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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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quinta-feira, 28 de novembro de 2019

RADIOGRAFIA DO PODER DOS GRÃO-MESTRES

RADIOGRAFIA DO PODER DOS GRÃO-MESTRES
Hercule Spoladore - Loja de Pesquisas Maçônicas “Brasil”- Londrina

De todas as paixões que agitam a sociedade, a mais funesta e sanguinária é a ambição do poder. (Gonçalves Magalhães)

Já se foi o saudoso tempo da Maçonaria Operativa em que não havia potências maçônicas. Havia maçons livres em lojas livres, e nem sequer existiam veneráveis. Existia o cargo de mestre da loja, que era oferecido ao operário mais capaz, mais humano, mais competente, mais versado na Arte da Construção e desta forma ele era o responsável por aquela corporação que futuramente passou a se chamar oficina e depois loja. Não existiam os famosos landmarques e estas corporações tinham um fundo religioso, o católico. Considerando-se a atual forma de liderança oficial dentro da Ordem, desde que foram criadas as potências, e mais modernamente dito em regime tido como democrático o que não ocorre em realidade, entende-se tecnicamente que o poder temporal de um grão-mestre emane do conteúdo legal de uma constituição daquela potência, e o de um resultado de uma eleição, onde ele seja sufragado pelas urnas e uma vez eleito seja diplomado por um tribunal eleitoral e também conforme as potências pela assembléia legislativa. Eis ai a origem do poder material e temporal maçônico no que se refere ao primeiro mandatário de uma potência. As constituições das mais variadas e inúmeras potências existentes, ditas regulares ou não, isto não faz diferença, diferem de forma irrelevante quanto ao poder que é conferido ao grão-mestre. Estas constituições têm mais ou menos a mesma redação e esse poder é quase absoluto no papel. Porem, se um grão-mestre entender, a Maçonaria não é um país, não é uma empresa comercial que gera empregos, não renumera os adeptos, não é uma religião com obrigações e dogmas, e maçom algum depende dela para viver, ou seja, ele poderá deixar a Ordem quando bem lhe convier. Ela é, antes de tudo, uma escola de vida, com profundo teor filosófico, mais voltada para o maçom em si e dentro dela nada se consegue, impondo, perseguindo ou alterando caminhos já traçados, porque o relacionamento humano na Ordem é diferente é especial, extrapola os raciocínios aplicados aos paradigmas de outras organizações. O poder de um grão-mestre deriva mais de seu carisma, personalidade, bondade, empatia, compreensão, enfim de uma série de qualidades que caracterizam um homem bom, sábio e justo. Ele terá a difícil missão, e a perspicácia de saber dirigir líderes.

Onde quer que haja uma potência haverá um sereníssimo, poderoso, ou soberano, ou seja, qual for o titulo, sempre será pomposo. Inúmeras potências da Maçonaria Tradicional, ditas regulares ou não, Maçonaria Mista, e Feminina contaremos cerca de 80 a 90 grão-mestres no momento dirigindo as suas jurisdições. Várias perguntas nos ocorrem quando assustados, deparamos com um elevado número de lideres que dirigem a Maçonaria brasileira. Por exemplo: como são estas pessoas que estão exercendo este poder? Foram todos eleitos normalmente? Eleições honestas? Eram as melhores opções de seus grêmios? Como se comportaram em relação aos concorrentes durante o período eleitoral? Foram realmente irmãos? São todos dignos do poder em que foram investidos? Representam realmente sua potência? O poder, uma vez empossados subiu-lhes á cabeça? Embriagou-os? São liberais, democratas, ou são autocratas? O povo maçônico está satisfeito com o seu desempenho? São inventores de procedimentos ritualísticos, atropelam os poderes executivo, legislativo e judiciário? Perseguem seus oponentes? Governam por decreto ou pela vontade do povo maçônico? Lideram pela humildade e pelo coração ou são prepotentes e tiranos?

