DECORAÇÃO DE TEMPLOS
(republicação)
Em 30.01.2015 o Respeitável Irmão Sidney Salomão Meneguetti, Loja Obreiros Adonhiramitas 104, Rito Adonhiramita, Grande Oriente do Paraná (COMAB), Oriente de Maringá, Estado do Paraná, apresenta a pergunta seguinte:
salomao@usacucar.com.br
Estimado Irmão Pedro. Tenho dúvida em relação a algumas decorações de Templos que encontro em fotografias, por exemplo, decorações com pinturas temáticas egípcias com figuras de representações humanas levantando pirâmides e carregando blocos de barro e pedras, misturados com representações do templo de Jerusalém, tudo isto pintado nas paredes internas dos Templos, vi até a foto de um templo maçônico pintado na parede do oriente uma imagem do Padre Cícero, estas artes estão de acordo com os rituais ou não existe nada acerca deste tema?
Como bem diz o Irmão, “de acordo com os rituais”. Essa é a primeira questão.
Nos sistemas maçônicos onde são previstos rituais para os respectivos Ritos adotados pelas Obediências, geralmente neles se apresentam as decorações previstas para cada Rito (cor predominante, abóbada, topografia do espaço, símbolos e alegorias, distribuição do mobiliário, colunas, etc.). Nesse caso a decoração deve seguir irrestritamente aquilo que está previsto, ressalvando-se a qualidade da proporção e o bom-gosto do profissional contratado para executar o projeto.
Obviamente isso não envolve figuras temáticas e representações como mencionadas, ou mesmo outros aspectos que não envolvam diretamente a proposta da doutrina do Rito que ocupará o espaço destinado.
Infelizmente, sobretudo na Maçonaria brasileira (latina por excelência), existe muito desvio de objetivo e intenção, isso por mera falta de interpretação, além de inúmeros “achismos” emanados que fazem com que algumas das nossas Oficinas (Lojas) muitas vezes mais pareçam um emaranhado de ilações místicas, religiosas e de gosto pessoal que, aos olhos da verdadeira tradição maçônica, estão muito longe da realidade – como é o caso desses temas decorativos mencionados que envolvem construções de pirâmides do Antigo Egito, do Templo de Jerusalém, de figuras reverenciadas regionalmente, etc., etc., etc.
Já nos termos do que emanam os nossos rituais legalmente aprovados, nada disso neles está previsto, todavia muitos Irmãos ainda assim insistem em qualificar a Sala da Loja segundo as suas crenças pessoais.
Esses talvez ainda não tenham compreendido que muitas alegorias maçônicas são decalcadas na Moderna Maçonaria em lendas que somente objetivam desenvolver pelo seu simbolismo um arcabouço doutrinário alicerçado na moral e na ética, cujo intuito é simplesmente a reconstrução de um novo Homem, sem nunca se confundir com uma crença religiosa pessoal ou de créditos regionais, sejam eles culturais, folclóricos ou religiosos.
Infelizmente, desde quando Anderson escreveu um amontoado de inverdades históricas na primeira Constituição (1.723) embasado muitas vezes em descrições lendárias comuns em muitas “Antigas Obrigações” (mais ou menos oitenta delas) entregues por George Payne - provavelmente com o afã de dar credibilidade a uma pretensa idade milenar à Ordem - é que “as bolas começariam a ser trocadas”.
Mesmo que atualmente a história acadêmica já tenha exaustivamente desmascarado essas fantasias, elas mesmo assim permanecem em determinados escritos e livros como ervas daninha, ou esqueletos de dinossauros que acabam não raras vezes gravados (pintados, desenhados, representados) nas paredes da Sala da Loja – é o caso, por exemplo, dessas tais pirâmides egípcias e templos da antiguidade.
Somado a isso tudo ainda aparecem os sincretismos religiosos regionais que aprontam o absurdo de até colocar a figura do Padre Cícero como destaque no Oriente de uma Loja maçônica – alguns outros ainda não aprenderam que Maçonaria não é religião.
Já como segunda questão está no arranjo decorativo e arquitetônico da edificação oriundo de uma cultura ou civilização. Nesse sentido, sobretudo nos diversos edifícios que comportam Templos Maçônicos espalhados pela face da Terra, cada cultura adota a sua retenção de memória e influência arquitetônica regional. Assim, por exemplo, no Egito é comum à adoção da decoração egípcia, na Índia a hindu, no Japão a japonesa, na Grécia a grega, etc.
Todavia esse tipo de decoração nada tem a ver com a “doutrina maçônica”, ou com o “ensinamento específico” de um rito da Moderna Maçonaria. Nesse sentido, por exemplo, muitas Lojas adotam decoração e estilos arquitetônicos diversos, porém não misturam pinturas temáticas ou motivos de doutrina maçônica com um modelo arquitetônico específico – alguns dos muitos Templos Maçônicos espalhados pela Inglaterra e pelos Estados Unidos, ou mesmo na França, adotam, por exemplo, o estilo arquitetônico egípcio, hindu, normando, etc. Esse costume, entretanto não significa no desvendar “segredos”, ou dar cunho de “antiguidade”, ou ainda de se revelar doutrinas misteriosas - a questão aqui é apenas e tão somente de opção de “decoração construtiva”, cuja preferência não autoriza qualquer presunção de se achar algo possuidor de um indelével segredo relegado aos tempos de antanho.
Concluindo e resumindo, não existem pinturas temáticas e outras representações que possam organizar ou lembrar doutrina ou história. O que pode existir no conjunto do edifício do Templo é simplesmente a adoção de um estilo arquitetônico construtivo, porém nunca o confundido literalmente com a Maçonaria. Geralmente no Brasil, em se seguindo rigorosamente a Lei (cumprindo o ritual) não existem decorações doutrinárias salvo aquelas que pertençam à particularidade e o simbolismo do Rito adotado (colunas e as suas respectivas ordens de arquitetura, abóbada, zodíaco, constelações, corda, Delta, etc.), ou ainda, de maneira geral, a alegoria do Aprendiz, do Companheiro e do Mestre.
T.F.A.
PEDRO JUK – jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 1.702 – Melbourne – quinta-feira, 28 de maio de 2015
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