Verbete extraído do Vade-Mécum Do Meio-Dia À Meia-Noite
do Ir∴ João Ivo Giradri
ROMÃS: 1. Fruto: A romã cujo nome científico é Púnica Granatum, é o fruto da romãzeira, arbusto originário do Oriente Médio, que quando cultivada e podada, transforma-se em uma árvore que pode atingir aproximadamente três metros de altura. Suas raízes são tóxicas e bastante ramificadas. Sua madeira é muito resistente, apesar de delgada e fina. Suas folhas são brilhantes e alongadas. Seus ramos são harmonicamente distribuídos em copas proporcionais. Têm extrema adaptabilidade a qualquer clima. O período de frutificação é relativamente longo, sendo que no Brasil começa em dezembro e pode chegar até abril. Uma boa árvore pode produzir até 50 quilos de fruto. A romã tem o tamanho de uma laranja e casca extremamente resistente. Sua polpa tem sabor agridoce e é constituída de uma trama perfeita de centenas de grãos rubros alojados em muitas cavidades primorosamente subdivididas, como se cada um desses frutos fosse o resultado de um exaustivo trabalho artesanal. Apesar de ser considerado um fruto de pouco interesse comercial, sabemos que se presta à produção de perfumes, tintas, licores, vinhos, além de grande utilidade na culinária. Todavia, a sua utilização na medicina popular é por demais conhecida; a casca de sua raiz é usada como eficiente vermífugo, enquanto que a casca do fruto é excelente bálsamo para problemas do aparelho digestivo. Tradicionalmente o Reino Unido tem sido o principal comprador de romã da Espanha e os seus frutos destinando-se fundamentalmente para o seu consumo ao natural e especialmente nas zonas de mineração da Inglaterra, devido às suas propriedades benéficas frente à contaminação de metais pesados. Essa planta e fruto milenares têm atravessado os tempos marcados pela tradição de sorte, fartura, cura, mas principalmente de simbolismo, mistério e muita magia. (...) No sul da Espanha existe uma linda cidade, que foi a capital dos reinos de Castela e Aragão, conquistada aos árabes em 1492 pelos reis católicos, chamada romã = Granada.
2. Tradição Milenar: A importância da romã é milenar, aparece nos textos bíblicos, está associada às paixões e à fecundidade. Os gregos a consideravam como símbolo do amor e da fecundidade. A árvore da romã foi consagrada à deusa Afrodite, pois se acreditava em seus poderes afrodisíacos. Entre os semitas, a romã tinha significação mística, sendo por isso representada sobre os monumentos religiosos como símbolo da potência produtiva da Natureza e como uma representação do órgão feminino da geração. Era um símbolo de fecundidade, de abundância e de vida. Para os judeus, a romã é um símbolo religioso com profundo significado no ritual do ano novo quando sempre acreditam que o ano que chega sempre será melhor do que aquele que vai embora. Quando os judeus abandonaram o Egito eles trouxeram mudas de romãzeiras, figueiras e videiras. Ela estava presente nos jardins do Rei Salomão. Foi cultivada na antiguidade pelos fenícios, gregos e egípcios. Platão teria afirmado que dez mil anos antes de Menés já existia a cerimônia que incluía a romã como fruto, com a sua rubra flor. Somente os sacerdotes de Amon-Rá tinham o privilégio de cultivar a romãzeira. As romãs, consideradas como oferendas sagradas, eram colocadas sobre os túmulos dos Faraós. Encontram-se referências a respeito junto ao sacerdote Egípcio de Heliópolis, de nome Manthonm, em sua história dos reis, escrita em grego, 300 anos antes de Cristo. Sobre os Altares dos deuses Hórus, Set, Ísis e Osíris, este o deus supremo e juiz do além vida, protetor da morte, eram colocadas as mais exuberantes romãs, como símbolo dos iniciados nos supremos mistérios. Essas oferendas aumentavam de número consoante a categoria do iniciado ou a importância do cargo, como os grandes hierofantes de Amon-Rá e de Osíris, que além dessas ofertas serem colocadas em seus túmulos, eram também plantadas nos parques funerários, um número determinado e simbólico de romãzeiras. Em Roma, a romã era considerada nas cerimônias e nos cultos como símbolo de ordem, riqueza e fecundidade. Os semitas a chamavam de rimmon, para os árabes era conhecida como rumman, e mais tarde, os portugueses a chamaram de romã ou Roman. Na Idade Média a romã era freqüentemente considerada como um fruto cortês e sanguíneo, aparecendo também nos contos e fábulas de muitos países. Os povos árabes salientavam os poderes medicinais dos seus frutos e como alimento.
