Páginas

PERGUNTAS & RESPOSTAS

O “Perguntas & Respostas” que durante anos foi publicado no JB News e aqui reproduzido, está agora no “Blog do Pedro Juk” . Para visita-lo ou tirar suas dúvidas clique http://pedro-juk.webnode.com/ ou http://pedro-juk.blogspot.com.br

domingo, 14 de outubro de 2018

A PREVALÊNCIA DO ESPÍRITO SOBRE A MATÉRIA

A PREVALÊNCIA DO ESPÍRITO SOBRE A MATÉRIA

Não há efeito sem causa; o nada não poderia produzir coisa alguma. Estão aí axiomas, isto é, verdades incontestáveis. Ora, como se verifica em cada um de nós a existência de forças, de potências que não podem ser consideradas como materiais há necessidade, para explicar a sua causa, de remontar a outra origem além da matéria, a esse princípio que designamos alma ou Espírito.

Quando, perscrutando-nos a nós mesmos, queremos aprender a nos conhecermos, a analisar as nossas faculdades; quando afastando da nossa alma a escuna nela acumulada pela vida, o espesso invólucro de que os preconceitos, os erros, os sofismas revestiram a nossa inteligência – penetramos nos recessos mais íntimos do nosso ser e nos achamos então em face desses princípios augustos, sem os quais não há grandeza para a Humanidade: o amor do bem, o sentimento da justiça e do progresso. Esses princípios, que se encontram nos graus diversos, no ignorante do mesmo modo que no homem de gênio, não podem proceder da matéria, que esta desprovida de tais atributos. E se, a matéria, que não possui essas qualidades, como poderia por si só formar os seres que estão com elas dotados? O sentimento do belo e do verdadeiro, a admiração que experimentamos pelas obras grandes e generosas, teria assim a mesma origem que a carne do nosso corpo e o sangue de nossas veias. Entretanto, devemos antes considerá-los como reflexos de uma alta e pura luz que brilha em cada um de nós, do mesmo modo que o Sol se reflete sobre as águas, estejam estas turvas ou límpidas. Em vão se pretenderia que tudo fosse matéria. Pois que! Somos susceptíveis de amor e bondade; amamos a virtude, a dedicação, o heroísmo; o sentimento da beleza moral está gravado em nós; a harmonia das leis e das coisas nos penetra nos inebria; e nada de tudo isso nos distinguiria da matéria? Sentimos, amamos, possuímos a consciência, à vontade e a razão, e procederíamos duma causa que não sente, não ama, nem conhece coisa alguma, que é cega e muda! Superiores a força que nos produz, seriamos mais perfeitos e melhores do que ela.

Tal modo de ver não suporta um exame. O homem participa de duas naturezas. Pelo seu corpo, pelos seus órgãos deriva-se da matéria; pelas suas faculdades intelectuais e morais; procede do Espírito.

Relativamente ao corpo humano, digamos ainda com mais exatidão que os órgãos componentes dessa máquina admirável são semelhantes a rodas incapazes de andar sem um motor, sem uma vontade que os ponha em ação. Esse motor é a alma. Um terceiro elemento liga a ambos, transmitindo ao organismo as ordens do pensamento. Esse elemento é o perispírito, matéria etérea que escapa aos nossos sentidos. Ele envolve a alma, acompanha-a depois da morte nas suas peregrinações infinitas, depurando-se, progredindo com ela, constituindo para ela um corpo diáfano, vaporoso.

O Espírito reside na matéria, como um prisioneiro em sua cela; os sentidos são as fendas pelas quais se comunica com o mundo exterior. Mas, enquanto a matéria declina cedo ou tarde, se enfraquece e se desagrega, o Espírito aumenta em poder e se fortifica pela educação e pela experiência. Suas aspirações engrandecem, estende-se por além-túmulo; sua necessidade de saber, de conhecer, de viver é sem limites. Tudo isso mostra que o ser humano só temporariamente pertence à matéria. O corpo não passa de um vestuário de empréstimo, de uma forma passageira, de um instrumento por meio do qual a alma prossegue neste mundo a sua obra de depuração e progresso. A vida espiritual é a vida normal, verdadeira, sem-fim.

Desenvolvimento

A virtude, o conhecimento, a sabedoria e a bondade são atributos do espírito. Portanto, é o Espírito que se melhora e busca progressivamente a perfeição pelo conhecimento da verdade. No início há uma predominância da matéria sobre o espírito. Ignorância, orgulho, egoísmo e todas as paixões que lhe são consequentes. Com o desenvolvimento e conhecimento, suas qualidades morais, sabedoria e bondade, passam a predominar. É a predominância do espírito sobre a matéria. É o desejo do bem na busca da perfeição pelo conhecimento da verdade.

A – As Grandes Doutrinas

Todas as grandes doutrinas nos dão indicações e caminhos para se atingir a verdade, o grande mistério. A Maçonaria Universal sofreu influência de todas elas e carregam no significado dos seus símbolos marcas dessa influência.

