De um tempo para cá, temos constatado que a sociedade brasileira se depara com uma questão bastante controvertida, que tem sido objeto de intensos debates, que é a questão quanto ao desarmamento ou não da população.
Esse tema, em razão dos últimos acontecimentos amplamente divulgados pela mídia, tem se acentuado ainda mais, fazendo com que acirrem os debates entre aqueles que são a favor e contra o desarmamento. Uns, sustentando que essa é a forma eficaz de solucionar a violência que aflige o país. Outros, asseverando que o desarmamento de nada adianta, pois não retira a arma do facínora e somente serve para instigá-lo a se tornar mais ousado, por saber que não poderá ser enfrentado pelo cidadão comum.
Desarmar ou não desarmar, eis a questão!
Independentemente dessa divergência, o fato é que atualmente, salvo raríssimas exceções, é proibido o porte de arma de fogo em todo o território nacional.
Todavia, com o presente trabalho não pretendo tratar desse tema polêmico. Tenho certeza de que aqui, entre nós, podemos encontrar adeptos de uma ou de outra corrente de pensamentos e não é a minha intenção mostrar ou convencer que é este ou aquele grupo que está certo ou errado.
Em verdade, o que pretendo é fazer uma acusação. E quero fazer essa acusação grave contra alguns de nossos Irmãos ativos.
Mas, antes de fazer essa acusação quero recordar que a nossa lei penal maçônica prevê que toda e qualquer acusação contra Irmãos deve ser dirigida ao Venerável Mestre da Loja que deverá julgar o acusado, e este necessariamente tem que acionar o Orador para intervir e acompanhar o caso, funcionando o Secretário como escrivão do processo. É o que emerge da combinação dos artigos 1º, § 1º, 3º, 4º e 12 do Código Processual Maçônico.
Portanto, Venerável Mestre e Irmãos Orador e Secretário quero manifestar a minha acusação diretamente para vós e indiretamente para os demais Irmãos, que têm a competência legal para julgar o presente caso.
E minha acusação é a seguinte: - alguns Irmãos estão entrando no Templo Maçônico armados! E isto fere de morte os nossos compromissos, princípios, costumes e leis.
Por isto, é minha intenção requerer que sejam tomadas as providências cabíveis para o necessário desarmamento.
E pior: esses Irmãos não estão armados com um simples canivete ou coisa do gênero. A arma que carregam para o interior do Templo é muito mais do que isto... é perigosíssima é letal!
A arma que alguns Irmãos têm trazido para o interior do Templo. Não só deste, mas de muitos outros Templos é a intolerância, a inveja, a mágoa, a ganância, a vaidade, a falta de fraternidade, o individualismo, o egocentrismo e o desânimo (para os estudos e para o trabalho).
Por isto, meus Irmãos, as providências a serem tomadas para que haja o necessário desarmamento – que não é o desarmamento físico, mas sim o desarmamento espiritual – devem ser tomadas por cada um de nós.
E, vejam bem, essas providências para o desarmamento de nosso espírito, que urgem a serem tomadas, não é mera faculdade, mas autêntico dever do verdadeiro Maçom.
Não podemos nos esquecer que ao sermos iniciados nos comprometemos a trabalhar na pedra bruta para que sejam alcançados os objetivos da Sublime Ordem que são: o da incessante investigação da verdade, o exame da moral e a prática das virtudes.
Justamente em face desse compromisso é que todo iniciado tem a necessidade de controlar as suas paixões e submeter a sua vontade às leis e aos princípios da Ordem maçônica, que preceitua o trabalho como um dever essencial do ser humano, em especial do Maçom, cujo aprendizado está assentado sobre a busca do seu aperfeiçoamento espiritual.
A propósito, em determinado momento da nossa iniciação somos advertidos de que os traidores devem ser rejeitados pelos Maçons. Nesse particular os nossos Rituais de Iniciação invariavelmente trazem a passagem em que o Ir∴ 1º Vig∴ dirigindo-se aos candidatos faz a seguinte advertência:
“Ficai também sabendo que consideramos traidor à nossa Ordem aquele que não cumpre os deveres de maçom em qualquer circunstância.”.
E no mesmo Ritual o Ven∴ M∴esclarece aos iniciandos sobre alguns dos deveres do Maçom, dizendo:
“Não devereis combater somente as vossas paixões, mas ainda a outros inimigos da humanidade como sejam: os hipócritas que a enganam; os pérfidos que a defraudam; os fanáticos que a oprimem; os ambiciosos que a usurpam; e os corruptos e sem princípios que abusam da confiança das massas.”.
Quando o Ven∴ faz menção a esses inimigos não está se referindo apenas aos inimigos externos, mas também e principalmente aos inimigos internos, pois estes são muito mais perigosos, na medida em que estão próximos de nós e às vezes disfarçados. Aos inimigos externos nós não viramos as costas, mas aos inimigos internos sim, já que – por serem dissimulados – neles não percebemos o perigo.
Os inimigos externos podem ser comparados às grandes pedras e os internos às pequenas pedras. As grandes pedras não nos derrubam, pois são facilmente percebidas e delas nós nos desviamos. Já, as pequenas pedras, porque não demonstram o potencial de perigo é que têm a capacidade de nos derrubar e muitas vezes nos derrubam deixando cicatrizes acentuadas.
O grande problema é que a luta contra esses inimigos internos é muito difícil e para derrotá-los, precisamos de muita sabedoria, força de vontade e pureza de princípios consistentes na firmeza de caráter, no aprumo moral e no exercício da tolerância. Sim, pois os nossos inimigos internos somos nós mesmos; são os nossos defeitos que, apesar do compromisso assumido, não combatemos e que por isto fortalecemos, criando em nosso interior não o Templo das virtudes, mas sim a masmorra dos defeitos.
Armados desses defeitos, muitos Maçons, se apresentam na Loja não para somar, mas para dividir; não para ajudar, mas para atrapalhar; não para pacificar, mas para semear a discórdia.
Esses Irmãos são facilmente identificáveis, pois são aqueles que falam mal da administração da Loja ou da Potência, buscando desprestigiá-la e desmerecê-la, sem nunca ou pouco ter se apresentado para ajudar; são aqueles que conspiram contra todo e qualquer Irmão que se apresenta para formar uma nova diretoria, por inveja ou ganância, ao invés de dar apoio e colocar-se à disposição para o trabalho; são aqueles que só indicam defeitos de tudo e de todos, ao invés de ver as virtudes que inegavelmente possuem; são aqueles que nunca auxiliam em nada, mas que são os primeiros a indicar eventuais erros dos que fazem, sem perceber que só erra quem se propõe a fazer.
Meus, Irmãos, é lógico que nós, como seres humanos que somos temos imperfeições, não somos santos e, aliás, vivemos num mundo que nos impulsiona para um distanciamento dos verdadeiros valores. Por isto, temos os nossos defeitos. O problema não é tê-los. O problema é não combatê-los. Esse é o nosso trabalho. Esse é o nosso dever.
Bem por isto, ou seja, por saber que temos defeitos, é que o Templo Maçônico, com o mesmo formato do Templo de Jerusalém, possui o átrio, que é o espaço físico, que separa o mundo profano do mundo sagrado, e é o local em que no momento antecedente às sessões os maçons devem se recolher, se concentrar e desarmar o espírito, para entrar e participar dos trabalhos.
O átrio, segundo Juan Carlos Daza, no Dicionário da Franco-Maçonaria, é o “umbral do Templo e simboliza o espaço de trânsito e de união, que separa o exterior do interior, e é onde se espera, em recolhimento, para ser acolhido ou introduzido”; livre, portanto, dos valores mundanos que são empecilhos para a exata compreensão dos ensinamentos maçônicos.
O mestre Rizzardo da Camino, em artigo de sua lavra, cujo título é “A Sacralidade do Templo”, manifesta que o átrio é o local “onde o Maçom se despe mentalmente do aspecto profano, isto é, procede a uma desintoxicação completa, libertando-se de qualquer resquício de negativismo, ou seja, afasta si qualquer mágoa que possa ter para com um irmão seu ...”.
Portanto, meus Irmãos, é esse local adequado para que o Maçom se desarme, para apresentar-se no interior do Templo preparado para a construção do seu Templo interior,m sem o qual não será possível a construção do Edifício Social almejado pela Ordem Sublime.
