APRENDA A LER EM PÚBLICO
Reinaldo Polito*
A maioria não se dá conta de como deverá se dedicar para ter o domínio total da técnica da leitura. A não ser que você já tenha alguma experiência, precisará de pelo menos cinco horas de exercícios para desenvolver uma leitura de boa qualidade...
Muitas pessoas acham que ler em público é simples, já que basta transmitir o texto que está pronto no papel. Posso garantir, entretanto, que a leitura se constitui na técnica mais difícil e complexa para o orador comunicar uma mensagem.
Ao longo dos últimos 30 anos, tenho treinado pessoas das mais diferentes atividades para falar com desembaraço e confiança diante da platéia. Essa experiência me permitiu constatar que é muito raro encontrar alguém que saiba ler em público de maneira correta e eficiente.
A maioria não se dá conta de como deverá se dedicar para ter o domínio total da técnica da leitura. A não ser que você já tenha alguma experiência, precisará de pelo menos cinco horas de exercícios para desenvolver uma leitura de boa qualidade.
Ao pesquisar os motivos que levam as pessoas a ter tanta dificuldade com essa técnica de comunicação, entre as causas mais relevantes pude observar duas que se destacam:
A primeira é que a maioria teve poucas chances de ler em público. Se você pensar bem, vai concluir que falamos de improviso desde o primeiro ano de vida. Entretanto, as chances de ler em voz alta diante de um grupo de ouvintes são bem mais reduzidas. Alguns passam a vida toda sem nenhuma oportunidade de ler em público.
A outra causa é que além de, normalmente, as pessoas não terem experiência suficiente para ler em público, quando precisam recorrer a esse recurso de comunicação se apresentam sem critérios técnicos adequados.
Embora a técnica seja complexa e exija treinamento, as orientações que você deve seguir para aprender a ler bem em público são bastante simples.
Cuidado - comece agora mesmo a se aprimorar na leitura em público. Se você esperar o momento em que tenha necessidade de ler, talvez a circunstância impeça que se prepare de forma conveniente.
Observe quais os pontos mais importantes para tornar a leitura em público eficiente:
Mantenha contato visual com os ouvintes
Tenha em mente que a mensagem deve ser transmitida para os ouvintes. Por isso, não fique olhando para o texto o tempo todo, como se estivesse conversando com o papel. Durante as pausas prolongadas e nos finais de frases, olhe para os ouvintes e demonstre com essa atitude que as informações estão sendo transmitidas para eles.
Cuidado também para não olhar sempre para as mesmas pessoas. Distribua a comunicação visual olhando ora para um lado, ora para outro.
Assim, todos se sentirão incluídos no ambiente. Uma boa dica para você não se perder, enquanto olha para os ouvintes, é marcar a linha de leitura com o dedo polegar, pois ao voltar para o texto saberá exatamente onde parou.
Outro defeito que aparece com freqüência é o de tirar os olhos do texto, mas em vez de olhar para os ouvintes o orador olha para o teto, revirando os olhos como se estivesse em transe.
Mantenha o papel na altura correta
Se você deixar o papel muito baixo, terá dificuldade para enxergar o texto. Se, entretanto, deixar muito alto, esconderá seu rosto da platéia. Por isso, procure deixar a folha na parte superior do peito, para ler com mais facilidade e não se esconder do público.
Considere também que, se o papel estiver muito baixo, você terá que abaixar muito a cabeça para ler e levará muito tempo para retornar, olhar e ver as pessoas. Deixando a folha na parte superior do peito, bastará levantar um pouco a cabeça para tirar os olhos do texto e já estará mantendo a comunicação visual com os ouvintes.
Falando em não abaixar a cabeça, ao digitar o texto procure usar apenas os dois terços superiores da página, deixando o terço inferior em branco.
Esse cuidado permitirá um contato visual mais tranqüilo e suave, já que para ver as pessoas bastará apenas levantar os olhos, sem movimentar muito a cabeça.
Faça poucos gestos
Se a gesticulação na fala de improviso, sem papel nas mãos, deve ser moderada, na leitura, essa moderação dos gestos deve ser ainda maior.
