Em 21/03/2024 o Respeitável Irmão Albeni Conceição da Silva, Loja Hórus, 232, GLMRS, REAA, Oriente de Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul, apresenta a dúvida seguinte:
COBERTURA DO LIVRO SAGRADO
Gostaria de consultar o senhor poderia esclarecer uma dúvida, na parte ritualística da abertura do Livro da Lei, quanto a posição dos irmãos primeiro e segundo Diáconos, o irmão Primeiro Diácono fica ao lado Direito do Altar do Livro da Lei com o Pé esquerdo apontado para o Oriente, O Segundo Diácono deveria ficar com o Pé direito apontado para o Oriente para poder ficar de frente para o Primeiro Diácono e fazer a cobertura com os Bastões do Livro da Lei enquanto o Irmão Orador faz a leitura do Salmo 133, Em Nossa Loja o irmão Segundo Diácono fica também com o pé esquerdo virado para o Oriente, nesta posição quando levanta o Bastão para cobertura do Livro da Lei ele fica de costas para o irmão Orador e de frente para o Oriente, Já falei sobre que a Posição está errada mas tem um irmão que é Mestre Instalado que diz que tem que ser assim o pé esquerdo do segundo Diácono é para o Oriente, Gostaria que o senhor se puder me esclarecer quanto a esta dúvida.
CONSIDERAÇÕES:
Infelizmente há rituais do REAA que equivocadamente mencionam Diáconos portando bastões, cobertura sobre o Livro da Lei com os bastões (cruzando-os ao alto), formação de pálio, etc.
Sob o ponto de vista da autenticidade, nada disso existe no rito em questão.
No REAA, para a liturgia da transmissão da palavra durante a abertura e o encerramento dos trabalhos, os Diáconos não utilizam bastão.
Estes oficiais são apenas mensageiros que transitam pelo chão da Loja para exercer uma única atividade de ofício, a de transmitir a palavra.
À vista disso, após terem os Diáconos cumprido, cada um o seu dever de ofício, eles simplesmente retornam aos seus lugares.
É bom que se diga, que dos ritos de origem francesa mais conhecidos no Brasil, o único deles que possui cargo de Diácono é o REAA.
A origem do cargo de Diácono na Moderna Maçonaria advém dos tempos da Maçonaria Operativa, nada tendo a ver com ofício religioso.
Por exercerem sua atividade profissional percorrendo os imensos canteiros de obra como mensageiros do Mestre e dos Vigilantes, os Diáconos logo ficariam conhecidos como “oficiais de chão”.
Nos tempos do ofício era comum o Mestre da Obra solicitar aos seus ajudantes principais, os Wardens, mais tarde Vigilantes, que nivelassem e aprumassem os principais cantos da obra antes que fossem iniciadas as atividades no canteiro.
Desta forma, depois de cumprida a ordem, o Mestre da Obra era informado de que tudo estava “justo e perfeito”, ou seja, tudo estava nivelado e aprumado conforme as exigências da Arte. Assim informado, o Mestre então determinava que todos os trabalhos profissionais se iniciassem no canteiro (eram abertos os trabalhos).
O mesmo acontecia no final da etapa de trabalho, quando então os Vigilantes partiam para verificar se o serviço estava nos conformes, ou seja, se as paredes erguidas de fato estavam niveladas e aprumadas (justas e perfeitas). Estando tudo conforme as exigências, os operários recebiam os seus salários e eram dispensados para o merecido repouso (a Loja era fechada).
Como transmissores de ordens para estas atividades profissionais, os Diáconos percorriam o canteiro levando mensagens entre o Mestre da Obra e os Vigilantes.
Com o advento da Maçonaria dos Aceitos, as atividades profissionais gradualmente iam dando lugar às atividades especulativas. Consequentemente, por volta do século XVIII aparecem os ritos maçônicos especulativos, a exemplo do REAA.
Assim, com a finalidade de rememorar as velhas aprumadas e nivelamentos que ocorriam nos canteiros de obra do passado, o REAA teve inserido na sua liturgia iniciática a alegoria da transmissão de uma palavra, no caso, a palavra sagrada do grau.
Como não havia mais atividade profissional devido a transformação total da Maçonaria Operativa em Maçonaria dos Aceitos (não havia mais canteiros de obras e o serviço de cantaria), nas Lojas especulativas as aprumadas e nivelamentos passaram a ser representados por uma palavra que se fosse transmitida nos conformes exigidos pela ritualística, era o mesmo que estar tudo “justo e perfeito”.
Esta é a origem da transmissão da palavra sagrada envolvendo o Venerável Mestre, os Vigilantes e os Diáconos, no REAA.
No rigor ritualístico do REAA, os Diáconos, representantes dos velhos oficiais de chão, não utilizam bastão. Ambos estão presentes na liturgia do Rito com a finalidade única de serem os condutores da palavra.
Historicamente, vale ressaltar que na Moderna Maçonaria os Diáconos foram introduzidos na Maçonaria Especulativa pelos maçons irlandeses, oriundos da Grande Loja dos Antigos de 1751 na Inglaterra.
Com o Ato de União, de novembro de 1813, os Diáconos passaram definitivamente a fazer parte dos trabalhos ingleses. No Rito de York, por exemplo, não há transmissão da palavra, contudo eles têm importantes funções do desenvolvimento ritualístico, como a de conduzir candidatos nas sessões correspondentes. Em determinadas ocasiões usam “varas” nas suas atividades litúrgicas, todavia isso não autoriza ninguém afirmar que no REAA eles devem usar bastão. Os Diáconos, na maçonaria inglesa (anglo-saxônica) têm funções diferentes das praticadas no REAA.
Nesse sentido, ao concluir, afirmo que pelos comentários até aqui expostos, não há como tecer quaisquer considerações sobre práticas que não se sustentam na originalidade do Rito, como é o caso da posição dos pés dos Diáconos durante a “cobertura”, com bastões, do Livro da Lei.
T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário