MORAL MAÇÔNICA
Ir∴ Ethiel Omar Cartez Gonzalez.
O que caracteriza o homem à imagem do Grande Arquiteto do Universo, não é a sua inteligência finita, mas a sua vontade que depende do seu livre-arbítrio. O homem pode querer tudo, ainda que não possa realizar tudo, ao passo que a inteligência, mesmo querendo, não poderá compreender tudo. O pensamento é, portanto, uma conquista, seja contra as idéias confusas que provêm dos sentidos e seja contra as paixões da alma.
A vontade é, certamente, o elemento ativo do espírito, rejeitando todas as noções falsas que a inteligência recebe dos sentidos e da imaginação. As realizações da inteligência e o desenvolvimento ordenado das idéias claras são uma conquista da vontade.
A liberdade é um ato de vontade, de exercício do livre-arbítrio, uma afirmação de soberania como única forma de raciocínio construtivo. A liberdade sugere uma subordinação em relação à vontade toda vez que a inteligência descobrir as chamadas idéias claras e distintas.
A ação do pensamento e da inteligência é essencialmente um ato da vontade e da liberdade. A indiferença foi definida como uma preguiça da vontade, que tem sua origem na ignorância e o arrependimento como uma espécie de tristeza que vem da certeza de termos praticado uma má ação.
O erro tem sua origem no uso abusivo da vontade, sendo que só a vontade poderá evitá-lo. Sábio é aquele que sabe duvidar e a dúvida, acionada pelo juízo, é antes de tudo um ato de liberdade destinado a suprimir o erro.
Para sairmos da dúvida é preciso fazer dela o próprio instrumento de trabalho, partindo em busca da pesquisa. A dúvida metódica é a salvação da inteligência e o começo da sabedoria. O conhecimento, portanto, é uma "inspeção do espírito", que pode ser imperfeita quando feita pelos sentidos e pela imaginação, mas distinta quando provém do intelecto.
Para os filósofos da época do iluminismo a tolerância tinha como sinônimo a generosidade, que é para eles não só a chave de todas as paixões, mas também é definida como a própria virtude no terreno das paixões da alma. Na união do corpo e da alma, a tolerância será o elemento moral capaz de estabelecer o equilíbrio da natureza humana, porque representa uma consciência da liberdade e o propósito de bem usá-la.
Ao dominar os desejos, a tolerância governa as molas propulsoras de quase toda a nossa vida moral. Conhecer e saber que o livre-arbítrio é o nosso maior bem e estar firme no propósito de bem usá-lo é estabelecer o equilíbrio das paixões da alma. É isso que se constitui no ideal da moral maçônica nos ensina nossos deveres e a razão do uso dos nossos direitos
SOBRE MORAL
A Moral é o conjunto de regras de conduta consideradas como válidas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupo ou pessoa determinada.
Que entendemos por moral?
“Que procede conforme a honestidade e à justiça, que tem bom costumes, e dos de dos deveres do homem em sociedade e perante os da sua classe. Conjunto de preceitos ou regras para dirigir os atos humanos segundo a justiça e a equidade natural. Modo de proceder”. (Fonte: Dicionário Brasileiro da Enciclopédia Mirador).
A Moral está na base da Maçonaria, em sua história, em suas leis, em todo o seu desenvolvimento. É a razão de ser e o principal objetivo da Instituição que, sem ela, não se poderia manter. Esse objetivo é mesmo assinalado na primeira linha do primeiro artigo dos “Deveres de um Maçom”, nas “Constituições” Maçônicas, desde 1723: “Um Maçom é obrigado pela sua dependência (à Ordem) a obedecer à Lei moral...”. Assim, a Moral maçônica é a moral solidária (que tem responsabilidade recíproca).
Analisando historicamente a Moral, esta aparece junto com a sociedade humana. A moral da sociedade primitiva não censurava o canibalismo, o incesto a matança de anciãos, etc devido ao seu nível extremamente baixo de desenvolvimento cultural. A tribo era coletivista e para sobreviver cultuava nos seus membros o heroísmo, a honra, a audácia, a defesa, a ajuda mútua, a força física, etc. “Virtus”, expressão latina que designava a força física e o valor e começou a ser utilizado no sentido de virtude.
Na sociedade escravista as relações humanas incluem somente os homens livres ficando os escravos, valor nas guerras, etc. A crueldade e, inclusive, matar um escravo não acarretava nenhum sentimento de piedade ou remorso; era normal. Mas quando a sociedade cresceu o estado escravista não respondeu às suas maiores necessidades econômicas.
