DÚVIDAS NO REAA
(republicação)
O Respeitável Irmão José Pereira de Souza Filho, Primeiro Vigilante da Loja Liberdade e Glória, 4.033, REAA, GOB, Oriente de Glória, Estado da Bahia, apresenta as questões seguintes: pereirasf@hotmail.com
Conforme nos falamos por telefone seguem algumas duvidas para serem esclarecidas:
1. Aclamação HUZZÉ sua origem seu significado e a sua pronuncia (Brasil).
2. Saudação no Ocidente quando o Mestre de Cerimônias cruza do norte ao Sul (orador e secretário) ele faz saudação ao Venerável Mestre?
3. Quando o Venerável convida o Orador e o Secretário a conferir a bolsa de proposta eles ficam a Ordem até o final ou não precisa.
4. Palavra sagrada é (BOAZ)?
5. Quanto as Instruções... Aprendiz Segundo Vigilante? Instrução de Companheiro Primeiro Vigilante? Por que esse cruzamento?
6. No pavimento de mosaico entre o Segundo Vigilante e o Primeiro Vigilante ele para e faz saudação ao Venerável Mestre?
7. Os Irmãos ao circularem em Loja eles andam com as mãos livres ou andam com a mão como se estivesse em sinal de obediência?
1. A origem da expressão advém dos antigos cultos solares - base da grande maioria das religiões. Essa saudação está diretamente relacionada ao misticismo da volta do Sol do hemisfério Sul para o Norte no solstício de inverno (21 de dezembro). Sob esse prisma a observação humana tendo o Sol como uma espécie de divindade saudava esse movimento aparente (Natalis Invicti Solis) como o renascimento da Luz em direção ao Norte. Essa é a mesma conotação dada pelo Mitraísmo Persa no Igne Natura Renovatur Integra – O Sol Renova Toda a Natureza. Nesse mesmo costume os árabes saudavam a volta do Sol com um ramo florido de acácia (flor amarela) exclamando Huzza! Huzza! Huzza! – provável corruptela de “acácia”, planta esta que sempre esteve presente nos livros relacionados às consagrações religiosas. Maomé, com o advento do Islamismo, viria proibir essa prática.
Ainda, a título de ilustração, os ingleses em corruptela de Huzzé viriam adotar uma saudação, não ao Sol, mas como aclamação de contentamento - o conhecido “ip-hurra”.
Em Maçonaria no tocante à sua vertente francesa, o Rito Escocês Antigo e Aceito, filho espiritual da França, possui no seu arcabouço doutrinário (aperfeiçoamento do Homem) uma relação direta com a alegoria das Leis da Natureza. Nesse conceito essa saudação, ou aclamação está relacionada diretamente à volta do Sol no significado diário do Canteiro (Loja) aludindo à escuridão da antemanhã – quanto mais escura é a madrugada, mais próximo está o raiar de um novo dia. A aclamação possui o sentido de contentamento pelo progresso adquirido no aprimoramento moral, ético e intelectual.
A relação doutrinária do Rito em questão está implícita na senda iniciática simbolizada pela alegoria das Colunas Zodiacais e os Ciclos Naturais – primavera, verão, outono e inverno (infância, juventude, maturidade e morte).
Pronúncia no Brasil – “uzé”.
Pela questão da razão e despido de qualquer conceito ocultista esse é um breve relato sobre conhecida aclamação no Rito Escocês Antigo e Aceito.
2. Acredito que como o Irmão se refere ao Orador e o Secretário faz alusão ao “Oriente”. No Oriente não existe qualquer circulação, senão a regra que nele se ingressa pelo lado nordeste e dele se sai pelo lado sudeste. Para se ingressar no Oriente o obreiro em deslocamento obrigatoriamente o faz partindo da Coluna do Norte. Em retirada o obreiro saindo se desloca pela Coluna do Sul. Conforme explícito no Ritual a saudação em Loja (aberta) é feita somente ao Venerável Mestre quando se ingressar ou sair do Oriente, ou às Luzes da Loja (Venerável, Primeiro e Segundo Vigilantes) após a Macha do Grau. A saudação é feita pelo Sinal de acordo com o Grau de trabalho da Loja. O obreiro em circulação empunhando (segurando) um objeto de trabalho fará apenas uma parada rápida e formal (sem inclinação do corpo ou maneios com a cabeça).