Existem rituais, inclusive que, quando os Irmãos estão no átrio, fazem com que se profira a seguinte exaltação ao desarmamento espiritual: “meus Irmãos, antes de entrarmos nesse Augusto Templo, devemos meditar, preparando-nos para ao mesmo tempo, ingressarmos no Templo de dentro, mergulhando em um Oceano de tranqüilidade, deixando os pensamentos comuns, os dissabores, as angústias e os problemas do cotidiano para trás. Nosso escopo é completarmos a edificação do Templo da Virtude, embelezando-o com os nossos propósitos de aperfeiçoamento. Cada Irmão somará ao que lhe estiver ao lado as vibrações benéficas, visando encontrar, após o umbral desta porta, a paz que tanto necessita. Que o G.A.D.U. dirija nossos passos, pois ao ultrapassarmos o portal entraremos no Templo Sagrado”.
Não quero me delongar e nem é minha intenção atacar quem quer que seja. Pelo contrário, o meu objetivo é provocar a todos e a cada um de nós para que façamos uma visita ao nosso interior e, em estando ali, façamos uma profunda reflexão:
- quanto ao nosso papel junto à Ordem Maçônica em geral e à nossa Loja em especial: - estamos auxiliando para que os ideais da Ordem e os objetivos da Loja sejam alcançados? – estamos cumprindo com os nossos compromissos e juramentos prestados perante a Maçonaria?
- quanto à conduta e exemplo que estamos dando à Sociedade: - estamos sendo exemplo de tolerância, sensatez e sabedoria perante a nossa família, nossos amigos, nossos colegas, nossos vizinhos, etc?
- quanto ao nosso estado de espírito, se desarmado ou não: - como estamos nos apresentando perante a Loja, perante os Irmãos, perante nossa família, enfim, estamos desarmados espiritualmente, prontos para ouvir, perdoar, ajudar e atuar?
Por fim, é importante que recordemos que nós todos devemos nos preparar para ser parte da Obra maçônica. Pelos princípios maçônicos não existe o mais ou o menos importante. Todos – do Aprendiz ao Grão-Mestre – são igualmente importantes. A pedra que compõe a base da Obra é tão importante quanto a que está no seu ápice. Sem elas o Edifício jamais é finalizado. Na Sublime Maçônica não tem a menor importância o cargo ou título que ostenta um Irmão, seja no mundo profano seja no mundo maçônico.
Bem por isto, é que temos que – desarmar nossos espíritos – para atuar em conjunto, fazendo prevalentes os princípios e objetivos da Sublime Ordem. Até porque os Irmãos que entram armados dentro deste e de outros Templos Sagrados não enxergam que estão ferindo de morte – em primeiro plano – a Loja a que pertencem – e em segundo plano – a própria Maçonaria.
A propósito, e para finalizar, gostaria de pedir que os Irmãos ouvissem com atenção a música que segue, que traz uma poesia que muito tem a ver com que agora estou a conclamar, ou seja, que devemos nos unir como verdadeiros Irmãos.
Nessa música, o poeta deixa bem claro que somente unidos, de mãos dadas, poderemos impedir:
- que o pano da insensatez caia sobre os homens;
- que as luzes da sabedoria se apaguem da face da terra;
- que as portas das virtudes se fechem para a sociedade;
- que as vozes da tolerância se calem nos quatro cantos do mundo;
Ainda, nessa mesma canção poética fica claro que se assim não agirmos chegará o dia em que a noite das trevas imporá a ignorância, o fanatismo e o despotismo, afastando as luzes da fé, da esperança e do amor e, com isto, fazendo com que sequem os rios da tolerância e que se percam as mães doutrinárias dos princípios morais milenares, quando então há de prevalecer o choro e o medo que criam os covardes e fazem com que tudo se perca. E aí é tarde demais.
Ouçamos a música, cuja letra está abaixo
Portanto, meus queridos Irmãos, conclamo a todos para que desarmemos os nossos espíritos, nos unamos e de mãos dadas entoemos juntos a canção relativa aos sagrados e seculares princípios e costumes da Sublime Ordem Maçônica.
Vamos dar as mãos e cantar (Antonio Marcos)
(*) (Trabalho apresentado pelo Ir∴ Manoel Vinícius de Oliveira Branco obreiro da ARLS∴ Pitágoras - Or∴ de Londrina em sessão da ARLS Pesquisa Brasil do dia 26/05/2011)
Fonte: JBNews - Informativo nº 274- 29.05.2011
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