Essas grandes doutrinas tiveram duas faces: uma aparente e outra oculta. Uma forma material, que eram as cerimônias, os cultos e os símbolos, para instigar a imaginação do povo. A outra, espiritual, onde estão os conhecimentos científico e filosófico, a verdade da vida somente interpretada pelos iniciados em doses proporcionais ao desenvolvimento das suas qualidades morais e intelectuais. 

Com o domínio do conhecimento e interpretação dos seus símbolos entenderemos que a vida nada mais é que a evolução no tempo e no espaço, do espírito, única realidade permanente. A matéria é sua expressão inferior, sua forma variável. O Ser por excelência, o G\A\D\U\ e fonte de todos os seres é Deus, simultaneamente triplo e uno. É a essência, substância e vida em que se resume todo o universo.

Eis porque podemos encontrar o G\A\D\U\no mais profundo do nosso ser, interrogando a nós mesmos na solidão, estudando e desenvolvendo as nossas faculdades: a razão e a consciência.

B – Interpretação das Grandes Doutrinas

A doutrina secreta acha-se no fundo de todas as religiões e dos livros sagrados de todos os povos.

Existe uma vasta literatura, onde podemos comprovar e esmiuçar sobre um tema tão sério e porque não dizer polêmico, devido às várias interpretações e formas de adoração, mas tendo em comum a crença de uma vida eterna, após o cumprimento desta passagem por esta.

Os primeiros livros em que se encontra exposta a grande doutrina são os Vedas. É o molde em que se formou a religião primitiva da Índia, onde eles celebravam agni, o fogo, símbolo eterno masculino ou espírito criador e soma símbolo do eterno feminino, alma do mundo, substância etérea, que em sua perfeita união constituem o ser supremo que se imola a si mesmo para produzir a vida universal. Acreditando na imortalidade da alma e a reencarnação.

Na vasta solidão dos bosques viviam, em retiro, os rishis. Intérpretes da ciência oculta da doutrina secreta dos vedas, eles já possuíam os misteriosos poderes transmitidos através dos séculos de que gozam ainda os faquires e os iogues. Desses solitários saiu o pensamento inovador, o primeiro impulso que fez do bramanismo a mais colossal das teocracias.

O inspirador das crenças dos Hindus, Krishna, aparece na história como o primeiro reformador, sendo que renovou a doutrina védica apoiando-se sobre as ideias da trindade, da imortalidade da alma e de seus renascimentos sucessivos. E através desta teoria, conquistou muitos seguidores e desenvolveu muitos conceitos e ideologias, entre tantos ensinamentos de sua teoria dizia aos seus seguidores escolhidos: “Revelei-vos os grandes segredos. Não os digais senão àqueles que os podem compreender, sois os meus eleitos: vedes o alvo. A multidão só descortina uma ponta do caminho”.

Por estas palavras a doutrina secreta estava fundada
A moral budista por sua vez já preconizava aos seus adeptos milenares: é necessário praticar o Bem porque o Bem é o fim supremo da natureza. A Ciência e o Amor são os dois fatores essenciais do Universo. Enquanto não os adquirir, o ser está condenado a prosseguir na série das experiências terrestres.

Em Dhmmapada encontramos estas orientações morais: Assim como a chuva passa através de uma casa mal coberta, assim a paixão atravessa a alma pouco refletida. Pela reflexão, moderação e domínio de si mesmo, o homem transforma-se numa rocha que tempestade alguma pode abalar. O homem colhe exatamente aquilo que semeou.

No Egito onde às portas do deserto erguem-se os templos e as pirâmides, o culto de Ísis e Osíris também apresentava duas faces. Debaixo dos grandes espetáculos e cerimônias públicas ocultava-se o verdadeiro ensino dos pequenos e grandes mistérios. A antiga doutrina, do verbo luz, simultaneamente inteligência, força e matéria; espírito, alma e corpo, analogia perfeita com a filosofia da Índia, foram o segredo da vitalidade do Egito.

Sob formas austeras os princípios desta doutrina eram expressos pelos livros sagrados de Hermes, que durante sua iniciação teve uma visão na qual conversou com o Grande Ser, Osíris e sua visão eram transmitidos vocalmente de pontífice a pontífice e gravada em sinais hieróglifos nas abóbadas das criptas subterrâneas. 

Elas reconheciam Deus como Pai, pregava o fogo das profundezas e a luz no Céu, ou seja, um plano superior, onde o Destino do espírito humano tem duas fases: Cativeiro na matéria e ascensão na luz. Almas inferiores e más ficam presas a vários renascimentos na terra, porém as almas virtuosas sobem voando pare esferas superiores, denominadas em sete juntam: sabedoria, amor, justiça, beleza, esplendor, ciência, imortalidade. E “esta visão encerra o segredo de todas as coisas”.

Pitágoras, que havia estudado por 30 anos no Egito, levou para a Grécia, através da sua Academia de Crotona, as doutrinas secretas do oriente e soube fazer delas uma vas síntese, tendo como sucessores de sua obra Sócrates e mais tarde Platão, sendo que Platão foi também iniciado nos grandes mistérios egípcios e Sócrates condenado a beber cicuta pelo fato de insurgir contra os vícios que corrompiam a mocidade de seu tempo, legando, no entanto, até o momento de seu sacrifício, seus ensinamentos.