3. Cumprindo a regra no Rito que em Loja aberta todo o obreiro que estiver em pé e parado se posiciona à Ordem – corpo ereto, pés em esquadria unidos pelos calcanhares, compondo o Sinal do Grau. Assim as duas Dignidades convidadas ficam à Ordem.
4. Muitos já escreveram a respeito da diferença de escrita da palavra. Alguns trabalhos dignos de apreciação e outros repletos de opiniões pessoais sem qualquer contribuição para o tema. A diferença da escrita se apresenta de acordo com as duas principais versões bíblicas – a Septuaginta (Dos Setenta) e a Vulgata.
Septuaginta - Versão dos "Setenta" ou "Alexandrina" é provavelmente a principal versão grega por sua antiguidade e autoridade. Sua redação deu-se a partir da Bíblia hebraica no período de 275 - 100 a. C., sendo usada pelos judeus de língua grega ao invés do texto hebreu.
O nome "Setenta" se deve ao fato de que a tradição judaica atribui sua tradução a 70 sábios judeus helenistas, enquanto que "Alexandrina" por ter sido feita em Alexandria. Em relação à questão, particularmente nessa versão bíblica a palavra tem a grafia de BOAZ.
Vulgata - No sentido em curso, Vulgata é a tradução para o latim da Bíblia, escrita entre fins do século IV início do século V, por São Jerônimo por determinação do Papa Dâmaso I, que foi usada pela Igreja Cristã. Nos seus primeiros séculos, a Igreja serviu-se, sobretudo da língua grega, passando após a tradução latina denominada Vulgata a consolidar-se, sobretudo a partir da edição da Bíblia de 1532. No tocante à questão, nessa versão a palavra é rotulada como BOOZ.
Ainda não menos importante citar é que por ocasião da Reforma Protestante que quebraria o monopólio latino da língua, está à tradução da Bíblia por Martinho Lutero para a língua alemã. Nessa tradução, no que concerne particularmente ao termo, encontra-se a palavra BOAZ.
Na concepção protestante inglesa de tradução bíblica o termo BOOZ é desconhecido, senão identificado como BOAZ.
Outro aspecto para ser considerado é que o termo BOOZ é desconhecido no vernáculo hebraico, senão a palavra BOAZ.
Sob esse prisma a palavra correta deveria ser BOAZ, já que BOOZ é considerada uma corruptela da palavra apropriada adquirida por equivoco de São Jerônimo por ocasião da tradução para a Vulgata.
Em linhas gerais a conservação dessa corruptela deu-se pela Igreja Católica alegando respeito ao tradutor bíblico (São Jerônimo) e resolveu manter a tradição da Vulgata.
Em termos de Maçonaria é facilmente compreensível o uso dessa palavra dependendo da sua vertente. No Craft inglês e, por conseguinte no Americano, dentre outros costumes anglo-saxônicos, a dita é tida como BOAZ, enquanto que na vertente latina (francesa) da qual pertence o REAA, não na sua totalidade, porém na sua grande maioria, o termo é compreendido como BOOZ, provavelmente influenciado pela Vulgata (latina por excelência).
A Maçonaria brasileira – filha espiritual da França – acabaria nos ritos de origem francesa por adquirir o costume de uso da corruptela (BOOZ) tornando-se um elemento consuetudinário, sobretudo no Rito Escocês Antigo e Aceito.
Dadas essas considerações, devido ao caráter de segredo do Grau imposto à palavra no Rito Escocês na sua forma de transmitir, não existe oficialmente uma orientação para o uso da palavra BOAZ ou da corruptela BOOZ no Grande Oriente do Brasil, senão o costume consuetudinário do modo errado de escrever ou pronunciar a dita palavra sagrada.
Penso que a Maçonaria como investigadora da Verdade e dela fazendo parte o Grande Oriente do Brasil, urge a necessidade de revisão sobre esses conceitos amparados por tradições superadas. Se a palavra correta é BOAZ, que sentido teria o uso de uma corruptela?
Enquanto permanece o equívoco, sugiro que as Lojas pelo menos ministrem uma instrução esclarecendo os fatos sobre o assunto, ao mesmo que tempo remeto o Irmão a consultar uma excelente Peça de Arquitetura intitulada “Discussões Bíblicas – BOOZ ou BOAZ” do respeitável Irmão Willian Almeida de Carvalho (encontrada na Internet) que em minha opinião fecha o assunto, além de dar subsídios para pesquisa sobre o tema.
Apenas para esclarecer - as duas formas escritas se referem ao nome do mesmo personagem bíblico tomado pela Maçonaria como Palavra Sagrada conforme o Rito e o Grau simbólico.
5. Quem instrui os Aprendizes e Companheiros. Em síntese, pelo aspecto tradicional, no passado operativo, quando não existiam ritos, era o 2° Vigilante que recebia o candidato, instruía-o nos procedimentos e o encaminhava para o 1° Vigilante para que esse procedesse a uma oração em favor do iniciando. Posteriormente o Mestre da Loja trazia o Livro da Lei e, auxiliado pelo 2° Vigilante, fazia com que o candidato se ajoelhasse para prestar a obrigação, receber a Luz, assim como as vestimentas de ofício que consistiam em um avental de pele e um par de luvas para trabalhar no desbaste da pedra. Terminado o juramento, o 2° Vigilante instruía o Aprendiz recém-iniciado nas antigas obrigações do ofício (Old Charges).
Guardando essa tradição, o Rito Escocês Antigo e Aceito revive essas reminiscências conservando o 2° Vigilante na instrução dos Aprendizes e do 1° na dos Companheiros, mantendo tradicionalmente o 2° Vigilante na Coluna do Sul e o 1° na Coluna do Norte, fato que não implica em qualquer desordem já que quem dirige à Loja, portanto todos os Obreiros presentes é o Venerável Mestre, auxiliado pelos Vigilantes. É falsa a obrigatoriedade de que o obreiro precise tomar assento na respectiva Coluna do Vigilante para ser por ele instruído, daí no Rito Escocês Antigo e Aceito o 2° Vigilante do meridiano do Meio-Dia, ou Sul instrui os Aprendizes que se localizam no topo da Coluna do Norte e o 1° Vigilante do Ocidente, na Coluna do Norte instrui os Companheiros que ocupam o topo da Coluna do Sul.
6. Se o Irmão estiver se referindo ao deslocamento no Ocidente a regra de circulação é a seguinte: quem se desloca da Coluna do Norte para o Sul passa obrigatoriamente entre o Painel da Loja e a entrada do Oriente. Da Coluna do Sul para a do Norte passa entre o Painel da Loja e a porta do Templo. No mesmo hemisfério, assim como no Oriente, não existe circulação. O que divide as duas Colunas (do Norte e do Sul) é o eixo imaginário (equador da Loja) que parte da porção mediana da porta até o limite do Oriente (em direção ao Delta).
O termo “entre Colunas” se refere a esses dois espaços, cujos topos são as paredes – setentrional e meridional (lugar dos Aprendizes e Companheiros respectivamente). As Colunas B e J são vestibulares e ficam no átrio (vestíbulo). Estas são os elementos demarcatórios dos trópicos de Câncer, ao Norte e Capricórnio ao Sul. O obreiro que estiver “entre Colunas” estará sobre o eixo do Templo entre as Colunas do Norte e do Sul, não entre as Colunas B e J.
Retomando a circulação, ingressa-se no Templo em Loja aberta pela Coluna do Norte e dele se sai pela Coluna do Sul. A mesma regra é aplicada àquele que em deslocamento ingressa e sai do Oriente. Ratificando: no Oriente não existe circulação.
Não existe saudação nem ao Venerável e nem ao Delta quando se cruza o equador do Templo (eixo). Saudação ao Venerável só existe quando da entrada e saída do Oriente ou às Luzes da Loja na entrada formal (Marcha do Grau) – ver o que exara o Ritual de Aprendiz REAA em vigência.
Ainda: o Pavimento Mosaico é o piso em branco e preto disposto de modo oblíquo (regula os passos do grau) em todo o Ocidente da Loja (ver o Ritual em vigência). Não está previsto no Rito Escocês o tapete ou retângulo quadriculado em forma de “xadrez” no centro do Ocidente.
7. Primeiro: não existe no Rito Escocês o “sinal de obediência”. Segundo: Salvo a Marcha do Grau, ninguém anda compondo o Sinal. Enfim: anda-se normalmente com as mãos livres, salvo Oficiais que por dever de ofício tenham que conduzir os respectivos objetos de trabalho na forma de costume quando o ritual previr - geralmente o Mestre de Cerimônias (bastão e bolsa) e o Hospitaleiro (bolsa).
T.F.A.
PEDRO JUK – jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 1.282 Florianópolis (SC) – quinta-feira, 6 de março de 2014
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