TROTE - BRINCADEIRA DE GOSTO DISCUTÍVEL
(republicação)
“As brincadeiras profanas não são condizentes com o respeito aos Dogmas da Maçonaria, Ordem que nos proporciona sublimes ensinamentos, mas, ao mesmo tempo, nos exige disciplina e dedicação”.
O candidato ao ser proposto à Iniciação é informado que passará a uma nova casta de criaturas privilegiadas com personalidades especiais, voltadas para os fundamentos sérios de ideais do Bem e da Justiça, sem influência estranha, confinando-se à área moral da liberdade e do respeito às ideias e disposições virtuosas.
Como é natural desejam uma recepção amigável e respeitosa que marque seu ingresso no grupo que o atraiu também pela seriedade, ao mesmo tempo, seu espírito e seu coração, no intuito de burilar a sua imaginação e sentimentos.
Inicialmente, devemos recordar o que muitas vezes nos tem sido repetido, isto é, que no dia designado para os trabalhos de Iniciação, desde a manhã, todos nossos atos devem ser rigorosamente submetidos a atenta vigilância, para que suas consequências não possam de nenhum modo afetar a pureza de nossos pensamentos à noite e ou a hora da Iniciação.
Igualmente, devemos evitar nesse dia todo o trabalho que nos possa causar demasiada canseira ou preocupação para que tenhamos facilidade em concentrar nossos pensamentos no Grande Arquiteto do Universo, todos unidos, numa só vibração harmoniosa.
O Maçom deve ser, vigilante em todas as horas, para se fortalecer mentalmente e não se desviar de seu caminho, cedendo à tentações, descuidos, deslizes morais e inconveniências indignas.
Alguns poucos, felizmente, consideram o “trote” uma tradição. Receber um candidato à Iniciação com “calorosas boas-vindas”, não é, certamente, na véspera do dia de sua Iniciação receber telefonemas de pessoas que se identificam como pertencentes ao grupo e que o candidato de providenciar porções de milho e capim para o bode; deixá-lo no dia de sua Iniciação durante horas plantado frente a um túmulo no cemitério, segurando três rosas em uma das mãos e, levando consigo o milho e capim. Não é comemoração que um cidadão tem em mente ao se propor participar da vida maçônica.
Os que concordam com essas irregularidades dizem que essas aberrações são feitas de maneira discreta, são ritos de passagem natural, e nada fazem para desestimular, servindo por de vezes como mais um fator de pressão sobre os “calouros” e de força para os que sentem prazer íntimo em tratar desdenhosamente pessoas indefesas.
O fato do novato não possuir um sentido de grupo e sequer noções básicas sobre o que é exatamente a Ordem dos homens de bons costumes onde ele irá congregar, o torna um alvo fácil de ser atingido pela violência de certos “veteranos”. Para piorar a situação, existem mestres que acreditam que o trote não ofende, não prejudica e não magoa a quem quer que seja.
Na concepção dos aplicadores do trote, o candidato é considerado uma fera que deve ser domada, domesticada, e “limpa dos seus pecados”. O trote traz embutida uma conotação de revanche. Os que foram “trotados” em seu ingresso são incitados a aplicá-lo no próximo “calouro”. Este sentido por si só já tem a característica de reprodução à cada Iniciação, de novas formas de trote, por muitas vezes agressivo, violento, humilhante e ultrajante.
Essas brincadeiras ”extras oficiais”, como não poderiam deixar de ser, têm gerado grande preocupação com consequências negativas da maior parte das Obediências, das Lojas e dos Maçons que reprovam e repudiam essa atividade. Esse tipo de ação não une, nem integra neófitos e Iniciados. Será que um candidato precisa ser submetido ao purgatório para finalmente poder ser chamado de Irmão?
Será isso o que terá de enfrentar logo de saída o pretendente a um lugar entre nós? O que pode pensar ele que lhe possa acontecer nos trajetos futuros e iminentes?
Essas são as virtudes primordiais dos corações de homens que se dizem de bons procedimentos e balizadores sociais?
Para sustentação de nosso trabalho recém apresentado sobre LOJA DE MESA OU DE BANQUETE, encontramos uma referência sobre a derradeira “saúde” que hoje marca o encerramento do Banquete Ritualístico. Ensina-nos Luiz Prado: - “Até pouco tempo antes da Revolução Francesa, as festas terminavam depois de ter sido feita, com muito afeto e reconhecimento - à saúde de Carolina d’Áustria - Rainha de Nápoles, destemida protetora dos maçons, perseguidos pelo seu real consorte, conforme fatos testemunhados pelos contemporâneos. Em 1.775, o Rei de Nápoles, citado, baixou um decreto suprimindo a Ordem em seus domínios, no qual considerava “crime de Lesa Majestade” suas reuniões. Motivou tal decreto, a morte súbita de um jovem durante as provas precedentes ao ato da sua Iniciação numa Loja daquela província. Este fato ocorreu na noite de 1° de setembro daquele ano. A perseguição desenvolveu-se intolerável e violenta. Muitos maçons foram presos. Os cárceres do Estado transbordavam de mártires.
Carolina, criatura meiga, compassiva e virtuosa, exercia um domínio indescritível de amor e de encanto na inteligência e no coração do esposo, então sugestionado pelos adversários da Maçonaria. Prevalecendo-se da sua superioridade tão poderosa, Carolina obteve a revogação de tal decreto, assinando entre seus sorrisos e lágrimas o ato da anulação, restituindo a liberdade aos encarcerados.
Ainda mais, Carolina conseguiu a deliberação da Justiça Real, datada de 8 de fevereiro de 1.777, que declarou “ilegal” e ofensivo o processo contra a Franco-maçonaria. Em 8 de setembro de 1.814, a Régia Defensora da liberdade, da honra e do existir da Maçonaria, pagou o inevitável tributo da natureza:” cerrou suas pálpebras no sono eterno”.
Sua memória impôs-se, por isso, à veneração dos verdadeiros maçons, passando a ser relembrada no encerramento de seus banquetes, e muito mais, em seus corações agradecidos.
Ignora-se a razão porque ficou tal brinde silenciado nos atuais banquetes maçônicos”.
Nada mais atual que as palavras de Salomão no Eclesiastes ( I. 10) : Nil novi sub solo. (Não há nada de novo debaixo do sol).
Por tudo isso, acreditamos nosso dever uma oportuna e efetiva campanha de conscientização contra essas brincadeiras rasteiras e de mau gosto. O trote não pode ser visto como brincadeira e sim como uma violência. Não deveria existir em nenhuma de suas versões.
Valdemar Sansão
E-mail: vsansao@uol.com.br
- publicado em 23/02/2014
Estou para ser iniciado e percebi esses comentários, tais como: estarei lá pra ver vc sofrer... Então me indaguei sobre a seriedade desses homens e até mesmo da Ordem, que pode e deve banir esse tipo de comportamento de seus membros. Conversei com um mestre que tb se mostrou um tanto condescendente com a aplicação do trote. A minha luta agora é tentar mostrar aos meus futuros irmãos que essa não é uma recepção calorosa e nem digna da Ordem.
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