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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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segunda-feira, 14 de setembro de 2020

VIGILANTES E AS INSTRUÇÕES

VIGILANTES E AS INSTRUÇÕES
(republicação)

Em 22/07/2016 o Respeitável Irmão Leonardo Pavani, Loja Perseverança e Fidelidade, 2.968, REAA, GOB-SC, Oriente de Sombrio, Estado de Santa Catarina, formula a seguinte questão: leonardopavani27@gmail.com

Estou lhe encaminhando este e-mail, para tentar esclarecer uma dúvida. Sou Aprendiz, fui iniciado no Rito Adonhiramita, porém, por motivos profanos tive que mudar de cidade e me filiar em uma loja que trabalha no REAA. Pois bem, o ritual de Aprendiz (GOB) é de 2010, para ser mais exato na página 18, onde, este se refere a posição dos Vigilantes diz que "No ocidente à frente da coluna do norte.... O assento para o 1º Vig∴ ..... Esta posição permite que o 1º Vig∴ observe todo o OC∴ .... e orientar especificamente os CComp∴ cuja instrução é de sua responsabilidade. Na parte sul.... destinado ao 2º Vig∴ .... Por sua vez a posição do 2º Vig∴ que tem sob sua responsabilidade e orientação a coluna do sul, permite -lhe observar o topo da coluna do norte, onde estão os AApr∴ cuja instrução está sob sua responsabilidade". Dúvida: No seu entendimento está correto? Afinal, o 2º Vig∴ é senta-se ao sul e como consta no ritual "que tem sob sua responsabilidade e orientação a Coluna do Sul", mas é responsável pelos AApr∴ que sentam-se ao norte, e o 1º Vig∴ senta-se ao norte (coluna dos AApr∴) mas orienta os CComp∴ que sentam-se ao sul. Ficou bem confuso essa situação. Por intermédio de um Ir∴ soube que houve mudanças no GOB em relação à esta situação, porém, o mesmo não soube me apresentar onde existia essa informação. Se o Ir.'. puder nos ajudar neste caso serei grato. Desde já agradeço sua disposição e parabenizo-o pelo trabalho e serviço que nos presta no JB News!

CONSIDERAÇÕES:

É tudo uma questão de tradição e hierarquia, não propriamente onde esse ou aquele ocupa lugar em Loja.

No passado medieval (século XII) as reuniões operativas não eram realizadas em Templos, já que à época estes eram mesmo inexistentes (o primeiro Templo maçônico só apareceria no terceiro quartel do século XVIII).

Da mesma forma eram também desconhecidos os ritos, ou rituais (trabalhos) tal como hoje os conhecemos, entretanto, as instruções morais e religiosas eram determinadas por uma espécie de catecismo inserido nas obrigações do Ofício e consideradas como a Lei da Confraria que normalmente eram distintas umas das outras. Estas seriam posteriormente conhecidas como “old charges”, ou “antigas obrigações”.

Era costume entre essas Corporações se realizarem reuniões para festas patronais objetivando a discussão dos planos de trabalho do Ofício. Oportunamente também eram iniciados nessas reuniões novos membros na “arte da construção”. Geralmente essas assembleias eram realizadas uma ou duas vezes por ano, coincidindo com as datas solsticiais – solstício de verão em 24 de junho e solstício de inverno em 27 de dezembro considerando-se a localização geográfica na meia esfera norte (hemisfério norte). Essas datas, por influência da Igreja na Maçonaria, acabariam mais tarde se identificando com as datas comemorativas dos Santos Padroeiros, João, o Batista e João, o Evangelista, ou as Lojas de São João.

Naquela ocasião essas reuniões eram realizadas normalmente em torno de uma mesa longa orientada simbolicamente de Leste para Oeste onde o Mestre da Loja (não era o atual Mestre Maçom e nem o Venerável Mestre) ocupava a parte oriental. No lado oposto, no Ocidente, tomava assento o seu primeiro auxiliar “warden” (zelador), mais tarde rotulado como 1º Vigilante. No centro da mesa, pelo lado Sul, assentava-se à mesa o seu segundo auxiliar (warden), rotulado posteriormente como 2º Vigilante. Essa antiga constituição de três dirigentes (Luzes) já no período operativo possui caráter imemorial, portanto, um “Landmark” da Ordem (limite).

Desde o século XII, através de provável costume herdado das “Guildas”, essas reuniões eram então realizadas à mesa de refeições, cuja disposição do móvel se transformaria mais tarde em uma mesa em formato de “U” orientada também de Leste para o Oeste. Na sua parte transversal, ao centro pelo dado de fora tomava assento o Mestre da Loja (Este). Dos dois extremos da mesa oriental no sentido longitudinal do espaço, partindo de cada canto da mesma eram dispostas mais duas mesas longas que determinavam os lados Norte e Sul em cujos extremos ocidentais (Oeste), tomavam assento ao Norte o 1º Vigilante e ao Sul o 2º Vigilante (origem da disposição das atuais Lojas de Mesa, denominadas equivocadamente como banquete ritualístico).

Na mesma oportunidade em que se discutiam assuntos inerentes à confraria acompanhados de um bródio era também brindado o novo ciclo natural, ou a nova estação do ano. Concomitante ao ato ali eram realizadas as iniciações de novos membros aspirantes à “Arte de Construir”. A título de esclarecimento, nos albores da Francomaçonaria existia, além do Mestre da Loja (o dono do canteiro de obras) apenas as classes dos Aprendizes Juniores e o dos Seniores, estes últimos, mais tarde seriam qualificados como os Companheiros do Grêmio (Fellow Craft).

Historicamente, era dentre os Companheiros do Grêmio (Ofício) escolhido o mais experiente e qualificado para assumir a direção dos trabalhos do Ofício (Mestre da Loja – não era grau), cujo aumento de salário dava a ele o direito de possuir o seu próprio canteiro, recebendo uma carta patente que o qualificava a viajar livremente e, auxiliado por dois outros Companheiros (Vigilantes) experientes, estaria apto para ensinar novos Aprendizes de acordo com a tradição da “Arte”.

Dentro desse costume, quando em deslocamento por outras paragens, eles se reconheciam por sinais, toques e palavras, pois não fazia sentido algum que um pedreiro precisasse ficar horas esquadrejando uma pedra para provar a sua habilidade.

Retomando as considerações relativas ao costumeiro ambiente das reuniões em torno da mesa, mais tarde, os integrantes da corporação (canteiros) passariam a usar um recinto específico para a finalidade iniciática, geralmente em tabernas, quando ocupavam uma grande sala contígua ao espaço usado para as reuniões comensais. Nesse espaço quadrangular, sem fazer uso da grande mesa, as cadeiras dos dirigentes eram simbolicamente dispostas uma no Leste, uma no Sul e a outra no Oeste. Diante dos dirigentes havia apenas um pequeno pedestal.

Um banco de se ajoelhar era também colocado próximo ao pedestal do Mestre da Loja. Ao centro, entre o Norte e o Sul eram desenhados no chão, com giz ou carvão, os símbolos alusivos aos instrumentos dos construtores, todavia sem qualquer cunho esotérico, místico e oculto, porém sugestivos à lição moral representada pelos objetos, e uma religiosidade proposta pelos clérigos que protegiam as confrarias dos construtores então existentes. Esses conjuntos alegóricos gravados no chão do espaço seriam mais tarde substituídos por tapetes que dariam por sua vez origem aos Painéis da Loja (sistema francês), ou as Tábuas de Delinear (sistema inglês).

