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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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quarta-feira, 1 de maio de 2024

RÉGUA GRADUADA E NÃO GRADUADA

(republicação)
O Respeitável Irmão Paulo A. Valduga, Loja Luz Invisível, REAA, COMAB, GORGS, Oriente de São Borja, Estado do Rio Grande do Sul, apresenta a seguinte questão:
paulovalduga@gmail.com

Li tempos atrás um traçado, creio que no JB NEWS, de autoria do querido Irmão José Ronaldo Viegas Alves, gaúcho de Santana do Livramento, no qual fazia distinção sobre a Régua de 24 Polegadas para o Aprendiz e para o Companheiro, mas por obra de minha imensa capacidade de guardar os trabalhos em local incerto e não sabido, não consigo o encontrar. Nesse trabalho, recordo-me, ele afirmava que a Régua do Aprendiz não tem graduação como tem a do Companheiro; como não encontrei na literatura maçônica algo que tomasse robusta esta teoria estou recorrendo ao querido Irmão para solucionar este problema: realmente as réguas são distintas pra o Aprendiz e o Companheiro Maçom? Se forem diferentes, qual a Régua que o Aprendiz deverá portar na sua Elevação? A graduada ou a não graduada? 

Considerações:

Dentre as tantas miscelâneas maçônicas que se apresentam, sobretudo na Maçonaria praticada no Brasil, a história da Régua para o Aprendiz não viria fugir a regra. 

No Rito Escocês Antigo e Aceito a Régua de 24 Polegadas é instrumento de trabalho do Segundo Grau. Já no Craft inglês (Trabalhos Ingleses) a Régua pertence também ao Aprendiz. Nesse pormenor, no Brasil, por influência do Craft inglês, por extensão, o norte americano, alguns rituais escoceses sofreram essa influência, fazendo com que instruções abarcassem numa regra alienígena no simbolismo escocês que, só lembrando, é de vertente francesa. 

Corretamente o Aprendiz no Rito Escocês não usa Régua graduada. O que acontece é que na cerimônia de Elevação, é costume o aspirante ao Segundo Grau trazer apoiada no obro esquerdo uma régua sem graduação, ou lisa no momento em que, ainda Aprendiz e conduzido pelo Experto ingressando na Loja. 

Explica-se assim: esse é um costume muito antigo nas tradições operativas quando não existia grau maçônico, senão classe de trabalhadores. Havia assim o Aprendiz Júnior e o Sênior(1) além do Companheiro do Craft. 

Nas classes operativas dos Aprendizes, o Júnior usava uma régua não graduada para conferir o desbaste de modo que quando as pedras ficassem justapostas não existissem arestas. Assim, essa régua lisa não possuía a conotação de medidas, senão a da verificação da superfície. 

Já o Aprendiz Sênior, cujo conhecimento era bem mais acurado, detinha como também instrumento, uma régua graduada que servia para, além de conferir medidas, também à de marcar o cordel com nós na razão três, quatro e cinco para o esquadrejamento da obra a partir da pedra angular. Esse propósito era aplicado na aferição dos passos dados e baseados na pedra angular colocada no canto nordeste da construção – três passos para o Sul, quatro passos para o Ocidente e o fechamento dos extremos com cinco passos. 

É essa a prática da 47ª Proposição de Euclides, ou o Teorema de Pitágoras, cujo fechamento do perímetro desse triângulo retângulo dá exatamente o canto de 90º composto pelos respectivos catetos. 

Assim, essa régua graduada servia para aferição dessas medidas oriundas dos passos aqui mencionados. 

Em linhas gerais é essa a existências da régua lisa e da graduada e, oportunamente lembrando, que à época operativa não existia grau de Mestre, senão um Companheiro preparado para ser o Mestre da Obra. 

Cabe também aqui a seguinte consideração: a régua que era graduada obedecia aos padrões de medidas dos rincões terrenos onde se localizava o canteiro e estas poderiam ser em polegadas, pés, sistema métrico decimal, etc. 

O que verdadeiramente não existia era o número exato da medida “24”, pois este se limitava ao tamanho da régua para o conforto do seu manuseio. O número “24” ingressou na Maçonaria mais tarde como símbolo especulativo e relacionado aos catecismos e instruções no arcabouço doutrinário dos diversos ritos maçônicos da Moderna Maçonaria. 

É também oportuno salientar que essas três classes de trabalhadores operativos – Aprendiz Júnior, Sênior e Companheiro - passariam paulatinamente na Maçonaria Especulativa a adequar-se a um sistema de grau simbólico tão bem conhecido atualmente como Aprendiz (antigo júnior), Companheiro (antigo sênior) e Mestre (antigo companheiro). 

Por essa conjuntura, o Rito Escocês Antigo e Aceito (vertente francesa) revive no seu simbolismo essa prática no momento da cerimônia de Elevação quando o Aprendiz adentra com a Régua lisa e posteriormente é substituída pela Régua graduada. 

Poder-se-ia então perguntar se o sistema inglês (Craft), por extensão o norte americano, não revive essa tradição com a régua lisa? Em alguns casos a tradição é revivida nas instruções (geralmente as Lições Prestonianas), todavia existe uma particularidade nesse sistema. 

É comum um Aprendiz recém-iniciado ter a abeta do avental levantada. Assim que um novo Aprendiz ingresse, a abeta do mais antigo é abaixada, fato que revive a tradição do Júnior e do Sênior, já que no Craft inglês geralmente o Companheiro possui um avental branco, sem rosetas e debruado em seu contorno por uma fita de cor azul. 

Existe ainda nesse sistema um costume de dobras de avental que diferencia o Aprendiz do Companheiro. Nesse particular (no Craft), o Aprendiz indistintamente tem como instrumento de trabalho a Régua Graduada, ou em Maçonaria, a de 24 Polegadas. 

Ainda em se tratando do diferencial dos aventais, na regra latina o Aprendiz traz sempre a abeta do avental levantada e a do Companheiro abaixada. Como se pode notar, para tudo existe uma explicação, a despeito de que objetos simbólicos não raras vezes possuem elos entre si, fato que se bem compreendida a arte, lhes dá uma definição satisfatória e racional. 

Infelizmente, muitos ritualistas apenas “acham bonito” e acabam inserindo práticas em ritos de costumes diferentes. 

Não me canso de comentar que a aglomeração de práticas maçônicas está em desacordo com a razão e explicação das nossas tradições históricas. Continuo insistindo que a Moderna Maçonaria não é um Rito, todavia um sistema composto por vários ritos e, que estes, possuem as suas particularidades doutrinárias e culturais de acordo com as vertentes principais (inglesa e francesa). 

Não raramente nos deparamos no Brasil por falta de uma depuração - do que é e do que não é - com costumes enxertados não só de sistemas, mas também de práticas ritualísticas. 

Assim vemos um Rito Escocês muito parecido com uma colcha de retalhos onde rituais ainda apregoam Régua de 24 Polegadas para o Aprendiz, formação de Pálio, o tal de Painel Alegórico (Tábua de Delinear inglesa), leitura do Salmo 133, Altar de Juramentos no centro do Ocidente, colunetas sobre o Altar ocupado pelo Venerável e mesas dos Vigilantes, acendimento de luzes, etc., etc. 

Depois de tanto “bla, bla, bla” ratifico: no Rito Escocês Antigo e Aceito os instrumentos de trabalho são o Maço e o Cinzel, embora este reviva pelo caráter “antigo” a régua lisa durante o ingresso no Canteiro por ocasião do seu aumento de salário. 

Já no Craft, tomando como exemplo mais conhecido o Trabalho de Emulação, os instrumentos de trabalho são efetivamente o Maço, o Cinzel e a Régua de 24 Polegadas. 

(1) Júnior e Sênior – Classe dos canteiros medievais da Franco-Maçonaria geralmente denominados como Rough Masons e Stone Masons – Classes operárias daqueles que eram apenas os cortadores da pedra calcária e dos que eram, além de cortadores, também assentadores da pedra.

T.F.A. 
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 1.096 - Florianópolis (SC) – segunda-feira, 02 de setembro de 2013 

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