ÓCIO: [lat. otiu] 1. Descanso do trabalho, repouso. 2. Tempo que passa desocupado; lazer. 3. Preguiça, indolência, moleza. 4. Trabalho mental ou ocupação suave, agradável. 5. O sociólogo italiano Domenico de Masi se tornou conhecido em todo o mundo ao pregar o ócio como solução para os problemas existenciais e econômicos da humanidade. Para ele, as jornadas longas no trabalho são origens das altas taxas de desemprego e, mais que isso, um desrespeito à natureza humana. É impossível ser criativo nessas condições. As boas idéias só aparecem quando há tempo livre para pensar. Abaixo um resumo de sua entrevista à revista Veja, 27/03/2002. (...) (V) As pessoas, em geral, não sabem aproveitar o tempo livre? (DM) O tempo tem valor relativo, depende de quem o usa. Um elefante que vive 100 anos, não pode pedir a uma borboleta que o espere por meia hora, pois isso representa boa parte da vida dela. Em nossa sociedade competitiva somos educados para o trabalho, tanto pela família como pela escola e pela sociedade. Mesmo se levando em conta as atuais jornadas de dez horas diárias, o trabalho ocupa apenas um sétimo do total de horas que temos para viver e o lazer consome três vezes mais tempo. Precisamos de educação para desfrutar o ócio, mas ele é ainda um perigo para a sociedade. (V) Saber desfrutar o ócio não seria um benefício naturalmente reservado à elite? (DM) Sim, porque hoje a produtividade não pode ser mais medida pelo tempo. Antigamente, a eficiência era calculada com base na fórmula matemática elaborada por Taylor: é a quantidade de produto dividida pelo tempo humano dedicado a sua execução. Ou seja, uma empresa se tornava mais eficiente ao fazer mais produtos no mesmo tempo ou diminuir o tempo para produzir os mesmos produtos. Agora, a fórmula de eficiência excluiu o fator tempo. Pode-se ter muitas idéias em poucas horas ou nenhuma em uma jornada inteira. Ou ter uma só em uma vida inteira, e ela ser suficiente. Empresas que vivem de produzir idéias e se preocupam com esses pequenos desperdícios de tempo estão fora de sintonia com a modernidade. (...) A maioria das empresas quer que seu funcionário ainda se comporte como naquele tempo em que era preciso estar em período integral na empresa. É uma forte esquizofrenia. (V) Mas, se todo mundo tiver horários irregulares, quem é que vai tocar o barco dentro da empresa? (DM) É claro que vai continuar existindo um grupo de pessoas dedicadas ao trabalho manual, físico. Uma linha de montagem não pode ser levada para casa, até porque há um colega ao lado que depende de seu trabalho para fazer o dele. Nesses casos, a esperança é a automatização e a redução da carga horária. O que se poderia fazer em benefício dessas pessoas imediatamente é reduzir o número de horas dedicadas a essas tarefas. Chegará o dia em que 100% do trabalho humano será intelectual. As atividades perigosas, repetitivas e chatas serão feitas por máquinas. Quando o trabalho é executado com a cabeça, ele anda sempre com você, pode ser carregado para todos os lados e é possível fazê-lo no domingo à noite, na praia ou enquanto se lava a louça. (V) Por enquanto, contudo, raros são aqueles que podem dizer ao chefe que vão pegar um cineminha no meio da tarde... (DM) Pode ser que isso ainda não seja possível, mas a verdade é que a maior parte das pessoas já está em condições de dar alguns passos em direção ao ócio criativo, ainda mais com o advento das novas tecnologias. (...) O importante para a empresa moderna não é possuir o tempo do colaborador, mas as idéias dele. (...) Funcionários de grandes empresas costumam passar duas horas por dia com o filho e doze horas com o chefe. Não faz o menor sentido. (...) Quem fica mais tempo com o filho e consegue dar uma escapada no meio da tarde para passear no parque certamente estará mais feliz e aberto a idéias. (V) Trabalhar para acumular patrimônio e assegurar um futuro seguro para os filhos não é uma boa justificativa? Houve uma época em que os ricos não trabalhavam para ter tempo de desfrutar a riqueza. A aristocracia de Florença usava a riqueza para aproveitar a vida. Hoje eles são os que mais trabalham, para ficar ainda mais ricos. É uma estupidez. Riqueza, hoje é sinônimo de stress. Muita gente se muda para cidades grandes, como São Paulo, por imaginar que terá melhores condições de trabalho. Mas as metrópoles são muito dispersivas, desafiam a criatividade. Se fôssemos fazer uma pesquisa sobre onde nascem as idéias no Brasil, veríamos que boa parte provém das cidades médias, que oferecem ambientes propícios para a criatividade. Atenas, na época de Péricles, contava com 40 000 habitantes. Florença, no tempo dos Médici tinha 50 000 até 1348, quando houve uma grande peste que reduziu a população para 20 000 moradores. Todo o Renascimento se deu somente com essas 20 000 pessoas. Michelangelo, Da Vinci e pelo menos mais noventa gênios surgiram daí. Qual era a grandeza de Florença? Em vez de acumular bens, eles desejavam apenas dar novo significado ás coisas que tinham. (V) Todos fomos criados com a noção de que o trabalho dignifica. Ser reconhecido como alguém trabalhador sempre foi uma virtude. Como educar nossos filhos nesse aspecto? (DM) O primeiro artigo da Constituição italiana diz que a Itália é uma república fundada sobre o trabalho. É como se dissesse que é fundada sobre um sétimo da vida. Devemos ensinar aos nossos filhos e netos a fazer apenas o que eles gostam, em todos os sentidos. Quem aprende isso com os pais ensina os próprios filhos, a fazer o mesmo. Quem está preso à mentalidade anterior ainda ensina que o trabalho está acima de tudo na vida. É difícil para um pai que teve um tipo de educação orientar o filho de forma diferente. Muito difícil para quem sempre encarou o trabalho como um sacrifício, uma dor, um castigo pelo pecado original. Segundo a mentalidade industrial, o trabalho leva à riqueza na terra e ao paraíso no céu. Hoje sabemos que ele não é totalizante, é apenas um sétimo da vida. (...) Ao contrário dos séculos anteriores, a identidade de uma pessoa não está mais ligada a sua capacidade de trabalhar, mas principalmente à forma como desfruta seu tempo livre, a sua personalidade global. (V) O que é ser criativo? A criatividade é a síntese de duas coisas: fantasia e realização. Michelangelo é criativo não apenas porque projetou a cúpula da Catedral de São Pedro, mas depois de pensá-la convenceu o papa e coordenou a construção. Criatividade não é somente ter idéias, como se imagina. Isso é apenas fantasia. Só os gênios são fantasiosos e realizadores ao mesmo tempo. Como gênios não aparecem aos montes, o segredo é montar equipes que mesclem pessoas fantasiosas e realizadoras. Isso significará um ganho para os que têm ambos os perfis. A criatividade floresce em ambientes intelectualmente competitivos. Com os meios de comunicação de massa, ambientes assim poderiam ser criados em pouco tempo em todo o mundo. Podemos transformar o planeta em uma grande Florença do Renascimento. Esse é o lado potencialmente bom da globalização. 6. Rituais: (...) como dignos filhos da Maçonaria, vos entregareis ao estudo e ao trabalho e empregareis vossas horas de ócio em nutrir vosso coração com esse espírito de solidariedade que Deus inspirou ao homem virtuoso. (RC). (V. Pecados Capitais, Preguiça,Trabalho, Sucesso).
Fonte: JBNews - Informativo nº 267 - 22.05.2011
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