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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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domingo, 12 de janeiro de 2020

ANTIMAÇONARIAS, ONTEM E HOJE

ANTIMAÇONARIAS, ONTEM E HOJE
José Maurício Guimarães 

“Antimaçonarias” são movimentos formados principalmente por fundamentalistas religiosos, políticos radicais ou ex-maçons. Sendo a Ordem Maçônica estruturada numa filosofia libertária, ela não condena, a priori, taijs críticas. O maçom entendem que todo homem e toda associação (desde que se mantenham nos limites da lei) têm direito ao livre pensamento e à liberdade de opinião.

Todavia, ao analisarmos a origem de críticas sistemáticas, encontramos aspectos curiosos dessa intolerância. Por isso coloco o termo “antimaçonaria” entre aspas, pois não existe bom-senso nem contraditório no radicalismo e na intolerância.

O primeiro ensaio para a criação de uma “antimaçonaria” foi perpetrado pelo escritor e jornalista francês Marie Joseph Gabriel Antoine Jogand Pagès, mais conhecido pelo fakename Léo Taxil. Esse Taxil tornou-se conhecido na Europa entre 1870 e início do século XX por ter enganado a hierarquia católica com publicações sobre a maçonaria. A principal dessas “confissões” consistia no relato das desventuras de uma suposta Diana Vaughan numa imaginária “seita maçônica”. Os relatos de Taxil causaram grande repercussão entre os católicos e, apesar das sábias considerações e advertências do bispo de Charleston, denunciando as invencionices de Taxil, o Papa Leão XIII recebeu o falsário em audiência e acreditou nele. Só mais tarde descobriu-se que Gabriel Marie Jogand Taxil (aliás Paul de Régis, aliás Adolphe Ricoux, aliás Samuel Paul, aliás Rosen, aliás Dr. Bataille) era o esperto e oportunista diretor do jornal “La Marotte” − proibido na França por violar condutas morais − e, por causa disso, Léo Taxil fora sentenciado a oito anos de prisão. Era o mesmo Adolphe Ricoux que publicava panfletos anticatólicos, pintando a hierarquia eclesiástica como hedonista e sádica.

Com outro nome falso, Taxil ludibriara uma Loja Maçônica a aceitá-lo como Aprendiz − grau além do qual ele nunca progrediria. Em Loja ele tentou utilizar a boa-fé dos irmãos maçons para conseguir dinheiro e promover uma imprensa anticlerical − ou seja: tomava dinheiro de uns para escrever e publicar calúnias contra outros. Taxil foi o mestre da cizânia – e pensar que anda há, entre nós, bons maçons que admiram ou justificam a maneira de agir adotada pelo escroque.

Desde aquela época, Taxil tornou-se o autor oficial da “antimaçonaria”, promovendo a venda indiscriminada de livros e jornais sobre o assunto. Aproveitou as alucinações de Eliphas Lévi (aliás, abade Alphonse Louis Constant) e fez novas acusações contra a Ordem que inadvertidamente o iniciara. Despejou entre os franceses o café requentado da época dos Templários: os maçons seriam satanistas, adoradores de um ídolo com cabeça de bode chamado Baphomet. Essa reinvenção do absurdo ficou conhecida como “Jogo de Taxil” ressuscitando a malfadada figura do bode como ícone maldito da maçonaria.

Nos anos de 1886 e 1887, doente e com medo da morte, constantemente assombrado pelos diabos que ele mesmo criara − Taxil confessou suas fraudes. O período considerado da 'confissão' de Taxil é, para alguns, posterior à sua morte. A “Confissão de Léo Taxil”, onde ele revelou suas artimanhas, veio a público em 19 de abril de 1897, sendo publicada em 25 de abril do mesmo ano. O estrago já estava feito; e como uma grande quantidade de maçons, no mundo inteiro, gosta dessas distorções, de espalhar falsos mistérios e coisas “cheirando a bode”, a maldição tomou corpo e virou uma espécie de dogma. 

No século XX as bases das “antimaçonarias” assentaram-se em três elementos: as fantasias de Léo Taxil, o fanatismo religioso e os movimentos políticos totalitaristas: o salazarismo, o fascismo, o nazismo e o stalinismo. Em 1945 o nazismo impediu o funcionamento das Lojas Maçônicas na Alemanha. Nos países ocupados, as Lojas foram queimadas e seus arquivos confiscados ou queimados. O prejuízo para a história da Ordem foi incalculável. Os líderes da maçonaria alemã foram sumariamente assassinados sob o pretexto de que a maçonaria mantinha ligações com o judaísmo internacional; outros foram mandados para campos de concentração juntamente com suas famílias; foram obrigados ostentar nas vestes a estrela de seis pontas que é, ao mesmo tempo, judaica e maçônica. Enquanto isso, nas fileiras da resistência permaneceram maçons ingleses, americanos, franceses, dinamarqueses, tchecos e poloneses.