A questão moral remonta aos povos antigos, antes mesmo de a palavra filosofia ser usada por Pitágoras, entre os gregos, viveram homens de grande sabedoria. O primeiro a ser conhecido como sábio foi Tales de Mileto: ele viveu por volta de 640 a.C. e, ao lhe perguntarem: "qual é a coisa mais difícil?", ele respondeu: "a coisa mais difícil é conhecer-se a si mesmo"; e ao lhe perguntaram ainda: "como podemos viver a vida melhor e mais justa?", ele respondeu: "abstendo-nos de fazer o que censuramos nos outros". Entre os sábios gregos, o mais notável foi Sócrates; ele nada escreveu, mas ensinou vivendo a filosofia. Para ele, o fundamental era "conhecer-se a si mesmo" pela reflexão. Ele estava convencido de que a virtude identifica-se com a sabedoria e o vício decorre da ignorância, do desconhecimento da verdade.
Platão, que foi o principal discípulo de Sócrates, identificava na alma humana três virtudes: o instinto, a coragem e a razão. No instinto manifestam-se os desejos ligados a sobrevivência e à reprodução. Pela coragem o homem expressa desejos superiores, dando testemunho da existência de uma vontade livre e autônoma. E pela razão governa sua vontade e seus instintos. Isso nos faz lembrar as lições dos aprendizes, onde o maço da vontade é governado pelo cinzel da razão no desbaste da P∴B.'..
Aristóteles dividiu a ética em duas categorias de virtudes: as morais calcadas na vontade e as intelectuais calcadas na razão. As virtudes morais são a coragem, a generosidade, a magnificência, a doçura, a amizade e a justiça; as virtudes intelectuais são a sabedoria, a temperança e a inteligência. Aí está o principal fundamento do método maçônico.
O regime feudal considerava o membro da gleba, um homem, mas um homem inferior que estava incluído dentro da transação de compra e venda de uma propriedade, mas o senhor já não tinha mais o direito de vida ou morte sobre ele. A igreja católica apóia tanto o sistema escravista com o sistema feudal. Ela pertence, social e economicamente, à classe dominante. A moral do senhor feudal proibia-lhe dedicar-se ao comércio e aos ofícios, mas era lícito o direito de pernada, ou jogar ao baralho a sorte dos servos de sua propriedade. A virtude dos servos era o trabalho e a obediência.
A revolução francesa libera o homem da opressão do feudalismo. Cria liberdade de ação e pensamento, nascem os ideais humanistas, mas são afetados pelas péssimas condições econômicas. É gerada uma moral individualista. Robespierre chama o patriotismo como uma “virtude suprema”, mas acaba-se convertendo em ódio social e estandarte de guerra de dominação.
No século XVII foram criadas as condições para o surgimento do movimento iluminista no século seguinte. No campo da filosofia, Descartes e Espinosa destacaram-se na preparação do terreno para estes novos tempos.
Baruch de Espinosa, nascido em 1632 na Holanda, ao afirmar que no Antigo Testamento não contém verdades, mas preceitos morais e políticos que visam a preservar a unidade e a dirigir o povo judaico através dos tempos, ele sofreu os efeitos da intolerância religiosa, acusado de ateu e excomungado pela sinagoga de Amsterdam.
Segundo Espinosa, todo estado autoritário tem origem na superstição, onde os chefes alimentam o terror das massas, o que coincide com o pensamento maçônico, onde o fanatismo político e religioso é tido como responsável pelas maiores desgraças vivenciadas pela humanidade.
René Descartes, nascido em 1596, este filósofo e matemático francês dedicou grande parte da sua obra às questões relacionadas com a moralidade. Em sua obra "O Tratado das Paixões" deduz que é no livre-arbítrio que o homem poderá buscar a educação do intelecto, capaz de livra-lo do vício. Afirma que o erro moral é precedido pela falta de sabedoria. Para ele a utilidade da moral consiste em governar o desejo sobre o nosso modo de agir.
A ruptura desse filósofo francês com o pensamento eclesiástico reside no fato de que o pensamento cristão tratava da virtude como uma preparação para a vida futura, ao passo que para ele o homem racional poderia alcançar a virtude pelo seu esforço de bem agir.
Considerando que as obras dos principais filósofos do Iluminismo, entre os quais Voltaire, Rousseau, Montesquieu e Diderot, ainda não eram conhecidos naquela época, onde então aqueles freqüentadores da taberna buscavam inspiração filosófica e motivação para fundarem uma instituição maçônica da forma como é conhecida nos dias atuais?
