José Wilson Pereira M∴M∴
Trabalho lido no tempo de estudos
da Loja Simbólica Atalaia de Brasília Nº 1.574
I – INTRODUÇÃO
Liberdade e Tolerância caminham juntas na estrada da Maçonaria. Elas são rigorosamente essenciais à nossa Sublime Ordem.
Daí porque a Carta Magna da nossa Potência declara como um de seus fins supremos a Liberdade, e como princípio cardeal a Tolerância.
Assim, já no Art. 1º da Constituição do Grande Oriente do Brasil, (edição 2009), encontramos: “A Maçonaria é uma instituição essencialmente iniciática, filosófica, filantrópica, progressista e evolucionista.... Seus fins supremos são Liberdade, Igualdade e Fraternidade. No inciso III desse mesmo artigo “, proclama que os homens são livres e iguais em direitos e que a Tolerância constitui o princípio cardeal das relações humanas, para que sejam respeitadas as convicções e a dignidade de cada um”. (O grifo é nosso).
II – LIBERDADE
A Liberdade é, sem a menor dúvida, o bem maior da humanidade. Assim, vale conhecer bem os seus inimigos.
A liberdade humana, através dos tempos, tem sido sempre ameaçada pelos seus eternos inimigos: o fanatismo, a superstição e a violência. Vejamos cada um desses inimigos.
O Fanatismo - Segundo o Dicionário Aurélio Eletrônico, (Google, 2011), indivíduo fanático é aquele “que se considera inspirado por uma divindade, pelo espírito divino; iluminado. Que tem zelo religioso, cego, excessivo, intolerante. Que adere cegamente a uma doutrina, a um partido, que é partidário, exaltado, faccioso. Que tem dedicação, admiração ou amor exaltado a alguém ou algo, entusiasmado, apaixonado”. Podemos ver demonstrações de fanatismo na história recente do Brasil e nos conflitos atuais no Oriente Médio. A Guerra dos Canudos (Ver Nota 2) é um exemplo bastante significativo de fanatismo. Outro exemplo muito oportuno é a atuação do fundamentalismo islâmico que modernamente surgiu no Egito, na década de 1920 e hoje se encontra presente em grande parte do Norte da África, no Oriente Médio e na Ásia, agredindo a liberdade de ir e vir, de pensamento, a religiosa e a política.
A Superstição – É crendice em coisas fantásticas, baseadas em presságios, fatos fortuitos e muitas vezes caracterizadas por um sentimento religioso calcado no medo e na ignorância. O supersticioso é presa fácil daqueles que o exploram em benefício de seus interesses e em detrimento de algum tipo de liberdade.
A Violência – Ela se manifesta quer seja no plano físico, moral ou intelectual. A violência física, por intermédio da tortura é a ação mais cruel e abominável que se perpetra contra os mais fracos. Vemos nos dias de hoje nessas guerras localizadas, onde se manifesta de modo gritante o fanatismo religioso ou político, o uso da violência individual ou coletiva, na busca de seus objetivos, que via de regra são em detrimento da liberdade do povo.
Exemplos lamentáveis são os bombardeios indiscriminados contra populações civis indefesas e os ataques terroristas suicidas indiscriminados praticados pelos homens-bomba contra inocentes parcelas da população.
Recentemente, a sociedade brasileira ficou estarrecida com a violência do massacre ocorrido na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo/RJ. No dia 7 de abril de 2011, Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, invadiu a escola, armado com dois revólveres, com muita munição e com extrema violência matou 12 crianças, feriu gravemente mais 12 e depois se suicidou.
É imperioso destacar os conflitos recentes, neste primeiro semestre de 2011, com movimentos de libertação das ditaduras do mundo árabe. O estopim foi a revolta na Tunísia que acabou derrubando o governo. Em seguida veio a revolução que retirou Hosni Mubarack da presidência do Egito, onde estava há mais de 30 anos. O Iêmem do mesmo modo está em processo de afastamento de seu governo. A Líbia vem até o momento, maio de 2011, se destruindo em uma guerra civil que talvez termine com uma divisão do país. Omar Kadafi resiste, até o momento a toda pressão das forças da OTAN, Organização do Tratado do Atlântico Norte. Do mesmo modo, países próximos, desenvolvem os mesmos movimentos em busca da liberdade, quais sejam: Síria, Oman, Baharen e até a Jordânia.
É dever de todo maçom assumir suas responsabilidades perante a sociedade e ficar alerta contra toda manifestação de violência, inclusive contra o poder discricionário dos governantes que muitas vezes, com absolutismo e tirania tolhem a liberdade dos povos.
Mas, voltemos ao art. 1º da Constituição do G∴O∴B∴, onde no inciso IV desse artigo, “defende a plena liberdade de expressão do pensamento, como direito fundamental do ser humano, admitida a correlata responsabilidade”.Além disso, ao tratar dos direitos do Maçom, no inciso II do artigo 33 está escrito: “Livre manifestação do pensamento nos meios maçônicos”.E no Inciso III do mesmo artigo: ”Inviolabilidade de sua liberdade de consciência e crença. Mais adiante, no inciso X: “Não ser obrigado a fazer nem deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude da Lei”.”“.
Além disso, A Maçonaria defende a plena liberdade de expressão e de pensamento, como um direito fundamental do homem. E também determina o combate à ignorância, à superstição e à tirania.
Considerando o fanatismo como fruto da ignorância, sendo esta mãe de todos os vícios, e que a tirania é uma das mais condenáveis formas de violência contra o povo, é licito inferir que esses inimigos da liberdade humana têm que ser combatidos diuturnamente.
Por outro lado, vale destacar que, a Maçonaria embora seja fundamentalmente filosófica, não se prende a nenhuma corrente, sistema ou escola. Porisso, o maçom tem total liberdade de pensamento e de interpretação. O maçom tem todo o direto e a liberdade de “achar o bem entender”, conforme suas convicções e sua formação e cultura maçônica.
O sentimento de liberdade deve estar sempre muito presente na consciência de todo maçom. Foi esse sentimento que proporcionou a independência de tantos povos. A Maçonaria teve, através dos tempos, bastante influência na emancipação política de muitos povos, particularmente na independência das nações americanas. Do mesmo modo, há quem defenda a influência destacada da Maçonaria na Revolução Francesa, embora alguns autores minimizem essa participação.
Em todo o movimento de independência da América há marcas indeléveis da Maçonaria.
O estadista e comandante das forças que lutaram para a independência das 13 colônias da América do Norte, Benjamim Franklim, grande maçom, recebeu apoio de seus irmãos maçons da França.
Inúmeros revolucionários que lutaram pela causa da independência americana eram maçons, inclusive o líder maior, George Washington.
Na América Latina também encontramos vários maçons que dedicaram suas vidas à luta pela independência de seus países. Citemos alguns exemplos como os argentinos San Martin, Carlos Alvear, Manoel Belgrano e Bernardo O'Higgins; na Venezuela destacaram-se Francisco Miranda e Simon Bolivar; no México, Benito Suarez e Francisco José Caldas; no Equador, José Joaquim Olimedo e Martins Rocafuente; no Peru, Jaime Zerdanez; em Cuba, José Marti; no Chile sobressai-se a figura épica e lendária do Índio Lautaro que lutou encarniçadamente pela independência de sua Pátria.
Aqui no Brasil, temos uma plêiade de maçons ilustres que foram figuras importantes na nossa emancipação política: Joaquim Gonçalves Ledo, José Clemente Pereira, Cônego Januário Barbosa, Hipólito da Costa (Patrono da Loja Simbólica Atalaia de Brasília), José do Patrocínio, José Bonifácio, Antônio Carlos, Martim Francisco e tantos outros.
O Grande Oriente do Brasil, fundado em 17 de junho de 1822, atuou intensamente pela Independência do Brasil.
II – TOLERÂNCIA
Como vimos, a Tolerância é um princípio cardeal da Maçonaria. Ela sempre esteve presente na história da Arte Real.
A Constituição do G∴O∴B∴, edição de 2009, faz referência à Tolerância, no artigo 32, Dos Deveres do Maçom, quando determina no inciso IX – “haver-se sempre com probidade, praticando o bem, a tolerância e a solidariedade humana”.(o grifo é nosso).
Ao buscarmos o sentido profano de Tolerância, vemos no Novo Dicionário da Língua Portuguesa, do Aurélio: “Tolerância – (do latim tolerantia) – Qualidade de ser tolerante. Tendência a admitir modos de pensar, agir e de sentir que diferem dos de um indivíduo ou de grupos determinados, políticos ou religiosos. Tolerante – Que tolera. Que desculpa; indulgente, benigno. Que admite e respeita opiniões contrárias à sua”.
Esse sentido profano não está muito longe do sentido maçônico. A nossa Ordem entende a Tolerância como o ato de saber suportar e não apenas como ser indulgente.
A Tolerância além de ser um dever do maçom, deve estar completamente arraigada em sua consciência. É por intermédio dela que chegamos à Fraternidade. É pelo amor ao próximo que conseguimos praticá-la. Não é por acaso que abrimos os trabalhos da Loja Simbólica, lendo o Salmo 133: ”Ó quão bom e quão suave é viverem os irmãos em união...”.
Essa convivência fraterna não se fará sem uma grande dose de Tolerância, de parte a parte, dos irmãos.