Quanto ao comunismo, o Quarto Congresso da III Internacional (novembro de 1922) estabelecera “a incompatibilidade entre a Maçonaria e o Socialismo”, tido como evidente na maioria dos partidos da anterior II Internacional. A Maçonaria foi considerada como “organização do radicalismo burguês destinada a semear ilusões e a prestar seu apoio ao capital organizado em forma de Estado”. Em 1914 o Partido Socialista Italiano expulsou os maçons de suas fileiras; o Quarto Congresso recomendou ao Comitê Central do Partido Comunista francês a tarefa de encerrar, antes de 1º de janeiro de 1923, todos os vínculos do partido com alguns de seus membros e de seus grupos com a Maçonaria. Todo aquele que, antes de 1º de janeiro de 1923, não declarasse abertamente a público, através da imprensa do partido, sua ruptura total com a maçonaria, ficaria automaticamente excluído do Partido e sem direito a reabilitar-se no futuro. Esse tipo de oposição foi reconsiderada na segunda metade do século XX: a maçonaria tem hoje Lojas em Cuba (Gran Logia de Cuba fundada antes da revolução − em 1859). A Grande Loja da Rússia, por sua vez, prossegue em seus trabalhos com Lojas sediadas em Moscou, St. Petersburg, Voronezh, Vladivostok, Yaroslavl, Kaliningrad, Novosibirski, Beliy Ritzar, Voronezh, Stavropal, etc... (fonte: List Of Lodges, Pantagraphprinting).

Para entendermos as “antimaçonarias” de hoje é necessário ressaltarmos que a Ordem apresenta duas correntes principais: a regular e a paralela. Maçonaria regular é a de origem judaico-cristã (católico-protestante) surgida como “Operativa” por volta de 1356 e tornada “Especulativa” a partir do início do Século XVIII. Essa Maçonaria sempre conviveu com a Igreja Católica, ou com os Anglicanos e/ou Protestantes quando o Vaticano lhes fez oposição. A outra, chamada “maçonaria paralela”, é a que supostamente possui elementos ditos “contraditórios” com as teses da maçonaria regular, por exemplo: a aceitação em seu meio de místicos exacerbados, pagãos, ateus e outras correntes ocultistas e similares. Essa dicotomia não afeta os laços de fraternidade dentro da Ordem como um todo. Mas, os inimigos da maçonaria se aproveitam da convivência pacífica entre essas correntes e “colocam todas as laranjas no mesmo saco”. Apesar de assentarmos os trabalhos das Lojas sobre cânones da literatura sagrada (no nosso caso, a Bíblia), o fanatismo religioso usa esses mesmos textos para condenar e desacreditar as instituições verdadeiras e o trabalho que realizamos em benefício da sociedade. 

Apegam-se num ou noutro deslize, numa ou noutra falha humana para condenar uma ideologia inteira que vem sobrevivendo dignamente durante séculos, com enormes esforços e mesmo às custas do sacrifício da vida de alguns dos seus melhores membros.

Quanto ao fanatismo, torna-se mais difícil analisá-lo nos dias de hoje. Muitos de seus baluartes estão na internet ocultos em matérias e sites anônimos. Não é difícil, por outro lado, identificarmos SITES E BLOGS APARENTEMENTE MAÇÔNICOS CUJO OBJETIVO É CONFUNDIR INCAUTOS MAÇONS REGULARES E ENGAJÁ-LOS NUMA LUTA QUE NÃO É A NOSSA (perdoem-me essas maiúsculas – não estou gritando, mas alertando).

A falta de estudo e pesquisa em todos os segmentos da Maçonaria autêntica propicia a esses aventureiros a formação de redes descontínuas, propositadamente confusas, onde se misturam fatos, mentiras, leituras errôneas e preconceitos. A maçonaria internauta tenta substituir, sem muito critério, a “Instrução Maçônica” que, por princípio tem que ser ministrada em Loja. Se há algum sucesso nesses empreendimentos – o tempo dirá – é inegável que tais habilidades estão promovendo pessoas, e não a própria Maçonaria. 

A todos que lerem este artigo, maçons e não-maçons, vale alertar que somos uma organização de homens sujeitos aos mesmos erros e imperfeições que acometem nossos detratores. Com uma diferença: não pretendermos ser infalíveis, nem ocultamos nossos atos sob a capa da religiosidade.

Fonte: jmauriciog33@gmail.com

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