Exceto nos casos em que a mensagem exigir expressão corporal mais ativa, como nas circunstâncias de grande emoção, ao ler uma página, de maneira geral, você poderá se limitar a meia dúzia de gestos.
É melhor que você faça poucos gestos, que destaquem as informações mais relevantes com convicção e firmeza, do que demonstrar hesitação e insegurança soltando repetidamente a mão do papel e retornando depressa, como se estivesse arrependido de ter feito aquele gesto.
Como a falta dos gestos não trará tanto prejuízo ao resultado da apresentação, se você for muito inexperiente e encontrar dificuldade para gesticular, será melhor que não gesticule. Fique o tempo todo segurando a folha com as duas mãos.
Aqui você poderia perguntar: mas, Polito, se a falta do gesto não prejudica tanto o resultado da leitura, por que gesticular? A falta do gesto não prejudica a apresentação a ponto de comprometer o objetivo da mensagem, mas é evidente que gestos harmoniosos, coerentes e expressivos serão importantes para tornar a leitura ainda mais eficiente.
Em outras palavras. A gesticulação na leitura é boa. Mas, enquanto você não souber gesticular, é melhor não correr riscos.
Faça marcações
Pequenas marcações no texto podem facilitar a interpretação da mensagem. Use, por exemplo, traços verticais antes das palavras para indicar o momento de fazer pausas mais expressivas, e traços horizontais embaixo das palavras que mereçam maior destaque.
Observe que essas marcações não coincidirão necessariamente com a pontuação gramatical. Por exemplo, nessa frase que você acabou de ler, se você fizesse uma pausa depois da palavra 'marcações', poderia dar mais expressividade à leitura.
E se você tremer?
Até oradores muito experientes chegam a temer quando precisam ler diante do público. Se você também costuma sentir tremores nas mãos, uma boa saída é usar folhas de gramatura mais encorpada.
Somente pelo fato de saber que, com as folhas mais grossas os pequenos tremores não serão percebidos, você irá se comportar com mais tranqüilidade e, provavelmente, não tremerá.
Não se canse de treinar
Você não pode ter preguiça para treinar. Para exercitar, selecione textos de jornais ou de revistas, faça marcações para ajudar na interpretação e treine com auxílio de uma câmera de vídeo - na falta desse equipamento, faça os exercícios na frente de um espelho. Dê atenção especial às pausas expressivas, à comunicação visual e aos gestos.
Um texto para ser bem lido e interpretado necessita de pelo menos quinze ensaios, pois somente aí é que conseguirá soltar-se do papel com tranqüilidade e se comunicar de forma eficiente com os ouvintes.
Não se esqueça, entretanto, de que para você ter domínio total da técnica precisará daquelas cinco horas que comentei no início.
Cuidado também para não ensaiar muito a ponto de decorar a mensagem e se esquecer de olhar para o papel. Se este fato ocorrer, diante da platéia, pelo menos finja que está lendo.
Situações em que a leitura é recomendável
A leitura deve ser reservada para circunstâncias especiais como:
- Pronunciamentos oficiais
- Textos muito técnicos que não possam conter erros
- Discursos de posse de presidentes de entidades, pois esse é o momento em que apresentam as bases da sua administração e não devem, portanto, improvisar
- Discursos de despedida de presidentes de entidades, pois ao deixar o cargo, de maneira geral, fazem um levantamento das suas realizações
- Agradecimentos de homenagens feitas a grupos, especialmente quando a mensagem representar a filosofia das pessoas, ou o discurso tiver de ser distribuído para a imprensa
- Discursos de oradores de turma, pois nesse momento estão representando a vontade de todos os colegas formandos
Além dessas situações e de uma ou outra que poderia ser acrescentada, a leitura deveria ser substituída por outros recursos, que tratarei nesta coluna em outra oportunidade.
*Professor de Comunicação Oral - Mestre em Ciências da Comunicação
Fonte: JBNews - Informativo nº 140 - 14/01/2011
Gostei do texto!!
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