A Tolerância para o verdadeiro maçom, que não seja um simples portador de avental, é antes de tudo um estado de espírito. O maçom que vive e pratica a Maçonaria está consciente de que sem o exercício constante da Tolerância, não chega a lugar nenhum.
Foi a intolerância, e, portanto, a falta de Tolerância, é responsável por tantas cisões na história da Maçonaria. Quantas dissenções, cismas ou disputas maçônicas teriam sido evitadas se houvesse mais Tolerância e menos vaidade, orgulho e soberba.
Todavia, é bom que fique bem claro, que Tolerância não significa derrota, subserviência, adesão ou abdicação. Na concepção maçônica, ela passa pela indulgência diante das fraquezas de um Ir∴ e pela compreensão dos seus pensamentos e pontos de vista contrários aos nossos.
IV – CONCLUSÃO
Como dissemos, a Liberdade e a Tolerância caminham juntas.
A Liberdade deve ser encarada como uma via de mão dupla. Isto é, assim como defendemos a nossa liberdade de pensamento, temos que ter Tolerância e respeitar a liberdade de pensamento do nosso Irmão.
Ademais, a liberdade de pensamento do outro, pode nos levar a reconsiderar conceitos ou pensamentos por nós consagrados como verdadeiros.
A Maçonaria respeita o princípio de livremente obedecermos aos ditames de nossa consciência. Todavia, não temos a liberdade de obedecer à indiferença, aos caprichos e à covardia, nem podemos tolerar o fanatismo e a violência. Por outro lado, não podemos, sob o pretexto de liberdade de consciência ou de prática da Tolerância, nos furtar de falar com absoluta sinceridade, ao expor nossos pontos de vista ou expressar nossos sentimentos.
Bibliografia:
- Rodrigues, Raimundo, A Filosofia da Maçonaria Simbólica, 1ª edição, 1999; Oliveira, Walter Dias de, A Maçonaria e seus Conceitos, Editora A Trolha, 1ª edição, 1999;
- Lyra, Jorge Buarque, A Maçonaria e o Cristianismo, Editora Aurora, 5ª edição, 1970;
- Castellani, José, Os Maçons na Independência do Brasil, Editora A Trolha, 1ª edição;
- D’Albuquerque, A Tenório, A Maçonaria e a Independência do Brasil, Editora Aurora, 3ª edição;
- Aslan, Nicola, Pequenas Biografias de Grandes Maçons Brasileiros, Editora Maçônica, edição de 1973;
- Siqueira, Alcides Luiz de, A Tolerância, Caderno de Pesquisas Maçônicas, Caderno nº 15, Editora A Trolha, 1ª edição, 1998;
- Motalvani Filho, Antônio, Trabalho Maçônico “Ser Maçom”, Revista A Trolha, nº 157, novembro de 1999, página 37;
- Magnani, Júlio Cesar, Trabalho Maçônico, “Liberdade, Igualdade E Fraternidade com Justiça e Lealdade”, Revista A Trolha, nº 157, novembro de 1999, páginas 34, 35 e 36;
- Costa, Frederico Guilherme, Trabalho Maçônico, “Liberdade e Igualdade – Um Diálogo entre Irmãos; Um Enfoque Profano e uma Análise Conceitual”, Revista A Trolha, nº 127, maio de 1997, páginas24 e 24;
- Haddad, Fuad, Trabalho maçônico “A maçonaria e a Independência do Brasil, Revista A Trolha, nº 162, abril de 2000, páginas 34 a 36”;
- Perotoni, Marco Antônio, Trabalho Maçônico, “Liberdade – Os limites do Certo e do errado”, Revista A Trolha, nº 148, fevereiro de 1999, página 34;
- Felipe, Deusdedith José, Trabalho maçônico “Tolerância na Maçonaria”, Revista O Amanhã, nº 5, Março/Abril de 1999, páginas 11 e 12;
- Silva, Antomar Marins, Trabalho Maçônico “Tolerância”, Revista A Trolha, nº 154, agosto de 1999, página 41;
- Oliveira, João Batista Moraes, Trabalho Maçônico “Tolerância Doméstica”, Revista A Trolha, nº 122, dezembro de 1996, páginas 22 e 23;
- Siqueira, Alcides Luiz de, Trabalho Maçônico “A Tolerância”, Revista A Trolha, nº 148, julho de 1998, página 26;
- Sálvio Jr, Antônio Hoberdanchi, Trabalho maçônico “Considerações sobre o Salmo 133”, Revista A Trolha, nº 115, maio de 1996, páginas 24 e 25;
- Guimarães, João Francisco, Trabalho Maçônico “A Tolerância”, Revista O Amanhã, nº 3, páginas 10 a 12;
- Constituição do Grande Oriente do Brasil, edição 2009;
Fonte: JBNews - Informativo nº 271 - 26.05.2011
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