3. Mitologia: Diz a fábula que Perséfone, filha de Júpiter e da deusa da Agricultura e da Fertilidade, chamada Ceres, num dia em que colhia flores foi raptada por Plutão, que através de uma fenda aberta a sequestrou. Plutão era irmão de Júpiter e de Netuno, e havia ganho em partilha com os irmãos o Reino dos Infernos. Era um deus feio, severo, temido e até odiado e por causa, sobretudo da tristeza do seu Império das profundezas, nenhuma deusa havia consentido em associar-se à sua coroa. Foi por isso que resolveu raptar Perséfone e torná-la sua esposa. Ceres, mãe de Perséfone, desesperada percorreu o mundo procurando pela filha, sem encontrá-la. Sendo a deusa da Agricultura e da Fertilidade e imaginando que a filha houvesse sido tragada pela terra, amaldiçoou o solo, tornando-o estéril. Plantas e animais morreram e as sementes não germinaram. Para fazer voltar a fecundidade à Terra, Júpiter pediu a Plutão que devolvesse Perséfone à sua mãe. Porém, enquanto esteve no mundo dos Infernos, Perséfone havia comido, por oferta de Plutão, seis grãos de romãs, fruta que simbolizava o casamento. Ao comer essas sementes, Perséfone, sem o saber tinha contraído núpcias com Plutão e agora não as podia desfazer. No entanto, Júpiter conseguiu um acordo com Plutão, mediante o qual Perséfone poderia passar dois terços de cada ano com sua mãe e o restante com o marido. Enquanto Perséfone viveu com Plutão, a Terra tronou-se fria e estéril, refletindo a infelicidade de sua mãe. Mas a partir do momento em que a mãe e filha voltaram a viver juntas, as plantações floresceram novamente. Nessa fábula, a romã é apresentada como centro simbólico gerador de uma série de situações subseqüentes. Representa o casamento, a fertilidade, a fecundidade e funciona como um verdadeiro amálgama afetivo, criador de laços indissolúveis. Além disso, a romã atua como uma ponte de ligação entre a Luz e a Treva, o Bem e o Mal, a Sabedoria e a Ignorância, a Vida e a Morte. Quem sabe se esta descida de Perséfone aos infernos, causando a esterilização do solo e a dizimação das colheitas, e sua posterior volta à superfície originando a recuperação da fecundidade da terra, não pode ser considerada alegoricamente equivalente à Iniciação, quando nós maçons, vendados e perdidos nas trevas da Câmara de Reflexões, e de certa forma mortos para depois emergirmos para a luz e para a sabedoria de uma nova vida?