Embora a aprovação da Constituição do reverendo James Anderson, em 24 de junho de 1717, tenha acontecido 67 anos depois de Descartes, suas idéias no campo da moralidade influenciaram certamente os fundadores da instituição maçônica, o que ficará demonstrado mais adiante, pelos seus conceitos sobre a questão moral do ponto de vista racional e científico.
E, para discernir entre os Vícios e Paixões, derivados da união da alma com o corpo, Descartes sugere a busca da Verdade, através do Autoconhecimento impulsionado pela Vontade.
Pelo anterior, pode-se ver que não existe uma moral eterna e imutável. A moral é histórica, conjuntural e determinada pela classe dominante.
O que entende a Maçonaria por moral ?
Moral é para a Maçonaria uma ciência com base no entendimento humano. É a lei natural e universal que rege todos os seres racionais e livres. É a demonstração científica da consciência. E essa maravilhosa ciência nos ensina nossos deveres e a razão do uso dos nossos direitos. Ao penetrar a moral no mais profundo da nossa alma sentimos o triunfo da verdade e da justiça.
A Moral está na base da Maçonaria, em sua história, em suas leis, em todo o seu desenvolvimento. É a razão de ser e o principal objetivo da Instituição que, sem ela, não se poderia manter. Esse objetivo é mesmo assinalado na primeira linha do primeiro artigo dos “Deveres de um Maçom”, nas “Constituições” Maçônicas, desde 1723: “Um Maçom é obrigado pela sua dependência (à Ordem) a obedecer à Lei moral...”. Assim, a Moral maçônica é a moral solidária (que tem responsabilidade recíproca).
A Maçonaria procura fazer penetrar na consciência dos Maçons a seguinte fórmula: faz tudo o que pode contribuir para a felicidade da Humanidade; abstenha-se de fazer tudo o que pode causar prejuízo ou pena à Humanidade. A Maçonaria ensina aos seus adeptos: fazes parte da Humanidade, a sua (dela) prosperidade é a tua prosperidade: o seu sofrimento é o teu sofrimento; o que é bom ou mau para ela o é igualmente para ti; a Humanidade florescente é o teu Paraíso; a Humanidade perecendo é o teu inferno. O Bem é o que, sendo generalizado, criaria à espécie humana condições de existência mais favoráveis à sua felicidade. O Mal é o contrário.
A Maçonaria exige de seus membros, entre outras condições, boa reputação moral. Exige tolerância para com toda forma de manifestação de consciência, de religião ou de filosofia, cujos objetivos sejam os de conquistar a verdade, a moral a paz e o bem estar social.
Os ensinamentos maçônicos orientam seus membros a se dedicarem a felicidade de seus semelhantes, não somente porque a razão e a moral lhes impõem tal obrigação, mas também porque esses sentimentos de solidariedade os fazem irmãos.
A moral maçônica constitui objeto da sua filosofia racionalista. Esta moral está contida nos símbolos e rituais que, como todos nós sabemos, tem-se mantido sem variação no decorrer dos séculos. A moral maçônica, ao invés da profana, é imutável. Numerosos irmãos nossos através dos séculos tem rendido a vida lutando contra as falsas definições de moral imposta em benefício de dogmas, privilégios e sistemas exclusivistas.
Sendo a Maçonaria uma instituição universal, essencialmente ética, filosófica e iniciática, educa seus membros para serem homens de bem, com sólidos princípios morais e que lutem para seu aperfeiçoamento em benefício individual e social. O maçom deve ser útil ao progresso da moral.
Manter uma moral maçônica requer o domínio das paixões, reconhecer e corrigir nossos defeitos, cultuar a inteligência e praticar os ensinamentos maçônicos.
A virtude é um impulso natural interior que induz à prática do bem. O bem não é um ideal distante a ser buscado, ele se compõe de pequenos eventos que se materializam em cada ação construtiva e em cada passo da nossa vida. A primeira expressão de virtude é o reconhecimento instintivo que responde a tradicional pergunta "de onde viemos e para onde iremos?".
O nosso “Dharma” ou Dever, na realidade, é uma questão que nos envolve de confiança interior, para acreditar em verdades que a nossa razão não tem a capacidade lógica de entendimento. Mas o mais importante é que, através do conhecimento e da incansável busca da verdade, possamos nos manter na senda da luz, na trilha de retorno a nossa origem divina, de volta ao G∴A∴D∴U∴.
BIBLIOGRAFIA:
- DICIONARIO BRASILEIRO, ENCICLOPÉDIA MIRADOR,
- Ritual do Grau 1
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