Se por um lado, considerarmos alto este número de mandatários, existem aqueles que no momento de sua escolha eram realmente as melhores opções e uma vez eleitos e empossados se tornaram ainda melhores se caracterizando por serem magnânimos, compreensivos, políticos honestos verdadeiros pais, bondosos, tolerantes sem serem permissivos, bons ritualistas, conhecem a história da Ordem e dos ritos respeitando-os em toda a sua essência, e também por conhecerem a constituição de sua potência, sem maculá-la, sem passar por cima dela e sem inventar. A estes, rendemos nossa admiração e homenagem porque se superaram, entenderam que a sua missão é mais humana, mais fraterna que penal, ou perseguidora, tornando-se desta forma melhores homens do que eram. Estes homens além de sábios são tão úteis à Ordem por serem lideres natos que os seus próprios irmãos de potência as vezes os reelegem, sem que os mesmos queiram que isto aconteça, porque dentro da sua humildade acham que já cumpriram seu papel. Estes conhecem o ser humano. Conhecem a alma humana. São os verdadeiros líderes.

É porem, com tristeza quando aqueles maçons mais maduros, mais livres, sem compromisso com a política de seu grão-mestre, conhecedores a fundo da situação da potência e que sabem que o poder do Conhecimento e a obrigação de manter a Ordem intacta são maiores que o poder temporal dos seus grão-mestres, constatam que estes não são o que se pensava deles. Os poderes do Conhecimento são puros, eles poderão ser transmitidos, divididos e repassados para quem os queira, sendo que, ninguém os tirará de si, pois o Conhecimento é algo que adquirimos e está dentro de nós. Estes irmãos que têm esta visão abrangente da Ordem começam a perceber que o líder não era bem aquele modelo que se esperava dele, ou por incompetência, ou então porque o poder e a vaidade tomaram conta de sua mente. Sentem o fato, mas se sentem impotentes para protestar, pois quando se apercebem já foram tomadas todas as providências camufladas em forma de atos ou decretos para abortar todo e qualquer movimento de protesto, ou de vozes livres que se levantam, afogando desta forma os pensamentos e a liberdade dos livres pensadores democráticos que um dia acreditaram no homem que hoje é seu grão-mestre. Os maçons mudaram? Não, o homem que hoje é grão-mestre é que mudou. “Quereis conhecer um homem? Dai-lhe o poder e o conhecerás”. Começarão as perseguições para quem não “rezar pela mesma cartilha” dos mesmos, começarão mudanças, alterações nocivas e grosseiras do ritual, inventando-se procedimentos ritualísticos, que não fazem parte daquele rito, desrespeito e agressão aos ritos minoritários adotados pela potência, perseguição aos que começarem a se levantar-se contra a opressão, enfim uma série de alterações sem razões de ser que passam a ser verdade daqueles grãos-mestres e o povo maçônico é obrigado a aceitar estarrecido triste e impotente terá que se subjugar, em parte por sua própria culpa, já que não percebe que a nossa Ordem se formos analisar friamente a Maçonaria é uma conspiração contra si mesma, pois este povo maçônico se rende às pequenas divindades, aceitando-as sem discuti-las, desviando assim por comodidade o olhar de frente à própria realidade. Um véu lhes encobre a visão. E o poder destas mentes despóticas advém justamente, por não aplicarmos uma das armas que a Ordem tanto nos ensina, ou seja, a eficiência da Dialética, bem como o direito que as próprias constituições conferem aos Irmãos, que, aliás, a própria maioria dos maçons desconhece.

