Paracleto, do Consolador. É ele, o Espírito Santo, que desperta a alma de seu sono ébrio na matéria e lhe dá o anseio pelo absoluto, por Deus.Ouvir a Palavra é, então, saber-se portador da centelha-de-luz do Deus verdadeiro e fazê-la crescer como a força do Filho.O catarismo, que reivindicava como sua Mãe a igreja cristã, ignorava a sinagoga judaica, que por sua vez rejeitava a Igreja cristã como sendo muito intelectual. A Igreja cristã, que se tornou católica, rejeitava a Igreja cátara como sendo muito espiritual, muito idealista...

De tal forma que a Igreja cátara, então legítima pretendente ao título de cristã, deveria, após esse desenvolvimento, sustentar o nome de “paracletiana”.

Ela é a “Igreja da Consolação”, pura e purificadora, santa e santificante, consoladora e consolada no exílio do mundo. Ela é a Consolação do Universo: ela desdenha o mundo, abomina o sangue, extingue o inferno, converte Satã, proclama a salvação universal. “Por essa sólida evolução, o catarismo pode ser considerado uma nova religião que escapou da Igreja como uma borboleta da crisálida. Essa transformação, que foi seu brilhante infortúnio no passado, deverá ser no futuro seu glorioso epitáfio. Os primeiros “Amigos de Deus” formaram uma fraternidade igualitária, professando o sacerdócio universal. Mais tarde, as perseguições levaram os cátaros a se organizar; três degraus se formaram na igualdade primitiva: o noviciado, a perfeição e o sacerdócio. O diaconato fora elevado a episcopado e do episcopado desabrocharia o patriarcado.

A religião do Espírito consolador e purificador, tão antiga quanto a dor e o mal, que queria curar as feridas, remonta aos primeiros dias do mundo. Antes de Cristo, ela projetou seus raios sobre os brâmanes da Índia, os magos da Pérsia, os essênios do judaísmo, os gregos, sobre Pitágoras e Platão.Depois de Cristo, entre todos os gnósticos, está mais voltada ao pensamento de Platão e à moral de Pitágoras, conservando entretanto, sua pura radiação primordial no Oriente: um raio celeste e uma lâmpada grega.Aí termina sua hierarquia que, daí por diante, conserva o monopólio do patriarcado. Essa aristocracia patriarcal jamais tomou o aspecto de uma monarquia teocrática. Ela não serviu, em momento algum, aos sonhos de Manes, que envolvia o mundo todo em seu projeto de teocracia universal.

O catarismo pireneu foi, em sua essência, espiritualista demais para personificar o Paracleto em um homem: seu papa era o Espírito; seu Vaticano, o céu! Nenhuma palavra velada na Bíblia, nenhuma escritura acorrentada no Templo.

Nenhum Deus cativo no tabernáculo.
Nenhum sacerdote carcereiro de Deus.
Nenhum papa zelador do céu e do inferno.
Nenhuma servidão ou morte do Espírito!

Deus salvou duas vezes o mundo do materialismo e da corrupção, pela imensa revolução da Gnosis: os místicos, os gnósticos, os solitários dos desertos, os grandes pensadores das cavernas. Ele soergueu os cátaros, os leonistas, os espiritualistas de Narbone e da Calábria contra as crenças e dogmas não racionais. Essas eram as igrejas proscritas de São João e São Paulo.Eram os templários, os cátaros e mais tarde os rosacruzes, irmãos da Fraternidade Universal, que elevariam o templo do Espírito: a grande ‘Mani da Aquitânia. Verdadeiros pioneiros em seu tempo da Igreja do Espírito, que persistiam incansáveis em sua tarefa de “pescadores de homens”, abrindo desde a base o caminho do renascimento do Espírito, freqüentemente proscritos, perseguidos e traídos, mas jamais desencorajados.Orígenes, Marcos de Mênfis.

Temos ainda, e após o ano 140 d.C., outros líderes espirituais: o grande Orígenes, Marcos de Mênfis (desde o ano 300), Prisciliano de Ávila, Félix de Urgel, Paulo da Armênia, Erigène da Irlanda, Lisois de Orleans. Também Nicetas de Constantinopla, que veio organizar o catarismo na região dos Pireneus em face das perseguições que ocorriam.”

O catarismo chegou ao Ocidente sob sua forma pura, com Marcos de Mênfis antes do ano 350. Seu aluno favorito, Prisciliano de Ávila, o espalhou por toda a Espanha, a Gália, a Inglaterra, a Bélgica, a Suíça, a Holanda, a Alemanha, até 382. Essa é data em que ele foi decapitado em Treves (Alemanha) por instigação de bispos católicos. Ele foi o primeiro mártir herético.

Seus grandes discípulos espanhóis Elipand, arcebispo de Toledo, e Félix, bispo de Urgel (Andorra e Sabartez) que reencontramos nos caminhos que levaram Prisciliano (de 788 a 800) a Narbonne, a Ratisbonne, até Frankfurt, até Aix-la-Chapelle, continuaram sua pregação.Mais tarde, Joaquim de Flore (1132 - 1202) produziria seu “Evangelho Espiritual” que teve igualmente uma profunda influência sobre a evolução do pensamento religioso.Todos vivificaram uma corrente espiritual na qual se inspiraria o catarismo. (http://anubysp.blogspot.com.br/2014/04/cataros-e-catarismo-cristianismo.html)

Fonte: https://liberdadeeamorcassia.mvu.com.br

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