No Egito, na Grécia ou na Índia, os Grandes mistérios consistiam de uma mesma coisa: o conhecimento do segredo da morte, a revelação das vidas sucessivas e a comunicação com o mundo ocultam.

Os Hebreus eram uma ilha de monoteísmo cercada de povos politeístas por todos os lados. Como máximo legislador se destaca Moisés, cuja maior contribuição à humanidade não foi o seu Pentateuco, os seus cinco livros (Gênesis, Deuteronômio, Êxodo, Levítico e Números) com que se abre a Bíblia Sagrada dos Cristãos... mas sim o decálogo recebido no Monte Sinai encerrando Mandamentos de valorização e enobrecimento da Alma.

Assim em uma pequena manjedoura em Belém de Judá, no silêncio da noite, nasce JESUS, sendo que até o encontro com João Batista, os evangelhos guardaram um silêncio absoluto sobre seus passos, e somente após este encontro de algum modo tomou posse de seu mistério, passando vários anos com os essênios. Submeteu-se a sua disciplina, de ordem severa, onde para ingressar era necessário um noviciado de um ano. Quem dava provas suficientes de temperança era admitido, sem, contudo entrar em contato com os mestres. Eram precisos mais dois anos de provas recebido na confraria. Jurava-se “por terríveis juramentos” observar os deveres da ordem e nada revelarem de seus segredos. Sendo assim houve uma relação íntima entre a doutrina de Jesus e a dos Essênios, que evidentemente eram considerados irmãos ligados a eles pelo juramento de seus mistérios. Sendo assim Ele próprio dizia: “Não vim para abolir as leis dos profetas, mas sim para cumpri-las”.

Consequentemente acumular riquezas materiais ou mesmo viver escravo das mesmas é tão temporário quanto este corpo que possuímos, porque nada poderemos carregar junto na passagem da continuidade desta vida, o conhecimento material alarga a visão do homem para que melhor se situe no mundo e acima de tudo se torne mais amigo das coisas belas e mais irmãos dos seus semelhantes... Quanto ao dinheiro, poderíamos compará-lo à água. Se parada é a estagnação... Se corrente, é a benção dos vales... Se desgovernada, é a inundação semeando a destruição... Se sob controle, é a represa convertendo-se a energia... Sob o Sol, evapora-se de onde está em excesso e faz-se chuva sobre a gleba ressequida... Sob o calor do nosso Amor, as moedas podem ir a socorro da dor alheia na forma de chuva de benefícios, angustiadamente esperados... 

CONCLUSÃO
A Maçonaria nos desperta para a nossa verdadeira natureza de alma imortal a despeito dos disfarces da vida material... O corpo não passa de um envoltório que é passageiro, que é perecível, que é falaz... As circunstâncias da vida como a cultura, o dinheiro, a saúde, a fama, o poder, a casa bonita, o último carro, as iguarias deliciosas, o leito macio, tudo isso é um breve estágio porque estamos passando... Uma ligeira oportunidade de evolução que o G∴A∴D∴U∴, por infinita Misericórdia, nos está concedendo para o nosso progresso em todos os sentidos.

Nas experiências deste mundo não raro encontramos, como pano de fundo, os gemidos da dor, as angústias do desespero moral, onde se desfazem as ilusões e descobrimos a nossa verdadeira natureza. Atinamos em fim com a nossa individualidade espiritual.

Irmãos queridos! O G\A\D\U\não nos destinou para a brevidade desta existência terrena. Não embora o estágio na Terra seja sumamente valioso para o nosso progresso evolutivo, a verdade é que somos cidadãos do infinito.

E um porvir cheio de nobres realizações inimagináveis nos aguarda no Grande Além. Emoções que a linguagem humana não consegue definir inundam de ventura perene o ânimo da Alma em sua trajetória de ascensão sublime para o G∴A∴D∴U∴.

O homem que se fecha em si mesmo ou só se abre às coisas corriqueiras do seu estreito mundo material é incapaz de conhecer o que seja a vida da alma.

E nós maçons, que tivemos a grata oportunidade de iniciarmos nos mistérios da Arte Real, somos conclamados a esta reflexão cada vez que adentramos ao templo maçônico, que nos convida a uma viagem a esta milenar história, adornando com seus símbolos e rituais e tendo como ápice desta conclamação o sublime momento em que o Ven∴Mestr∴ no fechamento da loja evoca:

“Oh! G∴A∴D∴U∴ fonte fecunda de Luz, Felicidade e Virtude...”

Bibliografia

Bhagavad-gita – A mensagem do mestre
Os grandes iniciados – Édouard Schvré
Depois da morte – Leon Denis
O porquê da vida – Leon Denis
Constituição do G\O\B\
Grau do Aprendiz e seus mistérios – Jorge Adoum
A delicada questão da vida – Celso Martins

Com o abraço que nos irmana e identifica

Fonte: http://gabinetedereflexoes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário