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PERGUNTAS & RESPOSTAS

O “Perguntas & Respostas” que durante anos foi publicado no JB News e aqui reproduzido, está agora no “Blog do Pedro Juk” . Para visita-lo ou tirar suas dúvidas clique http://pedro-juk.webnode.com/ ou http://pedro-juk.blogspot.com.br

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

QUESTÕES RELATIVAS AO PAINEL DO MESTRE NO REAA

Em 08.04.2023 o Respeitável Irmão Marcos Amorim, Loja Acácia, 177, REAA, GOB-RJ, Oriente de Niterói, Estado do Rio de Janeiro, apresenta as dúvidas seguintes:

QUESTÕES RELATIVAS AO PAINEL DO MESTRE

Sou admirador e leio constantemente seu blog, visto que aprecio muito tudo que se relaciona com a ritualística na Arte Real e sua forma de abordar o assunto. Estou pesquisando sobre o Painel da Loja de Mestre do REAA, não só por precisar elaborar uma peça de arquitetura, mas também por interesse na simbologia dos painéis.

Ocorre que estou com dificuldades para encontrar descrições e explicações para os símbolos do Painel da Loja de Mestre. Surgiram diversas dúvidas sobre o assunto e, embora seu post de 2021 tenha sanado algumas, ficaram as seguintes, que agradeceria muito ao irmão se pudesse ajudar a saná-las:

1 - O irmão informou no post que o Painel do REAA é o que consta do Ritual do GOB. Quais seriam as fontes, origens ou livros onde podemos encontrar as primeiras referências a este Painel? O que o torna o verdadeiro "Painel do REAA"? Poderia passar alguma referência bibliográfica? Há alguma referência em livros como Guide des Maçons Écossais (de 1805) ou Régulateur Symbolique?

RESPOSTA - As fontes são especificamente da Maçonaria Francesa e a construção dos rituais iniciais do REAA no século XIX. É material disperso e precisa ser confrontado e organizado para se chegar até as suas conclusões. O Painel de York, comumente utilizado por algumas Obediências no 3º Grau do REAA é enxerto. Sua simbologia é restrita à Maçonaria anglo-saxônica e não propriamente à latina. Há ainda confusão entre a vertente maçônica francesa relativa aos Modernos. Nesse sentido, é preciso antes fazer a separação do escocesismo.

O Regulateur du Maçon serviu para a vertente moderna da Maçonaria francesa, e é datado de 1801. No entanto, alguns aspectos do seu conteúdo foram posteriormente extirpados do Rito Moderno, mas, digamos, foram aproveitados pela ritualística do escocesismo, cujo primeiro projeto de ritual para o simbolismo é de 1804. Um exemplo disso são as viagens e as provas pelos elementos, então suprimidas do Rito Moderno e integradas à liturgia do REAA na França.

O Guia dos Maçons Escoceses é de 1820/1821, sendo cadernos previstos para os três primeiros graus do escocesismo no período das Lojas Capitulares.

2 - Encontramos o mesmo Painel no livro "Simbólica Maçônica" de Jules Boucher, mas são apresentadas apenas algumas interpretações de alguns dos símbolos encontrados no Painel: a cruz não seria crística (seria uma representação romana anterior, representando vida, imortalidade e ressurreição), os ccr∴ representando a m∴, as tt∴ representando o X romano ou crisma, etc. Esses significados são válidos para o REAA?

RESPOSTA - Nem tudo que reluz é outro. Cruz crística, representação romana, etc., me parece que nesse caso o autor força um pouco a barra. Os ccr∴ e as tt∴formam um conjunto representativo da finitude da vida humana. Eu particularmente não compactuo com determinadas divagações suportadas pela licenciosidade de interpretação.

3 - Encontramos o mesmo Painel no Ritual de Mestre do Rito Francês do GOB. A interpretação e o significado dos símbolos seriam os mesmos para ambos os Ritos? Haveria diferenças de interpretação ou simbolismo?

RESPOSTA - Rito Frances ou Moderno é um rito agnóstico, adogmático e racional. Não é ateu, mas considera que a mente humana é não tem capacidade para discutir o transcendental, ou as coisas do incognoscível.

Já o REAA é um rito que, por razões históricas, é deísta e teísta ao mesmo tempo. Possui em parte o dogmatismo haurido de influências anglo-saxônicas desde o seu primeiro ritual (1804) e um viés deísta inerente às suas origens francesas.

Diante de tudo isso, a interpretação simbólica deve se adequar à doutrina e a história específica de cada rito. Não confundir isso com licenciosidade interpretativa, porém como objetivo doutrinário e iniciático.

4 - O irmão poderia esclarecer os significados dos símbolos encontrados no Painel?

RESPOSTA – Para tal eu teria que escrever um livro a esse respeito. Já fiz alguns comentários sobre, e os mesmo se encontram publicados no Blog do Pedro Juk em http://pedro-juk.blogspot.com.br

4.1 - Quanto ao painel mos∴, há algum diferencial com relação ao aprendido no Grau 1?

RESPOSTA - O quadrilongo mos∴ do 3º Grau nada tem a ver com o pav∴ mos∴que decora o Oc∴ da Loja. Os estudos do Aprendiz e do Companheiro se relacionam à materialidade e a vida humana, enquanto o Mestre, que simbolicamente aparece subindo a esc. em carc., ingressa no Or. para investigar e aplicar a sua espiritualidade adquiruda quando da passagem pela cerimônia de Exaltação.

Em linhas gerais, o pav. mos., é o solo do mundo, enquanto o quadr∴ mos∴diante do pórtico é a representação de um ambiente elevado (em outra dimensão).

4.2 - Devemos entender a Ac∴ não só como símbolo da imortalidade e incorruptibilidade, mas também como o local da marcação da c∴, conforme a lenda?

RESPOSTA - O ramo de Ac∴ finc∴ no c∴ é uma alegoria da imortalidade. Hão há o porquê de se separar no contexto da lenda uma prática simbólica.

4.3 - Como devemos entender o Esq∴ e o Comp∴ neste Painel? Como a prevalência do esp∴ sobre a matéria? Como eles não estão separados no Oriente e Ocidente como nos demais painéis (ou no antigo utilizado pelo GOB), devemos interpretar que não mais "se anda do Esq∴ ao Comp∴"?

RESPOSTA - Não vamos inventar resposta. O Esq. menciona o trabalho material e o Comp. o trabalho espiritual. Só se apresentam unidos em Loja, todavia quando dispersos servem ao Mestre como elementos da justa medida e da aplicação da 47ª Proposição de Euclides nos cantos simbólicos da obra.

4.4 - As ffaix∴ ou cruz - que o irmão informou serem referências à revolução anual do Sol - teriam algum outro significado?

RESPOSTA - No contexto da lenda representam a passagem do Sol de um para outro hemisfério. A transição do inverno para o verão simboliza a vida e o renascimento da Natureza, no caso, a ressurreição do Mestre. De modo visual é um artifício gráfico representativo tridimensional do t∴.

4.5 - O que o triângulo com a letra "G" inscrita significa? Devemos entender que se relaciona com IOD ou com o G inscrito na Estr∴ Flamej∴ do grau 2?

RESPOSTA – A letra G não tem nada a ver como IÔD, uma das letras do tetragrama hebraico. Nessa conjuntura, o G é o símbolo da Geometria aplicada na construção das boas obras e o Triângulo é o símbolo unidade ternária de onde parte o primeiro “plano”. A letra G no interior da Estr∴ Flamej∴ é a Geometria aplicada na construção do homem. À vista disso é que a Estr∴ é tratada como hominal.

4.6 - Há seis conjuntos de ccr∴ e tt∴. Por que neste número? Qual o significado do cr∴ e das tt∴?

RESPOSTA - Nada de iniciático a ver quanto a quantidade dos símbolos. É apenas um elemento construtivo de decoração e harmonia para todo o conjunto simbólico. Unitário ou além da unidade, o símbolo traz uma única mensagem.

4.7 - Qual o significado das gotas de prata? Elas possuem significado isolado ou relacionam-se com os ccr∴ e tt∴? Conforme a figura apresentada no seu blog (e no Ritual), temos uma contagem diferente, sendo que as que ficam mais à Oriente possuem apenas 1 ou nenhuma gota:

RESPOSTA - Reitero, sem divagações. As llágr∴ simbolizam a tristeza e os conjuntos de tt∴ e ccr∴ simbolizam a morte. Em última análise, é a comoção pela morte do Sol no solstício de inverno.

5 - Por que outros ritos da Maçonaria Continental (francesa), como o Adonhiramita, apresentam painéis diferentes, mais semelhantes ao do Ritual de Emulação?

RESPOSTA - Não obstante às estruturas doutrinárias de cada rito, não há como negar que houve, em alguns casos, miscigenação de símbolos maçônicos latinos e anglo-saxônicos. Como eu disse, vale o que representa a alegoria para o sistema doutrinário particular de cada rito.

Existe mais de uma centena de painéis desenhados na França. A história de cada um possui sua particularidade, sobretudo aquelas que serviram de escolha entre os tantos ritualistas e rituais que foram sendo construídos ao longo da história. Não dá para se fazer nenhuma afirmativa laudatória nesse sentido. As coisas não são tão simples assim.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br

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