Páginas

PERGUNTAS & RESPOSTAS

O “Perguntas & Respostas” que durante anos foi publicado no JB News e aqui reproduzido, está agora no “Blog do Pedro Juk” . Para visita-lo ou tirar suas dúvidas clique http://pedro-juk.webnode.com/ ou http://pedro-juk.blogspot.com.br

sexta-feira, 8 de abril de 2022

SETE BOLINHAS DO AVENTAL DO VENERÁVEL

SETE BOLINHAS DO AVENTAL DO VENERÁVEL
(republicação)

Questão repassada pelo Respeitável Irmão Hercule Spoladore, que recebeu a mesma do Respeitável Irmão Ademilson Miranda (COMAB) – Grande Oriente do Paraná.
hercule_spolad@sercomtel.com.br
ademilsonmiranda@terra.com.br

Hoje me perguntaram qual o significado dos pingentes do avental do Venerável Mestre. E eu não soube responder, por isso peço o auxílio de suas luzes.

CONSIDERAÇÕES:

A história dos aventais maçônicos possuem duas etapas distintas consideradas a documentação autêntica da Sublime Instituição com os seus aproximados oitocentos anos de existência. Sob esse prisma e etapa a tradição do avental é indubitavelmente de cunho operativo, quanto este fazia parte da indumentária do pedreiro como elemento de proteção contra eventuais acidentes causados pelo manuseio e corte da pedra calcária.

Posteriormente, já na segunda fase de existência da Maçonaria e sob a influência especulativa, os aventais começariam a deixar o cunho de proteção corporal para integrar uma vestimenta de alto valor simbólico – o símbolo do trabalho, já que os canteiros passavam paulatinamente por uma metamorfose que dava aos elementos operativos (instrumentos de trabalho e matéria prima) uma conotação de exemplo de moral e de ética tornando a “pedra” como alegoria de aperfeiçoamento do próprio Homem. Em linhas gerais a construção simbólica é o trabalho de reconstruir o ser humano para o aperfeiçoamento da humanidade.

Dentro desse contexto, como teria sido o avental operativo? Em linhas gerais era um avental grande de pele, ou couro curtido que protegia as coxas desde os joelhos, o abdome e o tronco, indo preso por uma alça que passava por detrás do pescoço e amarrado à cintura por dois dispositivos que saiam das suas laterais, passavam pelas costas e, de maneira cruzada eram amarrados na frente por um ou dois nós cujas sobras ficavam pendentes sobre o avental. Na parte inferior do mesmo, logo acima dos joelhos, havia duas casas (pequenas cavidades) que serviam para prender em botões que iam costurados na roupa por baixo. Esses dois dispositivos serviam para prender a base do avental às roupas no sentido de que ele não se deslocasse durante os afazeres de ofício.

Em muitos aventais operativos, encontrava-se também outro orifício (casa) há aproximadamente cinco dedos para baixo do umbigo. Esse aparelho também servia para abotoar a parte de cima do avental (atual abeta) quando estivesse solta nos instantes em que porventura o usuário carecesse prendê-la abaixo e na frente pela não necessidade de proteção do tronco e abdome em determinados momentos do ofício (durante as refeições, por exemplo).

Com o advento de ingresso do elemento especulativo (aquele que literalmente não era um profissional do ofício de cantaria) por razões históricas e que não cabem aqui considerações, os aventais maçônicos viriam sofrer uma drástica transformação principalmente a partir do último quartel do Século XVII até o Século XVIII.

Em não sendo mais um avental operativo, a proteção do tórax se transformaria em uma abeta decorativa e simbólica, geralmente abaixada, às vezes de formato triangular e em outras arredondadas. Também o comprimento do avental seria encurtado, provavelmente pela não mais necessidade desse formato longo. As bordas inferiores do avental também nem sempre possuíam cantos, todavia eram também boleados. Da mesma forma não havia também uma medida determinada para o mesmo. A questão era norteada mais pela estética conforme o gosto no Irmão especulativo. Sob esse prisma, não tardaria aparecer no gosto estético, também o elemento decorativo, normalmente atrelado aos elementos alegóricos que começavam a proliferar a Instituição, sobretudo no Século XVIII com a profusão dos ritos maçônicos. À bem na verdade não existia uma preocupação com a uniformidade, porém com o gosto individual, fato que já dava asas para o preenchimento da “vaidade humana” em alguns casos.

A uniformização dos aventais especulativos viria acontecer a partir do primeiro quartel do Século XVIII, quando em 1.717 seria inaugurado o primeiro sistema obediencial do mundo maçônico com o advento da Primeira Grande Loja em Londres. A direção da Grande Loja passava a ter logo em breve paramentos padronizados para o Grão-Mestre e seu grupo administrativo. Nas Lojas que viriam paulatinamente compor esse sistema também os aventais passava a sofrer uniformização, a despeito de que mesmo em se tratando da já Moderna Maçonaria, esta era ainda composta por dois graus, fato que só se transformaria com a inclusão do Terceiro Grau a partir da sua criação entre 1.724/1.725 pelo Duque de Richmond na sociedade profana denominada “Philo Musicae et Arquiteture Societa Apollini” (a primeira Constituição de Anderson - 1.723 não citava ainda o Grau de Mestre, apenas a segunda, a de 1.738).

Na Inglaterra até a união das duas Grandes Lojas rivais – a dos Modernos de 1.717 e a dos Antigos de 1.751 – no ano de 1.813, vários formatos de aventais iam ao longo do tempo aperfeiçoando uma padronização.

Concomitantemente no Século XVIII o sistema francês de ritos e aí ainda a profusão dos ditos “altos graus” também dava roupagem aos aventais maçônicos.

Outro aspecto que merece consideração seria a enxurrada de interpretações místicas e ocultas que na Moderna Maçonaria acabariam por adentrar nos canteiros simbólicos.

Esses pensamentos e crenças individuais constantemente tolerados em nome da liberdade de pensamento acabariam por fazer parte do ecletismo maçônico gerando além da corrente autêntica, a corrente mística e oculta.

Essa questão fora sem dúvida o “prato cheio” para que a licenciosidade de interpretação e a individualidade de crenças e credos assolassem a racionalidade da Sublime Instituição. Obviamente, não seriam os aventais deixados de lado nessa aventura onde as crenças pessoais seriam impostas equivocadamente como verdade universal. Surgiam então muitos símbolos decalcados nos aventais que nunca tiveram verdadeiramente relação com a pura Maçonaria, senão com pensamentos de particulares grupos místicos e ocultos.

Como esse tema não é bem o mote desse arrazoado, essas considerações ficam, quem sabe, para uma oportunidade mais própria, todavia a intenção é mostrar como viriam surgir símbolos hauridos dessa fase imaginária do ideário maçônico. Dentre esses é o caso das fitas e bolinhas penduradas no avental como tema principal dessa questão. Assim, se seguem as exposições vindouras – “as duas fitas e as sete bolinhas”.

As fitas aludem simplesmente às sobras do nó que era dado na frente do avental por ocasião de quando o Obreiro prendia o mesmo ao corpo. As bolinhas originalmente nunca existiram, senão uma franja em cada fita como acabamento do adorno e aludiam ao desgaste pelo uso constante no ofício da arte.

Aliás, isso pode ser comprovado na Inglaterra onde muitos aventais de Mestres, como é o caso do Trabalho de Emulação que possuem fitas azuis com franjas prateadas - embora lá também apareçam às vezes às tais “esferinhas”. Nesse caso não está sendo feita referência ao paramento do Mestre Instalado, porém ao do Mestre Maçom.

Não raras vezes as bolinhas, ou esferinhas ingressaram como simples adornos decorativos. Agora os místicos acabariam por arrumar um número de unidades e deste surgiram interpretações licenciosas – planetas conhecidos na Antiguidade, Sete Artes e Ciências Liberais, dias da semana e o Shabat como dia da criação; ainda para as duas fitas, as Colunas Gêmeas; lado esquerdo e direito como elementos positivo e negativo; elo entre o espírito e a matéria, enfim, um imenso corolário de opiniões licenciosas hauridas de grupos individuais como se a Maçonaria fosse uma espécie de palco sectário de crenças e opiniões religiosas.

Não há como não citar nessa oportunidade às tão conhecidas três rosetas azuis. Estas aludem àqueles botões que prendiam o avental ao vestuário no intuito de fixa-lo melhor durante as atividades no canteiro (atual Loja). O problema é que as três rosetas dispostas em forma triangular nos aventais modernos, não escapariam das interpretações místicas e ocultistas, principalmente pela disposição triangular como se tudo que pareça um triângulo seja Maçonaria.