4. Livro da Lei: Considerando-se a origem da romã como sendo hebraica, nada melhor, para uma compreensão inicial, que recorrermos às Sagradas Escrituras. O AT refere a Romã, onze vezes, enquanto o NT a omite totalmente: O Sumo Sacerdote usava pequenos sinos da forma da romã nas orlas de suas vestes e no efode, que serviam para anunciar ao povo sua presença no Templo (Ex. 28, 33). Números 13: 23: Depois foram até ao vale de Escol, e dali cortaram um ramo de vide com um cacho de uvas, o qual trouxeram dois homens, sobre uma vara; como também das romãs e dos figos. E por que nos fizestes subir do Egito, para nos trazer a este lugar mau? lugar onde não há semente, nem de figos, nem de vides, nem de romãs, nem tem água para beber. Canta o próprio Salomão em seu Cântico dos Cânticos, uma das mais belas canções de amor do mundo: Os teus lábios são como uma fita de escarlate... Assim como é o vermelho da romã partida, assim são as suas faces... Os cabelos de tua cabeça são como a púrpura do rei... O odor dos teus bálsamos excede o de todos os aromas. (Cântico do Cânticos 4.3; 7.5; 4.10). Jeremias (52; 22): Quanto às colunas, a altura de cada uma era de dezoito côvados, e um fio de doze côvados a cercava; e era a sua espessura de quatro dedos, e era oca. E havia sobre ela um capitel de bronze; e a altura do capitel era de cinco côvados; a rede e as romãs ao redor do capitel eram de bronze; e semelhante a esta era a segunda coluna, com as romãs. E havia noventa e seis romãs em cada lado; as romãs todas, em redor da rede, eram cem.
5. Por que a romã foi escolhida para tanto simbolismo? Por que não outra fruta qualquer? Parece que a resposta a essas perguntas está intimamente ligada ao destino de cada coisa, que lhe confere uma espécie de finalidade alegórica, que pode torná-la mais, ou menos, apropriada para transmitir uma idéia, ou ainda ser utilizada como símbolo. A romã é uma e ao mesmo tempo múltipla. Seu grãos são brilhantes, unidos, úteis, cada um ocupando seu lugar harmonicamente no espaço que lhes é reservado dentro do seu compromisso, como nós os maçons. A romã, à primeira vista, parece despojada e desprovida de atrativos, com sua casca áspera, dura e de cor triste, inacessível e quase impenetrável, tal qual a própria Maçonaria. Quem já tentou abrir uma romã sabe como isso é difícil. Normalmente é preciso que ela própria se abra espontaneamente e assim nos mostre em seu devido tempo seu magnífico interior, convidando-nos a adentrar aos seus mais ocultos recantos, recheados de beleza, de cor e de sabor. Assim, também, é a Maçonaria, hermética e inacessível, quase impenetrável para os que a olham de longe, mas extremamente sedutora e bela para aqueles que se decidiram a olhar pelas aberturas que ela própria lhes oferece. Estes são os escolhidos e a eles é permitido ver e viver a extraordinária beleza interior que se descortina aos iniciados. Beleza que vai aumentando à medida em que os mistérios vão sendo desvendados, com o tempo, com o polimento da pedra bruta, com o engrandecimento do espírito, da mesma forma como acontece com o lento e progressivo amadurecimento da romã, até finalmente expor seus brilhantes e delicados grãos, tal qual pequenas pedras polidas. Aqueles que não se deixam desanimar pelas dificuldades do acesso merecerão a oportunidade de penetrar dentro da romã chamada Maçonaria. Talvez como diz o Livro da Lei: muitos serão os chamados, mas poucos os escolhidos, provavelmente aqueles que em seu processo de amadurecimento tenham conseguido ler a palavra romã de trás para frente. (Fonte: Revista A Verdade, mar/abr/97, autor: Antônio José Brasil).
6. Maçonaria: As Colunas J e B dos Templos expressam que os maçons, em sua dualidade física e espiritual são o sustentáculo da Maçonaria. No topo dessas colunas estão as romãs, cujos grãos simbolizam a prosperidade e solidariedade da família maçônica. Em certos Templos são substituídas pelos globos celeste e terrestre. (...) As romãs abertas, de grãos semelhantes, muito isolados, e bem apertados, podem representar a fecundidade e a solidariedade dos homens entre si. Segundo J. Boucher, os grãos da romã, em Maçonaria, envoltos em uma polpa transparente, simbolizam os maçons unidos entre si por um ideal comum. A casca da raiz da romãzeira sendo tóxica, a romã nos mostra ainda que os maçons saídos de um mundo mau por essência e elevando-se ao estado de excelsitude. Simbolizam também, em Maçonaria, multiplicação e união. Para O. Wirth, as romãs é o signo da amizade, porque a disposição simétrica dos grãos faz pensar em família maçônica, cujos membros são harmoniosamente religados pelo espírito da Ordem e da Fraternidade. (...) Quanto ao simbolismo dos ornamentos das colunas muito importante vêm a ser os significados maçônicos das romãs. Para o simbolismo maçônico bastam três romãs no capitel de cada coluna, e não a centena ou as duzentas, ou mais, referidas nos vários textos de Crônicas e Reis. Aliás, três lojas, no mínimo, bastam para constituir um Grande Oriente ou uma Grande Loja e, no grau de Aprendiz quase tudo se relaciona com o número três. As romãs representam as lojas e a união da família maçônica, como o exemplo da fraternidade de que deve servir para toda a humanidade. Cada romã representa a loja e sua universalidade. As suas sementes representam os maçons. A força de união dos maçons está nessa congregação que é a loja e deve equivaler à resistência de um feixe de elementos unidos. É o chamado feixe de Esopo, da fábula cuja moral é a de que podemos quebrar facilmente uma acha, mas não um feixe de lenha. Por outro lado, como as romãs contêm um grande número de sementes, devem sugerir ao maçom fertilidade e abundância, no sentido de disseminar a fraternidade em todo o mundo. Ainda cada romã sugere que um corpo é a soma de seus componentes e que o maçom não deve preocupar-se apenas com as formas, como também com os conteúdos. (...) Símbolo da união entre os maçons. Como ensina Christian Jacq no livro: A Franco-Maçonaria -História e Iniciação: A Romã era consagrada a Deméter e a Perséfone, pelos iniciados de Elêusis, que nela viam o símbolo das riquezas ocultas da terra divinizada. Para a Igreja Católica, a Romã representa a comunidade de fiéis reunidos na Igreja que, sob a mesma casca abriga muitos grãos. Em outras palavras, os povos mais diversos poderão unir-se numa mesma fé e os maçons de opiniões divergentes podem comungar no Sagrado. Quando a Romã está madura, abre-se e atira longe os seus grãos.
Não se poderia encontrar melhor imagem de transmissão do espírito exprimindo as inumeráveis potencialidades criadoras que os maçons tomarão a seu cargo.
As Romãs são colocadas sobre as colunas do Templo Maçônico. Emblemas que coroam as Colunas J Jaquim (estabelecer) e B Booz (força) e cujos grãos significam prosperidade e solidariedade da família maçônica. (...) Uma romãzeira não é só reconhecida como tal pelo simples fato de frutificar romãs, ela é também uma romãzeira por possuir folhas típicas de sua espécie, por ter características específicas de raíz, tronco e copa e da mesma forma são os verdadeiros maçons. Não podemos crer que apenas a Iniciação nos transforma em maçons, o comprometimento e as práticas maçônicas nos qualificarão. Os gregos viam-na como símbolo do amor e da fecundidade, ela também representa a amizade e o lar; os Magos acreditam que os elementais das romãzeiras têm o poder de consolidar a fraternidade entre os homens e até o seu próprio nome científico, já nos remete a uma boa reflexão: punica granatum, abundante em grãos. (Sérgio Quirino). (...) È fácil contar as sementes dentro de uma romã, mas somente Deus consegue contar as romãs dentro de uma única semente. (Robert Schüller).
7. Rituais: (...) pela divisão interna, significam os bens produzidos pela influência das estações; representam as Lojas e os Maçons espalhados pela superfície da Terra; suas sementes intimamente unidas nos lembram a fraternidade e a união que devem existir entre os homens. (...) As romãs são símbolos equivalentes ao feixe de Esopo: milhares de sementes contidas no mesmo fruto, num mesmo germe, numa mesma substância, num mesmo invólucro, imagem do povo maçônico, que, por mais multiplicado que seja, constitui uma e a mesma família. Assim, a romã é o símbolo da harmonia social, porque só com as sementes apoiadas uma às outras é que o fruto toma sua verdadeira forma. (RA). (V. Colunas Salomônicas, Esfera, Esopo, Fraternidade, Visitante).
Fonte: JBNews - Informativo nº 216 - 01.04.2011
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