Basta que se observe com naturalidade, o mecanismo do processo em que o poder toma conta na mente de um chefe. No caso o indivíduo não penso para analisar e compreender que ele está e não é grão-mestre. É apenas um cargo eletivo. Ele passa. Ele está grão-mestre e ainda diríamos pejorativamente de plantão. Será um dia substituído. Não adianta se iludir. A Ordem fica e ele partirá. Se o irmão que ocupa este cargo não for bom, humilde, seguro de si, justo, ele não terá uma segunda chance de sê-lo. O poder às vezes inebria aquele que julga tê-lo, com as prerrogativas que as constituições aparentemente lhe conferem. Não se enganem as constituições são muito mais referenciais, que absolutistas, conforme estão no papel. O verdadeiro poder está no coração e não na razão, muito embora tenha que haver um equilíbrio entre ambos. Mas prevalece o coração. Não se pode esquecer que nossa vida é muito breve. O grão-mestre não poderá esquecer que é um mortal. Deve, portanto, não perder um minuto sequer de sua vida enquanto no cargo, para ser bom, justo e sábio e não resolver situações pessoais de forma tendenciosa e também não se achar o Messias, o soberano, o tal que é o dono da potência, e o salvador da Ordem. Ele deverá se submeter a uma autocrítica diária e constante. Ele não pode esquecer que é o dirigente de todos, mesmo daqueles irmãos que ele não gosta pessoalmente, ou que reciprocamente não gostam dele. Deverá saber escolher bem os secretários, auxiliares e colaboradores não lhes tirando a autoridade que lhes foi dada. Se ele esquecer estes valores, tudo porque a vaidade, a ganância, a sede de poder forem maior que ele, pobre potência a sua, durante a gestão, ou gestões, porque este tipo de mandatário gosta de se perpetuar, até quando não puder mais, então deixará títeres em seu lugar e continuará dirigindo sua potência por trás dos bastidores. E ainda assim tenta se reeleger em reeleições posteriores.

Uma vez estabelecidos e fortalecidos os grilhões, ele desfrutará do poder que tanto almejou. Fazendo cintilar suas alfaias brilhantes repletas de lantejoulas e funcionando com seus lacaios ou seguidores fanáticos, alguns até inocentes úteis, que são aqueles irmãos que gostam e sempre gostaram de estar ao lado do poder, para desfrutar de suas benesses tal qual as hienas e os chacais que esperam o resto das carcaças que os leões deixam para trás, e este grupo reinará até quando puder festejará o sabor de uma falsa liderança e de um poder nocivo. Esta é uma das razões pelas quais se esvaziam as lojas e também uma das razões pelas quais muitos honrados irmãos se afastam da Ordem, sem protestar. Isso é errado.

Zeladores da Ordem, verdadeiros guardiões, geralmente os livres pensadores da elite maçônica, são aqueles irmãos que primeiro percebem os sintomas da opressão, já que a maioria dos membros de uma potência, aceita passivamente tudo o que lhes é impingido, não querendo parar para pensar, não estudando, não lendo nada a respeito da Ordem, porem entulhando os “fundões” dos templos onde se realizam os banquetes após as sessões, que são muito mais importantes para estes irmãos, tudo em nome da pseudo fraternidade do copo e do colesterol. Os maçons de bom senso, suficientemente Homens têm a coragem de denunciar a farsa, mas correm o risco de serem eliminados. É uma luta que só o tempo e as ideias acabarão por vencer. Afinal tem sido assim a própria história da humanidade. As ideias sadias e transparentes prevalecerão sobre as atitudes dos déspotas, os quais será apenas uma questão de tempo, pois sempre acabarão vítimas da própria peçonha. Porem até que sejam destruídos muitos sofrimentos morais darão ao seu povo maçônico de sua potência.

Assim a humanidade que antes do Humanismo e do Iluminismo (Ilustração) estava em completa escuridão, foi contemplada por estes movimentos que ensinaram o ser humano a pensar melhor e que acabaram por aclarar as mentes através de suas ideias liberais que trouxeram novas luzes para o nosso mundo onde os reflexos até hoje se fazem sentir. Porem, mesmo com este avanço social, o Homem é um ser animalesco a tal ponto que as repúblicas que substituíram as monarquias ainda não se assumiram como tal, permitindo que ainda hoje haja autocratas, tiranos e falsos lideres. Talvez Konrad Lorenz (zoófilo, premio Nobel) tivesse razão quando se referia que a agressividade humana é uma herança genética do seu passado animal e não o fruto do meio em que vive. Se de fato ele está certo por maiores que tenham sido os avanços sociais do planeta não adiantarão de nada porque as guerras e os tiranos, hipócritas, gananciosos continuarão a existir, pois eles seriam parte desta própria humanidade, e seriam, portanto inevitáveis. Preferimos acreditar que Lorenz esteja errado e aceitar que as mudanças, as metamorfoses e as distorções sejam creditadas a fatores socioambientais e pessoais e a um irresistível impulso de poder com desvio de comportamento por parte dos líderes impostos, mas geralmente auto impostos. Existem vários tipos de líderes o Dominador que quer dirigir a instituição sozinho, sem consultar ninguém e sem respeitar a opinião dos demais tomando ou manipulando todas as decisões, penalizando os prováveis infratores de acordo com a sua maneira de julga-los, sendo o dono da Verdade. O Apático é o que “deixa fazer”, geralmente é passivo, não assume responsabilidades é inseguro, não sabe determinar tarefas aos seus colaboradores, causa grande confusão e insegurança ao grupo. Geralmente há uma “eminência parda” que se aproveita deste tipo fraco de líder para domina-lo. Existe o líder Democrático que é aquele que tem humildade de tomar as suas decisões consultando seus assessores sabendo tirar uma média das melhores ideias e das opiniões, não passa por cima dos seus colaboradores, sabe distribuir e dividir tarefas sabe respeitar. Sua habilidade maior não está em ditar ordens, mas sim educar, estimular e dirigir de tal maneira que ele acaba conseguindo a cooperação voluntária de todos os irmãos. Este é o verdadeiro líder e é isso que se espera de um grão-mestre.

Tomando-se como referência o que vem a ser um líder e entendendo-se que a Maçonaria deveria ser, mas não é constituída só de lideres, pois muitos dos Irmãos que se candidatam ao cargo de grão-mestre, uma vez eleitos não preenchem esta condição. Estamos numa situação muito difícil na Maçonaria brasileira com mais de 80 grão-mestres em todo o Brasil. Não que certa porcentagem destes Irmãos seja nociva à Ordem, não que seja menos favorecida pela formação intelectual, mas são apenas humildes, bons sabem ouvir, sabem discernir e o poder não lhes sobe à cabeça. Porem, se espera algo mais de um grão-mestre, espera-se que ele seja também um líder nato e carismático. Mas o que fazer o povo maçônico quando um líder nestas condições tem desvio de comportamento, talvez pela síndrome do poder, talvez por problemas pessoais, ou por ser um psicopata social, somente se revelando quando está com o poder nas mãos, ou sabe-se lá porque de um liberal conhecido, um democrata convicto ele se transforma num ditador num autocrata, e passa a agir despoticamente como até então não o fizera? Aí será o caos, será a desestruturação de tudo o que ele tinha realizado de bom, e neste momento acontecerá o fenômeno da perda de credibilidade, do abandono, do repúdio e todos cantarão as qualidades de um novo líder, que por certo surgirá. É a lei da renovação.

O ser humano é de fato intrigante. O Homem é um ser gregário. Ele necessita da presença e da interação de seus semelhantes para sobreviver. Entretanto, o relacionamento humano é muito complexo. Parafraseando o poeta Augusto dos Anjos, o Homem ao mesmo tempo, “a mão que que afaga, é a mesma que apedreja”. É uma dualidade que vai do Bem para o Mal. Parece que existem milhões de homens dentro de um só. Nossa mente é povoada de fantasmas de nós mesmos. Somos vicissitudinários. Mudamos sempre. O equilíbrio positivo pendendo para o Bem entre as coisas más que poderíamos criar e executar e as coisas boas que deveremos realizar sempre, é que faz a diferença. Isto muito grão-mestre não consegue discernir quando ele se sente endeusado e este poder toma conta de sua mente. Ele se metamorfoseia completamente. Falta-lhe o equilíbrio positivo na hora certa, o Mal toma conta do Bem. O Bem dentro da Ética, da Moral e do sentimento humano deverá sempre predominar sobre as decisões, condutas, inteligência, perspicácia, fraternidade, e procurar entender seus Irmãos, que por serem seres humanos, também são imperfeitos.

MEMENTO MORI (Lembras que morrerás)
MEMENTO PULVIS ES ET IN PULVEREM REVETERIS (Lembras que vieste do pó e ao pó reverterás)

P.S Este trabalho foi escrito no ano 2000, para um certo grão-mestre da época.

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