Ainda em relação à disposição das rosetas, surgiria na Inglaterra, já à época da Moderna Maçonaria o ato de se instalar o Mestre da Loja, cujo costume se basearia na instalação do rei no trono inglês. Criava-se então mais uma lenda maçônica e por extensão a Instalação Maçônica. Esse novo costume também não tardaria a abranger a ornamentação do avental para o novo título distintivo denominado Mestre Instalado. Assim no lugar das três rosetas do avental do Mestre Maçom, no do Mestre da Loja (Venerável) eram introduzidas às figuras simbólicas da perpendicular (Prumo) sobre uma linha horizontal (Nível), chulamente conhecida como “taus invertidos”. 

Diga-se de passagem, que a letra grega “tau” nunca fizera parte do ideário da Maçonaria, muito menos o emblema de ponta cabeça. À bem da verdade, a figura prateada individualmente é a representação do Nível e do Prumo maçônicos, colocados no avental do Mestre da Loja lembrando dois sinais importantes inseridos oportunamente na Lenda quando o humilde Mestre coloca em ordem a classe dos Aprendizes e Companheiros (E.T. - essa referência é feita à verdadeira Lenda sem deturpação, contrária à confusa exercitada no Brasil).

Dessa equivocada qualificação do tal “tau invertido” opiniões e interpretações licenciosas o imaginaram como símbolo de um malhete e até mesmo como o martelo mitológico de Thor - agora, durma-se com um barulho destes.

Para o avental do Mestre Instalado Passado, título original inglês (Past Master), as figuras “nível-prumo” recebem uma cobertura bordada em azul, cuja finalidade é apenas de diferenciar no avental aquele que está no exercício do veneralato da Loja daquele que já exerceu o cargo.

Em termos de Maçonaria inglesa, não são as fitas presas com adornos no avental que identificam o Mestre Instalado, porém as representações do nível-prumo, já que encontramos Mestres cujo avental possui o adorno das fitas e borlas, porém essas em conjunto com as três rosetas azuis.

Já no sistema francês onde predominam literalmente “ritos”, pois na Inglaterra esses não são assim reconhecidos, porém como “trabalhos”, os aventais com adornos de sete bolinhas são privativos dos Veneráveis e ex- Veneráveis, já que no sistema francês os aventais de Mestres não possuem o adorno das fitas e pequenas esferas nem franjas, bem como é inexistente também a figura do Mestre Instalado, muito embora, a exemplo do Brasil, com ritos como o Escocês Antigo e Aceito que é filho espiritual da França adota-se equivocadamente o cerimonial de Instalação, tendo ainda a ilusão de muitos Irmãos que tem o título de M⸫I⸫ como uma espécie de grau maçônico.

Assim na França existe apenas a figura do Venerável e do ex-Venerável, nunca a do Mestre Instalado e, em termos de decoração dos seus aventais, eles são iguais aos ingleses, a despeito de que alguns ritos como é o caso do Escocês Antigo e Aceito as fitas são vermelhas, pingentes esféricos dourados e os adornos simbólicos “nível-prumo” também na cor de ouro – ver a regulamentação dos paramentos do REAA⸫ no Conselho de Lausanne na Suíça em 1.875.

Finalizando e destacando a prolixidade do texto, razão pela qual sem esse procedimento ficaria impossível o esclarecimento pertinente, há ainda a seguinte arguição. Muitos autores e destes alguns de incontestável credibilidade citaram em suas obras esses usos e costumes, incluindo os de cunho licencioso de interpretação. Para tal, esses, como o caso do saudoso Irmão Francisco de Assis Carvalho, tiveram a intenção de expor essas diversas correntes de pensamento, todavia esses autores autênticos, nunca ostentaram essas inferências como verdadeiras, senão informativas. Assim, se faz cogente que aqueles que se enveredarem para o campo da pesquisa, precisam discernir uma citação de outrem de uma opinião ou afirmação pessoal do autor. Assim, sob o ponto de vista autêntico, bolinhas por bolinhas e suas temerárias interpretações, no equilíbrio da razão nunca foram atributos da pura Maçonaria.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 737 Florianópolis (SC) – 02 de setembro de 2012.

3 comentários:

  1. Parabéns por esta bela peça arquitetônica.
    Ronaldo PM

    ResponderExcluir
  2. Bela peça arquitetônica. Parabéns pela pesquisa e pela deferença de postar informações tão preciosas. Um T.'.F.'.A.'.
    Ronaldo Tosta dos Santos MI - GLESP ronaldotosta@hotmail.com

    ResponderExcluir
  3. Na minha interpretação tem um motivo para estarem no avental, vou pesquisar mais a respeito.

    ResponderExcluir