Em se atendo, embora em linhas gerais, nas características do espaço utilizado, vamos sintetizar a realização de uma iniciação na época: O candidato ao Ofício, vendado e despojado era conduzido até o recinto e entregue ao 2º Vigilante que o apresentava aos demais membros. Em seguida o postulante era colocado diante do 1º Vigilante para receber uma oração, ou prece, a ele dedicada (esse costume prevalece até os dias atuais – vide o Ritual). Posteriormente, em perambulação, o proposto era conduzido pelo 2º Vigilante (mais tarde por um Diácono) para um reconhecimento simbólico até o Mestre da Loja onde era orientado a se ajoelhar sobre o joelho esquerdo e segurar o Livro da Lei Sagrada com a mão esquerda colocando a mão direita sobre o mesmo (Due Guard*) prestando então a sua “obrigação” recebendo em seguida à Luz para instruir-se no Ofício. Nessa oportunidade lhe era entregue um par de luvas de couro e também um avental de pele de carneiro para protegê-lo nos labores do desbaste da pedra, ao mesmo tempo em que lhe eram apresentadas, de forma verbal, pelo 2º Vigilante, as lendas bíblicas e os antigos costumes como uma espécie de código de moral que viria nortear novo Aprendiz. Após esse procedimento o novo Iniciado era então colocado diante do quadro desenhado no chão e o 2º Vigilante ministrava a instrução (preleção) emanada dos símbolos ali desenhados. Terminada a preleção o novo Aprendiz era conduzido até o nordeste do recinto em referência à pedra angular da Obra. Em síntese essa era uma Iniciação nos período operativo que, salvo algumas variações consoantes aos costumes regionais, em pouco se diferenciavam na época entre si.

O Aprendiz iniciado passaria então o seu tempo, geralmente três anos, no canteiro de obras aprendendo com o 2° Vigilante a arte de esquadrejar a pedra para servir os pedreiros mais experientes até que, com o tempo e dedicação, estivesse ele apto assentar a rocha esquadrejada elevando a construção. Assim o 2º Vigilante comunicava o 1º Vigilante que, por sua vez, conferindo e aprovando o trabalho, pedia ao Mestre da Obra o aumento de salário profissional em favor do Aprendiz que assim obtendo passava para a perpendicular ao nível (prumo – elevação das paredes).

Com relação ao Companheiro – na época rotulado como Aprendiz Sênior - o procedimento era o mesmo, cujo tempo de aperfeiçoamento beirava aproximadamente cinco anos e era lhe ensinada à arte da elevação das paredes e o fechamento dos arcos ogivais (gótico). Nesse ciclo de aperfeiçoamento e aprendizado os ensinamentos eram ministrados e supervisionados pelo 1º Vigilante que, ao crepúsculo doutrinário, pedia ao Mestre da Obra o aumento de salário para o Companheiro. Estando ele aprovado, poderia receber a carta que o habilitava a contratar serviços em seu nome.

Sob esse feitio, o Segundo Vigilante recebia e instruía os Aprendizes, enquanto que o Primeiro Vigilante instruía os Companheiros, daí a tradição conservada pelos rituais até os dias atuais como é o caso do verdadeiro REAA∴.

Hoje trabalhamos em uma Loja simbólica, enquanto que no passado medieval trabalhavam- se operativamente nos canteiros de obras, reservando os recintos fechados apenas para as reuniões anuais ou semestrais. Com o advento da Moderna Maçonaria e o aparecimento dos Ritos Maçônicos (meados do século XVIII), procurou-se conservar essas tradições de modo especulativo, já que o objetivo mudava da construção literal para a construção social. Com isso houve a disposição dentro dos canteiros simbólicos que o denominamos como Lojas Simbólicas, onde continuam os Vigilantes e o Mestre da Loja (Venerável) acrescidos das demais Dignidades e Oficiais, bem como os Aprendizes e Companheiros. É nessa transição que aparece, a partir de 1.724, o Grau de Mestre Maçom como símbolo daquele que é, ou poderá ser o dono de um Canteiro (Loja).

Na Moderna Maçonaria, a questão também é de hierarquia, pois o 2º Vigilante instrui os Aprendizes; o 1º Vigilante, os Companheiros e o Venerável, os Mestres.

Verdadeiramente quem dirige a Loja é tão somente o Venerável enquanto os Vigilantes apenas o auxiliam.

* Due Guard – Guarda devida ou devido guarda. Praticamente abolida das Lojas inglesas, sobreviveu nas Lojas norte-americanas (Rito de York) e irlandesas. Exprime a atitude correta que o candidato deve ter ao prestar a sua obrigação.

T.F.A. 
PEDRO JUK – jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 2.176 – Florianópolis (SC) – sexta-feira, 16 de setembro de 2016

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